Queridos
Acabei de ler
esse livro, cujo autor é Scott Hann, um eis protestante que descobriu que a
chave para entender a missa é o livro do Apocalipse, e mais, que a missa é o
único meio para o cristão descobrir o sentido do livro do Apocalipse.
Tenho no meu
coração um esboço para esse tópico, mas ainda não sei como ele se desenvolverá…
o tempo dirá!
Proponho aos
que leram o livro que ajude, cada vez que eu colocar um resumo de cada
capítulo… e os que não leram que bebam desta fonte maravilhosa!!!e que
participem!!!
Para mim foi
como um tesouro que tive nas mãos… a partir dai tenho buscado celebrar
dignamente esse Santo Mistério!!
Ana — Desejo que possamos crescer e aprender
juntos, e que Deus derrame sobre nõs sua graça e sabedoria para que aprendendo,
possamos ajudar outros.
No amor do
Senhor.
1ª PARTE — O Dom da Missa
Capítulo, Primeiro — No céu agora mesmo!
Ao estudar os escritos dos primeiros
cristãos, Scott, encontra inúmeras referencias à "liturgia", à
"Eucaristia", ao "sacrifício".
Foi então a santa missa, (logicamente
Não conhecia, visto que era um ministro
protestante, calvinista.) como um exercício académico.
Como calvinista, foi instruído para
acreditar que a missa era o maior sacrilégio que alguém poderia cometer. Pois
para eles a missa era um ritual com o propósito de “sacrificar Jesus Cristo
outra vez".
Entretanto, a medida que a missa
prosseguia, alguma coisa o toca.
A Bíblia estava diante dele! Nas
palavras da Missa!! Isaías, Salmo, Paulo… Não obstante, manteve sua posição de
espectador, à parte, até que ouve o sacerdote pronunciar as palavras da
consagração:
"Isto é
o meu corpo… Este é o cálice do meu sangue".
Então sentiu todas as suas dúvidas
sé esvaírem. Quando viu o sacerdote elevar a hóstia, percebeu que uma prece
subia do seu coração em um sussurro: Meu Senhor e meu Deus. Sois realmente
vós!"
Quando não foi maior sua emoção ao
ouvir toda a igreja orar:
"Cordeiro
de Deus… Cordeiro de Deus… Cordeiro de Deus" e o sacerdote dizer:
"Eis o Cordeiro de Deus…", enquanto elevava a hóstia.
Em menos da minha 1ª frase
"Cordeiro de Deus ressoou 4 vezes. Graças a longos anos de estudo
bíblicos, percebeu imediatamente onde estava.
Estava no livro do Apocalipse, no
qual Jesus é chamado de Cordeiro nada menos que 28 vezes em 22 capítulos.
Estava na festa de núpcias que João
descreve no final do último livro da Bíblia.
Estava diante do trono do céu, onde
Jesus é saudado para sempre como o Cordeiro.
Entretanto, não estava preparado
para isso — Ele estava na MISSA!
Fumaça Santa!
Scott volta a missa por 2 semanas, e
a cada dia "descobria" mais passagens das Escrituras consumadas
diante de seus olhos.
Contudo, naquela capela, nenhum
livro lhe era tão visível Quanto o da revelação de Jesus Cristo, o Apocalipse,
que descreve a adoração dos anjos e santos do céu.
Como no livro, ele vê naquela
capela, sacerdotes paramentados, um altar, uma assembléia que entoava:
"Santo,
Santo, Santo".
Viu a fumaça do incenso, ouviu a
invocação de anjos e santos… ele mesmo entoava os aleluias, porque se sentia
cada vez mais atraído a essa adoração.
A cada dia se desconcertava mais, e
não sabia se voltava para o livro ou para a ação no altar, que pareciam cada
vez mais ser exatamente a mesma!
Mergulhou nos estudos do
cristianismo antigo e descobriu que os primeiros bispos, os Padres da igreja,
tinham feito a mesma descoberta que ele fazia a cada manhã.
Eles consideravam o livro de Apocalipse
a chave da liturgia, e a liturgia a chave do livro do Apocalipse.
Scott começa descobrir que o livro
que ele mais achava desconcertante, agora elucidava as idéias mais fundamentais
de sua fé:
A idéia da
aliança como elo sagrado da família de Deus.
Além disso, a ação que considerava a
maior das blasfémias — a missa — agora se revela o acontecimento que ratificou
a aliança de Deus: "Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e
eterna aliança".
Scott estava aturdido, pois durante
anos tentou compreender esse livro como uma espécie de mensagem codificada a respeito
do fim do mundo, a respeito do culto no céu distante, algo que os cristãos não
poderiam experimentar aqui na terra!
Agora, queria gritar a todos dentro
daquela capela durante a liturgia:
"Ei,
pessoal.
Quero lhes mostrar onde vocês estão
no livro do Apocalipse! Consultem o capítulo 4, Versículo 8.
Isso mesmo! AGORA mesmo vocês estão
no céu!!!
"Passaram-me para trás!!
No céu agora mesmo!!
Os padres da igreja mostraram que
essa descoberta não era de Scott!!.
Pregaram a respeito há mais de mil
anos.
Scott, no entanto, estava convencido
de que merecia o crédito pela redescoberta da relação entre missa e o livro do Apocalipse!
Então, para sua surpresa, descobre
que o Concílio Vaticano 2º o tinha passado para trás!
Reflitam nestas palavras da
Constituição sobre a Sagrada Liturgia:
Na liturgia terrena, ante-gozando,
participamos da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém,
para a qual, peregrinos, nos encaminhamos.
Lá, Cristo está sentado `a direita
de Deus, ministro do santuário e do tabernáculo verdadeiro; com toda milícia do
exército celestial entoamos um hino de glória ao Senhor e, venerando a memória
dos santos, esperamos fazer parte da sociedade deles; suspiramos pelo Salvador,
Nosso Senhor Jesus Cristo. até que ele, nossa vida se manifeste, e nós
apareçamos com Ele na glória.
Espere um pouco.
Isso é céu.
Não, isso é missa. Não, é o livro do
Apocalipse.
Espere um pouco: Isso é tudo o que
está acima!
Scott, se acalma, para não ir rápido
demais, para evitar os perigos aos quais os convertidos são susceptíveis!
Pois, ele estava rapidamente se
convertendo `a fé católica!!
Contudo, essa descoberta não era
produto de uma imaginação superexcitada; era o ensinamento solene de um
"concílio da igreja ca tólica".
Com o tempo, Scott des cobre que
esta era também a conclusão inevitável dos estudiosos protestantes mais
rigorosos e honestos.
Um deles, Leonard Thompson, escreveu
que "até mesmo uma leitura superficial do livro de Apocalipse mostra a presença
da linguagem litúrgica disposta em forma de culto…".
Basta as imagens da liturgia para
tornar esse extraordinário livro compreensível.
As figuras litúrgicas são essenciais
para sua mensagem, escreve Thompson, e revelam "algo mais que visões de
'coisas que estão por vir'".
Atrações futuras
O livro do Apocalipse tratava de
Alguém que estava por vir.
Tratava de Jesus Cristo e sua
"segunda vinda", a forma como, em geral, os cristãos traduziram a
palavra grega parousia.
Depois de passar horas e horas
naquela capela, Scott aprende que aquele Alguém era o mesmo Jesus Cristo, que o
sacerdote católico erguia na hóstia.
Se os cristãos primitivos estavam certos,
ele sabia que, naquele exato momento, o céu tocava a terra.
"Meu Senhor e meu Deus. Sois
realmente vós!"
Ainda assim, restavam muitas
perguntas sérias na mente e no coração de Scott: Quanto à natureza do
sacrifício.
Quanto aos
fundamentos bíblicos da missa.
Quanto a
continuidade da tradição, da tradição católica.
Quanto a
muitos dos pequenos detalhes do culto litúrgico.
Essas perguntas definiram suas
investigações nos meses que levaram a sua admissão na Igreja Católica.
Em certo sentido, elas continuam a
definir seu trabalho de hoje.
"Porem agora ele não faz mais
perguntas como acusador ou curioso, mas como filho que se aproxima do pai,
pedindo o impossível, pedindo para segurar na palma da mão uma estrela luminosa
e distante."
Scott não crê que Nosso Pai nos
recuse, a sabedoria que buscamos a respeito de sua missa.
Ela é afinal de contas, o
acontecimento no qual ele confirma sua aliança conosco e nos faz seus filhos.
Este livro é mais ou menos o que
Scott descobriu enquanto investigava as riquezas de “nossa tradição
católica".
Nossa herança inclui toda a Bíblia,
o testemunho ininterrúpto da missa, os constantes ensinamentos dos santos, a
pesquisa dos estudiosos, os métodos de oração contemplativa e o cuidado dos
papas e bispos.
Na missa, você e eu temos o céu na
terra.
As provas são prodigiosas.
A experiência é uma revelação!
Capítulo, Segundo — A história do sacrifício
A frase da missa que venceu Scott
foi "Cordeiro de Deus", porque ele sabia que esse Cordeiro era o
próprio Jesus Cristo.
Recitamos esse Cordeiro de Deus na
missa, exatamente o mesmo número de vezes que vimos o sacerdote elevar a hóstia
e proclamar: "Eis o cordeiro de Deus…
O Cordeiro é Jesus!
Isso não é novidade; e é o tipo de
fato que escondemos: afinal de contas Jesus é muitas coisas:
é Senhor,
Deus, Salvador, Messias, Rei, Sacerdote, Profeta… e Cordeiro!
O último título não é como os outros.
Os setes 1º são títulos com os quais
nos dirigimos tranquilamente a um Deus-Homem.
São títulos com dignidade, que
sujerem sabedoria, poder e posição social.
Mas Cordeiro?
Scott nos pede para nos desfazermos
de dois mil anos de sentido simbólico acumulado.
Que finjamos por um momento que
jamais entoamos o "Cordeiro de Deus!!
A respeito do cordeiro.
Esse título parece quase cômico de
tão inadequado.
Em geral, cordeiros não ocupam Os
primeiros lugares das listas de animais mais admirados.
Não são particularmente fortes, nem
espertos, sagazes ou graciosos.
E outros animais parecem mais
merecedores.
Por exemplo: É fácil imaginarmos
Jesus como o Leão de Judá. (Apocalipse 5,5.)
Os leões são majestosos, fortes e ágeis,
ninguém mexe com o rei dos animais.
Mas o Leão de Judá desempenha papel
efêmero no livro do Apocalipse.
Ao mesmo tempo, o Cordeiro prevalece
e a parece nada menos que vinte e oito vezes.
O Cordeiro governa e ocupa o trono
de céu. (Apocalipse 22,3.)
É o Cordeiro quem lidera um exército
de centenas de milhares de homens e anjos, e acende o medo nos corações dos
ímpios. (Apocalipse 6,15-16.)
Esta última imagem, do Cordeiro
feroz e assustador, é quase absurda demais para imaginar-mos sem sorrir!
No entanto, para João, esse assunto
do Cordeiro é sério!
Os títulos "Cordeiro" e
"Cordeiro de Deus" aplicam-se a Jesus quase exclusivamente nos livros
do novo testamento atribuídos a João: o quarto evangelho e o Apocalipse.
Embora outros livros
neotestamentários (Apocalipse 8,32-35; 1, Pedro 1,19.) digam que Jesus é
"como" um cordeiro em certos aspetos, só João ousa "chamar"
Jesus “o Cordeiro". (São João 1,36 e Apocalipse todo.)
Sabemos que o cordeiro é fundamental
para a missa e também para o livro do Apocalipse.
E sabemos "quem" o
Cordeiro é.
Entretanto, se queremos experimentar
a missa como o céu na terra, precisamos saber mais.
Precisamos saber o "que" o
Cordeiro é e "por que" o chamamos "Cordeiro".
Para descobrir, temos de voltar no
tempo, quase até o início…
Pão Salutar.
Para o antigo Israel, o cordeiro
identificava-se com o sacrifício, que era uma das formas mais primitivas de
adoração.
Já na 2ª geração descrita no Génesis,
encontramos na história de Caim e Abel, o 1º exemplo registrado de uma oferenda
sacrifical:
"Caim
trouxe ao Senhor uma oferenda de frutos da terra; também Abel trouxe primícias
dos seus animais e a gordura deles". (Génesis, 4,3-4.)
No devido tempo, encontramos
holocaustos semelhantes oferecidos:
Por Noé (Génesis, 8,20-21.)
Abraão (Génesis,
15,8-10; 22,13.)
Jacó (Génesis,
46,1.) e outros.
No génesis, os patriarcas estavam
sempre construindo altares, e estes serviam primordialmente para sacrifícios.
Entre os sacrifícios do Génesis.
dois merecem
nossa atenção:
— Melquizedec (Génesis,
14,18-20.)
— e o de Abraão e Isaac. (Génesis, 22.)
Melquizedec surge como o 1º
sacerdote mencionado na Bíblia e muitos cristãos (Hebreus 7,1-17.) o consideram
precursor de Jesus Cristo.
Melquisedec era sacerdote e rei,
combinação estranha no ANTIGO TESTAMENTO, mas que, mais tarde, foi aplicada a
Jesus.
Ele é descrito como rei de Shalem,
terra que depois seria "Jeru-salém". que significa "Cidade da
Paz". (Salmo 76,2.)
Um dia Jesus surgiria como rei da
Jerusalém celeste e novamente como Melquizedec, "Príncipe da Paz".
Em conclusão, o sacrifício de
melquisedec foi extraordinário por "não envolver animal algum".
Ele ofereceu "Pão e
Vinho", como Jesus fez na Última Ceia, Quando institui a Eucaristia.
O sacrifício de Melquisedec terminou
com uma bênção sobre Abraão.
O alcance de Moriá.
O próprio Abraão revisitou Shalem,
alguns anos mais tarde, Quando Deus o chamou para fazer um sacrifício
definitivo.
Em Génesis, 22, Deus diz a Abraão:
"Toma o
teu filho, o teu único, Isaac, que amas.
Parte para
terra de Moriá e lá oferecerás em holocausto sobre uma das montanhas que eu te
indicar". (Génesis, 2.)
A tradição israelita, registrada em
2, Crónicas 3,1, identifica Moriá com o local do futuro Templo de Jerusalém.
Para lá, Abraão viajou com Isaac,
que carregou nos ombros a lenha para o sacrifício. (Génesis, 22,6.)
Quando Isaac perguntou onde estava a
vítima, Abraão respondeu:
Deus
providenciará Ele mesmo uma ovelha para o holocausto, meu filho". (Génesis,
8.)
No fim, o anjo Deus impediu que a
mão de Abraão sacrificasse seu filho e forneceu um carneiro para ser
sacrificado.
Nessa história, Israel discerniu o
juramento da aliança de Deus para fazer dos descendentes de Abraão uma nação
poderosa:
"juro-o
por mim mesmo… Por, não teres poupado seu filho, comprometo-me, a fazer
proliferar tua descendência tanto Quanto as estrelas do céu, é nela que se
abençoarão todas as nações da terra". (Génesis, 22,16-17.)
Esse foi o reconhecimento de dívida
que Deus deu a Abraão; também seria a apólice de seguro de vida de Israel.
No deserto do Sinai, Quando o povo
escolhido mereceu a morte por adorar o bezerro de ouro, Moisés invocou o
juramento de Deus a Abraão, a fim de salvar o povo da cólera divina. (ÊXODO
32,13-14.)
Mais tarde os cristãos consideraram
a narrativa de Abraão e Isaac uma profuda alegoria do sacrifício de Jesus na
cruz.
As semelhanças eram muitas:
1º — Jesus,
como Isaac, era o filho único querido de uma pai fiel.
2º — Também
como Isaac, Jesus carregou morro acima a madeira para seu sacrifício, que foi
consumado em uma colina de Jerusalém.
De fato, o local onde Jesus morreu,
o calvário, era um dos morros da cadeia de Moriá.
Alem disso, o primeiro versículo do
NOVO TESTAMENTO identifica Jesus como Isaac, ao dizer que Ele é "filho de
Abraão". (São Mateus, 1,1.)
Para os leitores cristãos, até as
palavras de Abraão se mostraram proféticas.
Lembre-se de que não havia pontuação
no original hebraico e pense em uma interpretação alternativa de Génesis, 22,8:
"Deus se
dá a si mesmo, o Cordeiro, para o holocausto".
O Cordeiro pronunciado era, Jesus
Cristo, o próprio Deus — "para que a bênção de Abraão alcance os pagãos em
Jesus Cristo". (Gálatas 3,14 veja também Génesis, 22,16-18.)
Magnetismo animal.
No tempo da escravidão de Israel no
Egito, está claro que o sacrifício ocupa uma parte essencial e fundamental da
religião de Israel.
Os capatazes do faraó escarnecem dos
frequentes sacrifícios dos israelitas, afirmando serem apenas uma desculpa para
evitar o trabalho. (ÊXODO 5,17.)
Mais tarde Quando Moisés faz um
apelo a Faraó, sua exigência principal é o direito dos israelitas oferecerem
sacrifícios a Deus. (ÊXODO 10,25.)
O que significam todas essas
oferendas? O sacrifício animal significava muitas coisas para os antigos
israelitas:
{{Pause=0,25}} Era o
"reconhecimento da soberania"de Deus sobre a criação:
"Ao
Senhor, a terra e sua riquezas". (Salmo 24,1.) Assim o sacrifício louvava
a Deus, de quem fluem todas as bênçãos.
{{Pause=0,25}} O sacrifício era um
ato de "agradecimento". A criação foi dada ao homem como dádiva.
{{Pause=0,25}} Às vezes, o sacrifício
servia para "ratificar solenemente uma acordo ou juramento, uma aliança
diante de Deus". (Génesis, 21,22-23.)
{{Pause=0,25}} O sacrifício também
era "ato de renúncia e tristeza pelos pecados".
O que
oferecia o sacrifício reconhecia que seus pecados faziam-no merecer a morte; em
lugar de sua vida, oferecia a do animal.
A contagem das ovelhas.
Mas, na história de Israel, o
sacrifício principal foi a "Páscoa", que apressou a fuga dos Israelitas
do Egito.
Foi na Páscoa que Deus instruiu toda
família israelita a tomar um “animal sem defeito, sem ossos quebrados,
degolá-lo e passar seu sangue na ombreira da porta".
Os israelitas deveriam comer o
cordeiro naquela noite.
Se o fizessem, seus primogênitos
seriam poupados.
Se não o fizessem, seus primogénitos
morreriam durante a noite, juntamente com todos os primogénitos de seus
rebanhos. (ÊXODO 12,1-23.)
O cordeiro sacrifical morreu como
expiação, em lugar do primogênito da casa.
A Páscoa então, foi uma ato de
redenção, um "resgate".
Contudo, Deus não apenas resgatou os
primogénitos de Israel; também os consagrou como um "reino de sacerdotes e
uma nação santa". (ÊXODO 19,6.) — uma nação que Ele chamou seu "filho
primogênito". (ÊXODO 4,22.)
O Senhor pediu, então, aos
Israelitas para comemorarem a Páscoa todos os anos e até deu as palavras que
deveriam usar para explicar o ritual às gerações futuras: "Quando vossos
filhos vos perguntarem: 'Que rito é esse que estais celebrando?', direis:
'É o sacrifício da Páscoa para o
Senhor, que passou diante das casas dos filhos de Israel no Egito, Quando golpeou
o Egito e libertou nossas casas'". (ÊXODO 12,26-27.)
Na terra prometida, os israelitas
continuaram os sacrifícios cotidianos a Deus, agora guiados pelos muitos
preceitos da Lei, enumerados em Levítico, Números e Deusteronômio. (Levítico 7-9;
Livro d’ Números 28; Deuteronômio 16.)
Dentro e fora
Era todo esse sacrifício apenas um
ritual vazio? Não, embora, obviamente, o holocausto, por si só, não fosse
suficiente.
Deus exigia também um sacrifício
"interior".
O salmista declarou que "o
sacrifício que Deus quer é um espírito contrito". (Salmo 51,19.)
O profeta Oséias falou por Deus e
disse:
"Pois é
o amor que me agrada, não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, eu o prefiro
aos holocaustos". (Oséias, 6,6.)
Contudo, a obrigação de oferecer
sacrifícios foi mantida.
Sabemos que Jesus cumpria as leis
judaicas referentes ao sacrifício.
Ele celebrava a Páscoa todos os anos
em Jerusalém e é de se presumir que comesse o cordeiro sacrificado, primeiro
com a família e mais tarde com os apóstolos.
Afinal de contas, "isso não era
facultatico".
Consumir o
cordeiro era o único jeito de o judeu fiel "renovar a aliança com Deus
", e Jesus era um judeu fiel.
mas a importância
da Páscoa na vida de Jesus foi mais que ritual, foi"fundamental para sua
missão", um momento definitivo.
Jesus éo Cordeiro.
Quando Jesus estava diante de
Pilatos, João observa que "era o dia da preparação da Páscoa, por volta da
sexta hora". (São João 19,14.)
João sabia que era na sexta hora que
os sacerdotes começavam a imolar os cordeiros pascais.
Esse, então,
é o momento do sacrifício do Cordeiro de Deus.
Em seguida, João relata que nenhum
dos ossos de Jesus foi quebrado na cruz, "para que se cumprisse a
Escritura". (São João 19,36.)
Que Escritura era essa?, (Êxodo
12,46) que estipula que os ossos do Cordeiro da Páscoa não sejam quebrados.
Vemos, então, que o Cordeiro de
Deus, como o cordeiro da Páscoa, é oferenda condígna, realização perfeita.
Na mesma passagem, João relata que
fixaram uma esponja embebida em vinagre na ponta de um ramo de hissopo e a
serviram a Jesus. (São João 19,29; ÊXODO 12,22.)
Hissopo era o ramo preceituado pela
lei para borrifar o sangue do cordeiro na Páscoa.
Assim, essa ação simples marcou a
realização da nova e perfeita redenção.
E Jesus disse: "Tudo está
consumado".
Por fim, ao falar das vestes de
Jesus na hora da crucifixão, João usa os termos exatos para os paramentos que o
sumo sacerdote usava Quando oferecia sacrifícios como cordeiro da Páscoa.
Ritos da vítima
O que concluímos disso? João nos
deixa claro que no novo e definitivo sacrifício da Páscoa, Jesus é sacerdote e
também vítima".
Isso se confirma nos relatos da Última
Ceia contidos nos três evangelhos, onde Jesus usa claramente a linguagem
sacerdotal de sacrifício e libação, até Quando descreve a si mesmo como a
vítima.
"Isto é o meu corpo dado por
vós… Esta taça é a nova Aliança em meu sangue derramado por vós". (São
Lucas. 22,19-20.)
O sacrifício de Jesus realizou o que
todo o sangue de milhões de ovelhas e touros e bodes jamais conseguiu.
"Pois é impossível que o sangue
de um quarto de milhão de cordeiros salvaria a nação de Israel, muito menos o
mundo.
Para expiar as ofensas contra um
Deus que é bom, infinito e eterno, a humanidade precisava de um sacrifício perfeito:
um sacrifício
tão bom, puro e infinito Quanto o próprio Deus. E esse era Jesus, o único que
podia "abolir o pecado com seu próprio sacrifício". (Hebreus 9,26.)
"Eis o Cordeiro de Deus". (São
João 1,36.)
Por que Jesus tinha de ser um
cordeiro e não um garanhão, um tigre ou um touro?
Por que o Apocalipse retrata Jesus
como "um cordeiro que parecia imolado"? (Apocalipse 5,6.)
Por que a missa precisa proclamá-lo
como "Cordeiro de Deus"?.
Porque só um cordeiro sacrifical se
encaixa no padrão divino de nossa salvação.
Jesus era sacerdote além de vítima e
como sacerdote fazia o que nenhum outro sacerdote fazia, pois este entrava
"todos os anos no santuário com sangue estranho" (Hebreus 9,25.) e
mesmo então, só ficava pouco tempo antes que sua indignidade o obrigasse a sair.
Mas Jesus entrou no Santo dos santos
— o céu — de uma vez por todas, para oferecer-se como nosso sacrifício.
Alem disso, pela nova Páscoa de
Jesus, nós também nos tornamos um reino de sacerdotes e a Igreja do
primogênito. (Apocalipse 1,6; Hebreus 12,23 e compare com ÊXODO 4,22; 19,6.)
E com Ele entramos no santuário do
céu toda vez que vamos a missa.
Não ignore esta festa
Mas o que isso significa para nós
hoje?
Como devemos "celebrar"
nossa Páscoa?
São Paulo nos dá uma resposta:
"Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos pois a festa… com pães sem
fermento: na pureza e na verdade". (1, Coríntios 5,7-8.)
Nosso cordeiro pascal é, então, pão
sem fermento. Nossa festa é a MISSA!. (1, Coríntios 10,15-21; 11,23-32.)
À luz clara da nova aliança, os
sacrifícios da antiga aliança fazem sentido como preparação para o sacrifício
único de Jesus Cristo, nosso sumo sacerdote régio no santuário celeste.
E é esse sacrifício único que, na
missa, oferecemos com Jesus.
À essa luz, vemos as orações da
missa com clareza:
Nós vos oferecemos o seu Corpo e
Sangue, sacrifício do vosso agrado e salvação do mundo inteiro. Olhai com
bondade o sacrifício que destes à vossa Igreja… (Oração eucarística 4.)
— Vos oferecemos, ó
Pai, dentre os bens que nos destes, o sacrifício perfeito e santo.
— Recebei, ó Pai, esta
oferenda, como recebeste a oferta de Abel, o sacrifício da Abraão e os dons de
Melquisedec. Nós vos suplicamos que ela seja levada à vossa presença… (1ª
Oração eucarística.)
Não basta Cristo ter derramado seu
sangue e morrido por nós.
Agora também temos nosso papel a
desempenhar.
Como aconteceu com a antiga aliança,
acontece com a nova.
Quem quer expressar a aliança com
Deus, ratificar a aliança com Deus, renovar a aliança com Deus 'tem de comer o
Cordeiro — o cordeiro pascal que é nosso pão sem fermento.
Começa a soar familiar. "Aquele
que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna". (São João 6,54.)
Retorno de Investimento
A necessidade primordial que o homem
tem de adorar a Deus sempre se expressa no sacrifício:
A adoração é
simultaneamente ato de louvor, expiação, dádiva de si mesmo, aliança e ação de
graças. (em grego, eucharistia.)
As várias formas de sacrifício tem
um sentido positivo comum: A vida é entregue a fim de ser transformada e
compartilhada.
Assim, Quando falou de sua vida como
sacrifício, Jesus tocou em uma corrente que corria no fundo das almas dos
apóstolos-que corria no fundo das almas dos israelitas — que corre no fundo da
alma de todo ser humano.
No século 20, Ghandi, que era hindu,
chamou o "culto sem sacrifício" de absurdo da época moderna.
Mas, para nós católicos, a adoração
não é isso.
Nosso ato supremo de culto é ato
supremo de sacrifício, o banquete do Cordeiro, a MISSA!!!
O sacrifício é uma necessidade do
coração humano.
Mas, até Jesus, nenhum sacrifício
era adequado.
Lembre-se do Salmo 116,12:
"Como
retribuir ao Senhor todo o bem que me fez?".
Na verdade, como?
Deus sabia o tempo todo qual seria
nossa resposta; "Erguerei a taça da vitória e chamarei o Senhor pelo seu
nome". (Salmo 116,13.)
Capítulo, Terceiro — A missa dos primeiros Cristãos
O canibalismo e o "sacrifício
humano" eram acusações graves sussurradas com frequência contra os primeiros
cristãos.
Os apologistas cristãos primitivos
encarregaram-se de rejeitá-las como boato sem fundamento.
Contudo, pelas lentes deformadas dos
rumores dos pagãos, vemos qual era o elemento mais identificável da vida e do
culto cristãos.
"Era a Eucaristia": a
representação do sacrifício de Jesus Cristo, a refeição sacramental em que os
cristãos consumiam o corpo e o sangue de Jesus.
Era a deturpação desse fatos de fé
que levava a calúnias pagãs contra a igreja — embora seja fácil ver como os
pagãos compreendiam mal.
Na igreja primitiva, só os batizados
tinhão permissão de participar dos sacramentos e os cristãos eram
desencorajados até mesmo de conversar com não-cristãos a respeito desses
mistérios fundamentais.
Assim a imaginação pagã corria
solta, alimentada por pequenos fragmentos de fatos:
"Isto é
o meu corpo… Este é o cálice do meu sangue… Se não comerdes a carne do Filho do
Homem e não beberdes o seu sangue…"
Os pagãos sabiam que ser cristão era
participar de alguns ritos estranhos e secretos.
Ser cristão era "ir à
missa", o que era verdade desde o primeiro dia da nova aliança.
Algumas horas depois de ressuscitar
dos mortos, Jesus pós à mesa com seus discípulos.
("Ele.) tomou o pão, pronunciou a bênção,
partiu-o e lhes deu.
Então os seus
olhos se abriram… eles o haviam reconhecido na fração do pão". (São Lucas.
24,30-31. 35.)
A centralidade da Eucaristia está
evidente também na descrição concisa que os atos dos apóstolos fazem da vida na
Igreja primitiva:
"Eles
eram assíduos aos ensinamentos dos apóstolos e à comunhão fraterna, à fração do
pão e às orações". (At dos Apóstolos 2,42.)
Em 1, Coríntios 11 contem um
verdadeiro manual de teoria e prática litúrgicas.
A carta de São Paulo revela sua
preocupação em transmitir a forma exata da liturgia, nas palavras da instituição
tiradas da Última Ceia de Jesus:
De fato, eis o que eu recebi do
Senhor e o que vos transmiti: O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue,
tomou pão e após ter dado graças, partiu-o e disse:
'Isto é o meu corpo, em prol de vós,
fazei isto em memória de mim.
'Ele fez o mesmo Quanto ao cálice,
após a refeição, dizendo:
'Este cálice
é a nova aliança no meu sangue; fazei isto todas as vezes que dele beberdes, em
memória de mim'". (1, Coríntios 11,23-25.)
Paulo ressalta a importância da
doutrina da presença real e vê consequências funestas na descrença: "Pois
quem come e bebe sem discernir o corpo come e bebe a própria condenação". (1,
Coríntios 11,29.)
Missal Inspirado
Quando passamos dos livros do NOVO
TESTAMENTO e passamos para outras fontes dos tempo dos apóstolos e da época
imediatamente posterior, notamos os mesmos temas.
O conteúdo doutrinário é idêntico e
o permanece notavelmente parecido, até Quando a fé se espalhou para outras
terras e outras línguas.
O clero, os mestres e os defensores
da igreja primitiva estavam unidos pelo interesse em preservar as doutrinas
eucarísticas:
A presença real do corpo e sangue de
Jesus sob as espécies de pão e vinho; a natureza sacrifical da liturgia; a
necessidade de sacerdotes ordenados apropriadamente; a importância da forma
ritual.
Assim, o testemunho das doutrinas
eucarísticas da igreja é "ininterrupto", desde o tempo dos evangelhos
até hoje.
Além dos livros do NOVO TESTAMENTO,
o escrito cristão mais antigo que foi conservado é um manual litúrgico — que
poderíamos chamar missal-contido em um documento chamado Didaqué. (grego para
"instrução".)
A Didaqué alega ser a coletânea da
"instrução dos apóstolos" e foi provavelmente compilada em Antioquia,
na Síria, (veja Atos dos Apóstolos 11,26.) em algum momento durante os anos
50-100 depois de Cristo
A Didaqué usa a palavra "sacrifício"
quatro vezes para descrever a Eucaristia, uma vez declarando simplesmente:
"Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse…".
Na Didaqué também aprendemos que o
dia usual da liturgia era o "dia do Senhor" e que era costume se
arrepender dos pecados antes de receber a Eucaristia.
"Reúnam-se no dia do Senhor
para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o
sacrifício de vocês seja puro".
Quanto à ordem de sacrifício, a
Didaqué apresenta uma oração eucarística de admirável lirismo.
