MEDITAÇÕES PARA OS DIAS DA NOVENA DE NATAL
MEDITAÇÃO 1
Eu te
estabeleci para luz das gentes, a fim de seres a salvação que eu envio, até a
última extremidade da terra. (Is 49,6.)
Considera
o Pai celeste dizendo estas palavras a Jesus Menino no momento de sua
conceição: Meu Filho, eu te estabeleci para luz das gentes e a vida das nações,
a fim de que lhes procureis a salvação, que desejo tanto como se fosse a minha
própria. É pois necessário que vos dediqueis inteiramente ao bem do gênero
humano: "Dado sem reserva ao homem deveis dedicar-vos inteiramente em
benefício dele". É necessário que sofrais uma pobreza extrema desde o
vosso nascimento a fim de que o homem se torne rico: Ut tua inopia dites. É
necessário que sejais vendido como um escravo para pagardes a liberdade do
homem, e que, como escravo, sejais flagelado e crucificado a fim de satisfazer
à minha justiça pelas penas devidas aos homens. É necessário que deis vosso
sangue e vossa vida para livrar o homem da morte eterna. Numa palavra, sabei
que não sois mais vosso mas do homem, segundo a palavra de Isaías: Nasceu-nos
um Menino, foi-nos dado um filho.
Assim,
meu caro Filho, o homem se sentirá constrangido a amar-me e a dar-se a mim, ao
ver que vos dou todo a ele, vós meu único Filho, e que me não resta mais nada a
dar-lhe. Eis até onde chegou o amor de Deus aos homens! Ó amor infinito, digno
somente dum Deus infinito! Jesus mesmo disse: Deus amou de tal modo o mundo que
deu por ele seu unigênito Filho.
A essa
proposta Jesus Menino não se entristece, antes se alegra, aceita-a com amor e
exulta: Dá saltos como gigante para percorrer o seu caminho. Desde o primeiro
instante de sua encarnação, Ele se dá todo ao homem e abraça com alegria todas
as dores e humilhações que deve sofrer no mundo por amor dos homens. Essas
foram, diz São Bernardo, as montanhas e as colinas escarpadas que Jesus Cristo
teve de escalar para salvar os homens: Ei-lo aí vem saltando sobre os montes,
atravessando os outeiros.
Notemos
bem: enviando-nos seu Filho como Redentor e Mediador de paz entre Ele e os
homens, Deus Padre obrigou-se de certo modo a perdoar-nos e a amar-nos; entre o
Pai e o Filho interveio um pacto em virtude do qual o Pai devia receber-nos em
sua graça, contanto que o Filho satisfaça por nós à divina justiça, de seu
lado, o Verbo, digo, também se obrigou a amar-nos, não por causa do nosso
mérito, mas para cumprir a misericordiosa vontade de seu Pai.
“Afetos e Súplicas”
Meu
caro Jesus, se é verdade, como a lei o declara, que se adquire o domínio pela
doação, vós me pertenceis porque o vosso Pai vos deu a mim: é por mim que
nascestes, a mim fostes dado: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho.
Posso pois dizer: Meu Jesus e meu tudo. Já que sois meu, todos os bens me
pertencem. O vosso apóstolo me assegura: Como não nos dará também com ele todas
as coisas? Por isso, meu é o vosso sangue, meus os vossos méritos, minha a
vossa graça, meu o vosso paraíso. E se sois meu, quem poderá jamais
arrancar-vos de mim? Ninguém poderá tirar-me o meu Deus. Assim dizia com júbilo
Santo Antão Abade; assim também quero dizer no futuro.
É
verdade que vos posso perder ainda e afastar-me de vós pelo pecado; mas, ó meu
Jesus, se no passado vos abandonei e perdi, arrependo-me agora de toda a minha
alma, e estou resolvido a perder tudo, a própria vida, antes que tornar a
perder-vos, ó Bem infinito e único amor de minha alma.
- Agradeço-vos, Pai eterno, por me terdes dado
vosso Filho; e já que mo destes todo, eu miserável dou-me todo a vós. Pelo amor
desse Filho adorável, aceitai-me e prendei-me com cadeias de amor a meu
Redentor, mas prendei-me tão estreitamente que possa dizer com o apóstolo: Quem
me poderá ainda separar de meu Jesus? - E vós, meu Salvador, se
sois todo meu, sabei que sou todo vosso. Disponde de mim, e de tudo o que me
pertence como vos aprouver. E como poderia eu recusar alguma coisa a um Deus
que me não recusou o seu sangue e a sua vida?
Maria,
minha Mãe, guardai-me sob vossa proteção. Já não quero ser meu, quero ser todo
do meu Senhor. A vós compete tornar-me fiel, confio em vós.
MEDITAÇÃO 2
Não
queremos hóstia nem oblação; mas me formastes um corpo. (Hb 10,5.)
Considera
a grande amargura de que o coração de Jesus devia sentir-se penetrado e
oprimido no seio de Maria, no momento em que seu Pai lhe colocou ante os olhos
a longa série de desprezos, dores a agonias, que teria de sofrer durante sua
vida para livrar os homens de seus males.