Encontramos
sua repercussão em liturgias e hinos dos cristãos de hoje, orientais e também
ocidentais:
Do mesmo modo como este pão partido
tinha sido semeado sobre as colinas, e depois recolhido para se tornar um,
assim também a tua Igreja seja reunida desde os confins da terra no teu reino,
porque tua é a glória e o poder…
por meio de
Jesus Cristo, para sempre.
Ninguém coma nem beba da Eucaristia,
se não tiver batizado em nome do Senhor…
Tu, Senhor Todo Poderoso, criaste
todas as coisas por causa do Teu Nome, e deste aos homens o prazer do alimento
e da bebida, para que te agradeçam.
A nós, porém, deste uma comida e uma
bebida espirituais, e uma vida eterna por meio de teu servo…
Lembra-te, Senhor, da tua Igreja,
livrando-a de todo mal e aperfeiçoando-a no teu amor.
Reúne dos
quatro ventos esta Igreja Santificada para o teu reino que lhe praparaste.
Raízes em Israel
A liturgia da Igreja primitiva
recorreu bastante aos ritos a às Escrituras do antigo Israel, como faz nossa
liturgia hoje.
No capítulo 2, analisamos como Jesus
instituiu a missa durante a festa da Páscoa.
Sua "ação de graças' — sua
Eucaristia — cumpriu, aperfeiçoou e transcendeu o sacrifício pascal.
Essa ligação era clara para a
primeira geração de cristãos, muitos dos quais eram judeus devotos.
Assim, as orações da Páscoa não
demoraram a fazer parte da liturgia cristã.
Considere as orações a respeito do
vinho e do pão sem fermento, na refeição pascal: "Bendito sejais, Senhor,
Deus do universo, pelo vinho que recebemos de vossa bondade, fruto da videira…
Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão que recebemos de vossa
bondade, fruto da terra…"
A frase:
"santo,
santo, santo, o Senhor de todo poder, sua glória enche a terra inteira!" (Isaías,
6,3.) foi outro trecho do culto judaico que entrou imediatamente nos ritos
cristãos.
Nós a encontramos no livro do Apocalipse,
mas ela aparece em uma carta escrita pelo quarto Papa, Clemente de Roma, por
volta de 96 depois de Cristo.
Recordações da Todah
Talvez o “antepassado"
litúrgico mais notável da missa seja a todah do antigo Israel.
Como a palavra grega Eucaristia, o
termo hebraico todah significa "oferenda de agradecimento" ou
"ação de graças".
A palavra indica uma refeição
sacrifical partilhada com amigos, a fim de celebrar a gratidão à Deus.
A todah começa com a recordação de
uma ameaça mortal e em seguida celebra a libertação divina do homem do homem
daquela ameaça.
É forte expressão de confiança na
soberania e na misericórdia de Deus.
O salmo 69 é um bom exemplo.
A súplica
insistente pela libertação (Ó Deus, salva-me.) é, ao mesmo tempo, celebração da
libertação futura. ("Poderei louvar o nome do Senhor com um canto… Pois o
Senhor ouve os pobres".)
Talvez o exemplo clássico da todah
seja o Salmo 22, que começa com: "Meu Deus, meu Deus, porque me
abandonaste?", que o próprio Jesus citou Quando agonizava na cruz.
Com certeza os ouvintes reconheciam
a referencia e sabiam que este cântico, que começa com um brado de desamparo,
termina com uma triunfante nota de salvação.
Ao citar essa todah, Jesus
demonstrou sua esperança confiante na salvação.
As semelhanças entre a todah e a
Eucaristia ultrapassam seu sentido comum de ação de graças.
O cardeal (hoje nosso amado Papa.)
Joseph Ratzinger escreveu: "Estruturalmente falando, a cristologia toda,
na verdade a cristologia eucarística toda, está presente na espiritualidade da todah,
do Antigo".
A todah e também a Eucaristia
apresentam a adoração por meio de palavra e refeição.
Alem disso, a todah, como a missa,
inclui uma oferenda não-sangrenta de pão sem fermento e de vinho.
Os rabinos antigos fizeram um
vaticínio significativo a respeito da todah:
"No tempo (messiânico.) que há
de vir todos os sacrifícios cessarão, exceto o sacrifício da todah.
Esse jamais cessará em toda a
eternidade".
Não aceitai substitutos
Também de Antioquia, na Síria, vem
nossa próxima testemunha para a doutrina eucarística da Igreja.
Por volta de 107 depois de Cristo,
santo Inácio, bispo de Antioquia, escreveu com frequência a respeito da
Eucaristia, enquanto viajava a caminho do martírio.
Ele fala da Igreja como "lugar
de sacrifício".
E, aos
filadelfos, ele escreveu:
"Preocupai-vos em participar de
uma só Eucaristia.
De fato, há
só uma carne de nosso Senhor Jesus Cristo e um só cálice na unidade de seu
sangue, um único altar, assim como um só bispo com o presbitério e os diáconos,
meus companheiros de serviço".
Na carta aos esmirnotas, Inácio
criticou os hereges que, já naquele tempo, negavam a verdadeira doutrina:
"Eles estão afastados da
Eucaristia e da oração porque não professam que a Eucaristia é a carne nosso
Salvador Jesus Cristo".
Ele aconselha os leitores Quanto às
características de uma verdadeira liturgia: "Considerai legítima a
Eucaristia realizada pelo bispo ou por alguém que foi encarregado por ele".
Inácio falava do sacramento com um
realismo que deve ter sido chocante para os que não estavam familiarizados com
os mistérios da fé cristã.
Com certeza, foram palavras como as
suas, tiradas do contexto, que alimentaram os boatos sem fundamento do Império
Romano, que por sua vez, produziram acusações de canibalismo.
Nas décadas seguintes, a defesa da
Igreja coube a um sábio convertido de Samaria chamado Justino.
Foi Justino que levantou o véu de
silencio a respeito da liturgia antiga.
Em 155 depois de Cristo, ele
escreveu ao imperador romano descrevendo o que agora, reconhecemos como sendo a
missa.
Vale a pena citar extensamente:
"No dia que se chama sol,
celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades e nos campos, e ai se
leem, enquanto o tempo o permite, as memórias dos apóstolos ou dos escritos dos
profetas.
Quando o leitor termina, o
presidente faz uma exortação e convite para imitarmos esses belos exemplos.
Em seguida, levantamo-nos todos
juntos e elevamos nossas preces… e por todos os outros espalhados pelo mundo
inteiro, suplicando que nos conceda, já que conhecemos a verdade, ser
encontrados por nossas obras como homens de boa conduta e observantes de que
nos mandaram, e assim consigamos a salvação eterna.
Terminadas as orações, nos damos
mutuamente o ósculo da paz.
Depois àquele
que preside aos irmãos é oferecido pão e uma vasilha com água e vinho;
pegando-os, ele louva e glorifica ao Pai do universo, através do nome de seu
Filho e do Espírito Santo.
E pronuncia uma longa ação de
graças, (em grego "eucharistia.) por ter-nos concedido esses dons que dele
provem.
Quando o presidente termina as
orações e a ação de graças, todo o povo presente aclama, dizendo: Amém.
Depois que o presidente deu ação de
graças e todo o povo aclamou, os que entre nós se chamam ministros dão a cada
um dos presentes parte do pão, do vinho e da água sobre os quais se pronunciou
a ação de graças e os levam aos ausentes.".
Justino começa a descrição
localizando-a diretamente no "dia que se chama do sol" — domingo — o
dia em que Jesus ressurgiu dos mortos.
Essa identificação de "dia do
Senhor" com o domingo é o testemunho universal dos cristãos primitivos.
Como dia principal de culto, o
domingo realizou e substituiu o sétimo dia, o sábado dos judeus.
Foi no dia do Senhor, por exemplo,
que João foi arrebatado "pelo Espírito" e teve a visão do Apocalipse.
(Apocalipse 1,10.)
Texto e Imagem
Justino explica o sacrifício e o
sacramento da Igreja. Contudo, ele não minimiza a presença real.
Usa o mesmo realismo explícito de
seu predecessor, Inácio: "o alimento sobre o qual foi dita a ação de
graças-alimento com o qual, por transformação, se nutrem nosso sangue e nossa
carne-é a carne daquele mesmo Jesus encarnado".
Ao falar com os judeus, Justino foi
mais além e explicou que o sacrifício da Páscoa e os sacrifícios do Templo eram
simplesmente prenúncios do único sacrifício de Jesus Cristo e sua representação
na liturgia:
"A oferta da flor de farinha…
que os que se purificam da lepra deviam oferecer, era figura do pão da
Eucaristia, a celebração que nosso Senhor Jesus Cristo mandou oferecer".
Essa era a experiência católica, ou
universal, da Eucaristia.
Entretanto,
embora a doutrina permanecesse a mesma em todo o mundo, a liturgia era, na
maior parte, um assunto local.
Cada bispo era responsável pela
celebração da Eucaristia em seu território e, aos poucos, regiões diferentes
criaram estilos próprios da prática litúrgica:
sírio,
romano, galicano etc.
No entanto, é notável o Quanto essas
liturgias — amplamente variadas como eram — tinham em comum.
Com poucas exceções, compartilhavam
os mesmos elementos básicos:
um rito de
arrependimento, leituras das Escrituras, salmos entoados ou recitados, homilia,
"hinos angelicais", oração eucarística e a sagrada comunhão.
As igrejas seguiam São Paulo ao
tomar um cuidado especial para transmitir as palavras da instituição, as
palavras que transformam o pão e o vinho no corpo e sangue de Cristo:
"Isto é o meu corpo… Este é o cálice do meu sangue".
Aquele velho refrão familiar
A partir do início do século 3, o
registro em papiro revela maior preocupação com a preservação das palavras
exatas das liturgias atribuídas aos apóstolos.
No início de 300 depois de Cristo,
surge, no norte da Síria, outra compilação da tradição recebida:
a Didascália
Apostolorum. ("O ensinamento dos apóstolos".)
A Didascália inclui páginas de
textos de oração e também instruções detalhadas para os papéis litúrgicos e
cerimoniais de bispos, sacerdotes, diáconos, mulheres, crianças, jovens
adultos, viúvas, órfãos e viajantes.
Por volta de 215 depois de Cristo,
Hipólito de Roma compôs sua grande obra, A tradição apostólica, na qual
registrou os ensinamentos litúrgicos e teológicos que a Igreja romana preserva
desde o tempo dos apóstolos.
Uma parte estabelece um roteiro
compacto de liturgia para a ordenação de sacerdotes.
Enquanto na descrição de Justino
"vemos" nossa missa, na obra de Hipólito nós a ouvimos.
Sacerdote:
O senhor
esteja no meio de nós.
Congregação:
Ele está no
meio de nós.
Sacerdote:
Corações ao
alto!
Congregação:
O nosso
coração está em Deus.
Sacerdote:
Demos, graças
ao Senhor nosso DEus.
Congregação:
É nosso dever
e nossa salvação.
Do mesmo período, encontramos os
textos mais antigos das liturgias que reivindicam linhagem apostólica, as
liturgias de são Marcos, são Tiago e são Pedro — ainda usadas em muitos lugares
do mundo.
A liturgia de são Tiago era o rito
preferido da antiga Igreja de Jerusalém, que proclamou Tiago seu primeiro bispo.
As liturgias de Tiago, Marcos e
Pedro são teologicamente compactas, poéticas, ricas em citações das Escrituras.
Lembre-se que, como poucas pessoas
sabiam ler e ainda menos tinham recursos para mandar copiar livros, a liturgia
era ocasião em que os cristãos assimilavam a Bíblia.
Assim, desde os primeiros tempos da
Igreja, a missa foi impregnada das escrituras.
Embora suas palavras falem com eloquência
do sacrifício de Cristo, as liturgias antigas repercutem igualmente em seus
silêncios:
— Que toda carne mortal
guarde silêncio, e se levante com medo e temor, e não medite em nada terreno.
Pois o Rei
dos reis e Senhor dos senhores, Cristo nosso Deus, apresenta-se para ser
sacrificado e ser dado como alimento aos fiéis.
E as milícias
celestes vão à frente dele, com todo poder e domínio, os querubins de muitos
olhos e os serafins de seis asas, que cobrem a face e entoem em voz alta o
hino:
Aleluia,
Aleluia, Aleluia.
Lembre-se de tudo isto:
os sons e os
silencios das primeiras missas da Igreja.
Você vai encontrá-los de novo no
céu, quando examinarmos o livro de Apocalipse mais atentamente.
Vai encontrá-los de novo no céu,
quando for a missa no domingo que vem.
Capítulo, Quarto — saboreie e veja — e ouça e
toque — o Evangelho. — Para entender as partes da missa.
Algumas pessoas de coração romântico
gostam de pensar que o culto primitivo era puramente espontâneo e improvisado.
Gostam de imaginar os primeiros
fiéis tão cheios de entusiasmo que o louvor e a ação de graças simplesmente
transbordavam em profunda oração Quando a Igreja se reunia para partir o pão.
Afinal de contas, quem precisa de
missal a fim de exclamar "eu te amo"?
Outrora Scott acreditava nisso.
Entretanto, o
estudo das Escrituras e da tradição o levaram a ver o bom senso da ordem no
culto.
Enquanto Scott ainda era
protestante, aos poucos foi sendo atraído à liturgia e procurou"formar uma
liturgia a partir das palavras das Escrituras.
Scott não
sabia que isso já tinha sido feito.
Já com São Paulo, vemos a preocupação
da Igreja com a exatidão ritual e o cerimonial litúrgico.
Scott crê haver, boa razão para
isso!
Scott pede para que algum romântico
tenha paciência enquanto ele diz que "ordem e rotina" não são
necessariamente más.
De fato, são indispensáveis para uma
vida boa, piedosa e serena.
Sem horários
e rotinas, pouco realizaríamos em nosso dia de trabalho.
Sem frases pré determinadas, o que
seriam nossos relacionamentos humanos?
Scott diz que nunca encontrou pais
que se cansassem de ouvir os filhos repetirem antiga expressão:
"Obrigado".
Nunca
encontrou esposos que se enjoassem de ouvir:
"Eu te
amo".
A fidelidade a nossas rotinas é um
meio de demonstrar amor.
Não
trabalhamos por trabalhar, ou agradecemos ou damos afeto Quando estamos
inclinados a fazê-lo por fazê-lo.
Amores verdadeiros são amores que
vivemos com constância se revela na rotina.
A liturgia forma hábitos.
As rotinas não são apenas boa teoria.
Funcionam na
prática.
A ordem deixa a vida mais tranquila,
mais eficiente e mais eficaz.
De fato Quanto mais rotinas criamos,
mais eficientes nos tornamos.
As rotinas
nos libertam da necessidade de cogitar a todo momento em pequenos detalhes; as
rotinas deixam os bons hábitos tomar conta e libertam a mente e o coração a
seguirem para frente e para o alto.
Os ritos da liturgia cristã são as
frases pré determinadas que, através do tempo, se manifestaram: o obrigado dos
filhos de Deus; o eu te amo da esposa de Cristo, a Igreja.
A liturgia é o hábito que nos faz
altamente eficientes, não apenas na "vida espiritual", mas na vida em
geral, pois a vida deve ser vivida em um mundo que Deus criou e redimiu.
A liturgia cativa a pessoa toda:
corpo, alma e
espírito.
Scott lembra a primeira vez que
participou de uma liturgia católica, as Vésperas em um seminário bizantino.
Sua formação e seu treinamento
calvinistas não o prepararam para a experiência — o incenso e os ícones, as
prostrações e as reverências, o canto e os sinos.
Todos os seus sentidos foram
absorvidos.
Depois um
seminarista pergunta a Scott:
"O que
achou?" Scott só consegue dizer:
"Agora
sei porque Deus me deu um corpo:
Para adorar o
Senhor com seu povo na liturgia".
Os católicos não apenas ouvem o
Evangelho.
Na liturgia,
nós a ouvimos, vemos, cheiramos e saboreamos.
A divisão de um bom momento.
Talvez a frase em que ouvimos mais
claramente o chamado à missa seja a que ressoa na maior parte das liturgias do
mundo todo, em toda a história da Igreja:
"Corações
ao alto!"
Aonde vão nossos corações? para o
céu, pois a missa é o céu na terra.
Contudo antes de perceber isso
claramente, (e eis um segredo: antes de entendermos o livro do apocalíse.)
temos de entender as partes da missa.
Neste capítulo, vamos caminhar passo
a passo pela liturgia, para ver como "funciona" cada elemento — de
onde vem e para que serve.
Embora só tenhamos espaço para
tratar de alguns dos principais detalhes, eles devem bastar para nos ajudar a
contemplar a missa e a descobrir sua lógica interior pois, se não entendermos
as partes e o todo, a missa poderá se tornar rotina tediosa, sem participação
sincera; e esse é o tipo de rotina que dá má fama à rotina.
Primeiro, devemos entender que a
missa de divide realmente eu duas:
a
"liturgia da palavra" e a "liturgia eucarística".
Essas metades dividem-se ainda em
rituais específicos.
Na Igreja latina, a liturgia da
Palavra inclui: a entrada, os ritos iniciais, o ato penitencial e as leituras
das Escrituras.
A liturgia eucarística divide-se em
quatro partes:
o ofertório,
a oração eucarística, o rito da comunhão e os ritos finais.
Embora os atos sejam muitos, a missa
"é uma só oferenda", isto é, o sacrifício de Jesus Cristo, que renova
nossa aliança com Deus Pai.
Os propósitos da cruz.
É provável que, entre os cristãos
primitivos, o sinal-da-cruz fosse a expressão de fé mais universal.
Aparece com frequência nos
documentos do período.
Na maioria dos lugares, o costume
era apenas traçar a cruz sobre a fronte.
Alguns autores (como São Jerónimo e
santo Agostinho.) descrevem os cristãos traçando sobre a fronte, em seguida
sobre os lábios e depois sobre o coração, exatamente como fazem os católicos
ocidentais modernos antes da leitura do Evangelho.
Grandes santos também atestam o
poder extraordinário do sinal.
No século 3,
são Cipriano de Cartago escreveu que "no… sinal-da-cruz está toda virtude
e todo poder… Neste sinal-da-cruz está a salvação para todos os marcados na
fronte". (Referência; aliás do Apocalipse Capítulo 7, versículo 3 e Capítulo
14, versículo 1.)
Um século mais tarde, santo Atanásio
declarou que "pelo sinal-da-cruz toda mágica cessa e toda feitiçaria não
dá resultado".
Satanás é
impotente diante da cruz de Jesus Cristo.
O sinal-da-cruz é o gesto mais
profundo que fazemos.
É o mistério
do evangelho em um momento.
É a fé cristã
resumida em um único gesto.
Quando nos persignamos, renovamos a
aliança que se iniciou com nosso batismo.
Com nossas
palavras, proclamamos a fé trinitária na qual fomos batizados. ("Em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Santo".)
Com a mão, proclamamos nossa
redenção pela cruz de Jesus Cristo.
O maior
pecado da história da humanidade — a cruxifixão do Filho de Deus — tornou-se o
maior ato de amor misericordioso e de poder divino.
A cruz é o meio pelo qual somos
salvos, pelo qual entramos em comunhão com a natureza divina. (veja 2, Pedro
1,4.)
Trindade, encarnação e redenção — o
credo todo passa como um raio naquele breve momento.
No Oriente, o gesto é ainda mais
fecundo, pois os cristãos traçam o sinal juntando os três primeiros dedos (polegar,
indicador e médio.) separados dos outros dois: (anular e mínimo.) os três dedos
juntos representam a unidade da Trindade, os dois dedos juntos representam a
união das duas naturezas de Cristo, a humana e a divina.
Não é apenas um ato de culto.
É também um
lembrete de quem somos nós."
Pai, Filho e
Espírito Santo" reflete um relacionamento familiar, a vida interior e a
comunhão eterna de Deus.
A nossa é a única religião com um
Deus que é uma família.
O próprio
Deus é uma "família eterna", mas por causa de nosso Batismo, ele é
nossafamíla também.
O Batismo é um sacramento que vem da
palavra latina para juramento (sacramentum.) e por esse juramento estamos
ligados à família de Deus.
Ao fazer o sinal da cruz, iniciamos
a missa com um lembrete de que somos filhos de Deus.
Também renovamos o juramento solene
do Batismo. Fazer o sinal-da-cruz, então, é como jurar sobre a Bíblia num
tribunal.
Prometemos que viemos à missa para
dar testemunho.
Assim, não
somos espectadores do culto, mas participantes ativos, testemunhas e juramos
dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade.
Que Deus nos ajude.
Rito para os Pecados.
Se estamos no banco das testemunhas,
quem está sendo julgado? O ato penitencial deixa isso claro: nós.
As diretrizes litúrgicas mais
antigas que temos, a "Didaqué", dizem que um ato de confissão deve
preceder nossa participação na Eucaristia.
Porém o bonito da missa é que
ninguém se levanta para nos acusar, a não ser nós mesmos. "Confesso a Deus
todo-poderoso… que pequei… por minha culpa".
Pecamos. Não podemos negar."
se dissermos:
'Não temos
pecado', enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós". (1, São
João 1,9.)
Além disso, diz a Bíblia, até o
justo cai sete vezes por dia. (veja Provérbios 24,16.) Não somos exceção e a
sinceridade exige que reconheçamos nossa culpa.
Até nossos pecados pequenos são
assunto sério, pois cada um deles é uma ofensa contra um Deus de grandeza
incomensurável.
Assim, na missa, declaramo-nos
culpados e então nos entregamos à misericórdia do tribunal celeste.
No "Kyrie", suplicamos a
misericórdia de cada uma das três pessoas divinas da Trindade:
"Senhor,
tende piedade de nós.
Cristo tende
piedade de nós.
Senhor tende
piedade de nós".
Não damos desculpas nem
justificativas.
Pedimos
perdão e ouvimos a mensagem de misericórdia. Se uma única palavra capta o
sentido da missa, essa palavra é "misericórdia".
A frase "Senhor, tende piedade
de nós" aparece com frequência nas Escrituras, nos dois testamentos. (veja
Salmo 6,3; 31,10; São Mateus, 15,22; 17,15; 20,30.)
O ANTIGO TESTAMENTO ensina inúmeras
vezes que a misericórdia está entre os maiores atributos de Deus. (ÊXODO 34,6;
Jonas 4,2.)
O "Senhor, tende piedade de nós
persiste desde as liturgias cristãs mais primitivas.
De fato, até
no Ocidente latino, está muitas vezes preservada na forma grega mais antiga,
"Kyrie, eleison".
Em algumas liturgias do Oriente, a
congregação repete o "Kyrie" em resposta a uma longa litania, que
implora favores de Deus.
Entre os bizantinos, essas súplicas
pedem insistentemente a paz: "Na paz, rezemos ao Senhor… Pela paz do alto…
Pala paz do mundo todo.
O GLÓRIA.
Rezamos pela paz e em poucos
segundos, proclamamos a realização de nossas preces:
"Glória
a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados".
Essa oração existe desde pelo menos
o século 2.
Sua aclamação
inicial vem do hino que os anjos entoaram Quando Jesus nasceu (São Lucas. 2,14.)
e os versos seguintes repetem os louvores dos anjos ao poder de Deus do livro
do Apocalipse. (Apocalipse 15,3-4.)
Louvamos a Deus imediatamente pelas bênçãos
que acabamos de suplicar. É nosso testemunho do podes de Deus.
É sua glória.
Jesus disse: "Tudo que pedirdes
em meu nome, eu o farei, de tal forma que o Pai seja glorificado no Filho.
Se me
pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei". (São João 14,13-14.)
O Glória clama com a alegria, a
confiança e a esperança que sempre marcaram os fiéis.
No Glória, a missa lembra a
'Todah" da antiga aliança, que já analisamos.
Nosso sacrifício é súplica
insistente pela libertação, mas é, ao mesmo tempo, celebração e ação de graças
por essa libertação.
É a fé de alguém que conhece a
providência divina. É o Glória!
A Igreja do Evangelho Completo
O momento que define a liturgia da
Palavra é, claro, a proclamação da Palavra de Deus.
Aos domingos, em geral isso inclui
uma leitura do ANTIGO TESTAMENTO, a recitação de um salmo, e uma leitura tirada
das cartas neotestamentárias, tudo levando à leitura do Evangelho. (Na vigília
Pascal temos até dez leituras da Bíblia.)
Incluindo tudo, é uma fonte de
influencia das Escrituras.
Os católicos que participam todos os
dias da missa, ouvem, ao longo de três anos, a leitura de quase toda a Bíblia —
além disso, há os filões de ouro bíblico inseridos em todas as outras orações
da missa… Não deixe nunca as pessoas lhe dizerem que a Igreja não chama os
católicos para ser "cristãos bíblicos".
De fato, o "habitat
natural" da Bíblia está na liturgia. Segundo são Paulo (Romanos 10,17…)
"a fé vem da pregação, e a pregação é o anúncio da palavra de
Cristo".
Note que ele "não" disse:
"A fé
vem da leitura". Nos primeiros século da Igreja não havia máquinas de
impressão. A maioria das pessoas não tinha recursos para mandar copiar os
evangelhos à mão e, de qualquer modo, muita gente não sabia ler.
Assim, como agora, recebiam o
evangelho completo.
As leituras que ouvimos na missa são
programadas com antecedência para um ciclo trienal em um livro chamado
Lecionário.
Esse livro é antídoto eficaz para a
tendência que Scott tinha, como pregador protestante, de identificar seus
textos favoritos e pregá-los inúmeras vezes.
Scott passava anos sem tocar em
alguns livros do ANTIGO TESTAMENTO. Isso nunca é problema para os católicos que
participam regularmente da missa.
Toda a atenção possível não é demais
durante as leituras, que são preparação normal e essencial para nossa sagrada
comunhão com Jesus.
Um dos grandes biblistas da Igreja
primitiva, Orígenes, (século 3.) exortou os cristãos a respeitar a presença de
Cristo no Evangelho, como respeitam sua presença na hóstia.
"Vocês, que estão acostumados a
participar do mistério divino, sabem, Quando recebem o corpo do Senhor,
protegê-lo…
com toda
cautela e veneração, para que não caia dele nenhuma partícula, para que nada se
perca da dádiva consagrada, pois acreditam, e com razão, que são responsáveis
se algum pedacinho cair dali por negligência. Mas se estão certos em preservar
com tanto cuidado seu corpo, por que acham que há menos culpa em negligenciar a
Palavra de Deus do que em negligenciar seu corpo?
Dezessete século mais tarde, o
Concílio Vaticano 2º repetiu esse antigo ensinamento para o nosso tempo:
"A
Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o próprio
Corpo do Senhor, já que, principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar toma da
mesa tanto da palavra de Deus Quanto do Corpo de Cristo. (Dei Verbum 21.)
"Ninguém", disse Orígenes,
"entende de coração… se não é receptivo e totalmente aplicado."
Isso descreve você e eu Quando
ouvimos as leituras da missa?
Precisamos estar particularmente
atentos durante as leituras porque, desde o início da missa, você e eu estamos
sob juramento.
Ao receber a Palavra — que,
reconhecemos, vem de Deus, — concordamos em estar ligados à Palavra.
Em resultado, estamos sujeitos a
julgamento, dependendo de como pomos em prática as leituras da missa.
Na antiga aliança, ouvir a Lei era
concordar em viver segundo a Lei.
Também na
nova aliança, estamos ligados ao que ouvimos, como veremos no livro do Apocalipse.
A Necessidade de Prestar Atenção ao Credo
Capítulo 4
A liturgia da Palavra prossegue, aos
domingos, com a homilia (ou sermão.) e o Credo.
Na homilia, o sacerdote ou o diácono
nos apresenta um comentário da palavra inspirada de Deus.
As homilias devem se basear nas
Escrituras do dia, esclarecendo as passagens obscuras e indicando aplicações
práticas para a vida.
As homilias não tem de nos entreter.
Jesus vem a
nós em humildes hóstias sem gosto, e assim também o Espírito Santo às vezes
opera por intermédio de um pregador monótono e sem brilho.
Depois da homilia, recitamos o Credo
niceno, que é a fé resumida em apenas algumas linhas.
As palavras do Credo são
meticulosas, com clareza e estilo brilhantes.
Comparando a
orações como o Glória, o Credo niceno parece moderado, mas as aparencias
enganam.
Como disse a grande e já falecida
Dorothy Sayers, o drama está no dogma, pois aqui proclamamos doutrinas pelas
quais os cristãos do Império Romano foram presos e executados.
No século 4, o Império quase
explodiu em guerra civil por causa das doutrinas da divindade de Jesus e sua
união com o Pai.
Novas heresias surgiram e se
espalharam pela Igreja como um câncer, ameaçando a vida do corpo.
Coube aos grandes Concílios de
Nicéia (Ano 325.) e Constantinopla (Ano 381.) — com o empenho de algumas das
maiores inteligências e almas da história eclesiástica — dar à crença católica
básica essa formulação definitiva, embora a maioria das diretrizes do Credo já
fossem de uso comum pelo menos desde o século 3.
Depois desses concílios, muitas
Igrejas do Oriente exigiam que os fiéis cantassemo Credo toda semana — não
apenas o recitassem — porque isso era, na verdade, boa nova, uma boa nova
salvadora de vidas.
O cardeal (hoje nosso papa.) Joseph
Ratzinger expôs sucintamente a ligação entre o Evangelho e o Credo: "Por
definição, o dogma não é outra coisa senão a interpretação da Escritura… que se
origina da fé através dos séculos". O Credo é a "fé de nossos
pais" que "ainda vive".
Do mesmo modo, o documento de 1989
da Comissão Teológica Internacional, "Sobre a interpretação dos
dogmas", declara:
"No dogma da Igreja a
preocupação é com a correta interpretação das Escrituras… Uma época posterior
não reverte o que foi formulado com o auxílio do Espírito Santo
como chave
para a leitura das Escrituras".
Quando recitamos o Credo no domingo,
aceitamos publicamente essa fé bíblica como verdade objetiva.
Entramos no drama do dogma, pelo
qual nossos antepassados estavam dispostos a morrer.
Desse modo, juntamo-nos a esses
antepassados Quando recitamos a "oração dos fiéis", nossa súplicas.
O Credo nos
dá poderes para entrar no mistério intercessor dos santos.
Neste ponto, a liturgia da Palavra
chega ao fim e entramos nos mistérios da Eucaristia.
Dê-lhe Uma Oferenda Que Ele Não Possa Recusar
A liturgia eucarística começa com o
ofertório, e o ofertório anuncia nosso compromisso. Trazemos pão, vinho e
dinheiro para manter o trabalho da Igreja.
Na Igreja primitiva, os fiéis
realmente assavam o pão e faziam o vinho para a celebração; no ofertório, eles
os apresentavam. (Em algumas Igrejas orientais, o pão e o vinho ainda são
produzidos pelos paroquianos.)
A questão é esta:
nós nos
oferecemos juntamente com tudo que temos.
Não porque
somos especiais, mas porque sabemos que o Senhor toma o que é temporal e o faz
eterno, toma o que é humano e o faz divino.
O Concílio Vaticano 2º falou de
maneira convincente a respeito da oferenda do laica-to: “todas as suas obras,
preces e iniciativas apostólicas, vida conjugal e familiar, trabalho cotidiano,
descanso do corpo e da alma… tornam-se 'hóstias espirituais agradáveis a Deus,
por Jesus Cristo', (1, Pedro 2,5.) hóstias que são piedosamente oferecidas ao
Pai com a oblação do Senhor na celebração da Eucaristia.
Assim também
os leigos, como adoradores agindo santamente em toda parte, consagram a Deus o
próprio mundo". (Lumem Gentim 34.)
Tudo que temos vai ao altar para ser
santificado em Cristo.
O sacerdote
faz a ligação explícita enquanto derrama a agua e o vinho nos cálices:
"Pelo mistério desta agua e deste vinho possamos participar sa dinvindade
de Cristo, que se dignou assumir a nossa humanidade".