Eis
como o profeta faz falar a Jesus: Desde a manhã o Senhor abriu-me o ouvido.
Desde o primeiro instante de minha conceição, meu Pai me fez conhecer a sua
vontade que eu levasse uma vida de penas, para ser depois imolado na cruz. E eu
não contradigo...; entreguei meu corpo aos que me batiam. Tudo aceitei para a
vossa salvação, almas queridas, desde então abandonei meu corpo aos flagelos,
aos cravos e à morte.
Tudo
quanto Jesus Cristo teria de sofrer durante sua vida e na sua paixão pairou
ante o seu espírito desde o seio de sua Mãe, e Ele o aceitou com amor; mas para
resignar-se a esse sacrifício e para vencer a repugnância natural dos sentidos,
ó Deus! que angústia e que opressão não sofreu o coração inocente de Jesus! Ele
sabia de antemão o que devia sofrer ficando encerrado nove meses na escura
prisão do seio de Maria; sabia a que humilhação e penas devia sujeitar-se
nascendo numa fria gruta que servia de abrigo aos animais, e passando depois
trinta anos na oficina dum pobre artífice; sabia que os homens o tratariam como
a um ignorante, um escravo, um sedutor, um criminoso digno de morte e da morte
mais infame e mais dolorosa que se possa infligir aos celerados.
Nosso
amantíssimo Redentor aceitou tudo isso a cada instante; e assim, a cada
instante sofreu em conjunto todos os tormentos e todos os opróbrios que o
aguardavam até a sua morte. O próprio conhecimento de sua dignidade divina lhe
fazia sofrer mais profundamente as injúrias que deveria receber dos hoje, e
nunca as perdia de vista. A minha ignomínia está todo o dia diante de mim,
dissera pelo profeta; e por isso entendia sobretudo aquela confusão que devia
provar um dia vendo-se despojado de suas vestes, flagelado, suspenso por três
cravos de ferro e assim terminar a vida no meio dos desprezos e maldições
desses mesmos homens pelos quais morria: Foi obediente até a morte, até a morte
da cruz. E por que? para salvar a nós pecadores miseráveis e ingratos.
“Afetos e Súplicas”
Ah! meu
amado Redentor, quanto vos custou desde a vossa entrada neste mundo o livrar-me
do abismo em que me lançaram os meus pecados! Para me libertardes da escravidão
do demônio, ao qual me vendi voluntariamente entregando-me ao pecado, quisestes
ser tratado como o pior dos escravos; e eu, sabendo isso, contristei muitas
vezes o vosso amabilíssimo coração, que tanto me amou! Mas já que vós, que sois
inocente e que sois o meu Deus, aceitastes por meu amor uma vida e uma morte
tão penosas, aceito por vosso amor, ó meu Jesus, todas as penas que me vierem
de vossas mãos. Eu as aceito e abraço porque me vêm dessas mãos traspassadas um
dia para me livrarem do inferno que tantas vezes mereci. O amor que me
testemunhares, ó meu Redentor, prontificando-vos a sofrer assim por mim,
obriga-me deveras a resignar-me por vós a todos os sofrimentos, a todos os
desprezos.
Senhor,
pelos vossos méritos, dai-me o vosso santo amor; o vosso amor tornar-me-á doce
e amáveis todas as dores e todas as ignomínias.
Amo-vos
sobre todas as coisas, amo-vos de todo o meu coração, amo-vos mais do que a mim
mesmo. Mas no decorrer de toda a vossa vida destes-me tantas e tão grandes
provas de vosso amor, e eu ingrato, após tantos anos de existência, que prova
de amor vos tenho dado até agora? Fazei, pois, ó meu Deus, que nos anos que me
restam de vida eu vos dê qualquer prova do meu amor. Não ousaria, no dia do
juízo, aparecer diante de vós, pobre como sou atualmente e sem nada haver feito
por amor de vós. Mas que posso fazer sem a vossa graça? só posso pedir me
ajudeis, e mesmo essa oração é um efeito da vossa graça. Meu Jesus, socorrei-me
pelos méritos das vossas dores e do sangue que derramastes por mim.
Santíssima
Virgem Maria, recomendai-me a vosso divino Filho, conjuro-vos pelo amor que lhe
tendes: considerai que sou uma das ovelhas pelas quais vosso Filho deu a vida.
MEDITAÇÃO 3
Nasceu-nos
um Menino e foi-nos dado um Filho. (Is 9,3.)
Considera
que após tantos séculos, após tantos suspiros e preces, o divino Messias, que
os patriarcas e os profetas não tiveram a felicidade de ver, o Desejado das
nações, o Desejo das colinas eternas, numa palavra, nosso Salvador veio em fim,
nasceu, e deu-se todo a nós: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho.
O Filho
de Deus se fez pequeno para nos fazer grandes; deu-se a nós, a fim de que nos
demos a Ele; veio mostrar-nos seu amor a fim de que o correspondamos com o nosso.
Recebamo-lo pois com afeto, amemo-lo e recorramos a Ele em todas as nossas
necessidades.