Essa mistura é símbolo magnífico que
indica a união das naturezas divina e humana de Cristo, o sangue e a agua que
saíram de seu lado na cruz e a união de nossas dádivas perfeita que o Senhor
faz de si mesmo.
É uma oferenda que o Pai não pode
recusar.
Mobilidade Para o Alto
Agora, depois de elevar as dádivas,
o sacerdote nos convida: "Corações ao alto".
Esta imagem é poderosa e se encontra
nas liturgias cristãs do mundo todo, desde os tempos primitivos.
Erguemos o coração para o céu.
Nas palavras
do Apocalíse, (veja Apocalipse 1,10; 4,1-2.) somos arrebatados pelo Espírito — para
o céu.
De agora em diante, dizemos, veremos
a realidade com a fé, não com os olhos.
Então, o que vemos nesse céu?
Reconhecemos que à nossa volta toda estão os anjos e santos. Cantamos o cânticos
que, de acordo com muitos relatos, os anjos e santos proclamam diante do trono
celeste. (Apocalipse 4,8; Isaías, 6,2-3.)
No Ocidente, nós o chamamos de
"Sanctus" ou "Santo, Santo, Santo"; no Oriente é o
"Trisagion" ou "Hino do três vezes Santo".
Em seguida, temos o clímax do
sacrifício eucarístico, a grande oração eucarística. (ou Anáfora.) É Quando
fica claro que a nova aliança não é um livro, mas uma ação, e essa ação é a
Eucaristia.
Há muitas orações eucarísticas em
uso em toda a Igreja, mas todas contêm os mesmos elementos:
Epiclese. É
Quando o sacerdote coloca as mãos sobre sa dádivas e invoca o Espírito Santo. É
um poderoso encontro com o céu, mais suntuosamente apreciado no Oriente.
A narrativa da instituição é o
momento em que o Espírito e a Palavra transformam os elementos do pão e do
vinho no corpo e sangue, alma e divindade de Jesus Cristo.
Agora o sacerdote relata o drama da
Última Ceia, Quando Jesus fez provisões para a renovação do sacrifício de sua aliança
para todo o sempre.
O que o Êxodo 12 foi para a Liturgia
da Páscoa, os evangelhos são para a oração eucarística — mas com uma grande
diferença. As palavras da nova Páscoa "efetuam o que expressam".
Quando pronuncia as palavras da
instituição — "Isto é meu corpo… Este é o cálice do meu sangue, o sangue
da nova e eterna aliança" — O sacerdote não narra apenas, ele fala na
pessoa de Cristo, que é o principal celebrante da missa.
Pelo sacramento da Ordem, um homem
muda sua verdadeira existência; como sacerdote, torna-se outro Cristo Jesus
ordenou os apóstolos e seus sucessores para celebrarem a missa, Quando disse:
"Fazei isto… em memória de mim". (1, Coríntios 11,25.) Observe que
lhes ordenou:
fazei isto e
não "escrevei isto" ou "lede isto".
Memento.
Usamos as
palavras "memento" ou "memorial" para descrever a parte
seguinte da oração eucarística, mas essas palavras não fazem muita justiça aos
termos da língua original.
No ANTIGO TESTAMENTO, por exemplo,
lemos com frequência que Deus "se lembrou de sua aliança".
Ora, não é
como se Ele pudesse esquecer sua aliança, mas, em determinadas ocasiões, em
benefício de seu povo, Ele a renovou.
Reapresentou-a.
Redecretou-a.
É isso que
Ele faz, por intermédio do sacerdote, no memorial da missa. Ele renova sua
aliança.
Oferecimento. O "memorial"
da missa não é imaginário. Tem carne; é Jesus em sua humanidade glorificada, e
Ele é nosso oferecimento."
Celebrando agora, ó Pai, a memória
do vosso Filho, da sua paixão que nos salva… nós vos oferecemos em ação de
graças este sacrifício de vida e santidade. (Terceira Oração eucarística.)
Intercessões.
Então, com o
próprio Jesus Cristo, rezamos ao Pai pelos vivos e pelos mortos, por toda
Igreja e por todo o mundo.
Doxologia. O fim da oração
eucarística é um momento emocionante. Nós o chamamos "doxologia",
termo grego, para "palavra de glória".
O sacerdote
ergue o cálice e a hóstia, a que agora se refere como Cristo.
Este é Jesus
e "Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, na
unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória, agora e para
sempre". Aqui, nosso "Amém" deve ser retumbante; é
tradicionalmente chamado “o grande Amém".
No século 4, São Jerónimo relatou
que, em Roma, quando o grande Amém era proclamado, todos os templos pagãos
tremiam.
Assuntos de Família.
Em seguida à oração eucarística
rezamos o Pai-nosso, a oração que Jesus nos ensinou.
Nós a encontramos nas antigas
liturgias e ela deve ter um sentido mais fecundo para nós no contexto da missa
— e, em especial, no contexto da missa como céu na terra.
Renovamos nosso Batismo como filhos
de Deus, que chamamos "Pai nosso".
Tendo levantado o coração para o
alto, estamos agora no céu com ele. Ao celebrar a missa, santificamos seu nome.
Ao unir nosso sacrifício com o
eterno sacrifício de Jesus, vemos feita a vontade a vontade de Deus "assim
na terra como no céu".
Temos diante de nós Jesus, o
"pão nosso de cada dia" e este pão vai perdoar "nossas
ofensas", porque a sagrada comunhão apaga todos os pecados veniais.
Conhecemos, portanto, a misericórdia
e por isso mostraremos misericórdia, ao perdoar "os que nos
ofenderam".
E pela
sagrada comunhão, obteremos nova força para vencer as tentações e o mal.
A missa realiza perfeitamente o
Pai-nosso, palavra por palavra.
Nunca é demais ressaltar a relação
entre "o pão nosso de cada dia" e a hóstia eucarística diante de nós.
Em seu clássico ensaio a respeito do
Pai-nosso, o biblista padre Raymond Brown demonstrou que esta era a admirável
crença dos cristãos primitivos: "Há, então, boa razão para ligar o maná
veterotestamentário e o pão eucarístico neotestamentário com a súplica… Desse
modo, ao pedir ao Pai:
'O pão nosso
de cada dia nos dai hoje', a comunidade empregava palavras diretamente ligadas
à Eucaristia. E por isso, nossa liturgia romana não está longe do sentido
original da súplica ao fazer o pai-nosso introduzir a comunhão da missa".
Assim começa o "rito da
comunhão" e não devemos deixar de notar a força da palavra comunhão.
No tempo de Jesus, a palavra (Koinonia,
em grego.) era usada com mais frequência para definir um laço de família.
Com a comunhão, renovamos nossos
laços com a família eterna, a Família que é Deus e com a família de Deus na
terra, a Igreja.
Expressamos nossa comunhão com a
Igreja no sinal da paz.
Nesse gesto antigo, cumprimos a
ordem de Jesus para nos reconciliar com nosso irmão antes de nos aproximar do
altar. (veja São Mateus, 5,24.)
Nossa oração seguinte, o
"Cordeiro de Deus" recorda o sacrifício pascal e a
"misericórdia" e a "paz"da nova Pascoa.
O sacerdote, então, parte a hóstia e
a eleva — "um cordeiro, que parecia imolado" (Apocalipse 5,6.) — e
proclama as palavras de João Batista: "Eis o cordeiro de Deus. (São João
1,36.)
E só podemos responder nas palavras
do centurião romano: "Senhor, eu não sou dígno de que entreis em minha
morada; mas dizeis uma só palavra…" (São Mateus, 8,8.)
Em seguida, nós o recebemos em comunhão.
Recebemos aquele que louvamos no Glória e proclamamos no Credo!Aquele diante de
quem fizemos nosso juramento solene! Aquele que é a nova aliança esperada
durante toda história humana!
Quando Cristo vier no fim dos
tempos, ele não terá uma só gota de glória a mais do que neste momento, Quando
o consumimos todo.
Na Eucaristia recebemos o que
seremos por toda a eternidade, Quando formos levados ao céu para nos juntarmos
à multidão celeste no banquete das núpcias do Cordeiro.
Na sagrada comunhão, já estamos lá.
Isso não é metáfora.
É a verdade
metafísica nua e crua, calculada e exata que Jesus Cristo ensinou.
vocês Foram Enviados ao Céu.
Depois de tanta coisa, a missa
parece terminar de maneira inesperada — com uma bênção e "A missa terminou.
Ide em paz e
o Senhor vos acompanhe"{{Pause=2}}
Parece estranho que a palavra
"missa" venha dessas apressadas palavras finais: Ite, missa est. (literalmente:
"Ide, a prece foi enviada à Deus.)
Mas os antigos entendiam que a missa
era um envio.
Essa última
linha não é tanto demissão Quanto comissão.
Unimo-nos ao sacrifício de Cristo.
Saímos agora da missa a fim de viver
o mistério, o sacrifício que acabamos de celebrar por meio do esplendor da vida
comum no lar e no mundo.
2ª PARTE — A revelação de Deus
Capítulo, Primeiro — "Voltei-me para
Olhar". — O Sentido Em Meio à Estranheza.
Scott diz que esses 4 primeiros
capítulo foram a parte mais fácil.
Afinal de
contas, em sua maioria, os católicos tem pelo menos uma vaga percepção da missa.
Estão familiarizados com as orações
e os gestos, mesmo que os tenham suportado de maneira sonolenta.
Entretanto, com este capítulo,
voltamo-nos para olhar (Apocalipse 1,12.) aquilo a que muitos católicos voltam
as costas — as vezes por medo, outras vezes por frustração.
O livro do Apocalipse, o ultimo da
Bíblia, parece mesmo um livro estranho: cheio de guerras assustadoras e fogos
devoradores, rios de sangue e ruas pavimentadas de ouro.
Em todas as suas partes, o livro
parece desafiar o bom senso e o bom gosto.
Vejamos só um EXEMPLO famoso, a
praga de gafanhotos relatada por João:
"desta
fumaça espalharam-se gafanhotos… [que] tinham o aspecto de cavalos equipados
para o combate; nas suas cabeças havia como que coroas de ouro e suas faces
eram como faces humanas. Tinham cabelos como que de mulheres e seus dentes eram
como dentes de leão.
Tinham
couraças como de ferro e o ruído de suas asas era o ruído de carros com muitos
cavalos… Tem caudas como as dos escorpiões, armadas de ferrões; nas caudas
reside o seu poder de causar dano aos homens durante cinco meses". (Apocalipse
9,3. 7-10.)
Não sabemos se devemos rir ou gritar
de medo. Com o devido respeito, queremos perguntar a são João: "Tudo bem,
deixe-me ver se entendi direito:
Você viu
gafanhotos de cabelos compridos, com dentes de leão e faces humanas… e eles
usavam coroas de ouro e armaduras?
A grande tentação é simplesmente nos
eximir de ler o Apocalipse lembrando a Deus que temos compromissos urgentes
aqui na terra.
De fato os detalhes do livro do Apocalipse
são muitíssimo estranhos. Ao contrário, Scott nos convida a ir com ele em uma
pesquisa, para que descubramos, como ele descobriu, que há um sentido em meio à
estranheza.
A Mancha Que Não Se Parece Com Nada
Scott diz que Quando começou a
estudar o livro do Apocalipse, era protestante, de expressão evangélica e
teologia calvinista.
Como muitos outros evangélicos,
achava esse livro fascinante. É Escritura, claro, e ele julgava regra de fé ser
"tão-sómente a Escritura".
Além disso, o Apocalipse ocupa uma
posição proeminente: O derradeiro livro da Bíblia — a "última
palavra" de Deus, por assim dizer.
Também
parecia a Scott ser o livro mais misterioso e enigmático da Bíblia, e ele
achava isso tentador demais para deixar passar.
Considerava o Apocalipse um enigma
que Deus o desafiava a solucionar, um código que implorava para ser decifrado.
E Scott tinha companhia.
Á medida que
o segundo milenio se aproximava do fim, a interpretação do livro
transformava-se em atividade particular entre seus irmãos evangélicos.
A cada ida à livraria, ele descobria
novas e mais promissoras revelações a respeito da Revelação.
Isso nem sempre aconteceu com os
intérpretes protestantes.
O primeiro
protestante genuíno, Lutero, achava o Apocalipse fantástico demais.
Durante algum tempo chegou a
rejeitar seu lugar na Bíblia, porque, disse ele, "uma revelação deve ser
reveladora".
Contudo, o Apocalipse é sempre
revelador, visto que expõe os preconceitos, as ansiedades e a inclinação
ideológica de cada intérprete em particular.
Este livro continua a ser uma
espécie de mancha de Rorschah para os cristãos.
Os pregadores
tentam primeiro discernir uma ordem no texto, o que costuma ser um esforço
inútil, pois o livro não tem os princípios metodológicos de uma obra literária:
um enredo ou
argumento convencional.
Não encontrando ordem, eles tentam
impo-la.
Foi esse,
mais ou menos, o padrão que Scott seguiu durante seus anos de seminarista e
ministro protestante.
Em geral, acontece que um detalhe em
particular prende a imaginação e se torna a chave interpretativa para a leitura
do livro todo.
O "milênio" por exemplo — conceito
que só aparece no capítulo 20 do Apocalipse — começa deturpar tudo que o
intérprete vê nos capítulos 1-19 e 21-22.
O Vírus Do Milênio
O milênio é hoje, a chave
interpretativa predileta entre os evangélicos e os fundamentalistas.
O livro de enorme sucesso de Hal
Lindsey, The Late, Great Planet Earth, publicado em 1970, lançou um gênero ao
se tornar o segundo livro mais vendidos nos últimos 30 anos.
Lindsey afirmou que as profecias do Apocalipse
eram uma previsão exata de acontecimentos futuros, um futuro que apenas
despontava na década de 1970.
Ele achava que as estranhas imagens
do Apocalipse correspondiam exatamente a pessoas, lugares e acontecimentos que
na ocasião estavam nos noticiários.
A Rússia, por exemplo, era a besta;
e Gog e magog referiam-se à União Soviética.
Lindsey
previu que os soviéticos atacariam a Palestina, mas os judeus voltariam e os
massacrariam para instituir um reino milenário em Jerusalém.
Lindsey não estava sózinho.
De fato,
durante alguns anos, Scott esteve firmemente com ele — embora com diferenças
mínimas — entre os patidários "futuristas" dos intérpretes do Apocalipse
Nesse partido há muita discordância
acerca de Quando terão lugar esses acontecimentos e de quais as bestas que
correspondem a determinados líderes mundiais.
Os futuristas também discordam entre
si Quanto a se os cristãos entrará no reinado milenar de Cristo.
Alguns criaram novos conceitos, como
o do "Arrebatamento" para descrever as intervenções milagrosas que
predizem para o fim dos tempos.
No arrebatamento, dizem eles, Deus
arrebatará sobre as nuvens seus escolhidos para viverem com ele. (1,
Tessalonicenses 4,16-17.)
Scott se abrigou nessas passagens
durante anos, mas sem encontrar nenhuma satisfação verdadeira.
Repetidamente um pastor se fixava em
um elemento — o número da besta, por exemplo-e toda sua interpretação do Apocalipse
dependia da identificação desse número com alguém presente nos noticiários.
Porém, durante as décadas de 1970 e
1980, líderes mundiais subiam e caíam do poder, impérios desmoronavam e com
todo líder caído, com todo império desmoronado, Scott via ruir outra teoria
grandiosa.
Gradativamente, Scott começa a ver
um motivo maior para sua desilusão.
Teria Deus realmente inspirado o
livro do Apocalipse de João para ele ficar escondido no fim da Bíblia, estranho
e inexplicável, durante vinte séculos — até cumprir-se o tempo e acontecer o
cataclismo?
Não, o Apocalipse tem a finalidade
de "revelar" e suas revelações precisam ser para todos os cristãos de
todos os tempos, até mesmo para os leitores originais do século 1.
Um Sopro do Passado.
Apesar de heterogênio, os futuristas
não esgotaram as perspectivas interpretativas a respeito do livro do Apocalipse.
Alguns (chamados
"idealistas".) achavam que o livro inteiro era apenas metáfora para
as lutas da vida espiritual.
Outros
achavam que o livro delineava um plano para a história da Igreja.
Outros ainda argumentavam que o
livro era simplesmente uma descrição codificada da situação política dos
cristãos do século 1.
O objetivo do Apocalipse, segundo
essa opinião, era exortar os fiéis a permanecerem firmes na fé, e prometer a
vingança divina contra os perseguidores da Igreja.
Scott até achou algum mérito nesses
argumentos, principalmente porque se relacionavam com alguns versículos
específicos, mas nenhum foi capaz de satisfazer seu desejo de compreender o
desenrolar da narrativa de João.
Quero mais estudava, mais Scott
entendia detalhes selecionados, mas menos parecia entender a totalidade do
livro.
Então, enquanto pesquisava outros
assuntos, Scott depara com um tesouro escondido — isto é, escondido aos
estudiosos da Escrituras em uma tradição que remonte a apenas 400 anos.
Scott começa a ler os Padres da
Igreja, os autores e mestres cristãos dos 8 primeiros séculos. e em especial,
seus comentários acerca da Bíblia.
Scott diz que não parou de se chocar
com sua ignorância, já que os Padres referiam-se frequentemente a uma coisa que
ele desconhecia: a liturgia.
Entretanto, foi interessante descobrir
que essa literatura antiga parecia incorporar muitos dos pequenos detalhes do Apocalipse
— em um contexto no qual eles faziam sentido!
Então, Quando Scott passou a ler os
estudos exegéticos do Apocalipse pelos Padres, descobriu que muitos deles
haviam feito ligação explícita entre missa e o livro do Apocalipse.
De fato, para a maioria dos cristãos
primitivos era ponto pacífico: separado da liturgia, o livro do Apocalipse era
incompreensível.
Como Scott descreveu no capítulo 1,
foi só Quando começou a participar da missa que muitas partes deste livro
enigmático começaram de repente a se esclarecer. scott começou a descobrir o
sentido do altar do Apocalipse, (Apocalipse 8,3.) seus sacerdotes paramentados,
(Apocalipse 4,4.) candelabros, (Apocalipse 1,12.) perfume, (Apocalipse 5,8.)
maná, (Apocalipse 2,17.) taças, (capítulo 16.) o culto no domingo, (Apocalipse 1,10.)
a proeminência que dá a Santíssima Virgem Maria, (Apocalipse 12,1-6.) o
"Santo, Santo, Santo!", (Apocalipse 4,8.) O Glória, (Apocalipse 15,3-4.)
o sinal da cruz, (Apocalipse 14,1.) a Aleluia, (Apocalipse 19,1. 3. 6.) as
leituras das Escrituras (Apocalipse capítulos 2-3.) e o "Cordeiro de
Deus". (muitas e muitas vezes.)
Não são interpretações da narrativa
nem detalhes casuais; são a própria essência do Apocalipse.
Respostas dos Porquês.
Então o Apocalipse não era simplesmente
uma advertência velada a respeito da geopolítica da década de 1970, nem uma
história codificada do Império Romano do século 1 ou um manual de instruções
para o fim dos tempos.
Tratava-se,
de certo modo, do próprio sacramento que começa a atrair este
"cristão´bíblico" para a plenitude da fé católica.
Contudo, surgiram novas perguntas.
Se, nos textos das antigas liturgias, Scott topou com o "quê" do Apocalipse,
restavam alguns imensos "porquês".
Por que essa estranha apresentação?
Por que uma visão e não um texto litúrgico? Por que o Apocalipse foi atribuído
à João, entre todos os discípulos possíveis? Por que foi escrito, Quando foi
escrito?
As respostas surgiram Quando Scott
começou a estudar o tempo do Apocalipse e a liturgia desse tempo.
Céu E Terra Em Miniatura.
Muitos pequenos detalhes da visão de
João se esclarecem Quando procuramos entrar em contato com o Apocalipse da
maneira como seu público original deve tê-lo feito.
Se fôssemos judeu-cristãos de fala
grega do tempo de João e vivêssemos nas cidades da província romana da Ásia, é
provável que conhecêssemos a topografia de Jerusalém por causa de nossas
peregrinações regulares.
Jerusalém era exatamente importante
para os leitores de João.
Era a capital
e o centro econômico do antigo Israel, além do centro cultural e acadêmico da
nação.
Mas, acima de tudo, Jerusalém era o
coração espiritual do povo israelita, como o Vaticano para os católicos.
Em Jerusalém, sentiríamos a mais
profunda afeição pelo Templo, que era o centro da vida cultural e religiosa
para os judeus de todo mundo.
Jerusalém não era tanto uma cidade
com um Templo Quanto o Templo com uma cidade construída em sua volta.
Para os judeus piedosos, mais que
lugar de culto, o Templo representava a maquete de toda criação.
Assim como o
universo foi feito para ser o santuário de Deus, com Adão como sacerdote, o
Templo deveria restaurar essa ordem, com sacerdotes de Israel oficiando diante
do Santo dos Santos.
Como judeu-cristãos, reconheceríamos
imediatamente o Templo na descrição que o Apocalipse faz do céu.
No templo, como no céu de João, os
sete candelabros de ouro (Apocalipse 1,12.) e o altar de perfumes (Apocalipse 8,3-5.)
ficavam diante do Santo dos Santos.
No Templo, quatro querubins
esculpidos adornavam as paredes, como os quatro anjos vivos ministram diante do
trono no céu de João.
Os vinte e quatro
"anciãos" (em grego ptrsbyteroi.) são uma réplica dos vinte e quatro
grupos de sacerdotes que serviam no Templo todos os anos.
O "mar límpido, semelhante ao
cristal" (Apocalipse 4,6.) era a grande piscina de bronze polido do Templo
que comportava 45 mil litros de água.
Como no Templo de Salomão, no
centro, do templo do Apocalípse ficava a Arca da aliança. (Apocalipse 11,19.)
O apocalíse revelava o Templo — mas
para os judeus devotos e os judeus convertidos ao cristianismo também revelava
muito mais, pois o Templo e seus ornamentos indicavam realidades mais elevadas.
Como Moisés, (veja ÊXODO 25,9.) o
rei Davi recebeu o plano do templo do próprio Deus: "Tudo isto encontra-se
num escrito redigido pela mão do Senhor, que me fez compreender todas as obras
do plano". (1, Crónicas 29,19.)
O Templo deveria seguir o modelo da
corte celeste: “Ordenaste-me construir um Templo em tua morada, à imitação da
tenda santa que tinhas preparado desde a origem". (Sabedoria 9,8.)
Da imitação à Participação.
De acordo com as antigas crenças
judaicas, o culto no Templo de Jerusalém espelhava o culto dos anjos no céu.
O sacerdócio levítico, a liturgia da
aliança, os sacrifícios eram vagas representações de modelos celestes.
Ainda assim, o livro do Apocalipse
tinha algo diferente, algo mais. Enquanto Israel rezava "por imitação dos
anjos", a Igreja do Apocalipse adorava "junto com os anjos". (veja
19,10.)
Enquanto sómente os sacerdotes
podiam entrar no lugar santo do Templo de Jerusalém, o Apocalipse mostrava uma
nação de sacerdotes (Veja Apocalipse 5,10; 20,6.) que habitavam sempre na
presença de Deus.
Já não haveria um arquétipo celeste
e uma imitação terrena.
Agora o
Apocalíse revelava "um só culto", compartilhado por homens e anjos!
Das Cinzas.
Os biblistas discordam a respeito de
Quando o livro do Apocalipse foi escrito; as estimativas variam do fim dos anos
60 até o final dos anos 90 depois de Cristo
Entretanto, quase todos concordam
que a medição do Templo por João (Apocalipse 11,1.) indica uma data anterior a
70, pois depois desta data não havia mais Templo para medir.
De qualquer modo, o culto sacrifical
da antiga aliança encontrou seu fim definitivo com a destruição do templo e de
Jerusalém em 70 depois de Cristo
Para os judeus de todo o mundo esse
foi um acontecimento cataclísmico — que prefigurava o juízo final do
"templo cósmico" no fim dos tempos.
Depois de 70 depois de Cristo a
fumaça dos cordeiros dos sacrifícios de Israel não mais subiu.
As legiões
romanas reduziram a entulho enegrecido pelo fogo a cidade e o santuário que
davam sentido à vida dos judeus da Palestina e do exterior.
O que João descreve em sua visão era
nada menos que o fim do mundo antigo, da antiga Jerusalém, da antiga aliança e
a criação de um mundo novo, uma nova Jerusalém, uma nova aliança.
Com a ordem
do mundo novo surgiu uma nova ordem de culto.
É difícil "não" ouvir ecos
do evangelho de João:
"Destrui
este templo, e em três dias eu o reerguerei"… (São João 2,19.) "vem a
hora em que nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém adorareis o Pai… na qual
os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade". (São João
4,21. 23.)
No Apocalipse, essas previsões se
realizam Quando o novo Templo se revela como o corpo místico de Cristo, a
Igreja e Quando a adoração "no Espírito" tem lugar na nova Jerusalém
celeste.
Do mesmo modo, é fácil entender por
que os cristãos primitivos consideravam o véu rasgado do Templo tão
significativo do ponto de vista teológico e litúrgico.
O véu rasgou-se exatamente Quando o
corpo de Cristo foi decisivamente rasgado.
Quando Jesus
completou a oferenda terrena de seu corpo, Deus assegurou que o mundo soubesse
que o véu fora removido do "Santuário".
Agora todos — reunidos na Igreja — podiam
entrar em sua presença no dia do Senhor:
Destarte, irmãos, temos total
garantia de acesso ao santuário pelo sangue de Jesus. Temos aí um caminho novo
e vivo, que ele inaugurou através do véu, isto é, através da sua humanidade…
Velemos una pelos outros para nos estimular à caridade e às boas obras.
Não abandonemos
as nossas assembléias… mas animemo-nos, tanto mais que vedes o Dia
aproximar-se. (Hebreus 10,19-20. 24-25.)
"No Espírito no dia do
Senhor", João viu algo que era mais completo do que qualquer narrativa ou
argumento poderia transmitir.
Ele viu que
parte do mundo já estava transformada em um novo céu e uma nova terra.
Alguns séculos mais tarde, Scott (e
agora nós!.) começamos a nos voltar para olhar.
Capítulo, Segundo — Quem é quem no Céu.
O Elenco de Milhares do Apocalipse:
Exceto por uma praga de filmes de
anticristos na década de 1970, Hollywood nem mesmo tentou filmar um Apocalíse,
como fez com os evangelhos e o livro do Êxodo.
Talvez
algumas coisas sejam simplesmente estranhas, sangrentas e extravagantes até
mesmo para Hollywood.
Ou talvez os diretores sintam-se
dissuadidos pelo número de atores que o Apocalipse exigiria. (sem mencionar o
custo dos efeitos especiais!.)
Em Os dez mandamentos, o diretor
contentou-se com um elenco de milhares, mas o Apocalíse exigiria literamente centenas
de milhares, pois talvez seja o livro mais populoso da Bíblia.
Quem são essas personagens que
enchem os cenários da terra e do céu de João? Neste capítulo, vamos tentar
conhecê-los um pouco melhor.
Primeiro, porém, Scott confessa:
Trilhar esse caminho o assusta! Talvez o assunto que mais fascine e preocupe os
estudiosos e pregadores do Apocalipse e os que a ele se dedicam como passatempo
seja a identificação das bestas, das criaturas, dos anjos e das pessoas do
livro.
A identificação dessas personagens
pelo leitor depende, em grande parte, de seu sistema de interpretação.
O sistema
futurista inspirou os intérpretes a identificar as bestas, em sucessão, com
Napoleão, Bismark, Hitler e Stalin, entre outros.
A visão "passadista" — que
enfatiza o cumprimento das profecias do Apocalipse no século 1 — tende a
identificar as bestas, por exemplo, com um ou outro imperador romano, ou com a
própria Roma, ou com Jerusalém.
Uma terceira perspectiva, às vezes
chamada “idealista", considera o Apocalipse uma alegoria da guerra
espiritual que todo crente tem de enfrentar.
Ainda outra visão, a
"historicista", afirma que o Apocalipse traça o plano-mestre de Deus
para a história, do início ao fim.
Que opinião segue Scott? Bem todas
elas.
Não há
nenhuma razão que as impeça de serem todas verdadeiras, simultaneamente.
As riquezas da Escrituras são
infinitas. Os cristãos primitivos ensinavam que o texto sagrado opera em quatro
níveis e que todos eles, ao mesmo tempo, ensinam a verdade única de Deus — como
uma sinfonia.
Se Scott prefere uma perspectiva às
outras, essa é a passadista.
Contudo, ele
repete, não descarta as outras.
O que une
todas elas é o que nos liga todos à Cristo: A nova aliança, selada e renovada
pela liturgia escarística.
No Apocalipse, surge um padrão — de
aliança, queda, julgamento e redenção — e esse padrão descreve realmente
determinado período da história, mas também descreve cada período da história e
a história toda, além do transcurso da vida para todos nós.
"Eu, João"
Scott já mencionou que há muita
controvérsia a respeito da autoria do livro do Apocalipse por João.
Embora
fascinante, para nosso estudo da missa e do Apocalipse esse debate é apenas
secundário.
Entretanto uma coisa está clara: o
texto associa-se explicitamente à João. (Apocalipse 1,4. 9; 22,8.) E, no NOVO
TESTAMENTO, (e para os padres da igreja.) "João" significa o apóstolo
João.
Na verdade, os próprios livros
indicam que, se não compartilham um autor comum, eles pelo menos originam da
mesma escola de pensamento, pois o Apocalipse e o Quarto Evangelho compartilham
muitas preocupações teológicas.
Os dois livros revelam um
conhecimento bastante preciso do Templo de Jerusalém e seus rituais; ambos
parecem preocupados em apresentar Jesus como o "cordeiro", o
sacrifício da nova Pascoa. (veja São João 1,29. 36; Apocalipse 5,6.)
Além disso, o evangelho de João e o Apocalipse
compartilham uma terminologia que, no NOVO TESTAMENTO é característica apenas
deles.
Por exemplo, só o quarto evangelho e
o Apocalipse referem-se a Jesus como “a Palavra de Deus" e só esses dois
livros referem-se à adoração segundo a nova aliança “no espírito".
E só esses dois livros falam da
salvação em termos de "agua da vida".
Ainda assim, essa identificação do
autor João com o apóstolo João é importante só por nos dar um discernimento da
força da visão do Apocalipse.
No evangelho, por exemplo, João era
identificado como “o discípulo que Jesus amava". João era o apóstolo que
mais gozava da intimidade do Senhor, o discípulo que estava literalmente mais
próximo de seu coração.
Na Última Ceia, João, reclinou-se no
colo de Jesus. Contudo no Apocalipse Quando vê Jesus em seu poder e glória com
domínio universal e soberania divina, João cai como morto. (Apocalipse 1,17.)
São detalhes importantes para nós
que queremos ser discípulos "amados" hoje.
Embora
precisemos lutar por uma relação cada vez mais íntima com Jesus, não poderemos
entabular a conversa enquanto não virmos Jesus como quem Ele é, em sua
santidade insuperável.
A identidade de João é importante
também em relação às preocupações terrenas do Apocalipse. A tradição identifica
o apóstolo João como bispo de Éfeso, uma das sete Igrejas destinatárias do Apocalipse.
As igrejas identificam-se com
cidades, todas as sete localizadas em um raio de 80 quilômetros na Ásia menor,
que provavelmente limitava a esfera da autoridade de João. Entendemos porque
João, como bispo, foi escolhido para transmitir a mensagem pastoral que
encontramos no Apocalipse, em especial nas cartas ás sete Igrejas. (Apocalipse
2; 3.)
"O Cordeiro"
O título e a imagem favoritos do Apocalipse
para Jesus Cristo: o Cordeiro. Sim, ele é o príncipe; (Apocalipse 1,5.) está no
meio dos candelabros, paramentado como sumo sacerdote; (1,13.) é o
"Primeiro e o Último", (1,17.) o "santo", (3,7.)