As
crianças, diz São Bernardo, dão facilmente o que se lhes pede. Jesus veio sob a
forma duma criança para manifestar a sua disposição de comunicar-nos seus bens.
Ora, nele estão todos os tesouros. Seu Pai celeste colocou tudo em suas mãos.
Desejamos luzes? ele veio precisamente para iluminar-nos. Desejamos mais força
para resistir aos inimigos? ele veio para fortalecer-nos. Desejamos o perdão
das nossas faltas e a salvação? ele veio para perdoar-nos e salvar-nos. Enfim
desejamos o soberano dom do amor divino? ele veio justamente para inflamar
nossos corações, e para isso é que ele se fez Menino: se ele quis mostrar-se
aos nossos olhos num estado tão pobre e tão humilde, e por isso mesmo mais
amável, foi para tirar-nos todo o temor e ganhar o nosso amor. Além disso Jesus
quis nascer como criança para que o amemos não somente sobre tudo, mas também
com amor terno.
Todas
as crianças sabem conquistar a afeição terna de quem as vê; ora, quem não amará
com toda a ternura a um Deus, vendo-o feito Menino, necessitado de leite,
tremendo de frio, pobre, desprezado e abandonado, que chora sobre a palha numa
manjedoura? Por isso São Francisco inflamado de amor exclamava: Ame-mos o
Menino de Belém, amemos o Menino de Belém. Vinde , ó almas, vinde e amai o meu
Deus feito Menino, feito pobre, que é tão amável e que desceu do céu para
dar-se todo a vós.
“Afetos e Súplicas”
Ó meu
amável Jesus, por mim tão desprezado, descestes do céu para resgatar-me do
inferno e dar-vos todo a mim, e como pude desprezar-vos tantas vezes e
voltar-vos as costas? Ó Deus, os homens são tão gratos às criaturas; se alguém
lhes faz algum benefício, se de longe lhes fazem uma visita, se lhes mostram
sinal de afeto, não podem esquecer-se disso e sentem-se obrigados a pagar-lhes.
E são tão ingratos para convosco, que sois o seu Deus cheio de amabilidade, e
que por amor deles não recusastes dar o sangue e a vida. - Mas Ah! eu tenho sido pior do que todos, pois
que, apesar de me terdes amado, mais eu vos tenho sido mais ingrato. Ah! se
tivésseis concedido a um herege, a um idólatra, as graças com que me
favoreceste, ele se teria santificado; e eu, eu vos ofendi! Senhor, dignai-vos
esquecer as injúrias que vos fiz. Vós dissestes que, quando um pecador se
arrepende, esqueceis todos os ultrajes que dele recebestes.
Se no
passado eu vos não amei, no futuro não quero fazer outra coisa senão amar-vos.
Vós vos
destes todo a mim; eu vos consagro toda a minha vontade, e assim vos amo, vos
amo, vos amo, e quero repetir sem cessar: amo-vos, amo-vos; e quero dizer
sempre a mesma coisa enquanto viver, e quero exalar o último suspiro tendo nos
lábios a doce palavra: Meu Deus, eu vos amo! - para começar
depois, ao entrar na outra vida, a amar-vos sem interrupção, com um amor sem
fim, com amor eterno. Aguardando essa ventura, ó meu Deus, meu único Bem, meu
único Amor, estou resolvido a preferir a vossa vontade a todas as minhas
satisfações. Venha o mundo inteiro, eu o repilo; não quero cessar de amar
Aquele que tanto me amou; já não quero desgostar Aquele que merece amor
infinito. Meu Jesus, secundai o meu desejo e a minha resolução com a vossa
graça.
Maria,
minha Rainha, reconheço que por vossa intercessão tenho recebido todas as
graças que Deus me tem concedido; não cesseis de interceder por mim; obtende-me
a perseverança, vós que sois a Mãe da perseverança.
MEDITAÇÃO 4
A minha
dor está sempre ante os meus olhos. (Sl 37,18.)
Considera
que, desde o primeiro instante em que foi criada a alma de Jesus Cristo e unida
ao corpo no seio de Maria, o eterno Padre intimou a seu Filho a ordem de
sacrificar sua vida pela redenção do mundo, e que ao mesmo tempo lhe pôs ante
os olhos o espetáculo aflitivo de todas as penas que devia sofrer até a morte
para salvar os homens. Mostrou-lhe então os sofrimentos, as humilhações, a
pobreza que teria de suportar durante toda a sua vida em Belém, no Egito, em
Nazaré, e depois todas as dores e todas as ignomínias de sua paixão, os
flagelos, os espinhos, os cravos, a cruz, e os enfados, as tristezas, as
agonias, os abandonos, em que terminaria sua vida sobre o Calvário.
Quando
Abraão conduziu seu filho à morte, não quis afligi-lo antes, nem mesmo no pouco
tempo necessário para chegar à montanha, e guardou em segredo o seu intento;
mas o Pai celeste quis que seu Filho encarnado, vítima destinada a satisfazer à
sua justiça por todos os pecados, sofresse antecipadamente todas as penas a
quem devia submeter-se durante a sua vida e na sua morte. Assim essa cruel
tristeza que Jesus provou no jardim das Oliveiras, e que bastava como ele mesmo
declarou para lhe tirar a vida, ele a suportou continuamente desde o primeiro
momento de sua existência no seio de Maria; e desde então ele sentiu e sofreu
vivamente e em seu conjunto o peso de todas as dores e de todos os opróbrios
que o aguardavam.