"Senhor dos senhores e Rei dos reis" (17,14.) — mas Jesus é,
irresistivelmente, o cordeiro.
Segundo o Catecismo da Igreja
Católica, o Cordeiro é: "Cristo crucificado e ressuscitado, o único sumo
sacerdote do verdadeiro santuário, o mesmo 'que oferece e é oferecido, que dá e
que é dado'". (número 1137.)
Quando vê pela primeira vez o
Cordeiro, João está, na verdade, à procura de um leão. Ninguém tem o poder de
abrir os selos do livro e revelar seu conteúdo, e João começa a chorar.
Então um ancião lhe diz: "Não
chores! Eis, ele alcançou a vitória, o leão da tribo de Judá, o rebento de
Davi, ele abrirá o livro e seus sete selos". (Apocalipse 5,5.)
João olha em volta para ver o leão
de Judá mas, em em vez disso, ele vê… um cordeiro. Para começar, cordeiros não
são muito fortes, e este está de pé, como que "imolado". (Apocalipse
5,6.)
Não precisamos repetir tudo que
analisamos no capítulo dois. Deve ficar claro que Jesus, aqui, é um cordeiro
sacrifical, como o cordeiro da Páscoa.
Então os anciãos (presbíteros,
sacerdotes.) cantam que o sacrifício de Cristo permitiu-lhe romper os selos do
livro, o Antigo Testamento. "Tu és dígno de receber o livro e de
romper-lhe os selos porque fostes imolado, e redimiste para Deus, por teu
sangue, homens ". (Apocalipse 5,9.)
Em seguida, o céu e a terra
glorificam Jesus como Deus: "Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro,
louvor, honra, glória e poder pelos séculos dos século… E os anciãos
prostraram-se e adoraram". (Apocalipse 5,13-14.)
O Cordeiro é Jesus. O Cordeiro é
também "filho de homem", paramentado como sumo sacerdote; (Apocalipse
1,13.) o Cordeiro é vítima sacrifical; o Cordeiro é Deus.
"Uma Mulher vestida de Sol"
Apocalipse
12, a visão que João tem da mulher vestida de sol, retrata a essência do livro
do Apocalipse. Com muitos níveis de sentido, mostra um acontecimento passado
que prefigura um acontecimento do futuro distante.
Recapitula o ANTIGO TESTAMENTO ao
mesmo tempo que completa o Novo.
Revela o céu,
mas em imagens da terra.
A visão de João começa com a
abertura do templo de Deus no céu: “e a arca da aliança apareceu em seu
templo". (Apocalipse 11,19.) Talvez não apreciemos plenamente o valor do
choque desse versículo. A arca da aliança não tinha sido vista durante cinco
séculos. No tempo do cativeiro babilônico, o profeta Jeremias havia escondido a
arca em um lugar que "ficará desconhecido até que Deus haja consumado a
reunião do seu povo". (2, Marcos 2,7.)
Essa promessaa se cumpre na visão de
João. O Templo apareceu e "houve relâmpagos, vozes, trovões, um terremoto
e forte tempestade de granizo". E então "Um grande sinal apareceu no
céu: Uma mulher vestida de sol, a lua debaixo de seus pés e uma coroa de doze
estrelas na cabeça; estava grávida". (Apocalipse 12,1-2.)
João não introduziu a arca só para
desistir dela imediatamente. Scott crê (com os padres da Igreja.) que Quando
João descreve a mulher ele descreve a arca — da nova aliança. E quem é essa
mulher? É aquela que dá à luz o filho varão que deve apascentar todas as
nações. O menino é Jesus, sua mãe é Maria.
O que tornava a arca original tão
santa? Não o ouro que revestia o exterior, mas os dez mandamentos no interior —
a lei que o dedo de Deus escreveu nas tábuas de pedra. O que mais havia no
interior? Maná, o pão milagroso que alimentou o povo na caminhada pelo deserto;
o bastão de Aarão que floresceu como sinal de sua função de sumo sacerdote. (veja
Livro d’ Números 17.)
O que torna a nova arca santa? A
antiga arca continha a Palavra de Deus escrita em pedra; Maria trazia em seu
seio a Palavra de Deus que se fez homem e habitou entre nós. A arca continha
maná; Maria trazia o pão vivo descido do céu. A arca continha o bastão do sumo
sacerdote Aarão; o seio de Maria continha o sacerdote eterno, Jesus Cristo. No
templo celeste, a Palavra de Deus é Jesus e a arca onde ele habita é Maria, sua
mãe.
Se o menino é Jesus, então a mulher
é Maria. Essa interpretação foi aprovada pelos mais racionais dos Padres da
Igreja, santo Atanásio, santo Epifânio e muitos outros. Contudo, “a
mulher" também representa mais. Ela é a "filha de Sião", que
criou o Messias de Israel.
É também a
Igreja sitiada por Satanás, mas preservada em segurança.
Como Scott disse antes, as riquezas
das Escrituras são infinitas!
Outros biblistas argumentam que a
mulher não é Maria pois, segundo a tradição católica, Maria não sofreu as dores
físicas do parto.
Entretanto,
as dores da mulher não tem de ser dores físicas. São Paulo, por exemplo,
descreveu como dores de parto sua agonia até Cristo ser formado em seus
discípulos. (veja Gálatas 4,19.) Assim o que sofre a mulher pode ser descrito
como sofrimento da alma — o que Maria conheceu perto da cruz, ao se tornar a
mãe de todos os discípulos amados. (veja São João 19,25-27.)
Outros alegam que a mulher do Apocalipse
não é Maria porque essa tem outros filhos e a Igreja ensina que Maria foi
sempre virgem. Mas as Escrituras usam com frequência "prole" (em
grego, sperma.) para descrever descendentes espirituais. Os filhos de Maria,
sua prole espiritual, são "os que observam os mandamentos de Deus e
guardam o testemunho de Jesus". (Apocalipse 12,17.) Somos a outra prole da
mulher. Somos os filhos de Maria.
Assim, o Apocalipse também retrata
Maria como a "nova Eva", mãe de todos os viventes. No jardim do Édem,
Deus prometeu por "hostilidade" entre satanás, a antiga serpente, e
Eva — e entre a "descendência" de satanás e a dela. (Génesis, 3,15.)
Agora no Apocalipse, vemos o clímax
dessa inimizade. A descendência da nova mulher, Maria, é o filho varão, Jesus
Cristo, que vem derrotar a serpente. (em hebraico, a mesma palavra, nahash,
aplica-se ao dragão e a serpente.)
Esse é o admirável ensinamento dos
Padres, Doutores, santos e papas da Igreja, antigos e modernos.
É o
ensinamento do Catecismo da Igreja Católica. (veja número 1138.) Entretanto,
Scott precisa mencionar que não é apoiado por muitos biblistas de hoje.
Contudo o
ônus da prova cabe aos que discordam.
Na carta encíclica Ad Diem Illum
Laetissimum, o papa são Pio 10º falou com eloquência pela Tradição:
{{Pause=0,25}} Todos sabemos que
essa mulher representa a Virgem Maria… Portanto, João viu a Santíssima Mãe de
Deus já na eterna felicidade, mas em trabalho de um parto misterioso.
Que parto é
esse? Com certeza, era o nascimento de nós que, no exílio, ainda devemos ser
gerados para a perfeita caridade de Deus e para a felicidade eterna.
A Primeira Besta
Fracassando em seus ataques à mulher
e seu filho, o dragão volta-se para combater a descendência dela, os que
observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus.
O dragão convoca a própria
descendência, duas bestas amendrontadoras. Por incrível que pareça, entre todas
as imagens de esperança e espantosas do Apocalipse, estes dois monstros
horrendos parecem provocar o maior interesse. Produtores de filmes e
evangelizadores televisivos demoram-se muito mais no 666 que no mar cristalino
ou no leão de Judá.
Scott sente uma premência de nos
convencer da realidade das bestas. Elas são símbolos, mas não são apenas
símbolos. São seres espirituais reais, membros da “hierarquia inferior",
pessoas demoníacas que controlam e corrompem o destino político das nações.
João descreve duas bestas horrendas.
Mas Scott cre que as bestas que viu eram muito mais horríveis que sua descrição.
Em grande parte do Apocalipse — mas
em especial nos capítulo 4 e 5 — João descreve as realidades por trás da missa.
Agora, ele faz o mesmo com o pecado e o mal!Assim como nossas ações na liturgia
estão unidas com coisas celestes invisíveis, nossos atos pecaminosos estão
ligados à maldade infernal.
Na missa, o que Deus quer fazer de
nós? Um reino de sacerdotes que reinem por meio de suas oferendas sacrificais.
Por outro lado, o que satanás quer realizar por intermédio das bestas? Quer
subverter o plano de Deus, corrompendo a autoridade governamental, o Estado.
Em seguida, ele revela o demonio da
autoridade religiosa corrupta.
Primeiro as primeiras bestas: do mar
emergeum monstro horrível, com dez chifres e sete cabeças, aterradora
combinação de leopardo, urso e leão. Os chifres simbolizam poder; os diademas,
realeza. Recebe poder e também a realeza do dragão.
Entretanto, é
errado identificar esta besta com a monarquia geral. Não, a besta representa a
autoridade política corrupta de qualquer tipo.
É tentador, também, identificar a
besta exclusivamente com Roma, ou com dinastia herodiana que Roma mantinha na
Terra Santa.
Com certeza,
a Roma da época de João simboliza o tipo de governo representado pela besta.
Porém a própria besta não dá margem
a uma identificação tão simples. Ela é, na verdade, uma combinação de todos os
quatro animais monstruosos de uma visão do profeta veterotestamentário Daniel. (veja
Daniel 7.)
Scott segue os padres da Igreja, que
entenderam que os animais de Daniel, indicavam quatro impérios pagãos:
Babilônia, Medo-Persia, Grécia e Roma — todos os quais perseguiram o povo de
Deus antes da vinda do Messias.
A besta de sete cabeças do Apocalipse
representa, então, todo poder político corrupto.
É um impulso
humano considerar o poder do Estado o maior da terra e dizer, como a terra toda
no Apocalipse: "quem combater contra ela?" Por medo desse poder — ou
desejosas de participar da ação — as pessoas constantemente se comprometem e
adoram o dragão e a besta.
Na história, o exemplo mais
ostensivo da usurpação por uma instituição humana das prerrogativas de Deus é
Roma com seus Cézares. Eles literalmente exigiam a adoração que pertence só a
Deus. E combateram os santos, ao instigar perseguições sangrentas dos que não
adoravam o imperador.
Entretanto, mais uma vez Scott
precisa enfatizar que a besta não é só Roma, ou os fantoches de Roma, os
herodianos. A besta refere-se também a todo governo corrupto, todo Estado que
se opõe acima da ordem da aliança de Deus. Mais que isso, a besta representa a
força espiritual corrupta por trás dessas instituições.
A Segunda Besta
Esta besta vem da terra e tem
chifres como um cordeiro. A imagem do cordeiro é dissonante, já que a esta
altura já nos acostumamos a associá-la com coisas sagradas.
Scott crê que o uso dela por meio de
João é intencional, pois ele acha que essa besta tem a finalidade de sugerir o
sacerdócio corrupto na Jerusalém do século 1.
O primeiro indício é que esta besta
sobe "da terra", que no grego original também poderia significar
"do solo" ou "do campo", em oposição a "do mar",
que gera os animais dos pagãos. (veja Daniel 7.)
Além disso, é provável que João
desse testemunho da transigência da autoridade sacerdotal, ocorrida apenas
alguns anos antes.
Em um momento
histórico dramático, a autoridade religiosa jurou fidelidade à autoridade
governamental corrupta, em vez de jurá-la a Deus.
Jesus, o Cordeiro de Deus, Rei
supremo e sumo sacerdote, ficou em pé diante de Pilatos e dos sumos sacerdotes
dos judeus.
Pilatos disse
aos judeus: "Eis o vosso rei!"Eles se puseram a gritar: "À
morte! À morte! Crucifica-o!" Pilatos replicou: "Devo eu crucificar o
vosso rei?" Os sumos sacerdotes responderam: "Nós não temos outro
rei, senão César" (veja São João 19,15.)
Na verdade, foi o sumo sacerdote em
pessoa, Caifás, quem primeiro falou do sacrifício de Jesus como "do
interesse" do povo. (veja São João 11,47-52.)
Assim, rejeitaram Cristo e elevaram
César. Rejeitaram o Cordeiro e adoraram a besta. Com certeza, César era o
governante e, como tal, merecia respeito. (Veja São Lucas. 20,21-25.) Mas César
queria mais que respeito. Exigia adoração sacrifical, que os sumos sacerdotes
lhe concederam ao entregar-lhe o Cordeiro de Deus.
A besta se parece com um cordeiro em
alguns aspectos superficiais. Vemos que tudo que faz é arremedo e zombaria da
obra salvífica do Cordeiro. O Cordeiro está de pé como se tivesse sido imolado;
a besta recebe um ferimento mortal, mas se recupera. Deus entroniza o Cordeiro;
o dragão entroniza a besta. Os que adoram o Cordeiro recebem seu selo na
fronte; (Apocalipse 7,2-4.) os que adoram a besta usam a marca da besta.
O que nos leva à difícil pergunta:
qual é a marca da besta?
João nos diz
que é o nome da besta, ou o número de seu nome.
O que é isso?
João responde com uma charada: "È o momento de ter discernimento. Quem
tiver inteligência, interprete o número da besta, pois é um número de homem. E
o seu número é 666". (Apocalipse 13,18.)
Em um nível, talvez o número
represente o imperador romano Nero, pois esse nome transliterado em hebraico
tem, na verdade, o valor 666. Contudo, há muitas outras possibilidades,
diferentes ou adicionais.
Considere que 666 era o número de
talentos de ouro que o rei salomão recebia anualmente das nações. (veja 1, Reis
10.) Considere também que salomão foi o primeiro sacerdote-rei desde
melquisedec. (veja Salmo 110.) Além disso, João diz que no discernimento do
número da besta “está a sabedoria", (Apocalipse 13,18.) o que alguns
intérpretes entenderam como outra referencia a Salomão, célebre por sua
sabedoria.
Por fim,666 pode ser interpretado
como degradação do número sete, que, na tradição israelita, representava
perfeição, santidade e aliança. O sétimo dia, por exemplo, foi declarado santo
por Deus e destacado para descanso e adoração. O trabalho era feito em seis
dias, entretanto, era santificado na adoração sacrifical representada pelo
sétimo dia.
O número 666, então, representa um
homem paralizado no sexto dia, servindo à besta, que se preocupa em comprar e
vender (veja Apocalipse 13,17.) sem descanso para a adoração. Embora o trabalho
seja santo, torna-se mau quando o homem se recusa a oferecê-lo a Deus.
Contudo, precisamos ser claros
Quanto a uma coisa. Essa interpretação não deve levar nenhum cristão a
justificar o anti-semitismo. O livro do Apocalipse demonstra de maneira
completa dignidade de Israel — seu Templo, seus profetas, suas alianças.
O Apocalipse deve, antes, levar-nos
a um maior apreço por nosso património em Israel — a uma consideração sansata
de nossa responsabilidade diante de Deus. Vivemos conforme nossa aliança com
Deus? somos fiéis a nosso sacerdócio? O livro representa uma advertência a
todos nós.
A mensagem incomoda é esta:
combatemos forças espirituais, forças imensas, depravadas, malévolas. Se
tivéssemos de combate-las sozinho, seríamos derrotados. Mas eis a boa notícia:
há um jeito de termos esperança de vencer. A solução tem de medir forças com o
problema, poder espiritual com poder espiritual, beleza imensa com feiura
imensa, santidade com depravação, amor com malevolência.
A solução é a
MISSA, quando o céu vem salvar a terra sitiada.
Anjos
No combate não lutamos sozinhos.
Lemos em Apocalipse 12:
"Miguel
e seus anjos combateram contra o dragão". (Apocalipse 12,7.) Quando criou
os anjos, Deus os fez livres e, assim, eles tiveram de passar por uma espécie
de teste — exatamente como nossa vida na terra é um teste.
Ninguém sabe o que foi esse teste,
mas alguns teólogos especulam que foi concedida aos anjos uma visão da
Encarnação e lhes foi dito que tinham que servir à dinvindade encarnada, Jesus
e sua mãe.
O orgulho de satanás rebelou-se
contra o escândalo do Espírito assumir os laços da matéria, e ele disse:
"Não servirei!"
Segundo os Padres da Igreja, ele
conduziu um terço dos anjos nessa rebelião. (veja Apocalipse 12,4.) Miguel e
seus anjos os expulsaram do céu. (veja o Versículo 8.)
Em todo o Apocalipse, vemos que os
anjos povoam densamente o céu.
Adoram a Deus
sem cessar. (Apocalipse 4,8.) E zelam por nós.
Os capítulos 2 e 3 deixam claro que
cada Igreja específica tem um anjo da guarda.
Isso deve nos
tranquilizar, a nós que pertencemos a Igrejas específicas e que pedimos a ajuda
do anjo de nossa Igreja específica.
Costuma-se entender que "os
quatro animais" mencionados no capítulo 4 são anjos, embora aos olhos
humanos apareçam em forma animal.
Esses animais
correspondem aos bordados no véu diante do lugar santíssimo no Templo de
Jerusalém.
Embora os anjos do céu se apresentam
aos olhos humanos em forma corporal, os anjos, na verdade, não tem corpos. Seu
nome significa "mensageiro", e os atributos físicos costumam
simbolizar algum aspecto de sua natureza ou missão.
As asas indicam sua rapidez para se
mover entre o céu e a terra. Os múltiplos olhos significam seu conhecimento e vigilância.
Talvez a princípio, anjos de muitos olhos, e de seis asas pareçam assustadores,
mas, se pensarmos neles em termos de sua rapidez e de sua vigilância, ficaremos
tranquilos.
Há seres com os quais podemos contar
quando o dragão ameaça nossa paz.
No Apocalipse, os anjos também
aparecem como cavaleiros (Capítulo 6.) que procedem ao juízo de Deus sobre os
ímpios. (veja Zacarias 1,7-17.) Grande parte da ação nestes capítulos ligam-se
aos acontecimentos que cercaram a queda de Jerusalém no ano 70 depois de Cristo
Mas a passagem tem aplicações que
ultrapassam o século 1, enquanto a terra precisar de julgamento.
Os anjos do Apocalipse controlam os
elementos, o vento e o mar, para fazer a vontade de Deus. (capítulo 7.) Os
capítulos 7-9 deixam claro que os anjos são guerreiros poderosos e que combatem
constantemente do lado de Deus — que, se somos fiéis, é também o nosso lado.
Mártires, Virgens e Outras Pessoas
Mas há mais coisas no Apocalipse
além de bestas perversas e anjos impressionantes. De fato, a maioria das
personagens são apenas gente simples — centenas de milhares e até milhões, são
homens e mulheres cristãos comuns.
Primeiro, vemos os cento e quarenta
e quatro mil das doze tribos de Israel, (doze mil de cada tribo.) o resto que
recebeu a proteção de Deus, (seu "selo".) que fugiram para as
montanhas durante a destruição de Jerusalém.
Em seguida, João descreve uma imensa
multidão "de todas as nações". (Apocalipse 7,9.) Depois de milênios
de religião inclusiva, hoje não sabemos apreciar o impacto sísmico desta visão
de israelitas que adoram juntamente com pagãos e de humanos que adoram junto
com os anjos.
Para as mentes dos primeiros
leitores de João, essas eram categorias mutuamente exclusivas. Além do mais, no
céu, todas essas multidões adoram no lugar santíssimo, onde ninguém, exeto o
sumo sacerdote, podia entrar.
O povo da
nova aliança adora Deus face a face.
Quem mais está ali? No capítulo 6
encontramos os mártires, os que foram mortos por causa do testemunho da fé.
"Vi sob o altar as almas dos que tinham sido imolados por causa da palavra
de Deus e do testemunho que tinham dado". (Apocalipse 6,9.)
Por que estão sob o altar? O que
costumava ficar sob o altar do Templo terreno? Quando os sacerdotes
veterotestamentários ofereciam sacrifícios animais, a sangue das vítimas
formava poças sob o altar. Como povo sacerdotal eles e nós oferecemos a Deus
nossas vidas na terra, o verdadeiro altar, como sacrifício.
O verdadeiro sacrifício, então, não
é animal, é todo santo que dá testemunho (em grego, martyria.) da fidelidade de
DEus.
Nossa
oferenda — o sangue dos mártires — clama a Deus por justiça.
Como é revelador que, desde os
tempos mais primitivos, a Igreja tenha colocado as relíquias dos mártires, seus
ossos e suas cinzas, dentro dos altares.
Antes, mencionamos os anciãos (presbíteros.)
entronizados na corte de Deus. Na verdade, no céu do Apocalipse, esses homens
aparecem paramentados exatamente como sacerdotes de Israel vestidos para o
serviço no Templo de Jerusalém.
No Apocalipse, (Apocalipse 14,4.)
também encontramos um grande número de homens consagrados à virgindade. É outra
anomalia do mundo antigo, raramente em Israel ou em culturas pagãs, como é
incomum no Ocidente cristão desde a Reforma protestante.
Contudo, João menciona o verdadeiro
exército que esses celibatários formam, o que é mais provável que Deus
pretenda. (veja 1, Coríntios 6-7.)
Assim na Terra Como No Céu
Não precisamos ir muito longe para
identificar o elenco do Apocalipse. De fato, o sentido que Deus quer que
vejamos está, com frequência, claramente narrado no texto ou claramente em
falta em nossos corações.
Scott diz que Quando relembra seus
anos de estudo do Apocalipse como protestante, admira-se de que seus irmãos e
ele às vezes viam, muito claramente, helicópteros soviéticos retratados na
praga dos gafanhotos mutantes — e contudo negavam com veemência que Maria fosse
a mulher vestida de sol, que deu a luz o filho varão que salvou o mundo.
Ao ler o Apocalipse, precisamos
sempre resistir à tentação de forçar o extravagante e ao mesmo tempo, negar o
óbvio.
Scott repete: muitas vezes, o
sentido mais profundo das Escrituras está muito perto do coração de cada um de
nós, e a aplicação mais ampla, muito perto de casa.
Ora, onde na terra encontramos uma
Igreja universal que adora de uma forma fiel à visão de João? Onde encontramos
sacerdotes paramentados de pé diante de um altar? Onde encontramos homens
consagrados ao celibato? Onde ouvimos os anjos serem invocados? Onde
encontramos uma Igreja que guarda as relíquias dos santos dentro dos altares?
Onde a arte exalta a mulher coroada de estrelas, com a lua debaixo dos pés, que
esmaga a cabeça da serpente? Onde os fiéis suplicam a proteção do arcanjo são
Miguel?
Onde mais, a não ser na Igreja
Católica e, mais especificamente, na missa?
Capítulo, Terceiro — O Apocalíse Naquele Tempo
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Os Combatentes do Apocalipse e a Arma Decisiva
A conflagração final. A batalha de
Armagedon.
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mais sensacional do Apocalipse, para as últimas gerações, origina-se de suas
imagens de combate, pois sua guerra não é uma guerra qualquer, mas a guerra
decisiva, e é realmente terrível:
"espíritos
de demónios… se dirigem aos reis do mundo inteiro, a fim de ajuntá-los para a batalha…"
(Apocalipse 16,14.)
João descreve uma guerra mundial que
é, ao mesmo tempo, uma guerra sobrenatural:
"Houve
então um combate no céu: Miguel e seus anjos combateram contra o dragão". (12,7.)
Os anjos derramam as taças do furor
de Deus e, amedrontados, exércitos poderosos batem em retirada.
O número de
baixas é alto e as tribulações estendem-se até o povo de Deus. As trevas
parecem vencer.
Futuristas como Hal Lindsey afirmam
que esses detalhes correspondem literalmente a uma batalha da qual o mundo se
aproxima com rapidez na virada do milênio.
No mesmo
estado de espírito, alguns futuristas católicos discernem uma uniformidade de
testemunho na visão de João, nas predições de Fátima e em acontecimentos que
hoje são notícia.
Scott não descarta as interpretações
futuristas das batalhas do Apocalipse. Talvez todos os detalhes apocalípticos
terminem, de um jeito ou de outro, Quando Deua encerrar esta época.
Contudo,
Scott não crê que a interpretação futurista deva ser nosso enfoque primordial
Quando lemos o livro do Apocalipse.
Afinal de
contas, as predições podem ser preocupação urgente para os que viverem na época
da batalha final.
Mas isso nunca saberemos com
certeza. Gerações de futuristas se foram antes de nós e morreram depois de
desperdiçar anos preciosos com preocupações obsessivas sobre quem seria,
afinal, a besta pressagista: Napoleão, Hitler, Stalin.
Governantes bestiais vêm e vão,
cenários futuristas surgem e se dissipam como anéis de fumaça, do mesmo modo
que o futuro do ano passado desaparece na história.
Entretanto,
os outros"sentidos" continuam conosco com uma premência constante, um
chamado pessoal.
Símbolos Estrepitosos
O que os sentidos das Escrituras
significam para nós? Desde os tempos mais primitivos, mestres cristãos dizem
que a Bíblia tem um sentido literal e um sentido espiritual.
O sentido literal descreve uma
pessoa, um lugar ou um acontecimento históricos. O sentido espiritual fala — por
meio daquela mesma pessoa, daquele mesmo lugar ou acontecimento — para revelar
uma verdade a respeito de Jesus Cristo, da vida moral ou do destino de nossas
almas, ou de todos os três.
Entretanto, a tradição nos ensina
que o sentido literal é fundamental. Contudo, identificar o sentido literal do
livro do Apocalipse é empreendimento muito difícil, fadado a ser controverso.
Afinal de contas, os intérpretes
dividem-se nitidamente Quanto a se o livro descreve literalmente acontecimentos
passados e futuros, pois o Apocalipse pode se referir, de maneira bastante
concreta, a ambos.
Santo Agostinho falou dessas
dificuldades em A cidade de Deus e santo Tomás de Aquino ecoou sua perplexidade
na Suma teológica: “Mas não é fácil saber o que são esses sinais, pois — os
sinais acerca dos quais lemos… referem-se não só à vinda de Cristo em
incessantes visitas a sua Igreja".
Interpretar o livro do Apocalipse é
ainda mais complicado porque, na visão de João, o sentido literal e o
espiritual perecem se fundir.
Embora o
evangelho de João seja uma obra de arte sutil, seu Apocalipse recorre a
símbolos atordoantes.
João fala de uma cidade, por
exemplo, e nos diz que seus nomes ("Egito" e "Sodoma".) são
figurados; então, sem mais aviso, ele nos diz que cidade ela realmente é. (veja
Apocalipse 11,8.)
Mesmo Quando monta um enigma com o
nome de uma besta, ele nos diz claramente que é um enigma.
Agora não é hora de ser muito sutil,
João parece dizer. E por que isso acontece? Porque ele vivia em tempo de
guerra.
Quando É "Em Breve"?
No Apocalipse,
João alude às grandes provações que os cristãos enfrentavam em sua época.
Como ele raramente cita nomes — e
jamais nos fala de datas, exceto para dizer que era "o dia do Senhor"
— os intérpretes apresentam uma longa lista de candidatos às tribulações do Apocalipse:
a queda de
Jerusalém e a destruição do Templo; (70 depois de Cristo.) a sangrenta
perseguição praticada pelo imperador Nero; (64 depois de Cristo.) a perseguição
posterior pelo imperador Domiciano; (96 depois de Cristo.) a perseguição
anterior dos cristãos pelos judeus. (décadas de 50 e 60 depois de Cristo…)
Naturalmente, em certo sentido — um
sentido espiritual — todas essas interpretações são verdadeiras, porque o Apocalipse
realmente oferece apoio a todos os cristãos que passam por peovações ou
perseguições, de qualquer tipo.
Mas em sentido literal o Apocalipse
trata primordialmente, Scott crê, da queda de Jerusalém.
Desde o começo, o Apocalipse tem um
tom iminente: "Revelação de Jesus Cristo: Deus lha concedeu para mostrar a
seus servos o que deve acontecer em breve". (Apocalipse 1,1.)
A mensagem repete-se por todo o
livro: "Venho em breve". (veja 1,1. 3; 3,11; 22,6-7. 10. 12. 20.) O
próprio Jesus mencionou que voltaria em breve, antes até que se passasse uma
geração depois de sua ressurreição… "dentre os que estão aqui, alguns não
morrerão antes de ver o Filho do Homem vir como rei". (São Mateus, 24,34.)
Hoje, muitos de nós associamos o
"em breve" à segunda vinda de Jesus no fim do mundo.
E isso é
certamente verdade; João e Jesus falavam do fim da história.
Entretanto, Scott crê que também
falavam — e primordialmente-do fim de um mundo: a destruição do Templo de
Jerusalém e com ela o fim do mundo da antiga aliança, com seus sacrifícios e
rituais, suas barreiras aos pagãos e suas barreiras entre o céu e a terra.
Porem, a parusia (ou
"vinda".) de Jesus devia ser mais que um fim, devia ser um começo,
umanova Jerusalém, uma nova aliança, umnovo céu e uma nova terra.
João e Jesus referem-se não só a uma
parusia ou volta distante, mas à contínua parusia de Jesus, que realmente
aconteceu na primeira geração cristã, como ainda acontece hoje.
Não devemos nos esquecer de que o
sentido original do grego parusia é "presença" e a presença de Jesus
é real e permanente no Santíssimo Sacramento da Eucaristia.
Assim, quando João e Jesus disseram
“em breve", creiam que o disseram bem literalmente, pois a Igreja é o
reino que já começou na terra, o lugar da parusia em todas as missas.
Prostitutas e Rumores de Guerra
João indica claramente que a
"grande cidade" de Apocalipse 11 é Jerusalém. Ele escreveu:
"Seus
corpos ficarão na praça da grande cidade que se chama profeticamente Sodoma e
Egito, lá onde o Senhor foi crucificado".
Em Apocalipse 17,6, a prostituta
"Embriagada com o sangue dos santos e o sangue das testemunhas de
Jesus" repercute as investidas veterotestamentárias contra as infidelidades
de Jerusalém.
Ezequiel, (veja Ez 16,2-63; 23,2-49.)
Jeremias, (Jr 2,20; 3,3.) Isaías (1,21.) e outros depreciam a cidade como
prostituta. Então, em Apocalipse 20-21, vemos a nova Jerusalém descer do céu,
preparada como uma esposa, depois que a cidade prostituta é destruída.
Observe o
contraste: Duas cidades, uma prostituta, a outra esposa. Uma Jerusalém
substitui a outra.
Foram as
autoridades de Jerusalém que crucificaram Jesus. E Jerusalém era o principal
local de perseguição dos cristãos da primeira geração. (veja Atos dos Apóstolos
6,8-14; 7,55-60; 8,1-3.)
Os principais perseguidores eram
sacerdotes e fariseus como Saulo de Tarso.
Os Atos dos
Apóstolos descrevem a perseguição constante, em muitas cidades fora de
Jerusalém; mas, em quase todos os casos, as perseguições se originam da
oposição judaica. (veja Atos dos Apóstolos 13,45; 14,2. 5. 19; 17,5-9. 13;
18,12-17; 21,27-32.)
Conto de Quatro Cidades — Sodoma, Egito,
Jericó, Babilônia
Os detalhes da destruição descrita
no Apocalipse correspondem exatamente à história da destruição de Jerusalém. Em
Apocalipse 17-19, João mostra uma cidade destruída pelo fogo; Jerusalém foi
totalmente destruída pelo fogo.
Nos capítulos 8 e 9, João descreve
"o abismo" que, de acordo com a tradição judaica, jazia debaixo da
pedra fundamental do Templo de Jerusalém.
Há ainda mais indícios de que
Jerusalém seja a cidade descrita no Apocalipse, pois este segue de perto o
livro veterotestamentário de Ezequiel e a única mensagem proeminente de
Ezequiel é que a maldição da Aliança cairá sobre Jerusalém. Vemos essa maldição
se cumprir no livro do Apocalipse.
Jerusalém é chamada
"profeticamente Sodoma e Egito", diz João.
O que esses
lugares tinham em comum? Eram centros de oposição ao plano de Deus. Sodoma
atrapalhou o plano de aliança de Deus com Abraão; o Egito atrapalhou seu plano
de aliança para Moisés e Israel.
Agora é a vez de Jerusalém se opor a
Deus, pois seus líderes perseguem os apóstolos e a Igreja. Assim, como Sodoma e
o Egito, Jerusalém tinha de cair, e o Apocalipse retrata essa queda com sete
pragas que ecoam as pragas que Deus mandou ao Egito. (veja Apocalipse 16.)
Na queda, ouvimos mais ecos
veterotestamentários, pois a grande cidade cai devido aos toques de sete
trombetas sopradas por sete anjos. (Apocalipse 8-9.) Esta´passagem do Apocalipse
segue de perto a narrativa da queda de Jericó. (veja Js 6,3-7.)
As duas passagens começam com
silêncio, prosseguem com os sete toques de trombeta e termina com um grito.
Também Jericó
atrapalhou o plano de Deus, ao procurar manter o povo escolhido fora da terra
prometida. Por sua vez, Jerusalém, perseguidora de cristãos, tornou-se uma nova
Jericó e por isso devia cair.
Muito mais adiante no Apocalipse,
Quando se reúnem "para a batalha do grande dia do Deus
Todo-Poderoso", (Apocalipse 16,14.) os reis da terra reúnem-se na montanha
de Megido, ou Armagedon.
Este local revive mais uma lembrança
histórica dolorosa para Israel. Armagedon foi o lugar onde o grande rei
davídico Josias, em meio a sua reforma santa de Jerusalém, foi morto em seu
apogeu por desobedecer à instrução do profeta de Deus. (veja 2, Reis 23,28-30.)
A derrota de Josias em Meguido
enfraqueceu as defesas de Israel e deixou Jerusalém vulnerável à destruição poa
Babilônia.
Uma guinada irônica para a geração
de cristãos era que Jesus Cristo — como Josias, rei davídico e reformador morto
em seu apogeu — perseverou na obediência e alcançou sucesso onde Josias
fracassou e instituiu uma nova Jerusalém, testemunhada pela queda da antiga.
Tempos do Selo
Quando os exércitos do imperador
romano Tito sitiaram a cidade no ano 70 depois de Cristo, Jerusalém realmente
caiu.
O cerco
trouxe fome, peste e discórdia, que vemos na devastação forjada pelos quatro
cavaleiros angelicais de Apocalipse 6 e pelos sete trombeteiros angelicais dos
capítulos 8 e 9.
De uma forma menos simbólica e mais
horrivelmente realista, vemos essas calamidades relatadas também nos escritos
do historiador judeu Flávio Josefo, que foi testemunha ocular.
Ele descreve Jerusalém tão devastada
pela fome que as mães, loucas de fome, começaram a devorar seus bebes.
Contudo, durante toda discórdia da
guerra judaica, nem um só cristão pereceu, porque a comunidade de fiéis fugiu
para as montanhas do outro lado do jordão, para um lugar chamado Pela.
Lemos am Apocalipse 7,1-4 que esses
cristãos — cento e quarenta e quatro mil das doze tribos de Israrel — foram
preservados porque sua fronte tinha sido marcada com o selo.
Isso recorda a marca colocada na
fronte do resto de Deus em Ezequiel, (veja Ez 9,2-4.) onde a palavra hebraica
para "marca" é tau, transliterada como a letra grega "T".
Em 70 depois de Cristo, Deus salvou
de modo semelhante o resto de Israel que foi marcado com tau, o sinal-da-cruz.
Esta
"marcação" com o tau parece ser uma referencia ao Batismo, pois os
cento e quarenta e quatro mil trajam vestes brancas, a veste batismal
tradicional; lavaram suas vestes "no sangue do Cordeiro". (o efeito
purificador da morte do Cordeiro.)
O Cordeiro os conduz "para as
fontes das aguas da vida"; (veja São João 3-4; 7.) e na Igreja primitiva,
a palavra para "marcados com o selo" aplicava-se ao batismo. (veja
Romanos 4-6; Efésios. 1,11-14; 2, Coríntios 1,22.)
Os cristãos foram marcados com o
selo e contavam com aliados angelicais. O livro do Apocalipse deixa claro que
embora todo fiel precise lutar com poderosas forças sobrenaturais, nenhum
cristão jamais luta sózinho.
Até os fim dos tempos, Miguel e os
anjos fiéis lutam ao lado da Igreja — esse, o Apocalipse nos mostra, é o lado
que vence.
A Primeira Igreja de Cristo em Jerusalém
Uma parte fascinante do relato
histórico, muitas vezes negligenciada, é que a primeira igreja cristã — erguida
no monte Sião — sobreviveu ao cerco e à destruição.
Em 70 depois de Cristo a décima
legião romana ficou entre a igreja de Sião e os bairros incendiados de Jerusalém.
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Em 130 depois
de Cristo, Quando Adriano chegou para sufocar a segunda revolta judaica,
Jerusalém ainda estava em ruínas, relata santo Epifanio, "exceto por
algumas casas e a pequena casa de Deus no lugar onde os discípulos iam para a
sala superior".
De todos os lugares sagrados na
cidade santa e ao redor dela, por que Deus preservou a sala superior? Segundo a
tradição, foi nesse lugar que Jesus instituiu a Eucaristia e que o Espírito
desceu em pentecostes.
Assim, foi ali que os cristãos foram
alimentados para a fome iminente, marcados com o selo pelo Espírito para se
salvarem da destruição que estava por vir.
Essa Igreja parece ter sido poupada
da destruição total de Jerusalém de outro modo.
Semitas Espirituais
Mais uma vez temos de encarar a
questão: o Apocalipse de João — e o próprio cristianismo — é anti-semita ou
antijudaico?
A análise que o Apocalipse faz da
guerra judaica não é um tanto severa? João tripudiou sobre o povo escolhido,
estão derrotado?
Nossa resposta a essas perguntas
deve ser um sonoro não. Anti-semitismo é estupidez espiritual e tira o sentido
do Apocalipse, pois a visão de João não faz sentido a não ser que Israel seja o
primogênito de todas as nações.
Como nosso
irmão mais velho, Israel era um exemplo para nós.
Uma visita à Roma mostra isto com
nitidez. Ali está o Arco de Tito, o monumento erguido para celebrar a derrota
dos judeus pelo general romano.
Esculpidas na
pedra estão cenas da batalha e de soldados carregando o espólio da destruição
de Jerusalém. Ali, em meio ao saque, está o candelabro de sete braços.
As cenas do arco correspondem, de uma
forma deprimente, à mensagem de Jesus no Apocalipse:
"venho a
ti e, se não se arrependeres, tirarei o teu candelabro de seu lugar". (Apocalipse
2,5.)
Recorde que o próprio Jesus está no
meio dos candelabros; (veja Apocalipse 1,12-13.) assim, remover o candelabro
era remover a própria presença de Deus.
Contudo aqui
Deus não falava a Jerusalém, mas à Igreja de Éfeso, que perdera o fervor do
amor por ele.
Deus advertiu os cristãos de Éfeso
que se não mudassem seus modos, sofreriam o mesmo destino que o irmão mais
velho, Israel.
A triste verdade é que Éfeso perdeu
seu candelabro e o mesmo fizeram Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia
e Laodicéia — todas as Igrejas às quais o livro do Apocalipse se dirige.
Por sua vez, cada uma das cidades,
outrora prósperos centros cristãos, sofreram a perda da fé. Hoje, todas são
predominantemente mulçumanas e ali os católicos precisam de permissão especial
até para celebrar missa.
Pense nisso: Éfeso era a terra natal
da Santíssima Virgem Maria, de são João, são Paulo, são Barnabé, Apolo — uma
verdadeira galeria de personagens neotestamentárias famosas.
Contudo, Éfeso perdeu seu
candelabro, como Jerusalém perdeu antes dela e outras Igrejas prósperas
perderiam depois.
Não, a derrota de Israel não é
motivo de celebração. Deve nos fazer tremer — porque isso não só pode acontecer
com os cristãos; já aconteceu repetidas vezes e é provável que volte a
acontecer.
Se o primogênito Israel fracassou, o
mesmo acontecerá conosco, irmãos mais novos, sempre que formos orgulhosos e
autoconfiantes.
Assim, Scott repete, o antisemitismo
e o antijudaismo são espiritualmente destrutivos e estúpidos. Nas palavras do
papa Pio 11: "Espiritualmente, somos semitas".
Você só será um bom católico quando
se apaixonar pela religião e pelo povo de Israel.
Caminhe um Côvado em Suas Sandálias
Não obstante, a antiga Jerusalém
devia dar lugar à nova Jerusalém: uma nova aliança, uma nova criação, novos
céus e uma nova terra.
Depois de dois mil anos, nós
cristãos estamos à vontade com essa noção, na verdade, à vontade demais. Mas,
se nos imaginarmos no tempo do Apocalipse de João, veremos que só a idéia da
queda de Jerusalém nos deixa aflitos.
Afinal de contas, Jerusalém era a
cidade santa para os filhos de Israel; e em sua maioria, os primeiros cristãos
eram judeus.
Tiveram de enfrentar corajosamente a
destruição do Templo, o edifício mais belo da terra e o desaparecimento de um
sacerdócio que remontava a mais de mil anos, instituido por Deus no monte Sinai.
O próprio
Jesus chorou com amor por Jerusalém, no momento em que os chefes da cidade
planejavam sua execução.
Para esses
primeiros cristãos, a destruição de Jerusalém era causa de muita aflição.
Contudo, Jerusalém e o Templo
estavam, na verdade, desaparecendo diante de seus olhos.
A confiança
dos cristãos precisava ser restabelecida. Eles pediam uma explicação. Estavam
deseperados por uma revelação de Deus.
Por intermédio de João, Deus revelou
seu julgamento da aliança sobre a antiga Jerusalém.
A cidade
provocou a ira de Deus por sua infidelidade, por crucificar o Filho de Deus e
por perseguir a Igreja.
Sabendo disso, os cristãos viam o
contexto de sua própria perseguição e entendiam por que já não deviam olhar
para a antiga Jerusalém em busca de ajuda e salvação.
Agora precisavam olhar para a nova
Jerusalém, que, diante dos olhos de João, descia do céu. Onde pousava? No monte
Sião, onde Jesus comeu sua última Páscoa e instituiu a Eucaristia.
No monte Sião, onde o Espírito Santo
desceu sobre os apóstolos em Pentecostes. No monte Sião, onde até 70 depois de
Cristo os cristãos se reuniam para celebrar a Eucaristia — e onde o Cordeiro estava
de pé com o resto fiel de Israel, (Apocalipse 14,1.) marcado com o selo contra
a destruição iminente. A nova Jerusalém veio à terra, naquele tempo como agora,
no lugar onde os cristãos celebraram o banquete do Cordeiro.
O Cordeiro Matador
Na missa, os cristãos primitivos
encontravam forças em meio à perseguição. Do sacrifício único de Jesus Cristo
vinha a ajuda e a salvação da Igreja.
Na missa, os cristãos juntavam
forças com os anjos e santos para adorar a Deus, como nos mostra o livro do Apocalipse.
Na missa, a Igreja recebeu o
"maná escondido" para sustento em tempos em tempos de provação. (veja
Apocalipse 2,17.) Na missa, as orações dos santos da terra se elevaram como
perfume para juntar-se às orações dos anjos do céu — e foram essas orações que
alteraram o curso das batalhas e o curso da história.
É esse o plano de combate do Apocalipse.
Foi assim que o cristianismo prevaleceu sobre inimigos aparentemente
imbatíveis, em Jerusalém e em Roma.
Mesmo depois da queda de Jerusalém,
outros adversários se levantaram para perseguir a Igreja de Deus. Em todas as
épocas, a Igreja enfrenta perseguidores poderosos, com exércitos e armamentos
cada vez mais fortes.
Contudo, armas, legiões e
estratégicas, todas falham. Grandes generais acabam por cair feridos de morte.
Mas, Quando o Cordeiro entra na luta, "Os reis da terra, os magnatas, os
chefes militares, os ricos e os poderosos, todos, escravos e livres,
esconderam-se nas montanhas.
Eles diziam às montanhas a aos
rochedos:
Caí sobre nós
e escondei-nos longe da face do que está sentado no trono, e longe da ira do
Cordeiro! Pois chegou o grande dia da sua ira, e quem poderá subsistir?". (Apocalipse
6,15-17.)
O exército do Cordeiro, as forças de
Sião preservadas quando da destruição do Cordeiro são a Igreja. O exército do
Cordeiro tira forças do banquete do céu.
Capítulo, Quarto — O Dia do Juízo
Sua Misericórdia é Assustadora
As gerações modernas de intérpretes
fixaram-se nas guerras e bestas do Apocalipse, fascinantes porque assustadoras.
Os leitores
tem temores legítimos sobre a maneira como esse castigo severo se aplica
durante sua vida.
Na verdade, alguns rejeitam os
julgamentos do Apocalipse por considerá-los grotescos e escandalosos demais e
até irreconciliáveis com a idéia de um Deus misericordioso.
Contudo, como sua misericórdia, a
justiça de Deus aparece na Bíblia toda. É parte integrante de sua revelação.
Negar a força do castigo divino é então, fazer de Deus menos que Deus e fazer
de nós menos que seus filhos, pois todo pai precisa educar seus filhos, e o
castigo paterno é misericórdia, uma expressão paternal de amor.
A fim de entender o castigo do Apocalipse
— e sua aplicação a nossas vidas — precisamos primeiro entender o laço da
aliança que nos une a Deus Pai.
Uma aliança é um laço sagrado de
família. Vemos que Deus — por sua aliança com Adão, Noé, Abrãao, Moisés, David
e Jesus — aos poucos estendeu esse relacionamento familiar a cada vez mais
pessoas.
Toda aliança dava origem a uma lei;
mas esses não eram atos arbitrários de poder; eram expressões de sabedoria e
amor paternos.
Afinal de contas, todo lar saudável
tem diretrizes claras para comportamentos aceitáveis e inaceitáveis. Mais que
isso, porém, a lei de Deus nos permitiu amar, crescer em nossa imitação da
"família divina", da Santíssima Trindade, pois, Pai, Filho e Espírito
Santo vivem eternamente em paz e comunhão perfeitas.
Se a aliança de Deus nos faz sua
família, então o pecado significa mais que uma lei desobedecida. Significa
vidas destruidas e um lar desfeito.
O pecado
surge de nossa recusa a manter a aliança, nossa recusa a amar a Deus tanto
quanto Ele nos ama.
Pelo pecado, abandonamos nossa
posição de filhos de Deus. O pecado mata a vida divina em nós.
O julgamento, então, não é um
processo legalista e impessoal. É uma questão de amor, e algo que escolhemos
por nós mesmos.
Nem o castigo é ato de vingança. As
"maldições" divinas não são expressões de ódio, mas de amor e
educação paterna. Como o unguento medicinal, provocam dor a fim de curar.
Impõem sofrimento terapeutico, reconstituinte e redentor.
A ira de Deus
é expressão de seu amor por seus filhos desobedientes.
Deus é amor, (IJo,4,8.) mas seu amor
é fogo abrasador, (Hebreus 12,29.) que os pecadores obstinados acham
insuportável.
A paternidade
de Deus não diminui a severidade de sua ira nem rebaixa o padrão de sua justiça.
Ao contrário, o pai amoroso exige
mais dos filhos do que os juízes exigem dos acusados. O bom pai, porém, também
mostra misericórdia maior.
Posso Ter uma Testemunha?
Para entender o livro do Apocalipse,
precisamos desse entendimento da aliança. E não há como interpretar mal a
situação.
A visão de
João não é apenas litúrgica, ou apenas régia, ou apenas militar.
É tudo isso, mas é também jurídica.
O cenário é o de um tribunal.
Para oa
cidadãos das democracias modernas, essa combinação talvez pareça caótica, mas
devemos lembrar que, no antigo Israel, o rei era comandante supremo do
exército, juiz-presidente dos tribunais e, idealmente, também sumo-sacerdote.
Como rei divino, Jesus desempenhava
todos esses papéis de maneira incomparável.
Assim, quando
vê o céu, João entra simultaneamente no Templo, na sala do trono, no campo de batalha
e no tribunal.
Como todo tribunal, o Apocalipse
apresenta o depoimento de testemunhas juramentadas: "Nisto, o anjo…
levantou a mão direita para o céu e jurou, por aquele que vive pelos séculos
dos séculos". (Apocalipse 10,5-6.)
Mais adiante, no capítulo 11, o
tribunal convoca Moisés e Elias. Sem mencioná-los pelo nome, João sugere sua
identidade ao falar dos poderes que eeses homens manifestaram no Antigo
Testamento; No caso de Elias, o poder de fechar o céu e de provocar pragas.
Essas duas testemunhas (Apocalipse
11,3.) representam toda lei (Moisés.) e todos os profetas. (Elias.) Com sua
presença, eles comprovam que o povo de Israel conhecia muito bem as obrigações
da aliança com Deus e as consequencias da infidelidade.
Outras testemunhas dão a própria
vida. Em grego, "testemunha" é martus e dessa palavra vem
"mártir". Assim, no capítulo 6, encontramos "as almas dos que
tinham sido imolados poe causa da palavra de Deus e do testemunho que tinham
dado". (Versículo 9.)
Essas testemunhas clamam ao juiz
pela rápida execução da setença:
"Até
quando, Soberano santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso
sangue contra os habitantes da terra?". (Apocalipse 6,9-10.)
Como eles gritam do altar, sabemos
que seu testemunho é verdadeiro e será ouvido. Mas contra quem elas
testemunham? Para responder a essa pergunta precisamos considerar qual cidade
era a fonte e o centro de perseguição da primeira Igreja — e essa cidade era
Jerusalém.
Incomodado Pela Dúvida
Parece que Jerusalém é acusada. Deus
aparece como juiz (20,11.) auxiliado por anjos sentados em vinte tronos. (20,4.)
Em todo o Apocalipse, anjos executam a sentença, também quando apressam a
destruição de Jerusalém junto com os habitantes e o Templo.
João retrata esse acontecimento
comparando-o a uma terrível Páscoa. Sete anjos derramam as taças da ira de
Deus, o que resulta em sete pragas.
O esvaziamento das taças. (é uma
ação litúrgica, uma libação derramada sobre a terra, como o vinho era derramado
sobre o altar do antigo Israel.)
Essa imagem torna-se mais
impressionante à luz da realização da Páscoa na Eucaristia. As pragas tem lugar
nos capítulos 15-17 em uma ambiente litúrgico: os anjos aparecem com harpas,
paramentados como sacerdotes no Templo celeste e cantam o cântico de Moisés e o
Cãntico de Cordeiro. (capítulo 15.)
Essa liturgia significa morte para
os inimigos de Deus, mas salvação para sua Igreja. Assim, os anjos exclamam:
"Já que eles derramaram o sangue dos santos e dos profetas, é também
sangue que lhes destes a beber, Eles o merecem!". (Apocalipse 16,6.)
A Páscoa, a Eucaristia e a liturgia
celeste são, então, espadas de dois gumes. Embora tragam vida aos fieis, as
taças da aliança significam morte certa para os que rejeitam a aliança.
Como na antiga aliança, na nova Deus
dá ao homem a escolha entre a vida e a morte, entre a bênção e maldição. (veja
Deuteronômio 30,19.) Escolher a aliança é escolher a vida eterna na família de
Deus.
Rejeitar a
nova aliança no sangue de Cristo é escolher a própria morte.
Jerusalém fez essa escolha, na
Páscoa de 30 depois de Cristo
Na ocasião dessa Páscoa, Jesus
profetizou o fim do mundo em termos aterradores e disse: "Em verdade, eu
vos digo: esta geração não passará sem que tudo isto aconteça". (São
Mateus, 24,34.)
Para os antigos, uma geração (em
grego genea.) era de quarenta anos. E quarenta anos depois, em 70 depois de
Cristo, um mundo acabou quando Jerusalém caiu.
Frutos Proibidos: As Vinhas da Ira
Por que um Deus misericordioso
castigaria desse jeito? Por que atribuímos essa ira ao Cordeiro divino, a
própria imagem da indulgencia? Porque a ira de Deus é misericórdia.
Mas, para entender esse paradóxo,
precisamos primeiro examinar a psicologia do pecado, com alguma ajuda de São
Paulo.
O uso que Paulo faz da palavra
"cólera" (sinonimo de "ira".) na Epístola aos Romanos é
esclarecedor: "Com efeito, a cólera de Deus se revela do alto do céu
contra toda impiedade e toda injustiça dos homens que mantem a verdade cativa
da injustiça: pois o que se pode conhecer de Deus é para eles manifesto: Deus
lho manifestou… eles são pois inescusáveis, visto que, conhecendo a Deus, não
lhe renderam nem a glória, nem a ação de graças que são devidas a Deus; pelo
contrário, eles se transviaram em seus vãos pensamentos e o seu coração
insensato se tornou presa das trevas"{{Pause=2}}
Isso resume bem o "caso"
contra Jerusalém apresentado no tribunal celeste: Deus deu a Israel sua
revelação, na verdade a plenitude de sua revelação em Jesus Cristo; porém o
povo não lhe rendeu glória nem lhe deu graças; na verdade; suprimiram a
verdade, ao matar Jesus e perseguir sua Igreja.
Assim, "a cólera de Deus se
revela" contra Jerusalém.
O que aconteceu então? Lemos em
Romanos: "Por isso Deus os entregou, pela concuspicencia dos seus
corações, à impureza na qual eles mesmos aviltam os próprios corpos". (Romanos
1,24.)
Espere um pouco: Deus os entrega a
seus vícios? Deixa-os continuar a pecar?
Viciado em uma Fraqueza.
Bem, sim, e essa é uma terrível
manifestação da glória de Deus. Talvez pensemos que os prazeres do pecado sejam
preferiveis ao sofrimento e à calamidade, mas eles não são.
Temos de reconhecer o pecado como
ação que destrói nosso laço de família com Deus e nos afasta da vida e da
liberdade. Como isso acontece?
Primeiro, temos a obrigação de
resistir à tentação. Se fracassamos e pecamos, temos a obrigação de nos
arrepender imediatamente, Se não nos arrependemos, então Deus nos deixa
conseguir o que queremos: permite que experimentemos as consequencias naturais
de nossos pecados, os prezeres ilícitos.
Se ainda não nos arrependemos — por
meio da abnegação e de atos de penitencia — Deus nos permite continuar no
pecado, desse modo formando um hábito, um vício, que escurece nosso intelecto e
enfraquece nossa vontade.
Quando nos viciamos em um pecado,
nossos valores viram de ponta-cabeça. O mal se torna nosso "bem" mais
indispensável, nosso anseio mais profundo; o bem representa um "mal"
porque ameaça impedir-nos de satisfazer desejos ilícitos.
A essa altura, o arrependimento é
quase impossível, pois ele é, por definição, o afastamento do mal em direção ao
bem; mas, a essa altura, o pecador redefiniu completamente o bem e o mal.
Isaías disse a respeito desses
pecadores: "Ai dos que chamam de bem o mal e de mal, o bem". (Isaías,
5,20.)
Quando adotamos o pecado desta
maneira e rejeitamos nossa aliança com Deus, só uma calamidade nos salva. Às
vezes, a coisa mais misericordiosa que Deus faz a um beberrão, por exemplo, é
permitir que destrua o carro ou seja abandonado pela esposa — qualquer coisa
que o force a aceitar a responsabilidade pelos seus atos.
O que acontece, no entanto, quando
toda uma nação cai em pecado sério e habitual? O mesmo princípio entra em ação.
Deus intervem e permite depressão
economica, conquista estrangeira ou catástrofe natural.
Com bastante frequência,
nações provocam esses desastres por seus pecados.
Mas de qualquer modo, esses são os
mais misericordiosos chamados a despertar.
Às vezes, o desastre significa que o
mundo que os pecadores conheciam precisa desaparecer. Mas, como Jesus disse:
"E que proveito terá o homem em ganhar o mundo inteiro, se o paga com a
própria vida?". (São Marcos 8,36.)
É melhor dizer adeus a um mundo de
pecado do que perder sem esperança de arrependimento.
Quando as pessoas lêem o Apocalipse,
assustam-se com terremotos, gafanhotos, fomes e escorpiões. Mas Deus´só permite
essas coisas porque nos ama.
O mundo é bom — não se engane quanto
a isso — mas o mundo não é Deus. Se permitimos que o mundo e seus prazeres nos
governem como um deus, a melhor coisa que o Deus verdadeiro pode fazer é
começar a tirar as pedras que formam o alicerce de nosso mundo.
Ordem no Tribunal
No entanto, um mundo melhor aguarda
os justos e os sinceramente arrependidos. Levar uma vida boa não é viver livre
de problemas, mas sim viver livre de preocupações desnecessárias.
Catástrofes acontecem aos cristãos,
do mesmo modo que coisas boas parecem acontecer aos ímpios.
Porém, para um
cristão praticante, até os desastres são bons, pois servem para nos purificar
de nosso apego a este mundo.
Talvez só quando vamos à falencia
paramos de nos preocupar com dinheiro. Só quando somos abandonados pelos amigos
paramos de tentar impressioná-los.
Quando o dinheiro acaba, voltamos à
única coisa que ninguem tira: nosso Deus. Quando nossos amigos nos viram as
costas, voltamo-nos, finalmente, para o Amigo constante — aquele que não
conseguimos impressionar porque ele nos conhece por inteiro.
Como o Apocalipse revela, o juiz
sabe tudo sobre nós. O julgamento não é só para Jerusalém. "Ainda outro
livro foi aberto: o livro da vida, e os mortos foram julgados segundo suas
obras, de acordo com o que estava escrito nos livros". (Apocalipse 20,12.)
Um dia, você e eu, diz Scott,
seremos contados "entre os mortos" e seremos julgados por nossas
obras. Alhures no Apocalipse, vemos que os santos entram no céu e "suas
obras os acompanham" (Apocalipse 14,13.) Nossas obras são parte integrante
de nossa salvação; na verdade, serão a essencia de nosso julgamento.
Além do mais, não temos de esperar
até morrer para ser julgados. Ficamos diante do trono do julgamento sempre que
nos aproximamos do céu, como fazemos em todas as missas.
Também então imploramos a perfeita
misericórdia, que é a justiça perfeita, de nosso Pai celeste.
Também então
recebemos a taça — para nossa salvação ou nosso castigo.
Devemos recordar o julgamento do Apocalipse
sempre que ouvimos as palavras da instituição, que são as palavras de Jesus:
"Este é
o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança".
(Ana. — Queridos
A partir de
agora vamos entrar na terceira e última parte deste livro maravilhoso!
O tema é: O Apocalipse na Missa.
Abraços e que Deus abençõe a todos.)
3ª Parte — O Apocalipse na Missa
Capítulo, Primeiro — Erguer o Véu — Como ver o
invisível
Os cristãos ucranianos adoram contar
como seus antepassados "descobriram" a liturgia. Em 988, Quando se
converteu ao Evangelho, o príncipe Vladimir de Kiev enviou emissários a
Constantinopla, a capital da cristandade oriental.
Ali, eles participaram da liturgia
bizantina na catedral da Sagrada Sabedoria, a igreja mais magestosa do Oriente.
Depois de passar pela experiência do
canto litúrgico, do incenso, dos ícones — mas, acima de tudo, da Presença — os
emissários enviaram esta mensagem ao príncipe: "Não sabíamos se estávamos
no céu ou na terra.
Nunca vimos
tanta beleza… Não sabemos descreve-la, mas disto temos certeza: ali, Deus
habita entre a humanidade".
A Presença. Em grego, a palavra é
parusia e transmite um dos temas principais de livro do Apocalipse
Nos últimos séculos os intérpretes
tem usado a palavra quase exclusivamente para descrever a segunda vinda de
Jesus no fim dos tempos, e essa é a definição que se encontra na maioria do
dicionários.
Contudo, não é o sentido principal.
O sentido primordial de parusia é uma presença real, pessoal, viva, permanente
e ativa.
No último
Versículos do Evang. de Mateus, Jesus promete: "eis que estou convosco
todos os dias, até a consumação dos tempos".
Apesar de nossas redefinições, o
livro do Apocalipse define essa forte sensação da iminente parusia de Jesus — sua
vinda que tem lugar agora mesmo. O Apocalipse nos mostra que ele está aqui em
plenitude — com sua realeza, em julgamento, em guerra, no sacrifício
sacerdotal, em corpo e sangue, alma e divindade — onde quer que os cristãos
celebrem a Eucaristia.
"A liturgia é a parusia
contemplada antes do tempo, o já que entra em nosso 'ainda não', escreveu o
cardeal (agora nosso papa.) Joseph Ratzinger.
Quando Jesus vier novamente no fim
dos tempos, ele não terá uma só gota de glória a mais do que tem neste momento,
nos altares e nos sacrários de nossas igrejas.
Deua habita
entre a humanidade agora mesmo, pois a missa é o céu na terra.
Oficialmente
Scott quer deixar bem claro que esta
idéia — a idéia por trás deste livro — não é novidade e, com certeza não é
dele. É tão velha quanto a Igreja e a Igreja nunca a abandonou, embora ela
tenha se perdido no tropel das controvérsias dogmáticas dos últimos séculos.
Nem se pode descartar essa conversa
como sendo os desejos piedosos de um punhado de santos e estudiosos, pois a
idéia da missa como "céu na terra" é agora o ensinamento explícito da
fé católica.
Ela se encontra em vários lugares,
por exemplo, na declaração mais fundamental da crença católica, o Catecismo da
Igreja Católica:
Na realização de tão grande obra,
por meio da qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens são santificados,
Cristo sempre associa a si a Igreja, sua esposa diletíssima, que o invoca como
seu Senhor e por ele presta culto ao eterno Pai… (culto.) que participa da
liturgia celeste. (número 1089.)
Nossa liturgia participa da liturgia
celeste! Está no Catecismo! E tem mais:
A liturgia é "ação" do
"Cristo todo…" Os que desde agora a celebram, para além dos sinais,
já estão na liturgia celeste… (número1136.)
Na missa, já estamos no céu! Não é
Scott, nem um punhado de teólogos mortos, quem diz isso. O Catecismo diz. O
Catecismo também cita a passagem do Vaticano 2º que influenciou Scott
fortemente nos meses que antecederam sua converção à fé católica:
Na liturgia terrestre, antegozando
participamos (já.) da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de
Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrinos, caminhamos.
Lá, Cristo
está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do tabernáculo
verdadeiro; com toda milícia do exército celestial cantamos um hino de glória
ao Senhor… (número 1090.)
Milícias, hinos e cidades santas.
Ora, isso começa a parecer o livro do Apocalipse, não é mesmo? Bem, deixemos o
Catecismo esclarecer:
A Revelação "daquilo que deve
acontecer em breve", o Apocalipse, é comunicada pelos cânticos da Liturgia
celeste… A igreja da terra canta também esses cânticos, na fé e na provação… (número
2642.)
Tudo isso o Catecismo declara de
maneira prosaica, como se dispensasse explicações. Contudo, essa percepção
mudou a vida de Scott. E a de seus amigos e colegas também — e ai de quem Scott
encontrar com disposição para ouvi-lo.
Esta idéia de que a missa é “o céu
na terra" chega como realmente uma boa nova.
Senhor Jesus, Vem Na Glória
Se queremos ver a liturgia como os
emissários do príncipe Vladimir a vuram, precisamos aprender a ver o Apocalipse
como a Igreja o vê.
Se queremos entender o sentido do Apocalipse,
temos de aprender a lê-lo com uma imaginação sacramental.