Toda a
vida e todos os anos de nosso divino Redentor foram pois uma vida e anos de
dores e lágrimas: A minha vida vai-se consumindo com a dor, e os meus anos com
os gemidos. O seu adorável coração não ficou isento de penas nem um instante:
velando e dormindo, trabalhando e descansando, orando e conversando tinha
sempre diante dos olhos essa cruel representação, que mais atormentava a sua
alma do que todos os tormentos dos mártires os fizeram sofrer. Os mártires
sofreram, mas ajudados pela graça suportaram seus tormentos com a consolação e
a alegria que o fervor proporciona; Jesus Cristo sofreu, mas sempre com um
coração cheio de tédio e tristeza, e tudo aceitou por amor de nós.
“Afetos e Súplicas”
Ó doce,
ó amável, ó amante coração de Jesus, fostes desde a infância repleto de
amarguras e agonizastes no seio de Maria, sem nenhum alívio e sem que ninguém
visse a vossa pena e vos consolasse com sua compaixão! sofrestes tudo isso, ó
meu Jesus, a fim de me livrar da agonia eterna que me aguardava no inferno em
punição dos meus pecados. Sofrestes um duro abandono, a privação de todo
socorro a fim de salvar a mim que tive a audácia de abandonar a Deus e de lhe
voltar as costas, para contentar minhas más inclinações. Agradeço-vos, ó
Coração aflito e amoroso de meu Senhor! Agradeço-vos e me compadeço das vossas
dores, mormente ao ver a insensibilidade dos homens diante de tudo o que
sofreis por seu amor.
Ó amor
de Jesus! ó ingratidão dos homens! - Ó homens! olhai inocente
Cordeiro agonizando por vós, a fim de satisfazer à justiça divina por vossas
ofensas; vede-o orando e intercedendo por vós junto de seu Pai eterno; vede-o e
amai-o.
- Ah! meu Redentor, quão poucos são os que
pensam em vossas dores e em vosso amor! Ah! quão poucos são os que o amam!
Infeliz de mim! tive a desgraça de viver muito tempo sem pensar em vós!
sofrestes tanto para ser amado por mim, e eu vos não tenho amado! perdoai-me,
meu Jesus, perdoai-me; quero corrigir-me e quero amar-vos de hoje em diante.
Quão infeliz seria, Senhor, se resistisse ainda à vossa graça e assim me
condenasse! Todas as misericórdias que tendes usado para comigo e
particularmente esse doce convite com que neste momento me fazeis para
amar-vos, seriam meu maior suplício no inferno. Meu amado Jesus, tende piedade;
não permitais que eu responda ainda ao vosso amor com ingratidão; esclarecei-me
e dai-me a força de vencer tudo para cumprir a vossa santa vontade.
Atendei-me,
vo-lo suplico pelos méritos de vossa paixão, na qual ponho toda a minha
confiança.
Ó
Maria, minha querida Mãe, socorrei-me: vós é que me tendes obtido todas as
graças que tenho alcançado de Deus; eu vos agradeço; mas se me não continuardes
a proteger continuareis a ser infiel como no passado.
MEDITAÇÃO 5
Foi
oferecido porque ele mesmo quis. (Is 53,7.)
Desde o
primeiro instante que o Verbo divino se viu feito homem e criança no seio de
Maria, ofereceu-se sem reserva aos sofrimentos e à morte, para resgatar o
mundo: Foi oferecido porque ele mesmo quis. Sabia que todos os sacrifícios de
bodes e touros, oferecidos a Deus no passado, não podiam satisfazer pelos
pecados dos homens, que só uma pessoa divina podia pagar o preço de sua redenção:
Eis por que, escreve São Paulo, desde sua entrada no mundo ele diz: Não
quisestes hóstia nem oblação, mas me formastes um corpo... Então eu disse:
Eis-me que venho. Meu Pai! todas as vítimas que vos foram oferecidas até agora,
não foram suficientes e não podiam sê-lo para desarmar vossa justiça; destes-me
este corpo passível a fim de que pela efusão do meu sangue eu vos aplaque e
salve os homens. Eis-me pronto: Ecce venio; aceito tudo e me submeto em tudo à
vossa santa vontade.
É certo
que a parte inferior sentia repugnância; recusava-se naturalmente a viver e
morrer no meio de tantos sofrimentos e opróbrios; mas a vitória coube à parte
racional, que estava inteiramente submissa à vontade de Deus, e Jesus aceitou
tudo, começando desde então a sofrer todas as angústias e dores que devia
suportar no decorrer de sua vida. Eis o que fez por nós nosso divino Redentor
desde o primeiro momento de sua entrada no mundo.