Quando
examinamos essas questões mais uma vez, agora com novos olhos de fé, veremos o
sentido em meio à estranheza do livro do Apocalipse, a glória escondida no que
é mundano, na missa do próximo domingo.
Olhe de novo e descubra que o fio de
ouro da liturgia é o que junta as pérolas apocalípticas da visão de João:
— Missa dominical: 1,10
— Sumo sacerdote: 1,13
— Altar: 8,3-4; 11,1; 14,18
— Sacerdotes: (presbíteros.) 4,4; 11,15; 14,3; 19,4
— Paramentos: 1,13; 4,4; 6,11; 7,9; 15,6; 19,13-14
— Celibato consagrado: 14,4
— Candelabros: 1,12; 2,5
— Penitencia capítulos 2 e 3
— Incenso: (perfume.) 5,8; 8,3-5
— O livro: 5,1
— A hóstia eucarística; 2,17
— Taças: (cálices.) 15,7; 16; 21,9
— O sinal-da-cruz: (tau.) 7,3; 14,1; 22,4
— O Glória 15,3-4
— O Aleluia: 19,1. 3. 4. 6
— Corações ao alto! 11,12
— O "Santo, Santo, Santo": 4,8
— O Amém: 19,4; 22,20
— O "Cordeiro de Deus": 5,6 e em todo livro
— A proeminencia da Virgem Maria: 12,1-6. 13-17
— Intercessão dos anjos e santos: 5,8; 6,9-10; 8,3-4
— Devoção a são Miguel arcanjo: 12,7
— Antífona: 4,8-11; 5,9-14; 7,1-12; 18,1-8
— Leituras das Escrituras: 2-3; 5; 8,2-11
— O sacerdócio dos fiéis: 1,6; 20,6
— Catolicidade ou universalidade: 7,9
— Contemplação silenciosa: 8,1
— O banquete das núpcias do cordeiro: 19,9. 17
Considerados juntos, esses elementos
abrangem grande parte do Apocalipse — e a maior parte da missa. É mais fácil os
leitores modernos deixarem de perceber outros elementos litúrgicos do Apocalipse.
Por exemplo, hoje pouca gente sabe
que trombetas e harpas eram instrumentos comuns para a música litúrgica na
época de João, como os órgãos são hoje para o Ocidente.
E, em toda a visão de João, os anjos
e Jesus pronunciam bênçãos usando fórmulas litúrgicas:
"Feliz
aquele que…". Se você voltar a ler o Apocalipse de ponta a ponta, também
vai perceber que todas as grandes intervenções históricas — pragas, guerras
etc. — seguem de perto atos litúrgicos: hinos, doxologias, libações, perfumes
espalhados.
Contudo, a missa não está apenas em
pequenos detalhes escolhidos. Está também no esquema grandioso.
Vemos por
exemplo, que o Apocalipse, como a missa, se divide nitidamente ao meio.
Os onze primeiros capítulos tratam
da proclamação das cartas às sete Igrejas e da abertura do livro. Essa ênfase
em "leituras" faz com que essa primeira parte seja quase igual à
liturgia da Palavra.
De maneira significativa, os três
primeiros capítulos do Apocalipse indicam uma espécie de rito penitencial; nas
sete cartas às Igrejas, Jesus usa o verbo "arrepender-se" oito vezes.
Para Scott, isso recorda as palavras
da antiga Didaqué, o manual litúrgico do século 1: "depois de ter
confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro".
Até o início de João presume que o
livro será lido em voz alta por um membro da assembléia litúrgica: "Feliz
o que lê e os que escutam as palavras dfa profecia". (Apocalipse 1,3.)
A segunda metade do Apocalipse
começa no capítulo 2 com a abertura do Templo de Deus no céu e culmina com o
derramamento das sete taças e o banquete das núpcias do Cordeiro.
Com a
abertura do céu, as taças e o banquete, a segunda parte apresenta uma imagem
impressionante da liturgia eucarística.
Turíbulos Extra-Sensoriais?
No Apocalipse, João descreve cenas
celestes em termos terrenos precisos e temos todo o direito de perguntar por
quê.
Por que descrever o culto espiritual
— que, com certeza, não envolve harpas nem turíbulos — com impressões
sensoriais tão intensas? Por que não usar figuras matemáticas, como fizeram
outros místicos antigos, para os leitores entendessem a natureza
verdadeiramente esotérica, transcendente e imaterial do culto celeste?
Scott desconfia que Deus revelou o
culto celeste com exemplos terrenos para que os seres humanos — que, pela primeira
vez, foram convidados a participar do culto celeste — soubessem como agir.
Scott não quer dizer que a Igreja
não fez nada e ficou a espera de que o Apocalipse caísse do céu para que os
cristãos aprendessem a cultuar.
Não, os apóstolos e seus sucessores
celebravam a liturgia desde Pentecostes, pelo menos. Contudo, o Apocalipse
também não é apenas o eco de uma liturgia já instituida, a projeção no céu do
que acontece na terra.
O Apocalipse é um desvelamento; é
esse o sentido literal da palavra grega Apocalipse. O livro é reflexão
visionária que revela uma norma.
Com a destruição de Jerusalém, a
Igreja deixou definitivamente para trás um belo templo, uma cidade santa e um
sacerdócio venerável.
Sim, os cristãos adotaram uma nova
aliança que, de certo modo, concluía a antiga, mas, de certo modo também
incluía.
O que deviam trazer consigo do culto
antigo para o novo? O que deviam deixar para trás? O Apocalipse orientou-os.
Algumas coisas haviam sido
claramente substituídas na nova revelação.
Israel
marcava sua aliança com a circuncisão dos filhos varões no oitavo dia, a Igreja
selava a nova aliança com o Batismo.
Israel celebrava o sábado como dia
de descanso e culto; a Igreja celebrava o dia do Senhor, o domingo, o dia da
ressurreição.
Israel recordava a antiga Páscoa uma
vez por ano; a Igreja reecenava a Páscoa definitiva de Jesus Cristo em sua
celebração Eucarística.
Porém, Jesus não pretendeu acabar
com tudo que estava na antiga aliança; por isso Ele instituiu uma Igreja. Ele
veio para intensificar, internacionalizar e incorporar o culto de Israel.
Assim, a encarnação investiu grande
parte da pompa da antiga aliança com mais qualidade.
Por exemplo,
já não haveria um santuário central na terra. O Apocalipse mostra Cristo Rei
entronizado no céu, onde atua como sumo sacerdote no lugar santíssimo.
Mas isso significa que a Igreja não
pode ter edifícios, sacerdotes, castiçais, cálices ou paramentos? Não. A
resposta clara do Apocalipse é que podemos ter tudo isso — tudo isso e o céu
também.
A Aura de Sião
Mas todos sabiam onde encontrar
Jerusalém. Onde encontrariam o céu? Aparentemente, não muito longe da antiga
Jerusalém.
A Epístola aos Hebreus diz:
"Mas vós vos aproximastes da montanha de Sião e da cidade do Deus vivo, a
Jerusalém celeste, e das miríades de anjos em reunião festiva, e da assembléia
dos primogenitos, cujos nomes estão inscritos nos céus, e de Deus, juiz de
todos, dos espíritos dos justos que chegaram a perfeição, e de Jesus, mediador
de uma aliança nova, e do sangue da aspersão que fala mais forte que o sangue
de Abel". (Hebreus 12,21-24.)
Esse pequeno parágrafo resume
nitidamente todo o Apocalipse: A comunhão dos anjos e santos, a festa, o
julgamento e o sangue de Cristo.
Mas onde isso nos deixa? Exatamente
onde o Apocalipse nos deixou: "E eu vi: O Cordeiro estava de pé sobre o
monte Sião, e com ele os cento e quarenta e quatro mil que trazem inscritos em
suas frontes o nome dele e o nome de seu Pai". (Apocalipse 14,1.)
Parecem que todos os nossos caminhos
levam à cidade do rei David, o monte Sião. Na antiga Aliança, DEus abençoou
abundantemente Sião: "Pois o SEnhor escolheu Sião; Ele a quiz como
residencia". (Salmo 132,13.) "Quanto a mim, sagrei o meu rei em Sião,
minha montanha santa". (Salmo 2,6.)
Em Sião Deus estabeleceu a casa real
de David e esse reino duraria para sempre.
Ali, o
próprio Deus habitaria para sempre entre seu povo.
Lembre-se que foi também em Sião que
Jesus instituiu a Eucaristia e o Espírito Santo desceu em Pentecostes. Assim, a
"Montanha santa" foi ainda mais favorecida na segunda revelação. A
última ceia e Pentecostes foram os dois acontecimentos que selaram a nova
Aliança.
Observe também que o resto de
Israel, os cento e quarenta e quatro mil de Apocalipse 14, aparece no monte
Sião — embora em Apocalipse 7 ele apareça na Jerusalém celeste. É uma
discrepância estranha.
Onde ele estava, realmete: em Sião
ou no céu? Volte a Hebreus 12, para encontrar a resposta: "Vós vos
aproximastes da montanha de Sião… a Jerusalém celeste", pois os
acontecimentos que ali tiveram lugar trouxeram a união entre o céu e a terra.
A Igreja construída no local desses
acontecimentos subsistiu, mas só como sinal. Para os cristãos da Judéia, o
local da sala superior era a "igrejinha de DEus", dedicada ao rei
David e a são Tiago, o primeiro bispo de Jerusalém.
Era uma "igreja
doméstica", onde os fiéis se reuniam para partir o pão e rezar.
Entretanto, mais do que isso, Sião era o símbolo vivo da nova aliança e, assim,
foi preservada para sempre no livro do Apocalipse. Sião é o símbolo de nosso
ponto de contato terreno com o céu.
Hoje, embora estejamos a milhares de
quilômetros daquele pequeno monte em Israel, lá estamos como Jesus, na sala
superior, e estamos lá com Jesus no céu, sempre que vamos à missa.
A Velha Escola
As liturgias antigas estavam
impregnadas da linguagem do céu e da terra.
A liturgia de são Tiago declara:
"Fomos considerados dignos de entrar no lugar do tabernáculo de vossa
glória, de ultrapassar o véu e contemplar o Santo dos Santos"{{Pause=2}}
A liturgia dos santos Addai e Mari acrescenta:
"Como este lugar está impressionante hoje! Pois esta não é senão a casa de
Deus e a porta do céu; porque vós fostes vistos face a face, ó Senhor".
São Cirilo de Jerusalém (século 5.)
oferece a profunda meditação na frase: "Corações ao alto!"
"Pois, verdadeiramente", diz ele, "nessa hora mais
impressionante, devemos elevar nossos corações a Deus e não os manter aqui em
baixo, pensando na terra e em coisas terrenas.
O sacerdote
manda que todos nessa hora ponham de lado todos os cuidados desta vida, ou as
preocupações domésticas, e mantenham os corações no céu com o Deus
misericordioso".
Na verdade, precisamos ser como são
João de Patmos, quando ouviu a voz do céu dizer: "subi para cá. (veja Apocalipse
11,12.) É por isso que significa "Corações ao alto!".
Significa abrir nossos corações para
o céu que está diante de nós, exatamente como fez são João. Corações ao alto
então, para adorar no Espírito. Pois, na liturgia, diz o´Liber Gradumdo século
4, “o corpo é um templo escondido e o coração é um altar escondido para o
ministério do Espírito".
Primeiro, porém, precisamos
ativamente buscar a recordação.
São Cirilo
continua: "Mas que aqui não venha ninguém que diga com a boca: 'Nosso
coração está em Deus', mas esteja preocupado com os cuidados desta vida. Deus
deve estar sempre em nossa lembrança.
Mas se isso é
impossível em razão da fraqueza humana, devemos pelo menos esforçar-nos nessa
hora".
Dito simplesmente, devemos atender à
frase da liturgia bizantina: "Sabedoria! Esteja atenta!".
Eis que Ele bate à Porta
Sim, esteja atento! Porque o Apocalipse
desvela mais que "informações". É um convite pessoal, destinado a
você e a mim, de toda a eternidade.
A revalação de Jesus Cristo tem um
impacto imediato e irresistível em nossas vidas. Somos a esposa de Cristo
desvelado, somos sua Igreja.
E Jesus quer que todos nós iniciemos
com Ele a relação mais íntima que se possa imaginar.
Ele usa
imagens nupciais para demosntrar o Quanto nos ama, quão perto quer que fiquemos
— e como deseja que nossa união seja permanente.
Eis que Deus faz novas todas as
coisas. O livro do Apocalipse não é tão estranho Quanto parece e a missa é mais
esplêndida do que jamais sonhamos. O Apocalipse é tão familiar Quanto a vida
que levamos; e até a missa mais sem brilho está, de repente, cravejada de ouro
e pedras preciosas.
Você e Eu, diz Scott, precisamos
abrir os olhos e redescobrir esse segredo da Igreja há muito perdido, a chave
dos primeiros cristãos para entender os mistérios da missa, a única chave
verdadeira dos mistèrios do Apocalipse: "É dessa liturgia eterna que o
Espírito e a Igreja nos fazem participar quando celebramos o mistério da
salvação nos sacramentos".
Vamos para o céu não só Quando
morremos, ou Quando vamos à Roma, ou Quando fazemos uma peregrinação à Terra
santa. Vamos para o céu quando vamos à missa. Não é apenas um símbolo, nem
metáfora, nem parábola, nem figura de linguagem. É real.
No século 4, santo Atanásio
escreveu: "Queridos irmãos, não vimos a uma festa temporal, mas a uma
festa celestial, eterna. Não a expomos em sombras; aproximemo=nos dela na
realidade".
O céu na terra — isso é realidade! É
onde você esteve e onde ceou domingo passado! O que estava pensando naquele
momento?
Reflita no que o Senhor queria que
você pensasse.
Reflita em
seus convites do livro do Apocalipse: “O que tem ouvidos, ouça o que o Espírito
diz às Igrejas. Ao vencedor, darei do maná escondido. (livro do Apocalipse
2,17.) O que é o maná escondido?
Lembre-se da promessa que Jesus fez
Quando falou do "maná", no evangelho de João: "Os vossos pais,
no deserto, comeram o maná e morreram. O Pão que desce do céu é de de tal sorte
que aquele que dele comer não morrerá.
Eu sou o Pão
vivo que desce do céu". (São João 6,49-51.)
O maná foi o pão de cada dia do povo
de Deus durante a peregrinação no deserto. Agora, Jesus oferece algo maior, e
ele é bastante específico Quanto ao convite: "Eis que estou à porta e bato.
Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com
ele, e ele comigo. (Apocalipse 3,20.)
Assim, Jesus tem em mente uma
refeição; quer partilhar conosco o maná escondido. É ele o maná escondido. Em Apocalipse
4,1 vemos também, que este é mais que um jantar íntimo para dois.
Jesus estava à porta e bateu e agora
a porta está aberta. João é arrebatado pelo "Espírito" e vê
sacerdotes, mártires e anjos reunidos ao redor do trono do céu. Com João, descobrimos
que o banquete do céu é uma ceia familiar.
Agora, com olhos da fé — e "no
Espírito" — vamos começar a perceber que o Apocalipse nos convida para um
banquete celeste, para um abraço de amor, para Sião, para o julgamento, para o
combate.
Para A MISSA.
Capítulo, Segundo — Culto é Luta
O que você Escolhe: Lutar ou Fugir?
"O gênero humano", disse o
poeta Thomas Stearns Eliot, "não suporta muita
realidade". Não precisamos ir muito longe, diz Scott, para encontrar
provas dessa afirmação.
Hoje, as pessoas fogem da vida real,
uma a uma, retirando-se para suas distrações particulares. As rotas de fuga vão
das drogas e do alcool aos romances de ficção e jogos de realidade virtual.
O que a realidade tem que a
humanidade acha tão insuportável? A enormidade do mal, sua aparente onipresença
e seu poder, e nossa evidente incapacidade de fugir dele — na verdade, nossa
incapacidade de evitar perpetrar o mal. O inferno, ao que parece está em toda
parte — em imitação barata da onipresença de Deus — ameaçando nos consumir, nos
sufocar.
Essa é a realidade que não suportamos.
Contudo, é a dura e terrível
realidade que João descreveu, sem hesitar, no Apocalipse. As bestas de João
assomam monstruosas, além da mais medonha visualização de Hollywood, estalando
as mandíbulas para a presa mais inocentes e vulneráveis: uma mulher grávida, um
bebê.
Desprezam a natureza e a graça, a
Igreja e o Estado. Varrem um terço das estrelas do céu. São o poder por trás do
trono das nações e dos impérios.
Fortalecem-se com a imoralidade das
pessoas que seduzem; embriagam-se com o "vinho" da prostituição, da
ganância e do poder abusivo de suas vítimas.
Lutar ou Fugir?
Ao enfrentar essa oposição,
precisamos escolher: lutar ou fugir.
É um instinto
humano básico. Além disso, depois de uma avaliação superficial de nossos
recursos aparentes, e dos recursos aparentes do inimigo, "fugir"
parece ser a escolha razoável.
Entretanto, segundo os mestres
espirituais, a fuga não é opção real. Em sua clássica obra O Combate
espiritual, Dom Lorenzo Scupoli escreveu: "Esta guerra é inevitável e é
preciso lutar ou morrer.
A obstinação
do inimigo é tão ameaçadora que a paz e a arbitragem são completamente
impossíveis".
Em suma: fugimos do mal, mas não
conseguimos nos esconder.
Além disso, não subimos ao céu se
fugimos do combate. Deus nos destinou — a nós, a Igreja — a ser a esposa do
Cordeiro. Contudo, não governamos sem antes vencer as forças que se opõem a
nós, aos poderes que são pretendentes ao nosso trono.
O que vamos fazer? Devemos olhar a
nossa volta, depois de erguer o véu da simples visão humana. João revela a
notícia mais estimulante para os cristãos em combate. Dois terços dos anjos
estão do nosso lado, lutando com constancia enquanto dormimos.
São Miguel Arcanjo, o mais feroz
guerreiro do céu, é nosso aliado incansável e imbatível.
Todos os santos do céu clamam
constantemente a Deus por nossa defesa. E no fim — o mais estimulante de tudo —
nós venceremos!
João vê o combate da perspectiva da
eternidade; assim, ele revela o fim tão brilhantemente quanto descreve as
perdas.
As batalhas
devastam tão encarniçadamente que os rios ficam vermelhos com sangue e corpos
apodrecem amontoados nas ruas.
Porém os vitoriosos entram em uma
cidade com rios que correm com água da vida e com um sol que nunca se põe.
Ouça novamente o padre Scúpoli:
"se a fúria dos inimigos é grande e seu número esmagador, o amor que Deus
tem por você é infinitamente maior. O anjo que o protege e os santos que
intercedem por você são mais numerosos".
(off: Tenho este livro do padre Scupoli… e é
ótimo! Nele vemos de uma meneira profunda e instigante este "mundo
espiritual e suas lutas".)
Páginas Sociais.
Contamos com a ajuda do céu. Quem
quer uma garantia maior? Contudo, muitas vezes queremos.
Muitos cristãos ficam preocupados ao
perceber que Jesus, de algum modo, "demora" para vir socorrê-los.
Isso parece especialmente verdade quando vêem a decadência da sociedade.
O mundo, às vezes, parece estar
firmemente nas mãos de forças malígnas e, apesar das orações dos cristãos, o
mal permanece e até prospera.
Ainda assim, o Apocalipse mostra que
são os santos e anjos que dirigem a história com suas orações. Mais que
Brasília, mais que as Nações Unidas, mais que a bolsa de valores, mais que
qualquer lugar que você cite, diz Scott, o poder pertence aos santos do
Altíssimo reunidos ao redor do Cordeiro.
O sangue dos mártires clama a Deus
por vingança (Apocalipse 6,9-10.) e ele lhes faz justiça agora como no
alvorecer da história, quando o sangue de Abel clamou pela ira do Cordeiro
contra "os magnatas… os ricos e os poderosos". (Apocalipse 6,15-16.)
Mas o poder dos santos é de uma
ordem diferente da idéia que o mundo tem de poder, e a ira do Cordeiro difere
significamente da vingança humana. Isso parece dispensar explicações, mas é
dígno de nossa mais profunda contemplação, pois muitos cristãos professam crer
em uma espécie de poder celestial que, analisando mais de perto, se revela o
poder mundano em maior escala.
Reflita, por um momento, nos judeus
contemporâneos de Jesus, que tinham uma expectativa mundana do Messias: ele
instituiria o Reino de Deus por meios militares e políticos — conquistaria Roma,
subjugaria os pagãos etc.
Sabemos que tais esperanças foram
frustradas.
Em vez de
marchar sobre Jerusalém com seus exércitos, Jesus promoveu uma campanha de
misericórdia e amor, manifestados pelas refeições com coletores de impostos e
outros pecadores.
E todos aprendemos a lição certo?
Parece que não. Porque, hoje, muitos cristãos ainda esperam a mesma vingança
messiânica que os judeus do século 1 aguardavam.
Apesar de ter vindo pacificamente a
primeira vez, dizem eles, Cristo voltará com uma santa vingança no fim, e
esmagará seus inimigos com força poderosa.
você Chama A Isto Ira?
Mas e se a segunda vinda de Jesus se
revelar muito parecida com a primeira? Será que muitos cristãos ficariam
desapontados?
Talvez, porém Scott acha que não
devemos ficar, pois, embora o Apocalipse narre uma boa quantidade de fomes,
pragas e pestes, ainda assim o capítulo 6 retrata o castigo dos magnatas e
poderosos como a "ira do Cordeiro".
Por que João usa a imagem do
Cordeiro aqui? Que tipo de terror um cordeiro realmente inspira? Por que ele
não falou da ira do leão de Judá?
Do mesmo modo, por que os que
"não amaram a própria vida a ponto de temer a morte" conseguiram
"vencer" depois da primeira vinda de Cristo? Ou por que os lados
opostos se mostram tão desiguais: dois dragões e uma besta terrestre atacam a
mulher grávida quando ela dá a luz o bebê Messias?
Certo, lá está são Miguel Arcanjo,
mas o melhor que ele faz é chutar o dragão para fora do céu — de modo que agora
o diabo está livre para perseguir a mulher no deserto e depois combater o resto
de sua descendência.
Em suma, as condições estão estabelecidas
— de maneira desfavorável!
E a cena final, (capítulo 19.)
quando Cristo vem vingar "o sangue de seus servos"? Ali vemos alguém
chamado "Fiel e Verdadeiro" que monta um cavalo branco, acompanhado
por exércitos vestidos de linho branco, (é essa a melhor armadura?.) que luta
só com uma espada — que sai "de sua boca"! Por que não está em sua
mão direita? Por que não brande a espada? Claro, ela é a espada do Espírito, a
Palavra de Deus, que ele prega — e não uma arma militar de destruição em massa.
Então ele captura a besta e o falso
profeta e os lança vivos no lago de fogo abrasado com enxofre. Note que ele não
os mata primeiro, não os retalha, nem exulta sobre seus cadáveres.
Em seguida, o destino dos ímpios é
descrito nos dois capítulos seguintes simplesmente em termos de sua exclusão da
nova Jerusalém. Que espécie de retribuição é essa? Por que Jesus é ainda um
Cordeiro, até o fim? E por que um banquete de núpcias, em vez de uma festa de
vitória?
Scott sugere que as expectativas de
muitos cristãos a respeito da segunda vinda de Cristo passem por uma
retificação. Do contrário, vamos nos sentir desapontados — como se sentiram os
judeus contemporaneos de Jesus no século 1.
Talvez precisemos repensar a imagem
comum de Deus reprimindo sua ira — “Espere só, você vai ver como fico irado e
vingativo de verdade" — examinando-a com mais cuidado, à luz de sua
paternidade perfeita.
Isso não elimina a ira divina; simplesmente
adapta-a à imagem consistente de Deus que Jesus proporciona.
Como Scott já disse, analisar o julgamento
de Deus em termos de paternidade divina não abaixa o padrão de justiça nem
diminui a severidade do julgamento; em geral, os pais exigem mais dos filhos e
filhas que os juízes dos acusados.
Então, qual deve ser nossa imagem da
segunda vinda de Jesus?
Para Scott, ela é eucarística e se
realiza quando a missa traz o céu para a terra. Do mesmo modo que o sacerdote
terreno fica diante do pão e do vinho e diz:
"Este é
o meu corpo", e assim transforma as espécies, também o sumo sacerdote
Cristo fica diante do cosmo e pronuncia as mesmas palavras.
Estamos na terra, enquanto as
espécies estão no altar. Estamos aqui para sermos transformados: para morrer
para nós mesmos, viver para os outros e amar como Deus.
É o que
acontece no altar da terra, exatamente como acontece nos altares de nossas
igrejas.
Como o fogo desceu do céu para
consumir os sacrifícios no altar de Salomão, assim também o fogo desceu no
primeiro Pentecostes.
O fogo é o mesmo, é o Espírito Santo,
que permite sermos oferecidos como sacrifícios vivos no altar da terra. É isso
que faz sentido na segunda metade do Apocalipse.
O Caminho Nupcial Da História
Faz sentido, também, nos
acontecimentos de nossa vida cotidiana. À luz do fogo divino, vemos as notícias
diárias não como sons sem sentido e sem nexo, mas como uma narrativa da qual já
conhecemos o fim.
Todas as coisas da história — na
história universal e em nossa história pessoal — concorrem para o bem dos que
amam a Deus, (veja Romanos 8,28.) pois Cristo é Senhor da história, seu início (veja
São João 1,1.) e seu fim. (veja Coríntios 4,5.)
Cristo está firme no comando e quer
que reinemos com ele como sua esposa. Assim, precisamos lutar para obter nosso
trono, mas nossa luta dificilmente é horrível.
Podemos até considerá-la em termos românticos.
A história é o relato da corte que Cristo faz a sua Igreja, aos poucos nos
atraindo para nosso banquete de núpcias, o banquete do Cordeiro.
Ele nos olha como Adão olhou para
Eva e diz "Eis, desta vez, o osso dos meus ossos e a carne da minha
carne!". (Génesis, 2,23.) A Igreja é, ao mesmo tempo, sua esposa e seu
corpo, pois no matrimonio os dois se tornam uma só carne. (veja São Mateus, 19,5.)
Assim, Cristo olha para nós e diz:
"Este é o meu corpo".
Deus pretende que toda a história — quer
determinados acontecimentos pareçam maus para o "nosso lado" — nos
conduza à eterna comunhão de nosso banquete de núpcias.
Não devemos subestimar o desejo de
Cristo de que compareçamos à festa. Lembre-se que ele é uma esposo a espera da
esposa. Assim, as palavras apaixonadas que disse aos apóstolos também são
verdadeiras para nós: "Eu desejei tanto comer esta Páscoa convosco antes
de padecer!". (São Lucas. 22,15.)
Nem devemos subestimar o poder de
Jesus para nos conduzir à festa. Afinal de contas, ele é Deus onipotente,
onisciente.
A comunhão eterna com a Igreja é o
que ele quer e é, com certeza, o que ele alcança agora mesmo.
A comunhão
amorosa com sua Igreja é a razão pela qual criou o mundo.
Assim, todos os acontecimentos de
todos os tempos devem nos levar, de maneira inexorável, ao acontecimento que
vemos de forma mística nos últimos capítulos do livro do Apocalipse.
A Resistência ao Descanso
O inferno, então, parece levar a
melhor no mundo, mas não leva. Em certo sentido, a Igreja está no comando.
Nossas orações e, em especial, o
sacrifício da santa missa são a força que impulsiona a história em direção a
seu objeto. De fato, no sacrifício da missa, a história alcança seu objetivo,
porque ali Cristo e a Igreja celebram e consumam sua união.
Como devemos então entender nosso
combate constante? Se, em certo sentido, a história já alcançou seu objetivo,
por que devemos lutar?
Porque nem todo mundo veio à festa,
mesmo que nós e Scott tenhamos vindo. Assim, precisamos continuar a resgatar o
tempo, a restaurar todas as coisas em Cristo.
Lembre-se que quando vamos a missa
levamos conosco o trabalho profissional, a vida familiar, os sofrimentos e o
lazer, e todas essas coisas se tornam sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus
por intermédio de Jesus Cristo, durante a celebração da Eucaristia.
Scott diz que Deus deseja que nós
desempenhemos um papel indispensável na história da salvação."
O Espírito e a esposa dizem:
'Vem!'". (Apocalipse 22,17.) Note que não é só o Espírito que faz o
chamado à humanidade, mas o Espírito e a esposa.
A esposa é a Igreja — somos eu e
você, diz Scott.
Entretanto, nosso inimigo, a besta,
não consagra nada. Trabalha incansavelmente e, às vezes, nos intimida com sua
diligência; mas seus esforços são infecundos. Ela é 666, a criatura atolada no
sexto dia, em trabalho perpétuo, mas sem nunca chegar ao sétimo dia, de
descanso e adoração.
Desse modo, a luta continua e fomos
alistados para o serviço ativo. Precisamos, porém, começar a luta bem perto de
casa. Nossos inimigos mais perigosos são os que encontramos em nossa alma:
orgulho, inveja, preguiça, gula, avareza, ira e luxúria.
Antes de avançar nos inimigos que
estão na sociedade em geral, precisamos identificar nossos hábitos pecaminosos
e começar a erradicá-los.
Ao mesmo
tempo, precisamos cerscer na sabedoria e na virtude que nos fazem mais como
Cristo.
Só progrediremos se viermos a nos
conhecer como realmente somos, isto é, como pareceremos para Deus todo-poderoso.
Quando se viu diante do Cordeiro de
Deus, João avaliou corretamente a situação e se prostrou humildemente.
Precisamos ver a verdade com a mesma clareza. Assim, precisamos ver as coisas
na mesma luz divina.
Contudo, como podemos ver, se
estamos envoltos em trevas? A única maneira é entrarmos no mesmo lugar limpo e
bem iluminado onde João teve sua visão: Adoração no Espírito, no dia do Senhor
— que é, ao mesmo tempo, a cidade celeste onde "não haverá mais
noite". (Apocalipse 22,5.)
Sómente na nova Jerusalém nos
veremos como somos, pois lá enfrentaremos o julgamento; lá leremos o que está
escrito no livro da vida. É o céu, mas não precisamos morrer para ir até lá.
A nova Jerusalém é o monte Sião, é a
Igreja da sala superior e nos alcança na santa missa.
Não Podemos Nos levantar Porque Caímos
Queremos nos conhecer. Por isso
precisamos usar bem as partes da missa que são reservadas à introspecção: O ato
penitencial, por exemplo, com o "Senhor, tende piedade" e o
"confesso".
Isso exige recolhimento, uma
tranquilidade interior que nos permita examinar nossos pensamentos, palavras e
atos.
Se queremos
ficar recolhidos, ajuda chegar à Igreja bem antes da missa e começar nossa
oração.
O recolhimento interior possibilita
nos concentrarmos na realidade da missa, não importa o que aconteça à nossa
volta: bebês que choram, música ruim ou homilias medíocres.
A fim de nos preparar para a missa,
devemos também tirar frequente proveito do sacramento da Reconciliação,
confessando nossos pecados depois de um profundo exame de consciência.
Lembre-se do conselho da Didaqué, o
guia litúrgico mais antigo da Igreja: devemos nos confessar antes de receber a
Eucaristia para que nosso sacrifício seja puro.
Embora a Igreja só exijaque nos
confessemos uma vez por ano, o irresistível ensinamento dos santos e papas é
que nos confessemos "frequentemente". Que frequência é essa? Varia de
acordo com as circunstâncias e os conselhos do padre confessor.
Entretanto, devemos seguir o bom
exemplo dos santos, que sabemos, confessavam-se ao menos uma vez por semana, e
os mestres espirituais de mais confiança aconselham o mínimo de uma vez por mes.
Se somos sinceros diante de Deus,
nos veremos, em nossos corações, nos prostando humildemente, como fez João.
Rezaremos com sinceridade perfeita a
oração antes da comunhão: "Senhor, eu não sou dígno de que entreis…".
Aqui está Muito Cheio
O que vemos quando ficamos na luz?
Vemos que somos pecadores e somos fracos; mas também vemos muito mais.
Vemos que nesta guerra somos, de
longe, o lado mais forte. Na missa, invocamos os anjos e adoramos ao lado
deles, como fez João — como seus iguais diante de Deus! Pedimos, a ajuda deles.
Ouça com atenção o prefácio da
missa, imediatamente antes de entoar o "Santo, Santo, Santo":
"Eis, pois, diante de vós todos os anjos que vos servem e glorificam sem
cessar, contemplando a vossa glória. Com eles, também nós, e, por nossa voz,
tudo o que criastes, celebramos o vosso nome, cantando a uma só voz".
Algumas liturgias orientais ousam numerar
os anjos:
"milhares
e milhares e dez mil vezes dez milhares de hostes de anjos e arcanjos".
Nesse contexto a palavra "hostes" indica poder militar — como
"legiões" ou "divisões". Parece que a missa é uma invasão
da Normandia no domínio espiritual
Também invocamos os santos, e os
reconhecemos pelo nome.
Na 1º Oração Eucarística do cânon
romano, o sacerdote lê uma longa lista de apóstolos, papas, mártires e outros
santos — vinte e quatro, para corresponder exatamente aos presbíteros que estão
ao redor do trono de Deus no Apocalipse.
Na guerra espiritual, os santos são
aliados poderosos. Lembre-se de que, no Apocalipse, a vingança de Deus segue de
perto as orações dos mártires sob seu altar.
Em algumas liturgias orientais — por
exemplo, na antiga liturgia de são Marcos — as comunidades repetem as orações
dos mártires: "Esmagai sob nossos pés Satanás e toda sua perversa
influência. Humilhai agora, como em todos os tempos, os inimigos da Vossa
Igreja. Revelai o orgulho deles. Mostrai-lhes depressa sua fraqueza. Arruinai
as maldosas intrigas que eles planejam contra nós. Levantai, ó Senhor, e fazei
com que vossos inimigos se Dispersem e que todos os que odeiam vosso santo nome
sejam postos em fuga".
Sem dúvida, temos força e poder do
nosso lado. Dizemos isso no "Santo, Santo, Santo" que cantamos, junto
com os anjos, em todas as missas das quais participamos.
Devemos nos assegurar de dar a esse
cântico tudo que temos. Você já viu um forte exército marchar em formação? Os
soldados se movem com precisão unificada e cantam com prazer e confiança.
É assim que devemos proceder na
liturgia: com confiança, com alegria. Não negamos a força do inimigo; apenas
glorificamos o fato de Deus ser mais forte, e Deus é nossa força!
Faça os Demónios Saírem Correndo
Não basta, claro, conhecer a nós
mesmos e aos anjos. Precisamos conhecer a Deus cada vez mais, e essa é uma
atividade interminável. (e eternamente compensadora.)
Quanto mais aprendemos a respeito
dele, mais percebemos que não sabemos e, sem a graça, não podemos saber.
Ao vir conhecer a Deus, saberemos
que forças e recursos usar na batalha. Assim, devemos nos preparar para a missa
durante toda a vida, pela constante formação doutrinária e espiritual.
Nenhum soldado entra em combate sem
treinamento. Também nós não devemos pensar que consquitaremos demónios se
formos fracos em nossa fé.
Precisamos passar pelos rigores do
treinamento básico, levar uma vida tolerante e disciplinada de oração e estudar
a fé todos os dias, ler a Bíblia, ouvir música e assistir a programas católicos,
ler livros católicos. (em especial o Catecismo da Igreja Católica.) Tudo isso é
tarefa para uma vida inteira.
Nosso estudo doutrinal investe de
poder cada palavra e gesto da liturgia. Fazemos o sinal-da-cruz, sabendo que
ele é o estandarte que levamos à batalha — e diante desse estandarte os demónios
tremem.
Mergulhamos os dedos na água benta
sabendo, nas palavras de santa Tereza Dávila, que essa água faz os demónios
figirem.
Recitamos cada verso do Glória e do
Credo como se nossas vidas dependessem dele, pois dependem mesmo.
E o que "acontece" no
campo de batalha quando recebemos na sagrada comunhão Jesus Cristo, Rei dos
reis e Senhor dos senhores?
Os santos nos dizem que expulsamos o
inimigo naquele momento e depois ficamos em vigília com a atenção de Jesus.
Um monge do século 5, do monte
Sinai, atestou que "quando entra em nós, esse fogo expulsa imediatamente
os maus espíritos de nosso coração e perdoa os pecados que cometemos antes… E
se depois disso, ficamos na entrada de nosso coração e mantemos estrita
vigilância sobre o intelecto, quando temos nova permissão de receber esses
mistérios, o corpo divino ilumina ainda mais nosso intelecto e o faz brilhar
como uma estrela".
Assim, o brilho da missa vai para
casa conosco como o dia perpétuo da Jerusalém celeste. À medida que crescemos
na graça, nossa missa se torna uma luz que arde também dentro de nós, em meio a
nosso trabalho e nossa vida familiar.
Isso é segurança em tempo de guerra,
pois o exército mais fraco dificilmente ataca à luz do dia.
E o diabo sabe: quando a luz de
Cristo está de um lado da batalha, a escuridão do inferno é o lado mais fraco.
O Dia D’
Contudo, a batalha continua a ser
batalha. Mesmo se nossa vitória estiver assegurada, a luta em si não será
necessariamente fácil, e isso é verdade em especial na missa.
Conhecendo o poder da graça, o diabo
nos atacará com mais violência, diz o antigo mestre, "por ocasião das
grandes festas e durante a liturgia divina — especialmente quando pretendemos
receber a sagrada comunhão".
Qual é nosso combate em particular durante
a missa? Talvez seja precaver-se contra o desprezo pela mulher com um perfume
forte demais, ou pelo homem que canta, desafinado, a letra errada.
Talvez seja conter nosso julgamento
do paroquiano que vai embora antes do fim da missa. Talvez seja nos voltar para
o outro lado quando começamos a imaginar até onde vai realmente aquele decote.
Talvez seja sorrir, compreensivos, para a mãe com o bebê que não para de chorar.
Essas são as batalhas árduas. Talvez
não sejam tão românticas quanto sabres que colidem em um deserto longínquo ou
marchas no meio de gás lacrimogéneo para protestar contra a injustiça.
Mas porque estão ocultas com tanta
perfeição, porque são tão interiores, elas exigem um heroísmo maior. Ninguém, a
não ser Deus e seus anjos, vai notar que esta semana você não criticou
mentalmente a homilia do vigário.
Ninguém, a não ser Deus e seus
anjos, vai notar que você se absteve de julgar a família que não estava vestida
decentemente.
Portanto, você não ganha medalha; em
vez disso, vence uma batalha.
Choque de Realidade — Suporte-o
A realidade "desvelada" do
Apocalipse de João é tão terrível quanto é consoladora. Contudo, a boa nova é
que, com ajuda celeste, nós a suportamos.
Somos filhos do Rei do universo; mas
vivemos em meio a perigo constante, cercados por tenebrosas forças espirituais
que querem destruir nossa alma, nossa coroa e nosso direito nato.
Porém, se quizermos, a vitória é
nossa. Nossa tradição está certa em associar a missa com a todah, antigo
sacrifício de ação de graças de Israel.
A todah era uma expressão de
confiança total: oração para se livrar dos inimigos, oração para se livrar da
morte eminente — e, ao mesmo tempo, a todah dava graças porque Deus responderia
às orações.
Recorde, também, a previsão dos
rabinos de que a todahera o único sacrifício que não desapareceria na época
messiânica. Assim, rezamos com confiança em todas as missas: "livrai-nos
do mal"; e, desse modo, damos graças a Deus por nossa libertação.
Na sagrada comunhão, recebemos o pão
que vai nos sustentar, até mesmo durante o mais longo dos cercos. Na missa, quando
ficamos ao lado de nossos aliados celestes, o diabo é impotente.
Diante do altar, aproximamo-nos do
céu, a única fonte de graça infinita que muda nossos corações pecaminosos. No
banquete das núpcias do Cordeiro, nós mesmos somos entronizados para, por meio
de nossas orações, reinar sobre a história.
Neste tempo milenário, muita gente
virá até você proclamando que o fim do mundo está próximo e que o último
conflito além-mar é, com certeza, a batalha do Armagedom.
Não se assuste. Diga-lhes que sim, o
fim está próximo; sim, a Apocalipse é agora. Mas a Igreja sempre ensinou que o
fim está próximo — tão próximo quanto a Igreja paroquial.
E é uma coisa para a qual você deve
correr, não da qual deve fugir.
Em qualquer batalha em que estejamos
impacientes para entrar com armas terrenas, devemos primeiro entrar com armas
do espírito.
Você que justiça para o povo
oprimido em toda a terra? Quer alívio para os mártires de além-mar? Não corra
até a prefeitura.
Se quer trazer o Reino, deve
primeiro adorar bem, com a maior frequência possível, onde quer que o santuário
do Rei se faça presente por meio da missa.
Capítulo, Terceiro — A Idéia de Paróquia
O Apocalipse como Retrato de Família.
O céu é uma reunião de família com
todos os filhos de Deus; e isso é verdade também, do céu na terra: a santa
missa.
Voltemos àquela passagem
impressionante de Hebreus: "Mas vós não vos aproximastes da montanha de
Sião… a Jerusalém celeste… e da assembléia dos primogénitos, cujos nomes estão
inscritos nos céus". (Hebreus 12,22-23.)
Na missa, o céu toca a terra e
inclui a família do próprio Deus.
No Apocalipse, João apenas
intensifica a imagem. Ele descreve nossa comunhão com Cristo nos mais
extraordinários termos íntimos, como "o banquete das núpcias do
Cordeiro". (Apocalipse 19,9.)
História da Família
Todavia, para entender esse laço de
família, muitos de nós teremos de por de lado nossas modernas idéias ocidentais
a respeito da família.
Vivemos em uma época em que as
famílias são bastante móveis; pouca gente morre na cidade onde nasceu. Vivemos
em uma época de famílias pequenas; menos crianças de hoje contam com tios e
tias e inúmeros primos, como as gerações anteriores.
Quando os modernos dizem
"família", em geral entendemos o núcleo familiar: a mãe, o pai e um
ou dois filhos.
Entretanto, para apreciar a visão de
João, temos de vislumbrar um mundo muito diferente, no qual a grande família
ampliada definia o universo de determinado indivíduo.
A família — a tribo, o clã — era a
identidade primordial do homem e da mulher e determinava onde eles viveriam,
como trabalhariam e com quem poderiam se casar. Com frequência as pessoas
traziam um sinal distinto da identidade familiar, como um anel de sinete ou um
marca distintiva no corpo.
No mundo antigo, uma nação era, em
grande parte, uma rede dessas famílias, como Israel, que abrangia as doze
tribos designadas com os nomes dos filhos de Jacó.
O que unificava cada família era o
laço da aliança, a idéias de cultura mais ampla do que constituía as relações
humanas, os direitos, os deveres e as lealdades.
Quando uma família acolhia novos
membros, pelo casamento ou por alguma outra aliança, os dois lados — os novos
membros e a tribo estabelecida — selavam o laço da aliança com um juramento
solene, partilhando uma refeição comum ou oferencendo um sacrifício.
O relacionamento de Deus com Israel
definia-se por uma aliança, e Jesus descreveu sua relação com a Igreja nos
mesmos termos. Na última ceia, ele abençoou a taça da nova aliança em seu
sangue. (veja São Mateus, 26,28; São Marcos 14,24; São Lucas. 22,20; 1,
Coríntios 11,25.)
O livro do Apocalipse deixa claro
que essa nova aliança é o mais próximo e mais íntimo dos laços de família. A
visão de João conclui com o banquete das núpcias do Cordeiro e sua esposa, a
Igreja.
Com esse acontecimento, nós cristãos
selamos e renovamos nossa relação de família com o prório Deus.
Em nossos corpos trazemos a marca da
tribo de Deus.
Chamamos o próprio Deus de nosso
verdadeiro Irmão, nosso Pai, nosso Esposo.
O Deus que é Família
No Apocalipse, os fiéis trazem na
fronte a marca dessa família sobrenatural. Durante séculos, os cristãos
primitivos lembravam a si mesmos essa realidade traçando o sinal-da-cruz em
suas frontes.
Repetimos a mesma coisa, hoje,
quando fazemos o sinal-da-cruz; marcamos nossos corpos, "em nome de"
nossa família divina: oPai, o Filho e o Espírito Santo.
Assim, no Apocalipse e também na
missa, a família de Deus — como qualquer família tradicional no antigo Israel —
encontra sua identidade no nome da família e em seu sinal.
Contudo, eis a revelação mais
notável: nossa família não tem só o nome de Deus — nossa família é Deus.
O cristianismo é a única religião
cujo Deus único é uma família. Seu nome mais apropriado é Pai, Filho e Espírito
santo.
Disse o papa João Paulo 2º: "Em
seu mais profundo mistério, Deus não é uma solidão, mas uma família, pois ele
tem em si paternidade, filiação e a essência da família que é o amor".
Para Scott, essa é uma verdade de
importância fundamental. Note que ele não disse que Deus é como uma família,
mas que eleéuma família.
Por quê? Porque Deus possui, desde a
eternidade, os atributos essenciais da família — paternidade, filiação e amor —
e só ele os possui em perfeição.
Talvez seja mais correto, então,
dizer que os Hahns (ou qualquer outro lar.) são como uma família, pois nossa
família temesses atributos, mas só imperfeitamente.
Deus é uma família e nós somos Dele.
Ao instituir a nova aliança, Cristo fundou uma Igreja — seu corpo místico — como
extensão de sua encarnação. Ao assumir a carne, Cristo a divinizou e estendeu a
vida da Trindade a toda humanidade, pela Igreja.
Incorporados ao Corpo de Cristo,
somos "filhos no Filho". Somos filhos na eterna família de Deus.
Compartilhamos
a vida da Trindade.
A igreja católica não é nada menos
que a família universal de Deus.
Afinidade Pela Trindade
Como católicos, renovamos nosso laço
da família a aliança no banquete das núpcias do Cordeiro — ação que é, ao mesmo
tempo refeição compartilhada, sacrifício e juramento. (sacramento.)
O Apocalipse desvelou a Eucaristia
como uma festa nupcial na qual o eterno Filho de Deus inicia a mais íntima
união com sua esposa, a Igreja. É essa "comunhão" que nos une a
Cristo, que faz de nós filhos no Filho.
Na preparação para esta comunhão — nossa
nova aliança, nosso matrimônio místico — precisamos, como esposas, deixar para
trás nossas vidas antigas.
Como esposas, renunciar o nosso antigo
nome por um novo. Seremos para sempre´identificados com Outro: nosso Amado,
Jesus Cristo, o Filho de Deus.
O matrimônio exige que os esposos
façam um ato de abnegação completo e total, como o de Cristo na cruz.
Mas somos fracos e pecadores e
achamos insuportável a simples sugestão de tal sacrifício.
Eis a boa nova. Cristo se torna um
de nós, para oferecer sua humanidade como sacrifício perfeito{{Pause=2}}
Na missa, unimos nosso sacrifício ao
dele, e essa união faz nosso sacrifício perfeito.
Sem sentir nenhuma Dor
A missa é o perfeito e
"definitivo" sacrifício do Calvário, apresentado no altar do céu por
toda eternidade. Não é um "espetáculo repetido".
Há só um sacrifício; ele é perpétuo
e eterno e, assim, jamais precisa ser repetido. No entanto, a missa é nossa
participação nesse sacrifício único e na vida eterna da Trindade no céu, onde o
Cordeiro "que parece imolado" está de pé eternamente.
Como isso acontece? Como Deus oferece
sacrifício? A quem Deus oferece sacrifício?
Na divindade, no céu, este amor
vivificante continua de modo indolor mas eterno. O Pai derrama a plenitude de
si mesmo; não retém nada de sua divindade.
Gera eternamente o Filho. O Pai é
acima de tudo, amante Doador de vida e o Filho é sua imagem perfeita. Assim, o
que mais é o Filho além de amante que dá a vida?
E ela dinamicamente espelha o Pai
desde toda a eternidade e derrama a vida que recebeu do Pai; devolve a vida ao
Pai como expressão perfeita de ação de graças e amor.
A vida e o amor que o Filho recebeu
do pai e devolve ao Pai é o Espírito Santo.
Por que falar nisso agora? Porque é
isso que acontece na missa!
Os cristãos primitivos admiram-se
tanto com esse fato que se inclinam a cantar a respeito dele, como neste hino
sírio do século 6: "Exaltados estão os mistérios deste templo no qual o
céu e a terra simbolizam a Trindade exaltíssima e a revelação de nosso
Salvador".
A missa faz presente, no tempo, o
que o Filho faz desde toda a eternidade: Amar o Pai como o Pai ama o Filho e
devolver o dom que recebeu do Pai.
Uma Grande Mudança
Esse dom é a vida que estamos
destinados a compartilhar; mas antes precisamos sofrer significativa mudança.
Como somos agora, não temos
capacidade de dar tanto ou receber tanto; a chama infinita do amor divino nos
consumiria. Sózinhos, porém, não somos capazes de mudar.
É por isso que Deus nos dá sua vida
nos sacramentos. A graça compensa a fraqueza da natureza humana. Com sua ajuda,
fazemos o que não faríamos sózinhos, a saber, amar perfeitamente e sacrificar
totalmente.
O que faz desde a eternidade, o Deus
Filho começa a fazer agora na humanidade. Ele não muda, em absoluto; pois Deus
é imutável, eterno, sem princípio nem fim. Quem muda não é Deus, mas a
humanidade.
Deus assumiu nossa humanidade, de modo
que todo gesto, todo pensamento dele — do momento em que foi concebido até o
momento em que morreu na cruz — tudo que ele fez na terra foi um ato do Filho
por amor ao Pai. O que ele é desde a eternidade, ele se manifestou em sua
humanidade.
Assim, o amor perfeito agora tem
lugar no tempo porque Deus assumiu nossa natureza humana e usa-a para expressar
o amor vivificante do Filho pelo Pai. Por sua vida e morte, Jesus divinizou a
humanidade. Uniu-a ao que é divino.
E toda vez que recebemos a
Eucaristia nós recebemos essa humanidade fortalecida, divinizada e glorificada
do amor divino do Filho pelo Pai. Só com essa grande efusão da graça podemos
sofrer a mudança exigida para entrar na vida da Trindade.
A Eucaristia nos muda.
Agora, somos capazes de fazer todas
as mesmas coisas que fizemos antes — mas tornando-as divinas em Cristo:
tornando cada um de nossos gestos, pensamentos e sentimentos uma expressão de
amor pelo Pai, uma ação do Filho dentro de nós.
Problemas Tribais
Entrar pelo casamento em qualquer
fampilia significa grandes mudanças. Entrar pelo casamento na família de Deus
significa transformação completa.
Que diferença faz? Toda a diferença
do mundo e mais alguma.
Com essa mudança — nas palavras de
um Padre siríaco do século 4, A frente — o homem se torna o templo de Deus,
como Deus é o templo do homem.
Adoramos, como diz o Apocalipse,
"no Espírito". Habitamos na Trindade. Agora, também moramos na casa
de Deus, a Igreja, que foi construída sobre a rocha. (veja São Mateus, 7,24-27;
16,19.)
Agora, somos chamados por seu nome. (veja
Efésios. 4,3-6.) Agora, participamos da mesa do Senhor. (veja 1, Coríntios
10,21.) Agora, compartilhamos sua carne e seu sangue. (veja São João 6,53-56.)
Agora, sua mãe é nossa mãe. (veja São João 19,26-27.)
Agora, entendemos por que chamamos
os sacerdotes "padre" e o papa de nosso "Santo Padre" — porque
eles são outros Cristos, e Cristo é a imagem perfeita do Pai. Agora, entendemos
por que chamamos as religiosas "irmã" e "madre" — porque,
para nós, elas são imagens da Virgem Maria e da Mãe Igreja.
Agora, mais claramente que antes,
entendemos por que os santos no céu importa´-se tanto com nosso bem estar.
Somos sua
família!
Jamais devemos nos esquecer dos
cristãos que se foram antes de nós. Em nossa oração e nossos estudos,
precisamos reconhecer sua companhia e sua ajuda.
Pelo exemplo dos santos, precisamos
aprender a nos importar igualmente com os que ficam ao nosso lado durante a missa
toda semana. Porque eles são nossa família em Cristo — e nossa santidade comum
começa agora.
Pense nisto: se todos perseverarmos
juntos, diz Scott, nós e ele partilharemos para sempre um lugar com Cristo — com
os paroquianos ao lado dos quais cultuamos hoje.
Isso o incomoda? Talves, nós
tenhamos, de repente, se lembrado dos paroquianos que mais o irritam. (Scott
diz que sabe, pois se lembrou!.)
O céu é realmente o céu, se todos os
nossos vizinhos estão lá? O céu é o paraíso, mesmo que o padre Fulano de Tal
também o alcance?
Esse é o único tipo de céu em que
devemos pensar. Lembre-se, somos uma família do tipo antigo: um clã, uma tribo.
Estamos todos juntos nisso, o que
não significa que vamos sempre sentir afeição pelas pesssoas que vemos na
missa. Significa que precisamos amá-los, suportar sua fraquezas e servi-los — porque
também eles foram identificados com Cristo.
Sem amá-los não amamos Cristo. Amar
pessoas difíceis nos purifica.
Talvez só no
céu nosso amor se aperfeiçoe de maneira tal que realmente possamos também
gostar dessas pessoas.
Santo Agostinho falou de um homem
que, na terra, tinha problemas crônicos de gases; no céu, sua flatulência se
transformou em música perfeita.
Divulgue-a
A comunhão dos santos não é apenas
uma doutrina. É uma realidade vivida, só percebida quando levamos vidas de fé
constante.
Mas é mais real que o chão em que
pisamos. É uma realidade permanente, mesmo que essa permanência não se
manifeste continuamente em nossa paróquia.
Precisamos, neste exato momento,
abrir nossos olhos de fé. O céu é aqui. Nós o vimos desvelado.
A comunhão dos santos está à nossa
volta, com os anjos, no monte Sião, sempre que vamos à missa.
Capítulo, Quarto — O Rito dá Forças
A Diferença que a Missa faz
Ir à missa é ir para o céu, onde
"Deus… enxugará toda lágrima". (Apocalipse 21,3-4.) Porém, o céu é
ainda mais que isso.
O céu é onde nos colocamos sob julgamento,
onde nos vemos na clara luz matinal do dia eterno e onde o justo juiz lê nossas
obras no livro da vida. Nossas obras nos acompanham quando vamos para o céu.
Nossas obras nos acompanham quando vamos à missa.
Ir à missa é renovar nossa aliança
com Deus, como em uma festa de núpcias — pois a missa é o banquete das núpcias
do Cordeiro. Como em um casamento, fazemos votos, comprometemo-nos, assumimos
uma nova identidade. Mudamos para sempre.
Ir à missa é receber a plenitude da
graça, a própria vida da Trindade. Nenhum poder no céu ou na terra nos dá mais
do que recebemos na missa, pois recebemos Deus em nós mesmos.
Jamais devemos suzestimar essas
realidades. Na missa, Deus nos dá sua própria vida. Isso não é apenas uma
metáfora, um símbolo ou uma antecipação.
Precisamos ir à missa com olhos e
ouvidos, mente e coração abertos à verdade que está diante de nós, a verdade
que se eleva como incenso. A vida de Deus é uma dádiva que precisamos receber
apropriadamente e com gratidão.
Ele nos dá graça como nos dá fogo e
luz. Fogo e luz, mal usados, podem nos queimar ou cegar.
De modo
semelhante, a graça recebida indigna-mente sujeita-nos a julgamento e a
consequências muito mais terríveis.
Em toda missa, Deus renova sua aliança
com cada um de nós, colocando diante de nós a vida e a morte, a bênção e a
maldição.
Precisamos escolher a bênção para
nós e rejeitar a maldição, e precisamos fazer isso desde o início.
Fazendo Estardalhaço
A partir do momento em que entra na
Igreja, você se coloca sob juramento. Ao mergulhar o dedo na água benta, você
renova a aliança que se iniciou com seu Batismo.
Talvez você tenha sido batizado
quando bebê; seus pais tomaram a decisão por você. Mas agora, com esse simples
movimento, você toma a decisão por si mesmo.
Toca com a água benta a fronte, o
coração, os ombros e os persigna com o "nome" com que foi batizado.
Relacionada com esse movimento, está
sua aceitação do credo, que seus pais aceitaram em seu nome no seu Batismo.
Relacionada com esse movimento está sua rejeição a satanás e todas as suas
pompas e obras.
Ao fazer isso, você comprova, dá
testemunho, como o faria no tribunal.
No tribunal,
a testemunha põe em jogo sua pessoa, sua reputação e seu futuro. Se não disser
a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade, sabe que sofrerá sérias
consequências.
Também você está sob juramento. Não
se esqueça:
a palavra
latina sacramentumsignifica, literalmente, "juramento".
Quando faz o sinal-da-cruz, você
renova o sacramento do Batismo, desse modo renovando sua obrigação de
corresponder aos diritos e deveres da nova aliança."
Amarás o Senhor teu Deus, com todo
teu coração, comtodo teu ser, comtodas as suas forças"; "amarás o teu
próximo como a ti mesmo".
Você jura, de modo especial, dizer a
verdade durante esta missa, pois este é o tribunal do céu: aqui, Deus abre o livro
da vida; aqui, você ocupa o banco das testemunhas.
Muitas e muitas vezes durante a
missa você diz "Amém", a palavra aramaica que transmite consentimento
e conformidade: Sim! Assim seja! De verdade!
Amém é mais que resposta, é
compromisso pessoal.
Quando diz
"Amém", você compromete sua vida, portanto é melhor ser sincero.
Assim, na missa, você não é mero
expectador.
É
participante.
É sua a
aliança que você vai renovar.
É sua a aliança que Jesus em pessoa
vai renovar aqui e agora.
Refeição de Juramanto
Sempre que fazia uma aliança, Deus
também entregava um programa para sua renovação. Uma aliança não era apenas um
acontecimento passado; era constante, perpetuamente presente, continuamente
posta de nove em prática.
Gerações se passaram desde a
aliançado Sinai; mas sempre que os filhos de Israel renovavam essa aliança,
sempre que celebravam a Páscoa, era como se a aliança fosse feita naquele dia.
A missa é nossa perpétua renovação
da nova Aliança. A missa é um juramento solene que fazemos diante de inúmeras
testemunhas, como no tribunal do livro do Apocalipse.
"Por isso, com todos os anjos e
santos cantamos… "Quando o céu toca a terra, recebemos o privilégio de
rezar ao lado dos anjos. Mas também recebemos o dever de viver de acordo com
nossas orações. Esses mesmos anjos vão nos considerar responsáveis por todas as
palavras que rezamos.
E não só pelo que rezamos, mas pelo
que ouvimos, pois é a Palavra de Deus que ouvimos proclamada e não as promessas
de algum político a quem podemos dar ou recusar nosso voto.
Ouvimos a Palavra de Deus e não
algum noticiário que pode ou não merecer nossa confiança. Nos tribunais
terrenos, as testemunhas apenas juram sobre a Bíblia; na missa, juramos para a
Bíblia.
Ouvimos a
Palavra de Deus; estaremos preso a ela.
"Creio na Igreja, una, santa,
católica e apostólica". Vivemos pelo ensinamento desta Igreja, sem
restrição e sem exceção?
Os estudos mostram que mais de 90%
dos católicos dos Estados Unidos, por exemplo, rejeitam o preceito da Igreja
quanto ao controle de natalidade Contudo, presumimos que esses mesmos católicos
colocam-se sob juramento todo domingo e recitam o Credo.
Quais são as consequências desse
enorme falso testemunho?
"Perdoai as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam". Nós, que suplicamos a
misericórdia divina, colocamos essa condição em sua misericórdia: que primeiro
perdoaremos os que nos ofenderam.
Contudo, quase todos carregamos
conosco alguns ressentimentos, até mesmo para dentro da Igreja.
"A paz do Senhor esteja
convosco. O amor de Cristo nos uniu".
Estendemos
simbolicamente a paz para nosso próximo.
Mas quantas
vezes se passam entre o fim da missa e o primeiro acessode raiva?
"O Corpo de Cristo. Amém".
Com que atenção recebemos o Pão da Vida, o Cristo da fé e da história? Se
saudássemos um rei terreno com a mesma atenção, como seríamos julgados?
Ouvir a Palavra de Deus. Receber o
Pão da Vida. São mistérios profundos; são dádivas inacreditáveis; contudo, são
também compromissos poderosos.
Na missa, recebemos a vida divina, o
poder divino, mais fortes que as maiores forças da terra. Pense na
eletricidade, que ilumina seu lar pára seu coração. Pense no fogo, que aquece
sua família ou consome um quarteirão da cidade.
São apenas vagas sombras do poder
sobrenatural de Deus que criou o fogo e formou a terra do nada. Se ensinamos
nossos filhos a tratar a eletricidade e o fogo com respeito, com muito mais
respeito devemos tratar os mistérios do céu, que nos saciam na sagrada
comunhão!
Verdade — ou Consequências
Não temos desculpas para o
julgamento que provocamos quando não vivemos conforme nosso testemunho.
Ouça o testemunho de são Paulo:
"Por
isso, quem comer do pão ou beber do cálice do Senhor indigna-mente tornar-se-á
culpado para com o corpo e o sangue do Senhor". (1, Coríntios 11,27.)
Culpado para com o corpo e o sangue
do Senhor! Não é uma coisa sem importância. Para assegurar um sacrifício puro,
os cristãos primitivos confessavam os pecados — em público!
Hoje, o sacramento da confissão é
particular e não tão penoso.
Tiramos o
máximo proveito dele?
"Eis porque há entre vós tantos
doentes e aleijados, e vários morreram. (1, Coríntios 11,30.)
Não ousamos rejeitar isso como
obsoleto ou supersticioso. Paulo falava a sério e a Igreja, mesmo hoje,
preserva essa idéia em sua liturgia.
A má comunhão traz o castigo sobre
nossas cabeças. Antes de receber a comunhão, o sacerdote diz: "Que… não
seja para mim causa de juízo e condenação, mas… sirva de sustento e remédio
para nossas vidas".
Receber a comunhão é, então, receber
o céu — ou provocar o mais severo castigo para si. Em algumas épocas e em
alguns lugares, o peso desse julgamento manteve os cristãos afastados da
comunhão por anos a fio.
Porém essa não é a solução de Paulo.
Em vez de ficar afastado, ele recomenda o arrependimento:
"Examine-se
cada um a si mesmo, antes de comer deste pãoe beber deste cálice". (1,
Coríntios 11,28.)
É um exame no qual ninguém passa.
Somos todos pecadores.
Ninguém é
digno de se aproximar de Deus onipotente — sem falar em iniciar a comunhão com
ele. Até são João, o discípulo amado e modelo de pureza e virtude, caiu por
terra cheio de espanto quando viu seu melhor amigo, Jesus Cristo, na glória.
Como respondemos interiormente
Quando, o sacerdote eleva a hóstia e diz:
"Este é
o Cordeiro de DEus…"?
Não há nenhuma dúvida: precisamos
travar as batalhas espirituais que nos dão recolhimento, atenção e contrição
durante a missa.
Verdadeiro Amor, Sempre
Queremos a bênção da aliança e não a
maldição. Quanto mais nos preparamos para a missa, mais graça recebemos da
missa. E lembre-se: a graça disponível na missa é infinita — é toda a graça do
céu. O único limite é nossa capacidade de recebê-la.
Essa bênção é puro poder, embora não
como o mundo entende o poder. Graça significa liberdade, embora não como o
mundo entende a liberdade.