Mas
nós, grande Deus, como nos temos portado para com Jesus, depois que, chegados
ao uso da razão, começamos a conhecer pelas luzes da fé os santos mistérios da
redenção? quais foram os nossos pensamentos, as nossas ocupações? que bens
temos nós amado? Os prazeres, os divertimentos, o orgulho, a vingança, a
sensualidade, eis os bens que prenderam os afetos do nosso coração. Mas, se
temos fé, havemos enfim de mudar de conduta e amar outra coisa. Amemos um Deus,
que tanto sofreu por nós. Ponhamos ante os nossos olhos as penas que o coração
de Jesus suportou por nós desde a infância, e não poderemos amar outra coisa
fora desse coração que nos amou tanto.
“Afetos e Súplicas”
Senhor,
quereis saber como me tenho comportado para convosco durante a minha vida?
Desde que comecei a ter o uso da razão, comecei a desprezar a vossa graça e o
vosso amor. Ah! vós o sabeis melhor do que eu; mas vós me tendes suportado,
porque ainda me quereis bem. Eu vos fugia e vós não cessáveis de me perseguir
chamando-me. O mesmo amor que vos fez descer do céu à procura das ovelhas
perdidas, vos fez suportar as minhas infidelidades e não vos permitiu
abandonar-me. Agora, meu Jesus, vós me buscais e eu também vos busco; sinto que
vossa graça me assiste: ela me assiste inspirando-me uma viva dor de meus
pecados, que detesto sobre todas as coisas; ela me assiste fazendo nascer em
mim um grande desejo de vos amar e de vos agradar. Sim, Senhor, quero amar-vos
e agradar-vos quanto posso.
Temo, é
verdade, devido à minha fragilidade e fraqueza que contraí por meus pecados;
mas o meu temor cede à confiança que me vem da vossa graça e que, apoiando-se
em vossos méritos, me enche de coragem e me faz dizer com o apóstolo: Tudo
posso naquele que me conforta. Se sou fraco, vós me dareis força contra os meus
inimigos; se sou enfermo, espero que vosso sangue será o meu remédio; se sou
pecador espero que me tornareis santo. Reconheço que no passado vos perdi por
ter deixado de recorrer a vós nos perigos; doravante, meu Salvador e minha
esperança, estou resolvido a recorrer sempre a vós, e espero de vós todos os
socorros necessários e todos os bens. Amo-vos sobre todas as coisas e quero
amar a vós só; ajudai-me por piedade, pelo mérito de tantas penas suportadas por
mim desde a vossa infância. - Padre
eterno, pelo amor de Jesus Cristo, permiti que vos ame.
Se vos
irritei, aplaquem-vos as lágrimas de Jesus Menino, que vos pede por mim: Olhai
para a face do vosso Cristo.
Sou
indigno das vossas graças, mas vosso Filho inocente as merece por mim, ele que
vos oferece uma vida de sofrimentos a fim de que tenhais misericórdia de mim.
E vós,
ó Maria, Mãe de misericórdia, não cesseis de interceder por mim. Sabeis quanto
confio em vós, e eu sei que não abandonais quem a vós recorre.
MEDITAÇÃO 6
Tornei-me
como um homem sem socorro, abandonado entre os mortos. (Sl 87,5.)
Considera
os sofrimentos de Jesus Cristo no seio de sua Mãe, onde esteve como numa prisão
durante nove meses. É verdade que as outras crianças se acham no mesmo estado,
mas não lhe sentem os incômodos, porque os não conhecem. Jesus, ao contrário,
tinha pleno conhecimento deles, pois desde o primeiro instante de sua vida,
teve o perfeito uso da razão. Possuía os sentidos e não podia servir-se deles;
tinha olhos e não podia ver; tinha língua e não podia falar; tinha mão e não
podia estendê-las; tinha pés e não podia andar, de sorte que durante nove meses
teve de ficar no seio de Maria como um morto encerrado num sepulcro: Como um
homem sem socorro, abandonado entre os mortos. Era livre, porque
voluntariamente se fizera prisioneiro de amor naquele cárcere; mas o amor o
privava da liberdade e lá o conservava tão estreitamente preso, que não podia
mover-se: ele era livre, porém, entre os mortos.
Ó paciência
do Salvador! exclama Santo Ambrósio ao considerar os sofrimentos de Jesus no
seio de Maria.
O seio
de Maria foi pois para o nosso Redentor uma prisão voluntária, porque era uma
prisão de amor; não foi todavia uma prisão de injusta: Jesus era inocente, mas
se oferecera para pagar as nossa dívidas e expiar as nossas iniqüidades. É pois
com razão que a divina justiça o conservou assim encerrado, começando a exigir
por esta primeira pena a satisfação que lhe era devida.
Eis a
que se reduz o Filho de Deus por amor dos homens: priva-se de sua liberdade e
se coloca em cadeias para livrar-nos das cadeias do inferno. E nós poderíamos
sem injustiça não corresponder com gratidão e amor à bondade daquele que, sem
estar a isso obrigado, mas por puro afeto para conosco, se fez nossa caução e
nosso libertador, que se ofereceu para pagar nossas dívidas e de fato as pagou
com sua vida divina, e se carregou das penas devidas aos nossos crimes? Não te
esqueças, diz o Sábio, do benefício que te fez o que ficou por teu fiador,
porque ele expôs a sua vida por ti.
“Afetos e Súplicas”
Sim,
meu Jesus, o vosso profeta tem razão de advertir-me a não esquecer a graça
inapreciável que me fizestes. Eu era o devedor, o culpado; e vós inocente, vós,
o meu Deus, quisestes expiar minhas faltas com vossas dores e com a vossa
morte. Mas eu, depois disso, esqueci os vossos benefícios e o vosso amor e tive
a audácia de voltar-vos as costas, como se não fosseis o meu soberano Senhor, e
um Senhor que me amou tanto! Mas, meu caro Redentor, se no passado fui ingrato,
estou resolvido a não cometer mais a mesma falta: os vossos sofrimentos e a
vossa morte serão o objeto contínuo dos meus pensamentos; recordar-me-ão sem
cessar o amor que me tendes. Maldigo esses dias em que, esquecido do que
sofrestes por mim, fiz uso tão mau da minha liberdade; vós ma destes para eu
vos amar, e dela me servi para vos ultrajar! Mas hoje, consagro-vos
inteiramente essa liberdade que recebi de vós.
Por
favor, Senhor, preservai-me da desgraça de me ver outra vez separado de vós e
caído na escravidão de Lúcifer.
Prendei
minha pobre alma aos vossos sagrados pés pelas cadeias do vosso amor a fim de
que se não separe jamais de vós. - Padre
eterno, pelo cativeiro de Jesus no seio de Maria, livrai-me das cadeias do
pecado e do inferno.
E vós,
ó Mãe de Deus, socorrei-me. Tendes o Filho do Altíssimo encerrado em vosso seio
e estreitamente unido a vós: já que Jesus é vosso prisioneiro, fará o que lhe
disserdes, Ah! dizei-lhe que me perdoe, dizei-lhe que me torne santo.
Ajudai-me, minha Mãe, eu vos conjuro pela graça e honra de Jesus Cristo vos fez
de habitar nove meses em vós.
MEDITAÇÃO 7
Veio
para o que era seu, e os seu o não receberam. (Jo 1,11.)
Um dia,
durante as festas do Natal, São Francisco de Assis andava chorando e suspirando
pelos caminhos e florestas, e parecia inconsolável. perguntaram-lhe a causa de
sua dor e ele respondeu: "Como quereis que eu não chore, vendo que o amor
não é amado? Vejo um Deus amar o homem até a loucura, e o homem ser tão ingrato
a esse Deus!" Se a ingratidão dos homens afligia tanto o coração de São
Francisco, imaginemo-nos quanto mais afligiu o coração de Jesus Cristo.
Apenas
concebido no seio de Maria, ele viu a cruel ingratidão, que devia receber dos
homens. Viera do céu para acender na terra o fogo do amor divino; esse único
motivo o levou a deixar-se imergir num abismo de dores e opróbrios: Vim trazer
o fogo sobre a terra, e que quero senão que se inflame? e via um abismo de
pecados que os homens iriam cometer depois de receberem tantas provas de seu
amor! Eis, diz São Bernardino de Sena, o que lhe causou uma dor infinita.
Nós
mesmos sentimos pena insuportável vendo-nos tratados com ingratidão; é que,
segundo a reflexão do bem-aventurado Simão de Cássia, muitas vezes a ingratidão
aflige mais a nossa alma do que qualquer outra dor ao corpo. Qual não foi pois
a dor de Jesus Cristo, nosso Deus, ao ver que corresponderíamos a seus
benefícios e amor com ofensas e injúrias! Ele se queixou pela boca de Davi:
Deram-me males em troca de bens, e ódio em troca do amor que eu lhes tinha; mas
também hoje em dia parece que Jesus Cristo se lamenta: Sou como um estranho no
meio de meus irmãos, por ver um grande número deles viver sem o amar e sem o
conhecer, como se os não houvera beneficiado, e como se nada houvera sofrido
por amor deles.
Ah! que
caso fazem hoje muitos cristãos do amor de Jesus Cristo? Nosso Senhor apareceu
um dia ao bem-aventurado Henrique Suso sob a forma dum peregrino a mendigar de
porta em porta um abrigo; mas todos o repeliam injuriando-o grosseiramente.
Quantos
se parecem com aqueles de que falava Jó: Diziam a Deus: Retirai-vos de nós...;
e isso depois que enchera suas casas de toda a sorte de bens.
No
passado também nós fomos ingratos; queremos ainda continuar a sê-lo? Oh! não:
esse amável Menino, que do céu veio sofrer e morrer por nós para obter o nosso
amor, não merece tal ingratidão.