A união com Cristo fez Simão Pedro
mais forte que o imperador romano Nero, embora Nero ordenasse a morte de Pedro.
Pedro recebeu o céu; Nero governava o mundo, mas foi consumido por suas
perversões, que ficaram ainda mais depravadas e o levaram ao suicídio em 68
depois de Cristo
A graça compensa todas as fraquezas
de nossa natureza humana. Com a ajuda de Deus, faremos o que jamais faríamos
sózinhos: amar perfeitamente, sacrificar completamente, sacrificar a vida como
Cristo fez.
Não nos apegaremos a nada da terra,
preferindo, em vez disso subir ao céu.
Os mártires do Apocalipse são os que
falam do altar. São sacramentos do sacrifício eucarístico de Cristo. Em suas
vidas, manifestaram a verdadeira natureza do amor: abnegação sacrifical.
Podemos viver esse martírio onde
quer que estejamos. Não precisamos viajar para países opressores anticristãos a
fim de ser mártires.
Só precisamos fazer as mesmas coisas
que sempre fizemos — mas agora fazendo de cada um daqueles gestos, atos,
pensamentos e sentimentos uma expressão de amor pelo Pai, imitação do Filho
dentro de nós.
É isso que significa viver a missa.
Fazer Prodígios
É o que significa ser missionário e
mártir, restaurar todas as coisas em Cristo.
Significa fazer o jantar para Cristo
e, por intermédio dele, para o Pai e para os filhos dele, que são os seus.
Significa ir trabalhar e desempenhar
uma tarefa com amizade pelos colegas e não apenas para obter um salário melhor
o ano que vem ou conseguir uma promoção, mas sim para ganhar uma herança eterna.
Lembre-se de novo das palavras do
Vaticano 2º: "Assim todas as suas obras, preces e iniciativas apostólicas,
vida conjugal e familiar, trabalho cotiano, descanso do corpo e da alma…
tornam-se hóstias espirituais agradáveis à Deus, por Jesus Cristo, hóstias que
são piedosamente oferecidas ao Pai com a oblação do Senhor na celebração da
eucaristia".
Toda nossa vida prende-se à missa e
se torna nossa participação na missa. Quando o céu desce à terra, levantamos
nossa terra para encontrá-lo no meio do caminho.
É esse o esplendor do que é comum: o
mundo prosaico torna-se nossa missa. É assim que realizamos o Reino de Deus.
Quando começamos a ver que o céu nos espera na missa, já começamos a levar
nosso lar para o céu.
E já começamos a trazer o céu
conosco para casa. Passamos a ser mártires, testemunhas de Jesus Cristo, de
quem conhecemos intimamente a parusia, a presença.
O Banquete Está Pronto
Fomos feitos como criaturas na
terra, mas fomos feitos para nada menos que o céu.
Fomos feitos no tempo, como Adão e
Eva, contudo não para ficar em um paraiso terrestre, mas para ser levados à
vida eterna do próprio Deus.
O céu foi desvelado para nós, pela
morte e ressurreição de Jesus Cristo, agora.
A comunhão para a qual Deus nos
criou é agora.
O céu toca a terra e espera você,
agora.
Jesus Cristo em pessoa lhe diz:
"Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir minha voz e abrir a porta,
entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo". (Apocalipse 3,20.)
A porta se abre agora para o
banquete das núpcias do Cordeiro.
Ana — Bom…
Termino hoje
minhas postagens sobre o livro o banquete do Cordeiro, de Scott Hahn.
Espero de coração que este trabalho
tenha gerado frutos em muitas pessoas; sei de algumas que me escreveram,
outras, só Deus sabe… mas não importa, contanto que muitos tenham sido
beneficiados.
O mérito é de Scott e claro! de
Deus, que o chamou de volta à casa e inspirou nele este trabalho tão lindo e
edificante.
Louvo à Deus por cada pessoa que
passou por aqui e peço a Ele que nos abençoe e nos guarde, nos dê forças e
condições de sempre cooperar com sua graça!
Abraços.
NOTAS EXPLICATIVAS:
Capítulo, Primeiro — No Céu Agora Mesmo
"Passaram-me para trás!!
Essa relação que Scott faz entre a
liturgia e a Sagrada Escritura é um dos pontos chaves de seu livro, não só pelo
fato dele demonstrar que a Missa, o Santo Sacrifício, é a chave para o
entendimento do Apocalipse, mas porque tudo que compõe a Revelação (e a
liturgia é um dos locais onde a Tradição está presente.) não pode ser
dissociado, ou será entendido de maneira equivocada. (se o for!.)
Isso vai bem no sentido da
explicação que Sávio e Djalma deram no tópico sobre a "Sola
Scriptura".
Além disso, ele nos ajuda a perceber
a realidade espiritual que se esconde sob os atos mais simples da liturgia.
Nos ensina que isso é algo objetivo,
independente de nossa "experiência". (critério tão em voga nestes
tempos de pentecostalismo.) Não importa se nossa experiência na Missa foi tudo
menos "celestial".
De fato, pode ter sido uma hora desconfortável,
interrompida pelo choro de bebês, cantos ou monótonos ou vindos de uma espécie
de "Xou da Xuxa", divagações, homilias sem-pé nem cabeça e vizinhos
vestidos como se fossem a um jogo de futebol.
Mesmo assim, vamos realmente ao Céu
quando vamos à Missa, independente da qualidade da música ou do fervor da
homilia. Claro que para a maioria, que vai ao rito pauliano, isso é um pouco
mais difícil, já que esse rito é problemático desde seu nascimento, mas, mesmo
nele, não é uma questão de se "ver o lado brilhante" ou ter caridade
com o Padre e a equipe de liturgia, trata-se de algo que é objetivamente
verdade, a Missa é o Céu na terra.
Uma parte importante no relato de
Hahn é a sua postura de alma, sua atitude intelectual.
Como famoso teólogo calvinista ele,
ao se deparar com algo tão estranho e intrigante, passa a questionar o que vê,
mas ao começar a obter respostas, com a honestidade intelectual de quem vê a
Luz, (pois quem não tem tal honestidade, age com malícia, reconhecendo a
Verdade, mas procurando subterfúgios para não aderir a ela.) conta:
"Porém agora não faço perguntas
como acusador ou curioso, mas como filho que se aproxima do pai, pedindo o
impossível, pedindo para segurar na palma da mão uma estrela luminosa e
distante."
Capítulo, Segundo — A História do Sacrifício
A respeito do cordeiro
Aqui nesse ponto do livro, podemos
fazer uma pequena explicação sobre o sacrifício, baseada em obre do Padre
Emanuel. (um espiritual francês do século 19.)
O que vem a ser sacrifício?
Sacrifício é um ato de religião que consiste em destruir, ao menos de certa
maneira, uma coisa para a honra de Deus, pois não existe um sinal mais
conveniente para exprimir o soberano domínio Dele sobre as criaturas. O
sacrifício é o ato mais excelente no culto divino.
O sacrifício difere da simples
oblação, que consiste em oferecer a Deus qualquer coisa que lese pertença.
Ensina o Padre Emanuel:
"Em rigor a oblação pode ser
feita a um homem, visto que Deus mesmo concedeu ao homem o domínio das coisas
exteriores. Pelo contrário, o sacrifício, que atinge a coisa oferecida no
íntimo do seu ser, não se pode dedicar a não ser ao Criador e Soberano de todas
as coisas."
O sacrifício exterior é o sinal do
sacrifício interior, da imolação de si própria que toda criatura inteligente e
livre deve ao Criador, como sinal de Sua soberania e perfeição infinita.
Diz ainda o Padre Emanuel:
"Os anjos oferecem
perpetuamente a Deus este sacrifício, ou antes diz Santo Agostinho, toda
Jerusalém celeste não é outra coisa senão um único e perpétuo sacrifício,
oferecido a Deus por Jesus Cristo. No homem, este ato inteiramente espiritual,
exige ser expresso por um sinal. Daí provém o sacrifício propriamente dito, que
é uma imolação duma coisa qualquer em honra do verdadeiro Deus."
O sacrifício é a linguagem
misteriosa com a qual o homem "fala" com Deus. Mesmo sem o pecado, o
sacrifício seria uma exigência da majestade divina, só que esse sacrifício
seria apenas de louvor, como o do altar dos perfumes, colocado diante da
cortina do Santo dos Santos no Templo de Jerusalém, onde os sacerdotes
queimavam incensos. Ele exprimia lovor e adoração, era incruento.
Magnetismo animal, capítulo, 2
Continuando o aprofundamneto em
paralelo ao resumo do livro feito por Ana.
Ao mesmo tempo que Deus estabeleceu
a Lei do Sacrifício, também estabeleceu as condições para que tal ato lhe fosse
agradável. Santo Agostinho enumera essas condições:
1º — É preciso um sacerdote que
ofereça a vítima, um sacerdote que seja santo e justo; pois o sacerdote é um
mediador entre Deus e os homens, e, se não fosse santo e justo, não poderia
reconciliar os homens com Deus. Esse sacerdote não podia ter defeito corporal,
era submetido a abluções para ser separado dos homens comuns e tinha de casar
com uma virgem e de guardar a castidade na semana em que exercia suas funções
no Templo.
2º — É preciso que a vítima seja
tomada das mãos daqueles pelos quais é oferecida, numa palavra, que ela lhes
pertença, que os represente; que eles tenham direito sobre ela, que possa
ocupar o lugar deles.
3º — É preciso que a vítima seja
tomada sem mancha e sem defeito; de outro modo não poderia servir para
purificar, para reparar tudo o que há de manchado e defeituoso naqueles por
quem é oferecida.
O interessante é que tais
requisitos, como um fundo de verdade derivado da religião primitiva, (adâmica.)
também estavam presentes em muitos cultos pagãos.
Entre os romanos, a vítima era apresentada
aos sacerdotes, que a examinavam cuidadosamente. Eles a queriam branca como a
neve. Uma vez escolhida, ela recebia uma grinalda. Diz Luciano: "Os
sacrificadores coroam o animal, depois de tê-lo longamente examinado e
reconhecido como perfeito, nada querendo imolar que não seja digno da
divindade; depois conduziam a vítima ao altar".
Explica o Padre Eamnuel:
"São dignas de nota estas
última palavras. Era preciso que a vítima lá chegasse de bom grado! Ela era
amarrada; daí provem o nome de vítima. (de "vincta".) Todavia não se
usava de coação para levá-la. ‘As vítimas’, diz Cícero, eram conduzidas, não
arrastadas’: ‘ducebantur, non trahebantur victimae’. Observou-se, diz Macróbio,
que os sacrificadores devolviam a hóstia, ‘quando ela fazia uma grande
resistência ao altar; se, pelo contrário, ela se apresentava sem
constrangimento, eles a julgavam agradável à divindade’".
Trazida ao lugar do sacrifício, era
preciso que a vítima representasse aqueles que a ofereciam e, desse modo, eles
impunham-lhes as mãos como um símbolo do fato dela carregar o pecado de todos.
Esse rito, prescrito em Levítico 1,4 também era (e é onde ainda se praticam
sacrifícios.) comum entre os pagãos.
Esses ritos teriam todo seu
simbolismo revelado no Sacrifício da Cruz, mas antes de se falar dele, devemos
entender mais alguns pontos.
Os judeus tinham três tipos de
sacrifício cruento: o holocausto, inteiramente consumido em honra a Deus; o expiatório,
no qual uma parte era consumida e outra comida pelos sacerdotes; e o pacífico,
do qual uma parte se queimava, uma era comida pelos sacerdotes e outra comida
pelos que tinham oferecido a vítima.
Ensina o Padre Emanuel:
"Os holocaustos e as hóstias
pacíficas eram sempre acompanhadas de oferendas e libações; ou seja, com a
vítima ofereciam-se flor de farinha, sal, óleo, incenso e vinho. O óleo era
derramado sobre a farinha, que formava assim uma pasta temperada com sal; o
sacerdote queimava um punhado dela sobre o altar com o incenso. Quanto ao
vinho, o historiador Flávio Josefo nos informa que ele era derramado em torno
do altar. Eram como os prelúdios do sacrifício. A idéia mestra disso era a
necessidade de oferecer a Deus uma refeição completa, onde entrasse o pão e o
vinho".
Os pagãos, novamente, tinham
cerimônias semelhantes. Os romanos começavam por derramar o vinho entre os
chifres da vítima, era a libação. São Paulo alude a esse costume. (Fil. 2,17.)
Depois eles espalhavam igualmente sobre a cabeça da vítima migalhas duma pasta
salgada, denominada "mola". Plínio diz a respeito: "O sal goza
dum grande favor nos sacrifícios, pois nenhum se consuma sem a aspersão duma
parte salgada". Antes deles dissera a Sagrada Escritura: "Toda vítima
seja temperada com sal!". (Levítico 2,13.) Esta última cerimônia
chamava-se imolação e como logo em seguida havia a degolação da vítima, essa
própria degolação passou a ser chamada imolação.
Com a vítima imolada, o sangue era
derramado em honra de Deus e esse era mais um rito praticamente universal.
Algumas vezes, nos sacrifícios solenes havia a aspersão do povo com o sangue.
Aquilo que era consumido pelo fogo julgava-se agradar a Deus em odor de
suavidade. Quanto ao resto da vítima, cabia, quer somente aos sacerdotes quer a
esses e aos que aos quer tinham oferecido a vítima, como já foi dito. No último
caso, entre os judeus, os sacerdotes guardavam para si o peito e a espádua
direita.
Comenta o Padre Emanuel:
"Estas duas partes serviam para
umas cerimônias misteriosas, que se chamavam elevação e agitação. A primeira
consistia em elevar a hóstia para oferece-la a Deus; a segunda em deslocar
sucessivamente a vítima no sentido dos quatro pontos cardeais, o que equivalia
a traçar uma cruz. Para elevação se queria obter o olhar favorável de Deus
sobre a vítima, e, pela agitação, espalhar, por assim dizer, a sua virtude
expiadora pelos quatro cantos do mundo.
Quando Moisés ofereceu ao Senhor os
levitas como vítimas, eles foram submetidos à cerimônia da agitação, que
consistiu, sem dúvida, em faze-los executar, em volta do Tabernáculo, certos
movimentos em forma de cruz…".
Contudo, tudo isso era uma mera simbologia.
Somos todos pecadores e não se pode encontra entre os homens um sacerdote
conveniente, todas as vítimas são indignas. Diz São Paulo: "É impossível
que o sangue dos cabritos e dos touros apague os pecados". (Hebreus 10,4.)
Foi então na plenitude dos tempos
que o próprio Filho de Deus, feito homem, apresentou-se como vítima, uma só
vez, para a remissão dos pecados. Ensina Santo Agostinho:
"Qual é o sacerdote que se
possa igualar, em santidade, ao Filho Unigênito de Deus, o qual não tinha
nenhuma necessidade de expiar, pelo sacrifício, os seus próprios pecados, quer
o original, quer os atuais? Que vítima mais adequada poderia Deus receber da
mão dos homens? Que mais apropriado a imolar-se do que um corpo mortal?
Que coisa mais pura para purificar
os homens de suas manchas do que um corpo concebido por uma virgem e dela
nascido, a salvo de qualquer alcance da concupiscência?
Enfim, que oferenda mais agradável,
mais digna de aceitação do que o próprio corpo de nosso sacerdote, Jesus feito
vítima do nosso sacrifício?".
Assim, todas as condições do
sacrifício estão reunidas e a vítima é, ao mesmo tempo, o sacerdote. Esse é o
Sacrifício perfeito. Escreve ainda Santo Agostinho:
"Pode-se considerar um
sacrifício sob quatro pontos de vista: daquele a quem é oferecido, daquele que
oferece, da coisa oferecida, daqueles por quem é oferecida. Ora, no sacrifício
pacífico pelo qual Ele nos reconcilia com Deus, Jesus, nosso único e Verdadeiro
Mediador, permanece uma mesma coisa com Seu Pai, ao Qual Ele o oferece; reúne
em Si mesmo aqueles por quem o oferece; enfim, é ao mesmo tempo, tanto o
sacerdote que oferece como vítima que é oferecida."
Estado elevado ao altar: capítulo, Segundo — Jerusalém
como capital régia…
Com a construção do Templo de
Jerusalém, por volta de 960 antes de Cristo, Israel passou a oferecer os
sacrifícios cotidianos ao Deus todo poderoso em ambiente majestoso.
Todos os dias, os sacerdotes
sacrificavam dois cordeiros, um de manhã e um à noite, para expiar os pecados
da nação.
Esses eram os sacrifícios
essenciais; mas, durante todo o dia, a fumaça subia de muitas outras oferendas
particulares.
Bodes, touros, rolas, pombos e
carneiros eram oferecidos sobre o altar de bronze erguido ao ar livre na
entrada do átrio interno do Templo.
O "lugar santo" do Templo
ficava depois desse altar e o “Santo dos Santos" — a habitação de Senhor —
era ainda mais atrás.
O "altar do incenso"
ficava bem diante do santo dos Santos.
Sómente os sacerdotes podiam entrar
no átrio interno do Templo.
Sómente o sumo sacerdote podia
entrar no Santo dos Santos e, mesmo ele, só rapidamente e apenas uma vez por
ano, no Dia do Grande Perdão, Yom Kippur, pois até o sumo sacerdote era pecador
e, assim, indígno de permanecer na presença de Deus.
O Templo de Jerusalém reuniu todas as
variedades de sacrifício que existiam antes.
Contruído no local onde Melquisedec
ofereceu Pão e Vinho, Abraão, seu filho e onde Deus fez o juramento de salvar
todas as nações, o templo servia de lugar
permanente de
oferendas, a principal das quais era idêntica àquele antiquíssimo sacrifício de
Abel:
o Cordeiro.
O grande dia do sacrifício continuou
a ser festa da Páscoa, Quando até dois milhoões e meio de pessoas peregrinavam
a Jerusalém, provenientes dos extremos longíquos do mundo conhecido.
Josefo relata que na Páscoa de 70
depois de Cristo — apenas alguns meses antes que os romanos destruíssem o
Templo e cerca de de quarenta anos depois da ascenção de Jesus — os sacerdotes
ofereceram mais de um quarto de milhão de cordeiros no altar do templo — 255,600,
para ser exato.
Estado elevado ao altar: capítulo, Segundo — Jerusalém
como capital régia…
Para acompanhar este tópico, sugiro
a leitura e meditação do capítulo 53 de Isaías.
Ritos da vítima, capítulo, 2
O sacrifício de Melquisedeque tem
relação direta com o sacrifício de Jesus e, em conseqüência, com a Missa.
Desde o pecado, hove sempre
sacrifícios cruentos. O pecado trouxe consigo não só a morte como castigo, mas
também como reparação.
Diz o Padre Emanuel:
"Contudo, em tempos remotos,
notamos a oblação incruenta de Melquisedeque, que traz em suas mãos sacerdotais
o pão e o vinho. O estudo mais aprofundado da Antigüidade chegou a comentar
esta passagem misteriosa do Gêneses, dando-nos a conhecer que este gênero de
oblação era o mais usado entre os povos primitivos. Dados à vida pastoril, eles
ofereciam a Deus, de preferência, bolos de flor de farinha, com leite, óleo e
vinho. Os sacrifícios cruentos eram relativamente mais raros. Havia nisso, como
diz Bossuet, alguns vestígios da primeira inocência e da doçura na qual
tínhamos sido formados."
Com o correr do tempo, prevaleceram
os sacrifícios cruentos, já que o próprio preço que ele exige representa melhor
nossa dependência para com Deus.
Deus nos tirou do nada e
constantemente nos conserva no ser; estamos como que suspensos sobre o nada
pelo tênue fio que nos prende ao Senhor. A criatura existe na medida exata em
que deriva do Ser supremo, sua razão de existir é uma dependência ontológica.
Nada melhor, portanto, que o sacrifício cruento, o ato máximo, para representar
tal dependência. (como já foi explicado no começo do tópico.)
Não obstante, já observamos que
quase todos os sacrifícios cruentos eram acompanhados por uma oblação de flor
de farinha e vinho. O próprio cordeiro pascal era comido com pães ázimos.
O pão e o vinho acompanhavam qualquer vítima.
Comenta, então, o Padre Emanuel:
"Havia nisto uma figura do
sacrifício da lei nova, que devia ser oferecido por Nosso Senhor, segundo o
rito de Melquisedeque. Com efeito, temos uma vítima, o próprio Nosso Senhor;
temos também o pão e o vinho. Só que o Espírito Santo vem fundir numa só coisa,
por assim dizer, estes dois elementos do sacrifício, colocando a vítima
adorável, por uma mudança de substãncia, debaixo das aparências de pão e vinho.
Assim estes não são mais, como
antigamente, simplesmente justapostos à vítima, mas mudados nela, e a recobrem
com as suas aparências. Encobrindo-a deste modo, eles a fazem aparecer
verdadeiramente como vítima, pelo fato de assinalarem a separação do corpo e do
sangue. E todavia, eles lhe conferem o caráter de oblação incruenta, para
cumprir as figuras e as profecias."
O Salvador não quis que o seu
Sacrifício sangrento, de onde nasceu a Igreja, permanecesse entre nós apenas
como uma lembrança longínqua, a ser atingida pela fé. Foi vontade sua perpetuar
esse Sacrifício ao longo do tempo, tornando-o presente a cada instante que
passa a história do mundo.
Assim como o Verbo nos poderia ter
salvado sem a Encarnação redentora, e entretanto quis salvar-nos pelo contato
da sua Carne e aspersão do seu Sangue, assim decretou continuar a pôr a sua
Carne em contato com a nossa e aspergir-nos com seu Sangue de modo sacramental
no Sacrifício da Missa.
O motivo de tal vontade não foi, de
certo, a ineficácia e imperfeição do Sacrifício da Cruz. Perfeito e acabado em
si, logo definitivo, resta-lhe todavia a ser aplicada a virtude, pessoalmente,
a cada homem que aparece no mundo. Nesse sentido podia São Paulo falar no que
faltava à Paixão de Cristo e que ele mesmo completava pelo Corpo de Cristo que
é a Igreja. (Col. 1,24.)
Ora, nada falta à Paixão de Cristo a
não ser a nossa participação individual. Resta, portanto, esta aplicar-se a
cada criatura humana, em todos os tempos e lugares. (Mediator Dei, números
72-73.) Resta ainda que o culto perfeito, uma vez rendido ao Altíssimo, no
Calvário, perdure no tempo, pois que ele é devido todos os dias a todos os
homens.
Nosso Senhor com o "Está
consumado" diz que o seu sacrifício estava consumado e este sacrifício não
salva ninguém, mas redime o gênero humano.
A redenção, ou salvação objetiva,
abre novamente as portas do céu para o gênero humano. Mas a salvação subjetiva,
ou simplesmente salvação, depende de nossa participação no sacrifício supremo.
Para assegurar, pois, a presença
perpétua de seu único e definitivo Sarifício sangrento, o Senhor, na véspera de
padecer, instituiu o Sacrifício não-sangrento, a Missa.
No Cenáculo, o rito era
representação antecipada da imolação da Cruz, depois, passou a ser
representação comemorativa dela.
Como outrora Melquisedeque, rei de
Salém (futura Jerusalém.) e sacerdote do Altíssimo, (Gên. 14,18.) ofereceu pão
e vinho, assim Cristo, sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, (Salmo
109,4; Hebreus 5,6; 7,11-32.) ofereceu ao Senhor pão e vinho, símbolo de seu
Corpo e de seu Sangue.
"Quem mais sacerdote do sumo
Deus que Nosso Senhor Jesus Cristo, ele que ofereceu um sacrifício a Deus Pai,
aquele mesmo que havia oferecido Melquiseeque: pão e vinho, quer dizer o seu
Corpo e o seu Sangue?". (São Cipriano, Epistola 63, número 4.)
Tendo instituído o rito, o Divino
Mestre acrescentou: "Fazei isto em memória de mim".
Capítulo, Terceiro — A missa dos primeiros
cristãos.
Nesse momento em que o livro de Hahn
começa a tratar da Missa, poderemos fazer um estudo mais aprofundado dela em
paralelo aos resumos de Ana.
Os Apóstolos tinham recebido do
Senhor, na véspera de sua Paixão, o poder e o mandamento de celebrar o
Sacrifício da Nova Aliança. Deveriam para isso refazer, em memória dele, ISTO
que Ele mesmo tinha feito naquele dia, oferecer sob as espécies do pão e do
vinho transubstanciados no Seu Corpo e no Seu Sangue em virtude de Suas
palavras, a Vítima propiciatória imolada na Cruz de uma maneira sangrenta.
Os mais antigos documentos, nos
mostram quão os Apóstolos e seus sucessores observaram fielmente esta ordem.
Pela própria natureza das coisas e
com a autoridade recebida do próprio Cristo ou do Espírito de Pentecostes, os
Apóstolos deviam completar a simples repetição dos gestos da Quinta Feira Santa
com um conjunto de ritos. Iam eles tornar solenes sua "comemoração" e
fazer dela uma verdadeira cerimônia religiosa.
Esta cerimônia não tinha por fim
somente manter um sentimento interior de fidelidade à uma lembrança cujo mérito
variasse segundo as disposições subjetivas do celebrante e dos participantes.
Ela iria ter os efeitos objetivos de um ATO, efeitos esses realizados em
virtude da própria instituição de Jesus Cristo, que quis estar presente sob as
espécies sacramentais. Uma única condição: que o padre humano se faça
instrumento exato do Sacerdócio único e soberano, conformando-se por sua fé e
por sua intenção à Vontade Daquele que é Senhor de seus dons:
"Fazei isto"
Houve assim, na origem, em todas as
igrejas locais do Oriente e do Ocidente, uma liturgia mais ou menos uniforme,
que vem atestado por alusões dos mais antigos Padres da Igreja: Doutrina dos
Doze Apóstolos, (Didachê.) primeira Epístola de Clemente aos Coríntios,
Epístola de Barnabé, cartas de Santo Inácio, de São Justino, Santo Irineu, etc.
Esta liturgia, ainda um tanto
indeterminada nos pormenores, deixando lugar a certas improvisações, iria, no
correr dos três primeiros séculos, se cristalizar pouco a pouco em algumas
liturgias-típicas que deveriam se fixar numa determinada forma em conformidade
ao génio particular de cada povo.
Antes de continuar, devemos lembrar
que os Apóstolos pregaram o Evangelho num espaço político-geográfico definido,
o Império Romano. (com a execessão de São Tomé que foi para Índia.) Mais tarde
o Império foi dividido, em Império do Oriente e Império do Ocidente.
Sendo assim, as liturgias se
cristalizaram ora no que era o Império oriental, ora no que era o ocidental e
daí é que vem a denominação de "ritos orientais" e "ritos
ocidentais".
Alguns conceitos
Um pequeno lembrete de conceitos:
Missa: sacrifício incruento do corpo
e sangue de Jesus Cristo oferecido sobre os nossos altares, debaixo das
espécies de pão e de vinho, em memória do sacrifício da cruz.
Liturgia: culto público. — no
sentido de ser em nome de toda a Igreja.
Rito: ordem prescrita para a
liturgia, o conjunto das funções no culto público.
Um exemplo de liturgia é a Missa,
assim como o Ofício Divino.
Popularmente, podemos usar tais
termos como sinônimos.
Capítulo, Quarto — Saboreie e Veja (e Ouça e
Toque o Evangelho
A liturgia forma hábitos
Dando continuidade ao estudo do
desenvolvimento e importância da liturgia eucarística, em especial no rito
romano, temos de chamar atenção para certas noções.
Em primeiro lugar, desenvolvendo o
conceito de rito já apresentado, vemos que as diversas formas do culto cristão
remontam ao próprio Cristo, consubstanciando-se em costumes sancionados pela
autoridade eclesiástica.
O desenvolvimento da liturgia (até o
Vaticano 2º.) sempre foi orgânico, nunca fabricado. Mesmo no nascimento, as
formas litúrgicas cristãs não constituíram algo tão inédito. Da mesma forma que
a Igreja primitiva se separou progressivamente da Sinagoga, as liturgias das
jovens comunidades católicas se separaram pouco a pouco do ritual judaico. Por
isso, notamos a relação da celebração eucarística com as refeições judaicas (principalmente
a do sabá e a da Páscoa.) e das partes mais antigas do Ofício Divino com a
prece sinagogas.
Por causa da fé no Ressuscitado é
que a ruptura com a Sinagoga ocorre; no domínio dos ritos, contudo, as
diferenças com os judeus não a avançam tanto. É assim que após o dia de
Pentecostes os novos batizados continuam a participar do culto no Templo (At 2,46.)
e São Paulo convida quatro judeus nazarenos a cumprir seu voto no Templo de
Jerusalém e fazer o sacrifício prescrito. (At 21,23-26.)
O que havia realmente de novidade no
culto cristão, o memorial do Senhor em companhia do que se passou durante a
Ceia, estava ligado, no seu nascimento, ao rito judeu da fração do pão,
realizado pelo próprio Jesus.
Esse quadro da Igreja paleocristã
vale para a Igreja primitiva. Durante os primeiros três ou quatro séculos a
liturgia se desenvolveu por todo canto mais ou menos da mesma maneira.
Capítulo, Quinto — Quem é quem no Céu.
O Elenco de Milhares do Apocalipse:
Interessante na análise de Scott é a
visão orgânica da Bíblia em si, como um todo, e dela com a Tradição. (a
liturgia é um dos locais onde encontramos a Tradição.) Bem diferente dos atuais
exegetas, que analisam tudo como blocos independentes, sob um pseudo
cientificismo.
Só Para Ilustrar!
Espere um pouco e verás uma
maravilha!!
www.fraternidademestrejesus.org/capela-santissimo
o significado do Tau
O TAU, além de ser um símbolo
Bíblico é a última letra do alfabeto hebraico e a 19ª do grego, derivado dos
Fenícios e correspondente ao "T" em Português.
O papa Inocêncio 3º dá o significado
do Tau como um sinal da verdadeira fé em Jesus Cristo pela sua semelhança com a
Cruz. Em Ezequiel 9,4 Vemos: "Percorre o centro de Jerusalém, e marca com
uma Cruz (Tau.) na fronte os que gemem e suspiram devido a tantas abominações
que na cidade se cometem."
São Francisco de Assis era devoto da
Santa Cruz de Cristo por isso adotou o Tau e recomendava o seu uso. Os três nós
que encontramos no cordão do Tau significam três votos:
Castidade, obediência e pobreza.
Outros Significados:
Lembrança da Redenção, da Cruz, do
Amor.
Sinal de
penitência e conversão interior.
Sinal de dor
pelos pecados do mundo.
Rumo a uma
espiritualidade sadia.
Recordação do
nosso baptismo.
Filhos de
Deus.
Sinal dos que
sofrem.
Sinal de
Salvação.
Paz e Luz
Semitas Espirituais
Nesse último ponto eu discordo de
Scott, acho que é uma opinião derivada do fato dele ter vivido na cultura
protestante americana, que tem uma admiração estranha pelo judaísmo e dá apoio
incondicional a Israel.
Uma coisa é dizer que os judeus, no
sentido étnico, possuem ainda um papel e cumprir e que o anti-semitismo é
errado, outra bem diferente é dizer que o judaísmo atual deve ser admirado. Não
deve, o judaísmo atual é uma falsa religião que deturpa a Revelação. Em tempos
messiânicos o judaísmo antigo se tornou o catolicismo, não como um mero
desenvolvimento, mas como uma evolução, ou seja, há diferença ontológica.
Os judeus cumpriram um papel
importante na medida em que se converterem.
Reflexões de um judeu convertido:
Ana responde: Thiago, entendi que Scott pede
para que olhemos para a historia desse povo (Sua eleição. e que os respeitemos
enquanto povo chamado… para que não caiamos na descrença e orgulho espiritual…
Logicamente eles confirmarão essa
eleição a partir do momento que aceitarem à Cristo e se tornarem católicos.
Assistência à Missa, fonte de vida
espiritual...