“Afetos e Súplicas”
É pois
verdade, meu Jesus, que descestes do céu para vos fazer amar de mim; viestes
abraçar uma vida de penas e a morte da cruz por meu amor, a fim de abrir-vos a
entrada do meu coração; e eu vos repeli tantas vezes dizendo: Recede a me,
Domine: Retirai-vos de mim, Senhor; não vos quero! - Ah! se não
fosseis um Deus de bondade infinita, e se não tivésseis dado a vossa vida para
perdoar-me, não ousaria pedir-vos perdão. Mas ouço que vós mesmo me ofereceis a
paz: Converteis-vos a mim, dizeis, e eu me converterei a vós. Pois bem, meu
Jesus, vós a quem ofendi, vos fazeis meu intercessor. Não quero pois fazer-vos
ainda a injúria de desconfiar da vossa misericórdia. Arrependo-me de toda a
minha alma de vos haver ofendido e desprezado, ó Bem supremo; recebei-me em
vossa graça, conjuro-vos pelo sangue que derramastes por mim.
Não,
meu Redentor e meu Pai, não sou digno de ser chamado vosso filho, depois de
haver tantas vezes renunciado ao vosso amor; mas vós com os vossos méritos me
tornais digno dele.
Agradeço-vos,
meu Pai, agradeço-vos e amo-vos. Ah! já a lembrança da paciência com que me
suportastes tantas anos e das graças que me prodigalizastes após tantos
ultrajes da minha parte, deveria fazer-me arder sem cessar de amor por nós.
Vinde, pois, meu Jesus, não quero mais repelir-vos; vinde habitar em meu pobre
coração. Amo-vos e quero amar-vos sempre; inflamai-me cada vez mais
recordando-me sempre o amor que me tivestes.
Minha
Rainha e minha Mãe, ajudai-me, pedi a Jesus por mim: fazei que durante o resto
da minha vida, eu seja grato para com esse Deus que tanto me te amado mesmo
depois de haver recebido de mim tantas ofensas.
MEDITAÇÃO 8
A graça
de Deus nosso Salvador apareceu, a todos os homens e nos ensinou a viver no,
século presente com piedade aguardando, a beatitude que esperamos, e o futuro
glorioso, de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo. (Tt 2,11.)
Considera
que por essa graça de que aqui fala o apóstolo, entende-se o ardente amor de
Jesus Cristo aos homens, amor que não merecemos e que por essa razão é chamada
graça.
Esse
amor em Deus foi sempre o mesmo, mas não apareceu sempre. Foi o primeiro
prometido por um grande número de profecias e anunciado por muitas figuras; mas
apareceu manifestamente quando o Redentor nasceu, quando o Verbo eterno se
mostrou aos homens sob a forma duma criancinha, reclinada sobre palha, chorando
e tremendo de frio, começando assim a satisfazer pelas penas por nós merecidas,
e fazendo-nos conhecer o afeto que nos tinha pelo sacrifício que fez de sua
vida por nós. Nisto conhecemos o amor de Deus, diz São João, em ter ele dado a
sua vida por nós.
Apareceu
pois o amor do nosso Deus e apareceu a todos os homens: Omnibus hominibus. Mas
por que não o conheceram todos? e ainda hoje nem todos o conhecem? Eis como
Jesus mesmo responde, a essa pergunta: A luz veio ao mundo, e os homens
preferiram as trevas à luz. Não o conheceram e não o conhecem, porque não
querem conhecê-lo, amando mais as trevas do pecado do que a luz da graça.
Procuremos
não ser do número desses infelizes. Se no passado fechamos os olhos à luz
pensando pouco no amor de Jesus Cristo, procuremos no resto da nossa vida não
perder jamais de vista as dores e a morte de nosso Salvador, a fim de amarmos,
como devemos, Aquele que tanto nos amou. Assim teremos direito de esperar,
segundo as divinas promessas, o belo paraíso que Jesus Cristo nos adquiriu com
seu sangue: Esperando a beatitude, objeto de nossas esperanças e o glori-oso
advento de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo. No seu primeiro advento,
Jesus veio sob a forma duma criança pobre e desprezada, nascida num estábulo,
coberta de míseros paninhos e reclinada sobre palha; no segundo aparecerá como
juiz sobre um trono glorioso. Eles verão o Filho do homem vir sobre as nuvens
do céu, com grande poder e majestade. Feliz de quem o tiver amado! mas ai de
quem o não tiver amado!
“Afetos e Súplicas”
Ó santo
Menino, vejo-vos hoje sobre a palha, pobre, aflito e abandonado; mas sei que um
dia vireis, para julgar-me, num trono resplendente e cercado de anjos. Ah!
perdoai-me antes desse dia terrível. Então devereis agir como juiz rigoroso;
mas hoje sois Redentor e Pai de misericórdia. Eu, ingrato, fui um dos que vos
não conheceram, porque não quis conhecer-vos; eis por que, em vez de pensar em
amar-vos considerando o amor que me testemunhastes, só pensei em satisfazer-me
desprezando vossa graça e vosso amor. Entrego agora nas vossas mãos a alma que
perdi; salvai-a. Ponho em vós todas as minhas esperanças, sabendo que, para
resgatar-me do inferno, destes o vosso sangue e a vossa vida: Redemisti me,
Domine. Não me fizestes morrer quando estava em pecado, e esperastes-me com
tanta paciência, a fim de que, caindo em mim e arrependido de vos haver
ofendido, comece a amar-vos, e vós possais depois perdoar-me e salvar-me.
Ó meu
Jesus, quero corresponder a tanta bondade: arrependo-me sobre todas as coisas
dos desgostos que vos dei; arrependo-me e amo-vos sobre todas as coisas.
Salvai-me por vossa misericórdia, e a minha salvação consista em amar-vos
sempre nesta vida e na eternidade.
Maria,
minha querida Mãe, recomendai-me a vosso divino Filho. Dizei-lhe que sou vosso
servo e que pus em vós a minha esperança; ele vos ouve e nada vos recusa.
MEDITAÇÃO 9
José
foi também... para se recensear juntamente, com sua esposa Maria que estava
grávida. (Lc 2,4.)
Deus
havia decretado que seu Filho nascesse não na cada de José, mas numa gruta, num
estábulo, da maneira mais pobre e mais penosa que possa nascer uma criança; e
por isso dispôs que César publicasse um edito pelo qual cada um era obrigado a
ir inscrever-se no lugar de sua origem.
Ao
receber essa ordem José ficou inquieto não sabendo se devia deixar ou levar
consigo à Virgem Mãe, pois ela estava para dar à luz. - Minha Esposa e Senhora, disse-lhe, de um lado
não vos quero deixar só, e do outro, se vos levar comigo fico aflito pensando
no muito que tereis de sofrer em tão longa viagem e tão rigorosa estação; minha
pobreza não me permite conduzir-vos com os devidos cuidados. - Maria porém encorajou-o dizendo: Meu caro
José, não temais; irei convosco e o Senhor nos ajudará. - Ela sabia por inspiração e pelo conhecimento
que tinha da profecia de Miquéias, que o divino Menino devia nascer em Belém.
Tomou pois as faixas e os pobres paninhos já preparados, e pôsse a caminho com
José: Ascendit autem et Joseph... ut profiteretur cum Maria.
Acompanhemos
os santos esposos em sua viagem considerando os piedosos entretimentos que
nessa viagem deviam ter tido sobre a misericórdia, a bondade, e o amor do Verbo
divino, que iria logo nascer e aparecer no mundo para a salvação dos homens.
Consideremos ainda os louvores e as bênçãos, as ações de graça, os atos de
humildade e amor, que de caminho faziam esses dois nobres peregrinos. Ela
sofria certamente muito, essa jovem e tenra virgem prestes a dar à luz, fazendo
trajeto tão longo, por caminhos difíceis e no tempo do inverno; mas sofria em
paz e com amor, e oferecia a Deus todas as suas penas unindo-as às de Jesus que
levava em seu casto seio.
Ah!
unamo-nos a Maria e a José, e acompanhemos com eles o Rei do céu, que vai
nascer numa caverna e fazer sua primeira aparição no mundo como uma criança, e
como a criança mais pobre e abandonada que jamais nasceu entre os homens.
Peçamos a Jesus, Maria e José, pelos méritos das penas que sofrem nessa viagem,
nos acompanhem na viagem que fazemos à eternidade. Felizes de nós, se na vida e
na morte formos sempre acompanhados por esses três grandes personagens!
“Afetos e Súplicas”
Meu
caro Redentor, sei que os anjos do céu vos acompanham nessa viagem; mas entre
os habitantes da terra, quais são os que vos acompanham? Vejo convosco só José
e Maria que vos leva em seu seio; ó meu Jesus, permiti-me una a eles para vos
seguir. Ah! tenho sido bem ingrato para convosco! vejo agora o mal que fiz:
descestes do céu para me fazer companhia na terra, e eu tive tantas vezes a
ingratidão de deixar-vos ofendendo-vos. Ó meu divino Mestre, quando penso que
para seguir minhas malditas inclinações tantas vezes me separei de vós
renunciando à vossa amizade, quisera morrer de dor. Mas viestes para
perdoar-me; perdoai-me pois agora que me arrependo de toda a minha alma de vos ter
tantas vezes desprezado e abandonado.
Estou
resolvido e espero, com a vossa graça, não me afastar nem separar de vós, meu
único amor! Sim, minha alma está tomada de amor por vós, meu amável Deus - Menino! amo-vos, meu doce Salvador, e já que
viestes à terra para me salvar e me comunicar as vossas graças, eis a única que
vos peço: fazei que me não separe jamais de vós; cativai-me prendendo-me
estreitamente a vós pelas doces cadeias do vosso santo amor. Ah! meu Redentor e
meu Deus, quem poderia ainda deixar-vos e viver sem vós, privado da vossa
graça?
Santíssima
Virgem Maria, venho fazer-vos companhia em vossa viagem a Belém; e vós, minha
Mãe, não cesseis de ajudar-me na viagem que faço à eternidade. Assisti-me
sempre, mas sobretudo no fim da minha vida, quando eu chegar a esse último
momento que deve decidir se estarei, ou sempre convosco para amar a Jesus no
céu, ou sempre longe de vós para odiar a Jesus no inferno. Minha Rainha,
salvai-me com vossa intercessão; e a minha salvação seja amar-vos para sempre,
a Jesus e a vós, no tempo e na eternidade. Sois minha esperança, espero tudo de
vós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário