A REGRA DE SÃO BENTO
PRÓLOGO DA REGRA
Escuta,
filho, os preceitos do Mestre, e inclina o ouvido do teu coração; recebe de boa
vontade e executa eficazmente o conselho de um bom pai, para que voltes, pelo labor
da obediência, àquele de quem te afastaste pela desídia da desobediência. A ti,
pois, se dirige agora a minha palavra, quem quer que sejas que, renunciando às próprias
vontades, empunhas as gloriosas e poderosíssimas armas da obediência para militar
sob o Cristo Senhor, verdadeiro Rei.
Antes de
tudo, quando encetares algo de bom, pede-lhe com oração muito insistente que seja
por ele plenamente realizado, a fim de que nunca venha a entristecer-se, por causa
das nossas más ações, aquele que já se dignou contar-nos no número de seus filhos;
assim, pois,
devemos obedecer-lhe em todo tempo, usando de seus dons a nós concedidos para que
não só não venha jamais, como pai irado, a deserdar seus filhos, nem tenha também,
qual Senhor temível, irritado com nossas más ações, de entregar-nos à pena eterna
como péssimos servos que o não quiseram seguir para a glória.
Levantemo-nos
então finalmente, pois a Escritura nos desperta dizendo: “Já é hora de nos levantarmos
do sono”. E, com os olhos abertos para a luz deífica, ouçamos, ouvidos atentos,
o que nos adverte a voz divina que clama todos os dias: “Hoje, se ouvirdes a sua
voz, não permitais que se endureçam vossos corações”, e de novo: “Quem tem ouvidos
para ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. E que diz? - “Vinde, meus filhos,
ouvi-me, eu vos ensinarei o temor do Senhor.
Correi enquanto
tiverdes a luz da vida, para que as trevas da morte não vos envolvam”.
E procurando
o Senhor o seu operário na multidão do povo, ao qual clama estas coisas, diz ainda:
“Qual é o homem que quer a vida e deseja ver dias felizes?” Se, ouvindo, responderes:
“Eu”, dir-te-á Deus: “Se queres possuir a verdadeira e perpétua vida, guarda a tua
língua de dizer o mal e que teus lábios não profiram a falsidade, afasta-te do mal
e faze o bem, procura a paz e segue-a”. E quando tiveres feito isso, estarão meus
olhos sobre ti e meus ouvidos junto às tuas preces, e antes que me invoques dir-te-ei:
“Eis-me aqui”.
Que há de
mais doce para nós, caríssimos irmãos, do que esta voz do Senhor a convidar-nos?
Eis que pela sua piedade nos mostra o Senhor o caminho da vida.
Cingidos,
pois, os rins com a fé e a observância das boas ações, guiados pelo Evangelho, trilhemos
os seus caminhos para que mereçamos ver aquele que nos chamou para o seu reino.
Se queremos habitar na tenda real do acampamento desse reino, é preciso correr pelo
caminho das boas obras, de outra forma nunca se há de chegar lá. Mas, com o profeta,
interroguemos o Senhor, dizendo-lhe: “Senhor, quem habitará na vossa tenda e descansará
na vossa montanha santa?”.
Depois dessa
pergunta, irmãos, ouçamos o Senhor que responde e nos mostra o caminho dessa mesma
tenda, dizendo: “É aquele que caminha sem mancha e realiza a justiça; aquele que
fala a verdade no seu coração, que não traz o dolo em sua língua, que não faz o
mal ao próximo e não dá acolhida à injúria contra o seu próximo”.
É aquele
que quando o maligno diabo tenta persuadi-lo de alguma coisa, repelindo-o das vistas
do seu coração, a ele e suas sugestões, redu-lo a nada, agarra os seus pensamentos
ainda ao nascer e quebra-os de encontro ao Cristo. São aqueles que, temendo o Senhor,
não se tornam orgulhosos por causa de sua boa observância, mas, julgando que mesmo
as coisas boas que têm em si não as puderam por si, mas foram feitas pelo Senhor,
glorificam Aquele que neles opera, dizendo com o profeta: “Não a nós, Senhor, não
a nós, mas ao vosso nome dai Glória”.
Como, aliás,
o Apóstolo Paulo não atribuía a si próprio coisa alguma de sua pregação, quando
dizia: “Pela graça de Deus sou o que sou” e ainda: “Quem se glorifica, que se glorifique
no Senhor”.
Eis porque
no Evangelho diz o Senhor: “Àquele que ouve estas minhas palavras e as põe em prática,
compará-lo-ei ao homem sábio que edificou sua casa sobre a pedra, cresceram os rios,
sopraram os ventos e investiram contra a casa; e ela não ruiu porque estava fundada
sobre pedra”. Em conclusão espera o Senhor todos os dias que nos empenhemos em responder
com atos às suas santas exortações.
Por essa
razão, os dias desta vida nos são prolongados como tréguas para a emenda dos nossos
vícios, conforme diz o Apóstolo: “Então ignoras que a paciência de Deus te conduz
à penitência?”. Pois diz o bom Senhor: “Não quero a morte do pecador, mas sim que
se converta e viva”.
Como, pois,
irmãos, interrogássemos o Senhor a respeito de quem mora em sua tenda, ouvimos em
resposta, qual a condição para lá habitar: a nós compete cumprir com a obrigação
do morador!
Portanto,
é preciso preparar nossos corações e nossos corpos para militar na santa obediência
dos preceitos; e em tudo aquilo que nossa natureza tiver menores possibilidades,
roguemos ao Senhor que ordene a sua graça que nos preste auxílio. E, se, fugindo
das penas do inferno, queremos chegar à vida eterna, enquanto é tempo, e ainda estamos
neste corpo e é possível realizar todas essas coisas no decorrer desta vida de luz,
cumpre correr e agir, agora, de forma que nos aproveite para sempre.
Devemos,
pois, constituir uma escola de serviço do Senhor. Nesta instituição esperamos nada
estabelecer de áspero ou de pesado. Mas se aparecer alguma coisa um pouco mais rigorosa,
ditada por motivo de eqüidade, para emenda dos vícios ou conservação da caridade
não fujas logo, tomado de pavor, do caminho da salvação, que nunca se abre senão
por estreito início. Mas, com o progresso da vida monástica e da fé, dilata-se o
coração e com inenarrável doçura de amor é percorrido o caminho dos mandamentos
de Deus.
De modo
que não nos separando jamais do seu magistério e perseverando no mosteiro, sob a
sua doutrina, até a morte, participemos, pela paciência, dos sofrimentos do Cristo
a fim de também merecermos ser co-herdeiros de seu reino. Amém.
Termina o Prólogo
COMEÇA O TEXTO DA REGRA
É chamada Regra porque dirige os Costumes
dos que a ela obedecem
CAPÍTULO 1: Dos gêneros de monges
É sabido
que há quatro gêneros de monges. O primeiro é o dos cenobitas, isto é, o monasterial,
dos que militam sob uma Regra e um Abade.
O segundo
gênero é o dos anacoretas, isto é, dos eremitas, daqueles que, não por um fervor
inicial da vida monástica, mas através de provação diuturna no mosteiro, instruídos
então na companhia de muitos aprenderam a lutar contra o demônio e, bem adestrados
nas fileiras fraternas, já estão seguros para a luta isolada do deserto, sem a consolação
de outrem, e aptos para combater com as próprias mãos e braços, ajudando-os Deus,
contra os vícios da carne e dos pensamentos.
O terceiro
gênero de monges, e detestável, é o dos sarabaítas, que, não tendo sido provados,
como o ouro na fornalha, por nenhuma regra, mestra pela experiência, mas amolecidos
como numa natureza de chumbo, conservam-se por suas obras fiéis ao século, e são
conhecidos por mentir a Deus pela tonsura. São aqueles que se encerram dois ou três
ou mesmo sozinhos, sem pastor, não nos apriscos do Senhor, mas nos seus próprios;
a satisfação dos desejos é para eles lei, visto que tudo quanto julgam dever fazer
ou preferem, chamam de santo, e o que não desejam reputam ilícito.
O quarto
gênero de monges é o chamado dos giróvagos, que por toda a sua vida se hospedam
nas diferentes províncias, por três ou quatro dias nas celas de outros monges, sempre
vagando e nunca estáveis, escravos das próprias vontades e das seduções da gula,
e em tudo piores que os sarabaítas. Sobre o misérrimo modo de vida de todos esses
é melhor calar que dizer algo.
Deixando-os
de parte, vamos dispor, com o auxilio do Senhor, sobre o poderosíssimo gênero dos
cenobitas.
CAPÍTULO 2 - Como deve ser o Abade
O Abade
digno de presidir ao mosteiro, deve lembrar-se sempre daquilo que é chamado, e corresponder
pelas ações ao nome de superior. Com efeito, crê-se que, no mosteiro ele faz as
vezes do Cristo, pois é chamado pelo mesmo cognome que Este, no dizer do Apóstolo:
“Recebestes o espírito de adoção de filhos, no qual clamamos: ABBA, Pai.”
Por isso
o Abade nada deve ensinar, determinar ou ordenar, que seja contrário ao preceito
do Senhor, mas que a sua ordem e ensinamento, como o fermento da divina justiça
se espalhe na mente dos discípulos; lembre-se sempre o abade de que da sua doutrina
e da obediência dos discípulos, de ambas essas coisas, será feita apreciação no
tremendo juízo de Deus.
E saiba
o Abade que é atribuído à culpa do pastor tudo aquilo que o Pai de família puder
encontrar de menos no progresso das ovelhas. Em compensação, de outra maneira será,
se a um rebanho irrequieto e desobediente tiver sido dispensada toda diligência
do pastor e oferecido todo o empenho na cura de seu atos malsãos; absolvido então
o pastor no juízo do Senhor, diga ao mesmo com o Profeta: “Não escondi vossa justiça
em meu coração, manifestei vossa verdade e a vossa salvação; eles, porém, com desdém
desprezaram-me”.
E então,
finalmente, que prevaleça a própria morte como pena para as ovelhas que desobedeceram
aos seus cuidados.
Portanto,
quando alguém recebe o nome de Abade, deve presidir a seus discípulos usando de
uma dupla doutrina, isto é, apresente as coisas boas e santas, mais pelas ações
do que pelas palavras, de modo que aos discípulos capazes de entendê-las proponha
os mandamentos do Senhor por meio de palavras, e aos duros de coração e aos mais
simples mostre os preceitos divinos pelas próprias ações.
Assim, tudo
quanto ensinar aos discípulos como sendo nocivo, indique pela sua maneira de agir
que não se deve praticar, a fim de que, pregando aos outros, não se torne ele próprio
réprobo, e Deus não lhe diga um dia como a um pecador: “Por que narras as minhas
leis e anuncias o meu testamento pela tua boca? tu que odiaste a disciplina e atiraste
para trás de ti as minhas palavras”, e ainda: “Vias o argueiro no olho de teu irmão
e não viste a trave no teu próprio”.
Que não
seja feita por ele distinção de pessoas no mosteiro. Que um não seja mais amado
que outro, a não ser aquele que for reconhecido melhor nas boas ações ou na obediência.
Não anteponha
o nascido livre ao originário de condição servil, a não ser que exista outra causa
razoável para isso; pois se parecer ao Abade que deve fazê-lo por questão de justiça,
fá-lo-á seja qual for a condição social; caso contrário, mantenham todos seus próprios
lugares, porque, servo ou livre, somos todos um em Cristo e sob um só Senhor caminhamos
submissos na mesma milícia de servidão: “Porque não há em Deus acepção de pessoas”.
Somente num ponto somos por ele distinguidos, isto é, se formos melhores do que
os outros nas boas obras e humildes.
Seja pois
igual a caridade dele para com todos; que uma só disciplina seja proposta a todos,
conforme os merecimentos de cada um.
Portanto,
em sua doutrina deve sempre o Abade observar aquela fórmula do Apóstolo: “Repreende,
exorta, admoesta”, isto é, temperando as ocasiões umas com as outras, os carinhos
com os rigores, mostre a severidade de um mestre e o pio afeto de um pai, quer dizer:
aos indisciplinados e inquietos deve repreender mais duramente, mas aos obedientes,
mansos e pacientes, deve exortar a que progridam ainda mais, e quanto aos negligentes
e desdenhosos, advertimos que os repreenda e castigue.
Não dissimule
as faltas dos culpados, mas logo que começarem a brotar ampute-as pela raiz, como
lhe for possível, lembrando-se da desgraça de Heli, sacerdote de Silo. Aos mais
honestos e de ânimo compreensível, censure por palavras em primeira e segunda advertência;
porém aos improbos, duros e soberbos ou desobedientes reprima com varadas ou outro
castigo corporal, desde o início da falta, sabendo que está escrito. “O estulto
não se corrige com palavras”.
E mais:
“Bate no teu filho com a vara e livrarás a sua alma da morte”.
Deve sempre
lembrar-se o Abade daquilo que é; lembrar-se de como é chamado, e saber que daquele
a quem mais se confia mais se exige. E saiba que coisa difícil e árdua recebeu:
reger as almas e servir aos temperamentos de muitos; a este com carinho, àquele,
porém, com repreensões, a outro com persuasões segundo a maneira de ser ou a inteligência
de cada um, de tal modo se conforme e se adapte a todos, que não somente não venha
a sofrer perdas no rebanho que lhe foi confiado, mas também se alegre com o aumento
da boa grei.
Antes de
tudo, que não trate com mais solicitude das coisas transitórias, terrenas e caducas,
negligenciando ou tendo em pouco a salvação das almas que lhe foram confiadas, mas
pense sempre que recebeu almas a dirigir, das quais deverá também prestar contas.
E para que não venha, porventura, a alegar falta de recursos, lembrar-se-á do que
esta escrito. “Buscai primeiro reino de Deus e sua justiça, e todas as coisas vos
serão dadas por acréscimo”; e ainda: “Nada falta aos que O temem”.
E saiba
que quem recebeu almas a dirigir, deve preparar-se para prestar contas. Saiba como
certo que de todo o número de irmãos que tiver possuído sob seu cuidado, no dia
do juízo, deverá prestar contas ao Senhor das almas de todos eles, e mais, sem dúvida
também da sua própria alma.
E assim,
temendo sempre a futura apreciação do pastor acerca das ovelhas que lhe foram confiadas
enquanto cuida das contas alheias, torna-se solícito para com a suas próprias, e
enquanto com suas exortações subministra a emenda aos outros, consegue ele próprio
emendar-se de seu vícios.
CAPÍTULO 3 - Da convocação dos irmãos a conselho
Todas as
vezes que deverem ser feitas coisas importantes no mosteiro, convoque o Abade toda
a comunidade e diga ele próprio de que se trata. Ouvindo o conselho dos irmãos,
considere consigo mesmo e faça o que julgar mais útil. Dissemos que todos fossem
chamados a conselho porque muitas vezes o Senhor revela ao mais moço o que é melhor.
Dêem pois
os irmãos o seu conselho com toda a submissão da humildade e não ousem defender
arrogantemente o seu parecer, e que a solução dependa antes do arbítrio do Abade,
e todos lhe obedeçam no que ele tiver julgado ser mais salutar; mas, assim como
convém aos discípulos obedecer ao mestre, também a este convém dispor todas as coisas
com prudência e justiça.
Em tudo,
pois, sigam todos a Regra como mestra, nem dela se desvie alguém temerariamente.
Ninguém, no mosteiro, siga a vontade do próprio coração, nem ouse discutir insolentemente
com seu abade, nem mesmo discutir com ele fora do mosteiro. E, se ousar fazê-lo,
seja submetido à disciplina regular. No entanto, que o próprio abade faça tudo com
temor de Deus e observância da Regra, cônscio de que, sem dúvida alguma, de todos
os seus juízos deverá dar contas a Deus, justíssimo juiz.
Se, porém,
for preciso fazer alguma coisa de menor importância dentre os negócios do mosteiro,
use o Abade somente do conselho dos mais velhos, conforme o que está escrito. “Faze
tudo com conselho e depois de feito não te arrependerás”.
CAPÍTULO 4 - Quais são os instrumentos das boas obras
Primeiramente,
amar ao Senhor Deus de todo o coração, com toda a alma, com todas as forças.
Depois,
amar ao próximo como a si mesmo.
Em seguida,
não matar.
Não cometer
adultério.
Não furtar.
Não cobiçar.
Não levantar
falso testemunho.
Honrar todos
os homens.
E não fazer
a outrem o que não quer que lhe seja feito.
Abnegar-se
a si mesmo para seguir o Cristo.
Castigar
o corpo.
Não abraçar
as delícias.
Amar o jejum.
Reconfortar
os pobres.
Vestir os
nus.
Visitar
os enfermos.
Sepultar
os mortos.
Socorrer
na tribulação.
Consolar
o que sofre.
Fazer-se
alheio às coisas do mundo.
Nada antepor
ao amor de Cristo.
Não satisfazer
a ira.
Não reservar
tempo para a cólera.
Não conservar
a falsidade no coração.
Não conceder
paz simulada.
Não se afastar
da caridade.
Não jurar
para não vir a perjurar.
Proferir
a verdade de coração e de boca.
Não retribuir
o mal com o mal.
Não fazer
injustiça, mas suportar pacientemente as que lhe são feitas.
Amar os
inimigos.
Não retribuir
com maldição aos que o amaldiçoam, mas antes abençoá-los.
Suportar
perseguição pela justiça.
Não ser
soberbo.
Não ser
dado ao vinho.
Não ser
guloso.
Não ser
apegado ao sono.
Não ser
preguiçoso.
Não ser
murmurador.
Não ser
detrator.
Colocar
toda a esperança em Deus.
O que achar
de bem em si, atribuí-lo a Deus e não a si mesmo.
Mas, quanto
ao mal, saber que é sempre obra sua e a si mesmo atribuí-lo.
Temer o
dia do juízo.
Ter pavor
do inferno.
Desejar
a vida eterna com toda a cobiça espiritual.
Ter diariamente
diante dos olhos a morte a surpreendê-lo.
Vigiar a
toda hora os atos de sua vida.
Saber como
certo que Deus o vê em todo lugar.
Quebrar
imediatamente de encontro ao Cristo os maus pensamentos que lhe advêm ao coração
e revelá-los a um conselheiro espiritual.
Guardar
sua boca da palavra má ou perversa.
Não gostar
de falar muito.
Não falar
palavras vãs ou que só sirvam para provocar riso.
Não gostar
do riso excessivo ou ruidoso.
Ouvir de
boa vontade as santas leituras.
Dar-se freqüentemente
à oração.
Confessar
todos os dias a Deus na oração, com lágrimas e gemidos, as faltas passadas e daí
por diante emendar-se delas.
Não satisfazer
os desejos da carne.
Odiar a
própria vontade.
Obedecer
em tudo às ordens do Abade, mesmo que este, o que não aconteça, proceda de outra
forma, lembrando-se do preceito do Senhor: “Fazei o que dizem, mas não o que fazem”.
Não querer
ser tido como santo antes que o seja, mas primeiramente sê-lo para que como tal
o tenham com mais fundamento.
Pôr em prática
diariamente os preceitos de Deus.
Amar a castidade.
Não odiar
a ninguém.
Não ter
ciúmes.
Não exercer
a inveja.
Não amar
a rixa.
Fugir da
vanglória.
Venerar
os mais velhos.
Amar os
mais moços.
Orar, no
amor de Cristo, pelos inimigos.
Voltar à
paz, antes do pôr-do-sol, com aqueles com quem teve desavença.
E nunca
desesperar da misericórdia de Deus.
Eis aí os
instrumentos da arte espiritual: se forem postos em ação por nós, dia e noite, sem
cessar, e devolvidos no dia do juízo, seremos recompensados pelo Senhor com aquele
prêmio que Ele mesmo prometeu: “O que olhos não viram nem ouvidos ouviram preparou
Deus para aqueles que o amam”. São, porém, os claustros do mosteiro e a estabilidade
na comunidade a oficina onde executaremos diligentemente tudo isso.
CAPÍTULO 5 - Da obediência
O primeiro
grau da humildade é a obediência sem demora. É peculiar àqueles que estimam nada
haver mais caro que o Cristo; por causa do santo serviço que professaram, por causa
do medo do inferno ou por causa da glória da vida eterna, desconhecem o que seja
demorar na execução de alguma coisa logo que ordenada pelo superior, como sendo
por Deus ordenada. Deles diz o Senhor: “Logo ao ouvir-me, obedeceu-me”. E do mesmo
modo diz aos doutores: “Quem vos ouve a mim ouve”.
Pois são
esses mesmos que, deixando imediatamente as coisas que lhes dizem respeito e abandonando
a própria vontade, desocupando logo as mãos e deixando inacabado o que faziam, seguem
com seus atos, tendo os passos já dispostos para a obediência, a voz de quem ordena.
E, como que num só momento, ambas as coisas
- a ordem recém-dada do mestre e a perfeita obediência do discípulo - são realizadas simultânea e rapidamente, na
prontidão do temor de Deus.
Apodera-se
deles o desejo de caminhar para a vida eterna; por isso, lançam-se como que de assalto
ao caminho estreito do qual diz o Senhor: “Estreito é o caminho que conduz à vida”,
e assim, não tendo, como norma de vida a própria vontade, nem obedecendo aos próprios
desejos e prazeres, mas caminhando sob o juízo e domínio de outro e vivendo em comunidade,
desejam que um Abade lhes presida.
Imitam,
sem dúvida, aquela máxima do Senhor que diz: “Não vim fazer minha vontade, mas a
d’Aquele que me enviou”.
Mas essa
mesma obediência somente será digna da aceitação de Deus e doce aos homens, se o
que é ordenado for executado sem tremor, sem delongas, não mornamente, não com murmuração,
nem com resposta de quem não quer. Porque a obediência prestada aos superiores é
tributada a Deus. Ele próprio disse: “Quem vos ouve, a mim me ouve”. E convém que
seja prestada de boa vontade pelos discípulos, porque “Deus ama aquele que dá com
alegria”.
Pois, se
o discípulo obedecer de má vontade e se murmurar, mesmo que não com a boca, mas
só no coração, ainda que cumpra a ordem, não será mais o seu ato aceito por Deus
que vê seu coração a murmurar; e por tal ação não consegue graça alguma, e, ainda
mais, incorre no castigo dos murmuradores se não se emendar pela satisfação.
CAPÍTULO 6 - Do silêncio
Façamos
o que diz o profeta: “Eu disse, guardarei os meus caminhos para que não peque pela
língua: pus uma guarda à minha boca: emudeci, humilhei-me e calei as coisas boas”.
Aqui mostra
o Profeta que, se, às vezes, se devem calar mesmo as boas conversas, por causa do
silêncio, quanto mais não deverão ser suprimidas as más palavras, por causa do castigo
do pecado? Por isso, ainda que se trate de conversas boas, santas e próprias a edificar,
raramente seja concedida aos discípulos perfeitos licença de falar, por causa da
gravidade do silêncio, pois está escrito. “Falando muito não foges ao pecado”, e
em outro lugar: “a morte e a vida estão em poder da língua”.
Com efeito,
falar e ensinar compete ao mestre; ao discípulo convém calar e ouvir.
Por isso,
se é preciso pedir alguma coisa ao superior, que se peça com toda a humildade e
submissão da reverência. Já quanto às brincadeiras, palavras ociosas e que provocam
riso, condenamo-las em todos os lugares a uma eterna clausura, para tais palavras
não permitimos ao discípulo abrir a boca.
CAPÍTULO 7 - Da humildade
Irmãos,
a Escritura divina nos clama dizendo: “Todo aquele que se exalta será humilhado
e todo aquele que se humilha será exaltado”. Indica-nos com isso que toda elevação
é um gênero da soberba, da qual o Profeta mostra precaver-se quando diz: “Senhor,
o meu coração não se exaltou, nem foram altivos meus olhos; não andei nas grandezas,
nem em maravilhas acima de mim. Mas, que seria de mim se não me tivesse feito humilde,
se tivesse exaltado minha alma? Como aquele que é desmamado de sua mãe, assim retribuirias
a minha alma.
Se, portanto,
irmãos, queremos atingir o cume da suma humildade e se queremos chegar rapidamente
àquela exaltação celeste para a qual se sobe pela humildade da vida presente, deve
ser erguida, pela ascensão de nossos atos, aquela escada que apareceu em sonho a
Jacó, na qual lhe eram mostrados anjos que subiam e desciam. Essa descida e subida,
sem dúvida, outra coisa não significa, para nós, senão que pela exaltação se desce
e pela humildade se sobe. Essa escada ereta é a nossa vida no mundo, a qual é elevada
ao céu pelo Senhor, se nosso coração se humilha.
Quanto aos
lados da escada, dizemos que são o nosso corpo e alma, e nesses lados a vocação
divina inseriu, para serem galgados, os diversos graus da humildade e da disciplina.
Assim, o
primeiro grau da humildade consiste em que, pondo sempre o monge diante dos olhos
o temor de Deus, evite, absolutamente, qualquer esquecimento, e esteja, ao contrário,
sempre lembrado de tudo o que Deus ordenou, revolva sempre, no espírito, não só
que o inferno queima, por causa de seus pecados, os que desprezam a Deus, mas também
que a vida eterna está preparada para os que temem a Deus;
e, defendendo-se a todo tempo dos pecados e vícios, isto é, dos
pecados do pensamento, da língua, das mãos, dos pés e da vontade própria, como também
dos desejos da carne, considere-se o homem visto do céu, a todo momento, por Deus,
e suas ações vistas em toda parte pelo olhar da divindade e anunciadas a todo instante
pelos anjos. Mostra-nos isso o Profeta quando afirma estar Deus sempre presente
aos nossos pensamentos: “Deus que perscruta os corações e os rins”. E também: “Deus
conhece os pensamentos dos homens”.
E ainda:
“De longe percebestes os meus pensamentos” e “o pensamento do homem vos será confessado”.
Portanto, para que esteja vigilante quanto aos seus pensamentos maus, diga sempre,
em seu coração, o irmão empenhado em seu próprio bem: “se me preservar da minha
iniqüidade, serei, então, imaculado diante d’Ele”.
Assim, é-nos
proibido fazer a própria vontade, visto que nos diz a Escritura: “Afasta-te das
tuas próprias vontades”. E, também, porque rogamos a Deus na oração que se faça
em nós a sua vontade.
Aprendemos,
pois, com razão, a não fazer a própria vontade, enquanto nos acautelamos com aquilo
que diz a Escritura: “Há caminhos considerados retos pelos homens cujo fim mergulha
até o fundo do inferno”, e enquanto, também, nos apavoramos com o que foi dito dos
negligentes: “Corromperam-se e tornaram-se abomináveis nos seus prazeres”. Por isso,
quando nos achamos diante dos desejos da carne, creiamos que Deus está sempre presente
junto a nós, pois disse o Profeta ao Senhor: “Diante de vós está todo o meu desejo”.
Devemos,
portanto, acautelar-nos contra o mau desejo, porque a morte foi colocada junto à
porta do prazer. Sobre isso a Escritura preceitua dizendo: “Não andes atrás de tuas
concupiscências”.
Logo, se
os olhos do Senhor “observam os bons e os maus”, e “o Senhor sempre olha do céu
os filhos dos homens para ver se há algum inteligente ou que procura a Deus” e se,
pelos anjos que nos foram designados, todas as coisas que fazemos são, cotidianamente,
dia e noite, anunciadas ao Senhor, devemos ter cuidado, irmãos, a toda hora, como
diz o Profeta no salmo, para que não aconteça que Deus nos veja no momento em que
caímos no mal, tornando-nos inúteis, e para que, vindo a poupar-nos nessa ocasião
porque é Bom e espera sempre que nos tornemos melhores,
não venha a dizer-nos no futuro: “Fizeste isto e calei-me”.
O segundo
grau da humildade consiste em que, não amando a própria vontade, não se deleite
o monge em realizar os seus desejos, mas imite nas ações aquela palavra do Senhor:
“Não vim fazer a minha vontade, mas a d’Aquele que me enviou”. Do mesmo modo, diz
a Escritura: “O prazer traz consigo a pena e a necessidade gera a coroa”.
O terceiro
grau da humildade consiste em que, por amor de Deus, se submeta o monge, com inteira
obediência ao superior, imitando o Senhor, de quem disse o Apóstolo: “Fez-se obediente
até a morte”.
O quarto
grau da humildade consiste em que, no exercício dessa mesma obediência abrace o
monge a paciência, de ânimo sereno, nas coisas duras e adversas, ainda mesmo que
se lhe tenham dirigido injúrias, e, suportando tudo, não se entregue nem se vá embora,
pois diz a Escritura: “Aquele que perseverar até o fim será salvo”. E também: “Que
se revigore o teu coração e suporta o Senhor”.
E a fim
de mostrar que o que é fiel deve suportar todas as coisas, mesmo as adversas, pelo
Senhor, diz a Escritura, na pessoa dos que sofrem: “Por vós, somos entregues todos
os dias à morte; somos considerados como ovelhas a serem sacrificadas”. Seguros
na esperança da retribuição divina, prosseguem alegres dizendo: “Mas superamos tudo
por causa daquele que nos amou”.
Também,
em outro lugar, diz a Escritura: “Ó Deus, provastes-nos, experimentastes-nos no
fogo, como no fogo é provada a prata: induzistes-nos a cair no laço, impusestes
tribulações sobre os nossos ombros”. E para mostrar que devemos estar submetidos
a um superior, continua: “Impusestes homens sobre nossas cabeças”.
Cumprindo,
além disso, com paciência o preceito do Senhor nas adversidades e injúrias, se lhes
batem numa face, oferecem a outra; a quem lhes toma a túnica cedem também o manto;
obrigados a uma milha, andam duas; suportam, como Paulo Apóstolo, os falsos irmãos
e abençoam aqueles que os amaldiçoam.
O quinto
grau da humildade consiste em não esconder o monge ao seu Abade todos os maus pensamentos
que lhe vêm ao coração, ou o que de mal tenha cometido ocultamente, mas em lho revelar
humildemente, exortando-nos a este respeito a Escritura quando diz: “Revela ao Senhor
o teu caminho e espera nele”. E quando diz ainda: “Confessai ao Senhor porque ele
é bom, porque sua misericórdia é eterna”. Do mesmo modo o Profeta: “Dei a conhecer
a Vós a minha falta e não escondi as minhas injustiças.
Disse: acusar-me-ei
de minhas injustiças diante do Senhor, e perdoastes a maldade de meu coração”.
O sexto
grau da humildade consiste em que esteja o monge contente com o que há de mais vil
e com a situação mais extrema e, em tudo que lhe seja ordenado fazer, se considere
mau e indigno operário, dizendo-se a si mesmo com o Profeta: “Fui reduzido a nada
e não o sabia; tornei-me como um animal diante de Vós, porém estou sempre convosco”.
O sétimo
grau da humildade consiste em que o monge se diga inferior e mais vil que todos,
não só com a boca, mas que também o creia no íntimo pulsar do coração, humilhando-se
e dizendo com o Profeta: “Eu, porém, sou um verme e não um homem, a vergonha dos
homens e a abjeção do povo: exaltei-me, mas, depois fui humilhado e confundido”.
E ainda: “É bom para mim que me tenhais humilhado, para que aprenda os vossos mandamentos”.
O oitavo
grau da humildade consiste em que só faça o monge o que lhe exortam a Regra comum
do mosteiro e os exemplos de seus maiores.
O nono grau
da humildade consiste em que o monge negue o falar a sua língua, entregando-se ao
silêncio; nada diga, até que seja interrogado, pois mostra a Escritura que “no muito
falar não se foge ao pecado” e que “o homem que fala muito não se encaminhará bem
sobre a terra”.
O décimo
grau da humildade consiste em que não seja o monge fácil e pronto ao riso, porque
está escrito. “O estulto eleva sua voz quando ri”.
O undécimo
grau da humildade consiste em, quando falar, fazê-lo o monge suavemente e sem riso,
humildemente e com gravidade, com poucas e razoáveis palavras e não em alta voz,
conforme o que está escrito. “O sábio manifesta-se com poucas palavras”.
O duodécimo
grau da humildade consiste em que não só no coração tenha o monge a humildade, mas
a deixe transparecer sempre, no próprio corpo, aos que o vêem, isto é, que no ofício
divino, no oratório, no mosteiro, na horta, quando em caminho, no campo ou onde
quer que esteja, sentado, andando ou em pé, tenha sempre a cabeça inclinada, os
olhos fixos no chão, considerando-se a cada momento culpado de seus pecados, tenha-se
já como presente diante do tremendo juízo de Deus, dizendo-se a si mesmo, no coração,
aquilo que aquele publicano do Evangelho disse, com os olhos pregados no chão:
“Senhor,
não sou digno, eu pecador, de levantar os olhos aos céus”. E ainda, com o Profeta:
“Estou completamente curvado e humilhado”.
Tendo, por
conseguinte, subido todos esses degraus da humildade, o monge atingirá logo, aquela
caridade de Deus, que, quando perfeita, afasta o temor; por meio dela tudo o que
observava antes não sem medo começará a realizar sem nenhum labor, como que naturalmente,
pelo costume, não mais por temor do inferno, mas por amor de Cristo, pelo próprio
costume bom e pela deleitação das virtudes.
Eis o que,
no seu operário, já purificado dos vícios e pecados, se dignará o Senhor manifestar
por meio do Espírito Santo.
CAPÍTULO 8 - Dos Ofícios Divinos durante a noite
Em tempo
de inverno, isto é, de primeiro de novembro até a Páscoa, em consideração ao que
é razoável, devem os monges levantar-se à oitava hora da noite de modo que durmam
um pouco mais da metade da noite e se levantem tendo já feita a digestão. O tempo
que resta depois das Vigílias seja empregado na preparação de algum trecho do saltério
ou das lições, por parte dos irmãos que disto necessitarem.
Da Páscoa,
porém, até o referido dia primeiro de novembro, seja regulada a hora de tal maneira
que as Matinas que devem ser celebradas quando começa a clarear, venham em seguida
ao ofício das Vigílias, depois de brevíssimo intervalo, durante o qual os irmãos
saem para as necessidades naturais.
CAPÍTULO 9 - Quantos salmos devem ser ditos nas Horas noturnas
No tempo
de inverno acima citado, diga-se em primeiro lugar o versículo, repetido três vezes:
“Senhor, abrireis os meus lábios e minha boca anunciará vosso louvor”, ao qual deve
ser acrescentado o salmo terceiro e o “Glória”. Depois desse, o salmo nonagésimo
quarto, com antífona, ou então cantado. Segue-se o Ambrosiano e depois seis salmos
com antífonas. Recitados esses e dito o versículo, o Abade dê a bênção; depois,
achando-se todos sentados nos bancos sejam lidas pelos irmãos, um de cada vez, três
lições do livro que está sobre a estante.
Entre elas
cantem-se três responsórios. Dois destes responsórios são ditos sem “Glória”, porém,
depois da terceira lição, quem está cantando diga o “Glória”. Quando esse começar,
levantem-se logo todos de seus assentos em honra e reverência à Santíssima Trindade.
Leiam-se,
nas Vigílias, os livros de autoria divina, tanto do Antigo como do Novo Testamento,
e também as exposições que sobre eles fizeram os Padres católicos conhecidos e ortodoxos.
A essas três lições com seus responsórios, sigam-se os seis salmos restantes cantados
com “Aleluia”. Vêm, em seguida, a lição do Apóstolo, que deve ser recitada de cor,
o versículo e a súplica da litania, isto é, “Kyrie eleison”, e assim terminem as
Vigílias noturnas.
CAPÍTULO 10 - Como será celebrado no verão o louvor divino
De Páscoa
até primeiro de novembro, mantenha-se, quanto à salmodia, a mesma medida acima determinada;
as lições do livro, porém, por causa da brevidade das noites, não são lidas; em
lugar dessas três lições, seja recitada de memória uma do Antigo Testamento, seguida
de responsório breve, e cumpram-se todas as outras coisas como ficou dito acima,
isto é: que nunca se digam nas Vigílias noturnas, menos de doze salmos além do terceiro
e do nonagésimo quarto.
CAPÍTULO 11 - Como serão celebradas as Vigílias aos domingos
Aos domingos,
levante-se mais cedo para as Vigílias, nas quais se mantenha a mesma medida já referida,
isto é: modulados, conforme dispusemos acima, seis salmos e o versículo, e estando
todos convenientemente e pela ordem assentados nos bancos, leiam-se no livro, como
já mencionamos, quatro lições com seus responsórios; só o quarto responsório é dito
por quem está cantando o “Gloria”, ao começo do qual se levantem todos com reverência.
A essas lições sigam-se, por ordem, outros seis salmos com antífonas, como os anteriores,
e o versículo.
Terminados
esses, voltam-se a ler outras quatro lições com seus responsórios, na mesma ordem
que acima. Em seguida, digam-se três cânticos dos Profetas que o Abade determinar,
os quais sejam salmodiados com “Aleluia”. Dito também o versículo, sejam lidas com
a bênção do Abade outras quatro lições do Novo Testamento, na mesma ordem que acima.
Depois do quarto responsório o abade entoa o hino “Te Deum laudamus”.
Uma vez
terminado, leia o Abade o Evangelho, permanecendo todos de pé com reverência e temor.
Quando essa leitura terminar, respondam todos: “Amém”; e o abade prossegue logo
com o hino “Te decet laus”, e, dada a bênção, comecem as Matinas. Essa disposição
das Vigílias para o domingo deve ser mantida, como está, em todo tempo, tanto no
verão quanto no inverno, a não ser que, por acaso, e que tal não aconteça, os monges
se levantem mais tarde e se tenha de abreviar algo das lições ou dos responsórios.
Haja, porém,
todo o cuidado para que isso não venha a suceder; se, porém, acontecer, satisfaça
dignamente a Deus no oratório, aquele por cuja culpa veio esse fato a verificar-se.
CAPÍTULO 12 - Como será realizada a solenidade das matinas
Nas Matinas
de domingo, diga-se em primeiro lugar o salmo sexagésimo sexto, sem antífona, em
tom direto. Diga-se, depois, o quinquagésimo, com “Aleluia”. Em seguida, o centésimo
décimo sétimo e o sexagésimo segundo; seguem-se então os “Benedicite”, e os “Laudate”,
uma lição do Apocalipse de cor, o responsório, o ambrosiano, o versículo, o cântico
do Evangelho, a litania, e está terminado.
CAPÍTULO 13 - Como serão realizadas as matinas em dia comum
Nos dias
comuns, porém, a solenidade das Matinas seja assim realizada, a saber: recita-se
o salmo sexagésimo sexto sem antífona, um tanto lentamente, como no domingo, de
modo que todos cheguem para o quinquagésimo, o qual deve ser recitado com antífona.
Depois desse,
recitem-se outros dois salmos, segundo o costume, isto é, segunda-feira, o quinto
e o trigésimo quinto; terça-feira, o quadragésimo segundo e o quinquagésimo sexto;
quarta-feira, o sexagésimo terceiro e o sexagésimo quarto; quinta-feira, o octogésimo
sétimo e o octogésimo nono; sexta-feira, o septuagésimo quinto e o nonagésimo primeiro;
sábado, o centésimo quadragésimo segundo e o cântico do Deuteronômio, que deve ser
dividido em dois “Gloria”.
Nos outros
dias, diga-se um cântico dos Profetas, um para cada dia, como canta a Igreja Romana.
A esses
seguem-se os “Laudate”, depois uma lição do Apóstolo recitada de memória, o responsório,
o ambrosiano, o versículo, o cântico do Evangelho, a litania, e está completo.
Não termine,
de forma alguma, o ofício da manhã ou da tarde sem que o superior diga, em último
lugar, por inteiro e de modo que todos ouçam, a oração dominical, por causa dos
espinhos de escândalos que costumam surgir, de maneira que, interpelados os irmãos
pela promessa da própria oração que estão rezando: “perdoai-nos assim como nós perdoamos”,
se preservem de tais vícios. Nos demais ofícios diga-se a última parte dessa oração,
de modo a ser respondido por todos: “Mas livrai-nos do mal”.
CAPÍTULO 14 - Como serão celebradas as Vigílias nos natalícios
dos Santos
Nas festas
dos Santos e em todas as solenidades, proceda-se do mesmo modo que indicamos para
o domingo exceto que, quanto aos salmos, antífonas e lições, sejam ditos os que
pertencem à própria festa; mantenha-se, porém, a mesma disposição acima descrita.
CAPÍTULO 15 - Em quais épocas será dito o Aleluia
Da Santa
Páscoa até Pentecostes, diga-se sem interrupção o “Aleluia” tanto nos salmos como
nos responsórios. De Pentecostes até o início da Quaresma, diga-se todas as noites,
mas somente com os seis últimos salmos dos noturnos . Em todo domingo, fora da Quaresma,
digam-se com “Aleluia” os Cânticos, as Matinas, Prima, Terça, Sexta e Noa; entretanto,
as Vésperas sejam ditas com antífona . Quanto aos responsórios, nunca são ditos
com “Aleluia”, a não ser de Páscoa até Pentecostes.
CAPÍTULO 16 - Como serão celebrados os ofícios durante o dia
Diz o Profeta:
“Louvei-vos sete vezes por dia”. Assim, também nós realizaremos esse sagrado número,
se, por ocasião das Matinas, Prima, Terça, Sexta, Noa, Vésperas e Completas, cumprirmos
os deveres da nossa servidão; porque foi destas Horas do dia que ele disse: “Louvei-vos
sete vezes por dia”. Quanto às Vigílias noturnas, diz da mesma forma o mesmo profeta:
“Levantava-me no meio da noite para louvar-vos”.
Rendamos,
portanto, nessas horas, louvores ao nosso Criador “sobre os juízos da sua justiça”,
isto é, nas Matinas, Prima, Terça, Sexta, Noa, Vésperas e Completas; e à noite,
levantemo-nos para louvá-Lo.
CAPÍTULO 17 - Quantos salmos deverão ser cantados nessas mesmas
horas
Já dispusemos
a Ordem da Salmodia, dos Noturnos e das Matinas; vejamos agora a das Horas seguintes.
À Hora de Prima sejam ditos: três salmos separadamente, não sob um só “Gloria”,
e o hino da mesma Hora, que virá depois do versículo “ Ó Deus, vinde em meu auxílio”
e antes que sejam começados os salmos. Terminados os três salmos, recitem-se uma
lição, o versículo, “Kyrie eleison”, e façam-se as orações finais.
Terça, Sexta,
e Noa sejam celebradas segundo a mesma ordem, isto é: versículo, hinos de cada uma
das Horas, três salmos, lição e versículo, “Kyrie eleison” e as orações finais.
Se a comunidade for grande, sejam os salmos cantados com antífona; se for pequena,
em tom direto. A sinaxe vespertina consta de quatro salmos com antífonas; depois
dos quais deve ser recitada uma lição; em seguida o responsório, o ambrosiano, o
versículo, o cântico do Evangelho, a litania, a oração dominical e as orações finais.
As Completas
compreendem a recitação de três salmos, que devem ser ditos em tom direto, sem antífona;
Depois deles, o hino da mesma Hora, uma lição, o versículo, o “Kyrie eleison”, a
bênção e as orações finais.
CAPÍTULO 18 - Em que ordem os mesmos salmos devem ser ditos
Diga-se
o versículo: “Ó Deus, vinde em meu auxílio; apressai-vos, Senhor, em socorrer-me”,
o Glória, e depois o Hino de cada uma das Horas . Em seguida, na hora de Prima do
domingo, devem ser ditas quatro divisões do salmo centésimo décimo oitavo; nas demais
Horas, isto é, Terça, Sexta e Noa digam-se três divisões do referido salmo centésimo
décimo oitavo. Na Prima da Segunda feira, digam-se três salmos, a saber: o primeiro,
o segundo e o sexto.
E assim
em cada dia, até o domingo, digam-se na Prima, por ordem, três salmos até o décimo
nono; de tal modo que sejam divididos em dois o salmo nono e o décimo sétimo. E
faça-se assim, para que sempre se comecem as Vigílias do domingo pelo vigésimo.
Na Terça,
Sexta e Noa da segunda-feira, digam-se as nove divisões que restam do salmo centésimo
décimo oitavo, três em cada Hora. Percorrido, portanto, o salmo centésimo décimo
oitavo nos dois dias - domingo e segunda-feira,
já na Terça, Sexta e Noa da terça-feira, salmodiam-se três salmos de cada vez, do
centésimo décimo nono até o centésimo vigésimo sétimo, isto é, nove salmos.
Repitam-se
sempre esses salmos pelas mesmas Horas até o domingo, conservando-se de maneira
uniforme e todos os dias a disposição dos hinos, bem assim como a das lições e versículos;
e, assim sendo, comece-se sempre no domingo com o centésimo décimo oitavo.
As Vésperas
sejam cantadas diariamente pela modulação de quatro salmos. Esses salmos vão do
centésimo nono até o centésimo quadragésimo sétimo, excetuados alguns que dentre
esses foram tirados para outras Horas, isto é, do centésimo décimo sétimo ao centésimo
vigésimo sétimo, mais o centésimo trigésimo terceiro e o centésimo quadragésimo
segundo; todos os demais devem ser ditos nas Vésperas. Como, porém, ficam faltando
três salmos, devem ser divididos os mais longos dentre os supracitados, isto é,
o centésimo trigésimo oitavo, o centésimo quadragésimo terceiro e o centésimo quadragésimo
quarto.
O centésimo
décimo sexto, por ser pequeno, seja unido ao centésimo décimo quinto. Distribuída,
pois, a ordem dos salmos vespertinos, quanto ao restante - isto é, a lição, o responsório, o hino, o versículo
e o cântico - proceda-se como determinamos
acima.
Nas Completas,
repitam-se todos os dias os mesmos salmos: o quarto, o nonagésimo e o centésimo
trigésimo terceiro.
Disposta
a ordem da salmodia diurna, distribuam-se igualmente todos os salmos que restam,
pelas sete Vigílias da noite, partindo-se, naturalmente, os que, dentre eles forem
mais longos e estabelecendo-se doze para cada noite.
Advertimos
de modo especial que, se porventura essa distribuição dos salmos não agradar a alguém,
que ordene como achar melhor; mas, seja como for, atenda a que seja salmodiado cada
semana, integralmente, o saltério de cento e cinqüenta salmos e que se comece sempre,
de novo, nas Vigílias do domingo, porque os monges que, no decurso da semana, recitam
menos do que o saltério com os cânticos costumeiros revelam ser por demais frouxo
o serviço de sua devoção.
Pois lemos
que os nossos santos Pais realizavam, corajosamente, em um só dia isso que oxalá
nós indolentes, cumprimos no decorrer de toda uma semana.
CAPÍTULO 19 - Da maneira de salmodiar
Cremos estar
em toda parte a presença divina e que “os olho do Senhor vêem em todo lugar os bons
e os maus”. Creiamos nisso principalmente e sem dúvida alguma, quando estamos presentes
ao Ofício Divino. Lembremo-nos, pois, sempre, do que diz o Profeta: “Servi ao Senhor
no temor”. E também: “Salmodiai sabiamente”. E ainda: “Cantar-vos-ei em face dos
anjos”. Consideremos, pois, de que maneira cumpre estar na presença da Divindade
e de seus anjos; e tal seja a nossa presença na salmodia, que nossa mente concorde
com nossa voz.
CAPÍTULO 20 - Da reverência na oração
Se queremos
sugerir alguma coisa aos homens poderosos, não ousamos fazê-lo a não ser com humildade
e reverência; quanto mais não se deverá empregar toda a humildade e pureza de devoção
para suplicar ao Senhor Deus de todas as coisas? E saibamos que seremos ouvidos,
não com o muito falar, mas com a pureza do coração e a compunção das lágrimas. Por
isso, a oração deve ser breve e pura, a não ser que, por ventura, venha a prolongar-se
por um afeto de inspiração da graça divina.
Em comunidade,
porém, que a oração seja bastante abreviada e, dado o sinal pelo superior, levantem-se
todos ao mesmo tempo.
CAPÍTULO 21 - Dos decanos do mosteiro
Se a comunidade
for numerosa, sejam escolhidos, dentre os seus membros, irmãos de bom testemunho
e de vida monástica santa, e constituídos Decanos; empreguem sua solicitude em tudo
o que diz respeito às suas decanias, conforme os mandamentos de Deus e os preceitos
do seu Abade. Que os Decanos eleitos sejam tais que possa o Abade, com segurança,
repartir com eles o seu ônus ; e não sejam escolhidos pela ordem na comunidade,
mas segundo o mérito da vida e a doutrina da sabedoria.
Se algum
dentre os Decanos, acaso inchado por qualquer soberba, for julgado merecedor de
repreensão, seja repreendido uma, duas, até três vezes; se não quiser emendar-se
seja destituído e ponha-se em seu lugar outro que seja digno. O mesmo determinamos
a respeito do Prior.
CAPÍTULO 22 - Como devem dormir os monges
Durma cada
um em uma cama. Tenham seus leitos de acordo com o modo de viver monástico e conforme
o abade distribuir. Se for possível, durmam todos num mesmo lugar; se, porém, o
número não o permitir, durmam aos grupos de dez ou vinte, em companhia de monges
mais velhos que sejam solícitos para com eles. Esteja acesa nesse recinto uma candeia
sem interrupção, até o amanhecer.
Durmam vestidos
e cingidos com cintos ou cordas, mas de forma que não tenham, enquanto dormem, as
facas a seu lado, a fim de que não venham elas a ferir, durante o sono, quem está
dormindo; e de modo que estejam os monges sempre prontos e, assim, dado o sinal,
levantando-se sem demora, apressem-se mutuamente e antecipem-se no Ofício Divino,
porém com toda gravidade e modéstia. Que os irmãos mais jovens não tenham leitos
juntos, mas intercalados com os dos mais velhos.
Levantando-se
para o Ofício Divino chamem-se mutuamente, para que não tenham desculpas os sonolentos;
façam-no, porém, com moderação.
CAPÍTULO 23 - Da excomunhão pelas faltas
Se houver
algum irmão teimoso ou desobediente, soberbo ou murmurador, ou em algum modo contrário
à santa Regra, e desprezador dos preceitos dos seus superiores, seja ele admoestado,
conforme o preceito de nosso Senhor, a primeira e a segunda vez, em particular pelos
seus superiores. Se não se emendar, seja repreendido publicamente, diante de todos.
Se porém, nem assim se corrigir sofra a excomunhão, caso possa compreender o que
seja essa pena. Se, entretanto, está de ânimo endurecido, seja submetido a castigo
corporal.
CAPÍTULO 24 - Qual deve ser o modo de proceder-se à excomunhão
A medida
tanto da excomunhão como da disciplina, deve regular-se segundo a espécie da falta,
e esta espécie das faltas está sob critério do julgamento do abade. Se algum irmão
incorrer em faltas mais leves, seja privado da participação à mesa. Será este o
proceder de quem está privado da mesa: não entoe salmo, nem antífona no oratório,
nem recite lição até que tenha sido dada a devida satisfação.
Receba sozinho
a sua refeição depois da refeição dos irmãos; de modo que, por exemplo, se os irmãos
vão tomar a refeição à hora sexta, aquele irmão o fará à hora nona; se os irmãos
à nona, ele à hora de Vésperas, até que tenha obtido o perdão por conveniente satisfação.
CAPÍTULO 25 - Das faltas mais graves
Que seja
suspenso da mesa e também do oratório o irmão culpado de faltas mais graves. Que
nenhum irmão se junte a ele em nenhuma espécie de relação, nem para lhe falar. Esteja
sozinho no trabalho que lhe for determinado, permanecendo no luto da penitência,
ciente daquela terrível sentença do Apóstolo que diz: “Este homem foi assim entregue
à morte da carne para que seu espírito se salve no dia do Senhor”.
Faça a sós
a sua refeição na medida e na hora que o Abade julgar convenientes, não seja abençoado
por ninguém que por ele passe, nem também a comida que lhe é dada.
CAPÍTULO 26 - Dos que sem autorização se juntam aos excomungados
Se algum
irmão ousar juntar-se, de qualquer modo, ao irmão excomungado sem ordem do Abade,
ou de falar com ele ou mandar-lhe um recado, aplique-se-lhe o mesmo castigo de excomunhão.
CAPÍTULO 27 - Como deve o Abade ser solícito para com os excomungados
Cuide o
Abade com toda a solicitude dos irmãos que caírem em faltas, porque “não é para
os sadios que o médico é necessário, mas para os que estão doentes”. Por isso, como
sábio médico, deve usar de todos os meios, enviar “simpectas”, isto é, irmãos mais
velhos e sábios que, em particular, consolem o irmão flutuante e o induzam a uma
humilde satisfação, o consolem “para que não seja absorvido por demasiada tristeza”,
mas, como diz ainda o Apóstolo, “confirme-se a caridade para com ele”, e rezem todos
por ele.
O Abade
deve, pois, empregar extraordinária solicitude e deve empenhar-se com toda sagacidade
e indústria, para que não perca alguma das ovelhas a si confiadas. Reconhecerá,
pois, ter recebido a cura das almas enfermas, e não a tirania sobre as sãs; tema
a ameaça do profeta, através da qual Deus nos diz: “o que víeis gordo assumíeis
e o que era fraco lançáveis fora”.
Imite o
pio exemplo do bom pastor que, deixando as noventa e nove ovelhas nos montes, saiu
a procurar uma única ovelha que desgarrara, de cuja fraqueza a tal ponto se compadeceu,
que se dignou colocá-la em seus sagrados ombros e assim trazê-la de novo ao aprisco.
CAPÍTULO 28 - Daqueles que muitas vezes corrigidos não quiserem
emendar-se
Se algum
irmão freqüentes vezes corrigido por qualquer culpa não se emendar, nem mesmo depois
de excomungado, que incida sobre ele uma correção mais severa, isto é, use-se o
castigo das varas.
Se nem assim
se corrigir, ou se por acaso, o que não aconteça, exaltado pela soberba, quiser
mesmo defender suas ações, faça então o Abade como sábio médico: se aplicou as fomentações,
os ungüentos das exortações, os medicamentos das divinas Escrituras e enfim a cauterização
da excomunhão e das pancadas de vara e vir que nada obtém com sua indústria, aplique
então o que é maior: a sua oração e a de todos os irmãos por ele, para que o Senhor,
que tudo pode, opere a salvação do irmão enfermo.
Se nem dessa
maneira se curar, use já agora o Abade o ferro da amputação, como diz o Apóstolo:
“Tirai o mal do meio de vós” e também: “Se o infiel se vai, que se vá”, a fim de
que uma ovelha enferma não contagie todo o rebanho.
CAPÍTULO 29 - Se devem ser novamente recebidos os irmãos que
saem do mosteiro
O irmão
que sai do mosteiro por culpa própria, se quiser voltar, prometa, antes, uma completa
emenda do vício que foi a causa de sua saída, e então seja recebido no último lugar,
para que assim se prove a sua humildade. Se de novo sair, seja assim recebido até
três vezes, já sabendo que depois lhe será negado todo caminho de volta.
CAPÍTULO 30 - De que maneira serão corrigidos os de menor
idade
Cada idade
e cada inteligência deve ser tratada segundo medidas próprias. Por isso, os meninos
e adolescentes ou os que não podem compreender que espécie de pena é, na verdade,
a excomunhão, quando cometem alguma falta, sejam afligidos com muitos jejuns ou
castigados com ásperas varas, para que se curem.
CAPÍTULO 31 - Como deve ser o Celeireiro do mosteiro
Seja escolhido
para Celeireiro do mosteiro, dentre os membros da comunidade, um irmão sábio, maduro
de caráter, sóbrio, que não coma muito, não seja orgulhoso, nem turbulento, nem
injuriador, nem tardo, nem pródigo, mas temente a Deus; que seja como um pai para
toda a comunidade. Tome conta de tudo; nada faça sem ordem do Abade. Cumpra o que
for ordenado. Não entristeça seus irmãos. Se algum irmão, por acaso, lhe pedir alguma
coisa desarrazoadamente, não o entristeça desprezando-o, mas negue, razoavelmente,
com humildade, ao que pede mal.
Guarde a
sua alma, lembrando-se sempre daquela palavra do Apóstolo: “Quem tiver administrado
bem, terá adquirido para si um bom lugar”. Cuide com toda solicitude dos enfermos,
das crianças, dos hóspedes e dos pobres, sabendo, sem dúvida alguma, que deverá
prestar contas de todos esses, no dia do juízo. Veja todos os objetos do mosteiro
e demais utensílios como vasos sagrados do altar. Nada negligencie.
Não se entregue
à avareza, nem seja pródigo e esbanjador dos bens do mosteiro; mas faça tudo com
medida e conforme a ordem do Abade.
Tenha antes
de tudo humildade e não possuindo a coisa com que atender a alguém, entregue-lhe
como resposta uma boa palavra, conforme o que está escrito. “A boa palavra está
acima da melhor dádiva”. Mantenha sob seus cuidados tudo o que o Abade determinar,
não presuma, porém, a respeito do que lhe tiver proibido. Ofereça aos irmãos a parte
estabelecida para cada um, sem arrogância ou demora, a fim de que não se escandalizem,
lembrado da palavra divina sobre o que deve merecer “quem escandalizar um destes
pequeninos”.
Se a comunidade
for numerosa, sejam-lhe dados auxiliares com a ajuda dos quais cumpra, com o espírito
em paz, o ofício que lhe foi confiado. Às horas convenientes seja dado o que deve
ser dado e pedido o que deve ser pedido, para que ninguém se perturbe nem se entristeça
na casa de Deus.
CAPÍTULO 32 - Das ferramentas e objetos do mosteiro
Quanto aos
utensílios do mosteiro em ferramentas ou vestuário, ou quaisquer outras coisas,
procure o Abade irmãos de cuja vida e costumes esteja seguro e, como julgar útil,
consigne-lhes os respectivos objetos para tomar conta e recolher. Mantenha o abade
um inventário desses objetos, para que saiba o que dá e o que recebe, à medida que
os irmãos se sucedem no desempenho do que lhes for incumbido. Se algum deixar as
coisas do mosteiro sujas ou as tratar negligentemente, seja repreendido; se não
se emendar, seja submetido à disciplina regular.
CAPÍTULO 33 - Se os monges devem possuir alguma coisa de próprio
Especialmente
este vício deve ser cortado do mosteiro pela raiz; ninguém ouse dar ou receber alguma
coisa sem ordem do Abade, nem ter nada de próprio, nada absolutamente, nem livro,
nem tabuinhas, nem estilete, absolutamente nada, já que não lhes é lícito ter a
seu arbítrio nem o próprio corpo nem a vontade; porém, todas as coisas necessárias
devem esperar do pai do mosteiro, e não seja lícito a ninguém possuir o que o Abade
não tiver dado ou permitido.
Seja tudo
comum a todos, como está escrito, nem diga nem tenha alguém a presunção de achar
que alguma coisa lhe pertence. Se for surpreendido alguém a deleitar-se com este
péssimo vício, seja admoestado primeira e segunda vez, se não se emendar, seja submetido
à correção.
CAPÍTULO 34 -Se todos devem
receber igualmente o necessário
Como está
escrito, repartia-se para cada um conforme lhe era necessário. Não dizemos, com
isso, que deva haver acepção de pessoas, o que não aconteça, mas sim consideração
pelas fraquezas, de forma que quem precisar de menos dê graças a Deus e não se entristeça
por isso; quem precisar de mais, humilhe-se em sua fraqueza e não se orgulhe por
causa da misericórdia que obteve. E, assim, todos os membros da comunidade estarão
em paz. Antes de tudo, que não surja o mal da murmuração em qualquer palavra ou
atitude, seja qual for a causa.
Se alguém
for assim surpreendido, seja submetido a castigo mais severo.
CAPÍTULO 35 - Dos semanários da cozinha
Que os irmãos
se sirvam mutuamente e ninguém seja dispensado do ofício da cozinha, a não ser no
caso de doença ou se se tratar de alguém ocupado em assunto de grande utilidade;
pois por esse meio se adquire maior recompensa e caridade. Para os fracos, arranjem-se
auxiliares, a fim de que não o façam com tristeza; ainda conforme o estado da comunidade
e a situação do lugar, que todos tenham auxiliares. Se a comunidade for numerosa,
seja o Celeireiro dispensado da cozinha, e também, como dissemos, os que estiverem
ocupados em assuntos de maior utilidade.
Os demais
sirvam-se mutuamente na caridade. O que vai terminar sua semana faça, no sábado,
a limpeza; lavem as toalhas com que os irmãos enxugam as mãos e os pés; ambos, tanto
o que sai como o que entra, lavem os pés de todos.
Devolva
aquele ao Celeireiro os objetos do seu ofício, limpos e perfeitos; entregue-os outra
vez o Celeireiro ao que entra, para que saiba o que dá e o que recebe.
Os semanários
recebam, uma hora antes da refeição, além da porção estabelecida, um pouco de pão
e algo para beber, a fim de que, na hora da refeição, sirvam a seus irmãos sem murmurar
e sem grande cansaço; no entanto, nos dias solenes, esperem até depois da Missa.
No domingo, logo que acabem as Matinas, os semanários que entram e os que saem prostrem-se
no oratório, aos pés de todos, pedindo que orem por eles. Aquele que termina a semana
diga o seguinte versículo: “Bendito é o Senhor Deus que me ajudou e consolou”.
Dito isso
três vezes e recebida a bênção, sai; prossiga o que começa a semana, dizendo: “Ó
Deus vinde em meu auxílio; Senhor, apressai-vos em socorrer-me”. Também isso seja
repetido três vezes por todos e, recebida a bênção, entre no seu ofício.
CAPÍTULO 36 - Dos irmãos enfermos
Antes de
tudo e acima de tudo deve tratar-se dos enfermos de modo que se lhes sirva como
verdadeiramente ao Cristo, pois Ele disse: “Fui enfermo e visitastes-me” e “Aquilo
que fizestes a um destes pequeninos, a mim o fizestes”. Mas que os próprios enfermos
considerem que são servidos em honra a Deus e não entristeçam com sua superfluidade
aos irmãos que lhes servem. No entanto, devem os doentes ser levados pacientemente,
porque por meio deles se adquire recompensa mais copiosa. Portanto, tenha o abade
o máximo cuidado para que não sofram nenhuma negligência.
Haja uma
cela destinada especialmente a estes irmãos enfermos, e um servo temente a Deus,
diligente e solícito. O uso dos banhos seja oferecido aos doentes sempre que convém;
mas aos sãos, e sobretudo aos jovens, seja raramente concedido.
Também a
alimentação de carnes seja concedida aos enfermos por demais fracos, para que se
restabeleçam, mas logo que tiverem melhorado abstenham-se todos de carnes, como
de costume. Que tenha, pois, o Abade o máximo cuidado em que os enfermos não sejam
negligenciados nem pelos Celeireiros nem pelos que lhes servem, pois sobre ele recai
qualquer falta que tenha sido cometida pelos discípulos.
CAPÍTULO 37 - Dos velhos e das crianças
Ainda que
a própria natureza humana seja levada à misericórdia para com estas idades, velhos
e crianças, no entanto que a autoridade da Regra olhe também por eles. Considere-se
sempre a fraqueza que lhes é própria, e não se mantenha para com eles o rigor da
Regra no que diz respeito aos alimentos; haja sim, em relação a eles, uma pia consideração
e tenham antecipadas as horas regulares.
CAPÍTULO 38 - Do leitor semanário
Às mesas
dos irmãos não deve faltar a leitura; não deve ler aí quem quer que, por acaso,
se apodere do livro, mas sim o que vai ler durante toda a semana, a começar do domingo.
Depois da Missa e da Comunhão, peça a todos que orem por ele para que Deus afaste
dele o espírito de soberba. No oratório, recitem todos, por três vezes, o seguinte
versículo, iniciando-o o próprio leitor: “Abri, Senhor, os meus lábios, e minha
boca anunciará vosso louvor”; e tendo assim recebido a bênção, entre a ler.
Faça-se
o máximo silêncio, de modo que não se ouça nenhum cochicho ou voz, a não ser a do
que está lendo. Quanto às coisas que são necessárias aos que estão comendo e bebendo,
sirvam-se mutuamente os irmãos, de tal modo que ninguém precise pedir coisa alguma.
Se porém se precisar de qualquer coisa, seja antes pedida por algum som ou sinal
do que, por palavra.
Nem ouse
alguém fazer alguma pergunta sobre a leitura, ou outro assunto qualquer, para que
se não dê ocasião, a não ser que o superior, porventura, queira dizer, brevemente,
alguma coisa, para edificação. O leitor semanário, antes de começar a ler, recebe
o “misto” por causa da Comunhão e para que não aconteça ser-lhe pesado suportar
o jejum; faça, porém, depois, a refeição com os semanários da cozinha e os serventes.
Não leiam nem cantem os irmãos segundo a ordem da comunidade, mas façam-no aqueles
que edificam os ouvintes.
CAPÍTULO 39 - Da medida da comida
Cremos que
são suficientes para a refeição cotidiana, quer seja esta à sexta ou à nona hora,
em todas as mesas, dois pratos de cozidos, por causa das fraquezas de muitos, a
fim de que aquele que não puder, por acaso, comer de um prato, coma do outro. Portanto
dois pratos de cozidos bastem a todos os irmãos; e se houver frutas ou legumes frescos,
sejam acrescentados em terceiro lugar. Seja suficiente uma libra de pão bem pesada,
para o dia todo, quer haja uma só refeição, quer haja jantar e ceia.
Se houver
ceia, seja guardada pelo Celeireiro a terça parte da libra e entregue aos que vão
cear.
Mas, se
por acaso tiverem feito um trabalho maior, estará ao critério e em poder do Abade
acrescentar, se convier, alguma coisa, afastados antes de mais nada excessos de
comida, e de modo que nunca sobrevenha ao monge a indigestão, porque nada é tão
contrário a tudo o que é cristão como os excessos na comida, conforme diz Nosso
Senhor: “Cuidai que os vossos corações não se tornem pesados pela gula”. Aos meninos
de pouca idade não se sirva a mesma quantidade, mas sim menos que aos maiores, guardada
em tudo a sobriedade.
Abstenham-se
todos completamente de carnes de quadrúpedes, exceto os doentes demasiadamente fracos.
CAPÍTULO 40 - Da medida da bebida
Cada um
recebe de Deus um dom particular, este de um modo, aquele de outro; por isso, é
com algum escrúpulo que estabelecemos nós a medida para a alimentação de outros;
no entanto, atendendo à necessidade dos fracos, achamos ser suficiente, para cada
um, uma hêmina de vinho por dia. Aqueles, porém, aos quais Deus dá a força de tolerar
a abstinência, saibam que receberão recompensa especial.
Se a necessidade
do lugar, o trabalho ou o rigor do verão exigir mais, fique ao arbítrio do superior,
considerando em tudo que não sobrevenha saciedade ou embriaguez. Ainda que leiamos
não ser absolutamente próprio dos monges fazer uso do vinho, como em nossos tempos
disso não se podem persuadir os monges, ao menos convenhamos em que não bebamos
até a saciedade, mas parcamente, porque “o vinho faz apostatar mesmo os sábios”.
Onde, porém,
a necessidade do lugar exigir que nem a referida medida se possa encontrar, mas
muito menos ou absolutamente nada, bendigam a Deus os que ali vivem e não murmurem:
antes de tudo exortamo-los a que vivam sem murmurações.
CAPÍTULO 41 - A que horas convém fazer as refeições
Da Santa
Páscoa até Pentecostes, façam os irmãos a refeição à hora sexta e ceiem à tarde.
A partir de Pentecostes, entretanto, por todo o verão, se os monges não têm os trabalhos
dos campos ou não os perturba o excesso do verão, jejuem quarta e sexta-feira até
a hora nona; nos demais dias jantem à hora sexta. Se tiverem trabalho nos campos
ou se o rigor do verão for excessivo, o jantar deve ser mantido à hora sexta: ao
Abade caiba tomar a providência.
E, assim,
que tempere e disponha tudo, de modo que as almas se salvem e que façam os irmãos,
sem justa murmuração, o que têm de fazer. De 14 de setembro até o início da Quaresma
façam a refeição sempre à hora nona. Durante a Quaresma, entretanto, até a Páscoa
façam-na à hora de Vésperas. Sejam essas celebradas de tal modo, que os irmãos não
precisem, à refeição, da luz de uma lâmpada, mas que tudo esteja terminado com a
luz do dia.
E mesmo
em todas as épocas esteja tanto a hora da Ceia como a do jantar de tal modo disposta,
que tudo se faça sob a luz do dia.
CAPÍTULO 42 - Que ninguém fale depois das Completas
Os monges
devem, em todo tempo, esforçar-se por guardar o silêncio, mas principalmente nas
horas da noite. Por isso, em qualquer época do ano, seja de jejum, seja a época
em que há jantar; se for época em que há jantar, logo que se levantarem da refeição,
sentem-se todos juntos e leia um deles as Colações ou as “Vidas dos Pais”, ou mesmo
outra coisa que edifique os ouvintes; não, porém, o Heptateuco ou o livro dos Reis,
porque não seria útil, às inteligências fracas, ouvir essas partes da Escritura,
nesta hora; sejam lidas, porém, em outras horas.
Se, entretanto,
for dia de jejum, recitadas as Vésperas, depois de pequeno intervalo, dirijam-se
logo para a leitura das Colações, conforme dissemos; e, lidas quatro ou cinco folhas
ou quanto a hora permitir, reúnam-se todos os que vão chegando no decorrer da leitura,
isto no caso de alguém ter ficado ocupado em ofício que lhe fora confiado.
Estando,
pois, todos juntos, recitem as Completas; saindo das Completas, não haja mais licença
para ninguém falar o que quer que seja. Se alguém for encontrado transgredindo esta
regra do silêncio, seja submetido a severo castigo; exceto se sobrevier alguma necessidade
da parte dos hóspedes ou se, por acaso, o Abade ordenar alguma coisa a alguém. Mas
mesmo isso seja feito com suma gravidade e honestíssima moderação.
CAPÍTULO 43 - Dos que chegam tarde ao Ofício Divino ou à mesa
Na hora
do Ofício Divino, logo que for ouvido o sinal, deixando tudo que estiver nas mãos,
corra-se com toda a pressa, mas com gravidade, para que a escurrilidade não encontre
incentivo. Portanto nada se anteponha ao Ofício Divino.
Se alguém
chegar às Vigílias noturnas depois do “Glória” do salmo nonagésimo quarto, que,
por isso, queremos que seja dito de modo muito prolongado e vagarosamente, não fique
no lugar de sua ordem no coro, mas no último de todos ou em lugar à parte determinado
pelo Abade para tais negligentes, a fim de que sejam vistos por ele e por todos;
até que, terminado o Ofício Divino, faça penitência por pública satisfação. Se achamos
que devem ficar no último lugar ou em lugar separado, é para que, vistos por todos,
ao menos, pela própria vergonha, se emendem.
Pois se
permanecessem fora do oratório, haveria talvez algum que ou se acomodaria novamente
e dormiria, ou então se assentaria do lado de fora, ou se entregaria a conversas
e daria ocasião ao maligno; entrem, pois, no recinto para que nem tudo percam e
daí por diante, se emendem.
Nas Horas
diurnas, o que ainda não tiver chegado ao Ofício Divino depois do versículo e do
“Glória” do primeiro salmo que se diz depois do referido versículo, fique no último
lugar, conforme a lei que estabelecemos acima: nem presuma associar-se ao coro dos
que salmodiam, até que tenha feito satisfação, a não ser que o Abade, pelo seu perdão,
dê licença, mas, ainda assim, que o culpado satisfaça por essa falta.
Quanto à
mesa, quem não tiver chegado antes do versículo, de modo que todos digam o versículo
e orem juntos e se sentem ao mesmo tempo à mesa
- quem não tiver chegado a tempo, por negligência ou culpa, seja castigado
por este motivo até duas vezes; se de novo não se emendar, não lhe seja permitida
a participação à mesa comum, mas faça a refeição a sós, separado do consórcio de
todos, sendo-lhe tirada a porção de vinho, até que tenha feito satisfação, e se
tenha emendado.
Seja tratado
da mesma forma quem não estiver presente ao versículo que se diz depois da refeição.
E ninguém presuma servir-se de algum alimento ou bebida antes ou depois da hora
estabelecida. Mas quanto àquele que não quis aceitar alguma coisa que lhe tenha
sido oferecida pelo superior, na hora em que desejar aquilo que antes recusou ou
outra coisa qualquer, absolutamente nada receba, até conveniente emenda.
CAPÍTULO 44 - Como devem fazer satisfação os que tiverem sido
excomungados
Aquele que
por culpas graves tiver sido excomungado do oratório e da mesa, na hora em que no
oratório se termina o Ofício Divino, permaneça prostrado diante das portas do oratório,
sem nada dizer, com o rosto em terra, estendido e inclinado aos pés de todos os
que saem do oratório. E faça isso por tanto tempo, até julgar o Abade que já está
feita a satisfação. Quando vier a ordem do Abade, lance-se aos pés do mesmo Abade
e depois aos de todos, para que rezem por ele.
E, então,
se o Abade mandar, seja recebido no coro, no lugar de ordem que o Abade determinar;
mas de tal modo que não presuma entoar, no oratório, salmo ou lição ou o que quer
que seja, sem que, de novo o Abade ordene. E em todas as Horas, ao terminar o Ofício
Divino, prostre-se por terra, no lugar onde estiver; e assim dê satisfação até que,
de novo, lhe ordene o Abade que cesse daí por diante essa satisfação.
Aqueles
que, por culpas leves, são excomungados apenas da mesa, façam satisfação no oratório,
até a ordem do Abade. Façam-na até que o Abade os abençoe e diga: Basta.
CAPÍTULO 45 - Dos que erram no oratório
Se alguém
errar quando recitar um salmo, responsório, antífona ou lição, e se não se humilhar,
ali mesmo, diante de todos por uma satisfação, sofra castigo maior, de vez que não
quis corrigir, pela humildade, a falta que cometeu por negligência. As crianças
por tal falta recebam pancadas.
CAPÍTULO 46 - Daqueles que cometem faltas em quaisquer outras
coisas
Se alguém,
ocupado em qualquer trabalho na cozinha, no celeiro, no cumprimento de uma ordem,
na padaria, na horta, enquanto trabalha em algum ofício e em qualquer lugar que
seja, cometer alguma falta, quebrar ou perder qualquer coisa, ou exceder-se em qualquer
lugar e não vier imediatamente, diante do abade e da comunidade, espontaneamente,
satisfazer e revelar o seu delito, quando a culpa for conhecida por outro, seja
submetido a maior castigo.
Mas, se
a causa de seu pecado estiver escondida na alma, manifeste-o somente ao abade ou
aos conselheiros espirituais, a alguém que saiba curar as próprias chagas e as dos
outros e não as revela e conta em público.
CAPÍTULO 47 - Como deve ser dado o sinal para o Ofício Divino
Esteja ao
cuidado do Abade o dever de anunciar a hora do Ofício Divino, de dia e de noite;
ele próprio dê o sinal ou então encarregue desse cuidado a um irmão de tal modo
solícito, que todas as coisas se realizem nas horas competentes. Entoem os salmos
e antífonas, depois do Abade, na respectiva ordem, aqueles aos quais for ordenado.
Não presuma cantar ou ler, a não ser quem pode desempenhar esse ofício de modo que
se edifiquem os ouvintes; e seja feito com humildade, gravidade e tremor por quem
o Abade tiver mandado.
CAPÍTULO 48 - Do trabalho manual cotidiano
A ociosidade
é inimiga da alma; por isso, em certas horas devem ocupar-se os irmãos com o trabalho
manual, e em outras horas com a leitura espiritual. Pela seguinte disposição, cremos
poder ordenar os tempos dessas duas ocupações: isto é, que da Páscoa até o dia 14
de setembro, saindo os irmãos pela manhã, trabalhem da primeira hora até cerca da
quarta, naquilo que for necessário. Da hora quarta até mais ou menos o princípio
da hora sexta, entreguem-se à leitura.
Depois da
sexta, levantando-se da mesa, repousem em seus leitos com todo o silêncio; se acaso
alguém quiser ler, leia para si, de modo que não incomode a outro.
Celebre-se
a Noa mais cedo, pelo fim da oitava hora, e de novo trabalhem no que for preciso
fazer até a tarde. Se, porém, a necessidade do lugar ou a pobreza exigirem que se
ocupem, pessoalmente, em colher os produtos da terra, não se entristeçam por isso,
porque então são verdadeiros monges se vivem do trabalho de suas mãos, como também
os nossos Pais e os Apóstolos. Tudo, porém, se faça comedidamente por causa dos
fracos.
De 14 de
setembro até o início da Quaresma, entreguem-se à leitura até o fim da hora segunda,
no fim da qual se celebre a Terça; e até a hora nona trabalhem todos nos afazeres
que lhes forem designados. Dado o primeiro sinal da nona hora, deixem todos os seus
respectivos trabalhos e preparem-se para quando tocar o sinal. Depois da refeição,
entreguem-se às suas leituras ou aos salmos.
Nos dias
da Quaresma, porém, da manhã até o fim da hora terceira, entreguem-se às suas leituras,
e até o fim da décima hora trabalhem no que lhes for designado. Nesses dias de Quaresma,
recebam todos respectivamente livros da biblioteca e leiam-nos pela ordem e por
inteiro; esses livros são distribuídos no início da Quaresma.
Antes de
tudo, porém, designem-se um ou dois dos mais velhos, os quais circulem no mosteiro
nas horas em que os irmãos se entregam à leitura e verão se não há, por acaso, algum
irmão tomado de acédia, que se entrega ao ócio ou às conversas, e não está aplicado
à leitura e não somente é inútil a si próprio como também distrai os outros. Se
um tal for encontrado, o que não aconteça, seja castigado primeira e segunda vez:
se não se emendar, seja submetido à correção regular de tal modo que os demais temam.
Que um irmão
não se junte a outro em horas inconvenientes.
Também no
domingo, entreguem-se todos à leitura, menos aqueles que foram designados para os
diversos ofícios. Se, entretanto, alguém for tão negligente ou relaxado, que não
queira ou não possa meditar ou ler, determine-se-lhe um trabalho que possa fazer,
para que não fique à toa. Aos irmãos enfermos ou delicados designe-se um trabalho
ou ofício, de tal sorte que não fiquem ociosos nem sejam oprimidos ou afugentados
pela violência do trabalho; a fraqueza desses deve ser levada em consideração pelo
Abade.
CAPÍTULO 49 - Da observância da Quaresma
Se bem que
a vida do monge deva ser, em todo tempo, uma observância de Quaresma, como, porém,
esta força é de poucos, por isso aconselhamos os monges a guardarem, com toda a
pureza, a sua vida nesses dias de Quaresma e também a apagarem, nesses santos dias,
todas as negligências dos outros tempos. E isso será feito dignamente, se nos preservamos
de todos os vícios e nos entregamos à oração com lágrimas, à leitura, à compunção
do coração e à abstinência.
Acrescentemos,
portanto, nesses dias, alguma coisa ao encargo habitual da nossa servidão: orações
especiais, abstinência de comida e bebida; e assim ofereça cada um a Deus, de espontânea
vontade, com a alegria do Espírito Santo, alguma coisa além da medida estabelecida
para si; isto é: subtraia ao seu corpo algo da comida, da bebida, do sono, da conversa,
da escurrilidade, e, na alegria do desejo espiritual, espere a Santa Páscoa.
Entretanto,
mesmo aquilo que cada um oferece, sugira-o ao seu Abade, e seja realizado com a
oração e a vontade dele, pois o que é feito sem a permissão do pai espiritual será
reputado como presunção e vanglória e não como digno de recompensa. Portanto, tudo
deve ser feito com a vontade do Abade.
CAPÍTULO 50 - Dos irmãos que trabalham longe do oratório ou
estão em viagem
Os irmãos
que se encontram em um trabalho tão distante que não podem acorrer na devida hora
ao oratório, e tendo o Abade ponderado que assim é, celebrem o Ofício Divino ali
mesmo onde trabalham, dobrando os joelhos, com temor divino. Da mesma forma, os
que são mandados em viagem não deixem passar as horas estabelecidas, mas celebrem-nas
consigo mesmos, como podem e não negligenciem cumprir com o encargo de sua servidão.
CAPÍTULO 51 - Dos irmãos que partem para não muito longe
Não presuma
comer fora o irmão que é mandado a um afazer qualquer e que é esperado no mosteiro
no mesmo dia, ainda que seja instantemente convidado por qualquer pessoa; a não
ser que, porventura, o Abade lhe tenha dado ordem para isso. Se proceder de outra
forma, seja excomungado.
CAPÍTULO 52 - Do oratório do mosteiro
Que o oratório
seja o que o nome indica, nem se faça ou se guarde ali coisa alguma que lhe seja
alheio. Terminado o Ofício Divino, saiam todos com sumo silêncio e tenha-se reverência
para com Deus; de modo que se acaso um irmão quiser rezar em particular, não seja
impedido pela imoderação de outro. Se também outro, porventura, quiser rezar em
silêncio, entre simplesmente e ore, não com voz clamorosa, mas com lágrimas e pureza
de coração.
Quem não
procede desta maneira, não tenha, pois, permissão de, terminado o Ofício Divino,
permanecer no oratório, como foi dito, para que outro não venha a ser perturbado.
CAPÍTULO 53 - Da recepção dos hóspedes
Todos os
hóspedes que chegarem ao mosteiro sejam recebidos como o Cristo, pois Ele próprio
irá dizer: “Fui hóspede e me recebestes”. E se dispense a todos a devida honra,
principalmente aos irmãos na fé e aos peregrinos. Logo que um hóspede for anunciado,
corra-lhe ao encontro o superior ou os irmãos, com toda a solicitude da caridade;
primeiro, rezem em comum e assim se associem na paz. Não seja oferecido esse ósculo
da paz sem que, antes, tenha havido a oração, por causa das ilusões diabólicas.
Nessa mesma saudação mostre-se toda a humildade.
Em todos
os hóspedes que chegam e que saem, adore-se, com a cabeça inclinada ou com todo
o corpo prostrado por terra, o Cristo que é recebido na pessoa deles.
Recebidos
os hóspedes, sejam conduzidos para a oração e depois sente-se com eles o superior
ou quem esse ordenar. Leia-se diante do hóspede a lei divina para que se edifique
e depois disso apresente-se-lhe um tratamento cheio de humanidade. Seja o jejum
rompido pelo superior por causa dos hóspedes; a não ser que se trate de um dos dias
principais de jejum, que não se possa violar; mas os irmãos continuem a observar
as normas de jejum.
Que o Abade
sirva a água para as mãos dos hóspedes; lave o Abade, bem assim como toda a comunidade,
os pés de todos os hóspedes; depois de lavá-los, digam o versículo: “Recebemos,
Senhor, vossa misericórdia no meio de vosso templo”. Mostre-se principalmente um
cuidado solícito na recepção dos pobres e peregrinos, porque sobretudo na pessoa
desses, Cristo é recebido; de resto o poder dos ricos, por si só, já exige que se
lhes prestem honras.
Seja a cozinha
do Abade e dos hóspedes separada, de modo que os irmãos não sejam incomodados, com
a chegada, em horas incertas, dos hóspedes, que nunca faltam no mosteiro. Entrem
todos os anos para o trabalho dessa cozinha dois irmãos que desempenhem bem esse
ofício. Sejam-lhes concedidos auxiliares quando precisarem, para que sirvam sem
murmuração; e do mesmo modo, quando têm menos ocupação, deixem esse ofício, para
trabalhar no que lhes for ordenado.
E não só
em relação a esses, mas em todos os ofícios do mosteiro, seja este o critério: se
precisarem de auxiliares, sejam-lhes concedidos; por outro lado, quando estão livres,
obedeçam ao que lhes for ordenado. Do mesmo modo, cuide do recinto reservado aos
hóspedes um irmão cuja alma seja possuída pelo temor de Deus: haja ali leitos suficientemente
arrumados e seja a casa de Deus sabiamente administrada por monges sábios.
De modo
algum se associe ou converse com os hóspedes quem não tiver recebido permissão:
se encontrar ou vir algum deles, saúde-o humildemente, como dissemos, e, pedida
a bênção, afaste-se, dizendo não lhe ser permitido conversar com os hóspedes.
CAPÍTULO 54 - Se o monge deve receber cartas ou qualquer outra
coisa
Não seja
permitido de modo algum o monge receber ou enviar a seus pais ou a qualquer pessoa
ou um ao outro cartas, eulógias, ou quaisquer pequenos presentes, sem permissão
do abade. E também, se alguma coisa lhe for enviada pelos seus pais, não presuma
recebê-la sem que seja mostrada ao Abade. Se ordenar que a receba, esteja ainda
no poder do Abade ordenar a quem a coisa deve ser dada: e não se entristeça o irmão
a quem, porventura, a coisa fora enviada, a fim de não dar ocasião ao diabo.
Quem presumir
proceder de outra maneira, seja submetido à disciplina regular.
CAPÍTULO 55 - Do vestuário e do calçado dos irmãos
Sejam dadas
vestes aos irmãos de acordo com as condições e temperatura dos lugares em que habitam
porque, nas regiões frias, tem-se necessidade de mais, e nas quentes, de menos.
Cabe ao Abade a consideração disso. Cremos, porém, que, para os lugares de temperatura
mediana, aos monges são suficientes uma cogula e uma túnica para cada um: a cogula
felpuda no inverno, fina ou mais usada no verão, e um escapulário para o trabalho;
para os pés: meias e calçado.
Não se preocupem
os monges com a cor e qualidade de todas essas coisas, mas sejam as que se puderem
encontrar no lugar onde moram e as que puderem ser adquiridas mais barato.
Providencie
o Abade a respeito da medida, para que estas vestes não fiquem curtas para quem
as usa, mas de boa medida. Os que recebem novas entreguem sempre, ao mesmo tempo,
as velhas, que devem ser recolocadas na rouparia, para os pobres. Basta ao monge
possuir duas túnicas e duas cogulas, para a noite e para poder lavá-las; o que houver
a mais é supérfluo e deve ser cortado. E devolvam também os calçados e tudo o que
está velho, quando recebem os novos.
Os que são
mandados em viagem recebam calças, da rouparia, e devolvam-nas lavadas, ao mesmo
lugar, quando voltarem. Suas cogulas e túnicas sejam um pouco melhores que as de
costume; recebam-nas da rouparia e, voltando, restituam-nas.
Como peças
que guarnecem o leito, bastam uma esteira, uma colcha, um cobertor e um travesseiro.
Esses leitos devem ser freqüentemente revistados pelo Abade para que não haja ali
coisas particulares. E aquele com quem for encontrada alguma coisa que não recebeu
do Abade, seja submetido a pesadíssimo castigo. E para que este vício da propriedade
seja amputado pela raiz, seja dado pelo Abade tudo o que é necessário, isto é: cogula,
túnica, meias, calçado, cinto, faca, estilete, agulha, lenço, tabuinhas, para que
se tire a todos a desculpa de necessidade.
No entanto,
considere sempre o Abade aquela sentença dos Atos dos Apóstolos que diz: “Era dado
a cada um conforme precisava”. Assim, pois, considere o Abade as fraquezas dos que
precisam e não a má vontade dos invejosos. Mas, em todas as suas decisões, pense
na retribuição de Deus.
CAPÍTULO 56 - Da mesa do Abade
Tenha sempre
o Abade a sua mesa com os hóspedes e peregrinos. Toda vez, porém, que não há hóspedes,
esteja em seu poder chamar dentre os irmãos os que quiser; mas um ou dois dos mais
velhos devem sempre ser deixados com os irmãos, por causa da disciplina.
CAPÍTULO 57 - Dos artistas do mosteiro
Se há artistas
no mosteiro, que executem suas artes com toda a humildade, se o Abade o permitir.
E se algum dentre eles se ensoberbece em vista do conhecimento que tem de sua arte,
pois parece-lhe que com isso alguma vantagem traz ao mosteiro, que seja esse tal
afastado de sua arte e não volte a ela a não ser que, depois de se ter humilhado,
o Abade, porventura, lhe ordene de novo. Se, dentre os trabalhos dos artistas, alguma
coisa deve ser vendida, cuidem aqueles por cujas mãos devem passar essas coisas
de não ousar cometer alguma fraude.
Lembrem-se
de Ananias e Safira, para que a mesma morte que esses mereceram no corpo não venham
a sofrer na alma aqueles e todos os que cometerem alguma fraude com os bens do mosteiro.
Quanto aos próprios preços, que não se insinue o mal da avareza, mas venda-se sempre
um pouco mais barato do que pode ser vendido pelos seculares, para que em tudo seja
Deus glorificado.
CAPÍTULO 58 - Da maneira de proceder à recepção dos irmãos
Apresentando-se
alguém para a vida monástica, não se lhe conceda fácil ingresso, mas, como diz o
Apóstolo: “Provai os espíritos, se são de Deus”. Portanto, se aquele que vem, perseverar
batendo à porta e se depois de quatro ou cinco dias, sendo-lhe feitas injúrias e
dificuldade para entrar, parece suportar pacientemente e persistir no seu pedido
conceda-se-lhe o ingresso, e permaneça alguns dias na cela dos hóspedes. Fique,
depois, na cela dos noviços, onde esses se exercitam, comem e dormem.
Seja designado
para eles um dos mais velhos, que seja apto a obter o progresso das almas e que
se dedique a eles com todo o interesse. Que haja solicitude em ver se procura verdadeiramente
a Deus, se é solícito para com o Ofício Divino, a obediência e os opróbrios. Sejam-lhe
dadas a conhecer, previamente, todas as coisas duras e ásperas pelas quais se vai
a Deus.
Se prometer
a perseverança na sua estabilidade, depois de decorridos dois meses, leia-se-lhe
por inteiro esta Regra, e diga-se-lhe: Eis a lei sob a qual queres militar: se podes
observá-la entra; mas se não podes, sai livremente. Se ainda ficar, seja então conduzido
à referida cela dos noviços e seja de novo provado, em toda paciência. Passados
seis meses, leia-se-lhe a Regra, a fim que saiba para o que ingressa. Se ainda permanece,
depois de quatro meses, releia-se-lhe novamente a mesma Regra.
E se, tendo
deliberado consigo mesmo, prometer guardar todas as coisas e observar tudo quanto
lhe for ordenado, seja então recebido na comunidade, sabendo estar estabelecido,
pela lei da Regra, que a partir daquele dia não lhe é mais lícito sair do mosteiro,
nem retirar o pescoço ao jugo da Regra, a qual lhe foi permitido recusar ou aceitar
por tão demorada deliberação.
No oratório,
diante de todos, prometa o que vai ser recebido a sua estabilidade e conversação
de seus costumes, e a obediência, diante de Deus e de seus Santos, a fim de que,
se alguma vez proceder de outro modo, saiba que será condenado por aquele de quem
zomba. Desta sua promessa faça uma petição no nome dos Santos cujas relíquias aí
estão e do Abade presente. Escreva tal petição com sua própria mão; ou então, se
não souber escrever, escreva outro rogado por ele, e que o noviço faça um sinal
e a coloque com sua própria mão sobre o altar.
Quando a
tiver colocado, comece logo o seguinte versículo: “Suscipe me, Domine, secundum
eloquium tuum et vivam, et non confundas me ab expectatione mea”. Responda toda
a comunidade este versículo, por três vezes, acrescentando: “Gloria Patri”. Prosterna-se,
então, o irmão noviço aos pés de cada um para que orem por ele; e já daquele dia
em diante seja considerado na comunidade.
Se possui
quaisquer bens, ou os distribua antes aos pobres, ou, por solene doação, os confira
ao mosteiro, nada reservando para si de todas essas coisas: pois sabe que, deste
dia em diante, nem sobre o próprio corpo terá poder. Portanto, seja logo no oratório
despojado das roupas seculares com que está vestido, e seja vestido com as roupas
do mosteiro.
As vestes
que despiu sejam colocadas na rouparia, onde devem ser conservadas, para que, se
algum dia, por persuasão do demônio, consentir em sair do mosteiro - que isso não aconteça! seja expulso, despido
das roupas do mosteiro. Não lhe seja entregue, porém, aquela sua petição que o Abade
tirou de cima do altar, mas fique guardada no mosteiro.
CAPÍTULO 59 - Dos filhos dos nobres ou dos pobres que são
oferecidos
Se porventura,
algum nobre oferece o seu filho a Deus no mosteiro, se o jovem é de menor idade
façam os seus pais a petição de que falamos acima; e envolvam na toalha do altar
essa petição e a mão do menino junto com a oblação, e assim o ofereçam.
Prometam
na presente petição, sob juramento, que nunca, por si, nem por pessoa interposta,
lhe dão coisa alguma, em qualquer tempo, nem lhe proporcionam ocasião de possuir;
ou então, se não quiserem fazer isso e, como esmola, desejam oferecer ao mosteiro
alguma coisa para a própria recompensa, façam a doação das coisas que querem dar
ao mosteiro, reservando o usufruto para si, se assim o desejarem.
E dessa
forma, todos os caminhos estarão impedidos, de modo que no menino nenhuma esperança
permaneça, pela qual - que isso não aconteça - venha a ser enganado e possa perecer; eis o
que aprendemos por experiência. Da mesma forma procedam os mais pobres. Aqueles
porém, que absolutamente nada possuem, façam simplesmente a petição e ofereçam seu
filho, com a sua oblação, diante de testemunhas.
CAPÍTULO 60 - Dos sacerdotes que, porventura, quiserem habitar
no mosteiro
Se alguém
da ordem dos sacerdotes pedir para ser recebido no mosteiro, não lhe seja concedido
logo; mas, se persistir absolutamente nessa súplica, saiba que deverá observar toda
a disciplina da Regra e não se lhe relaxará nada, de modo que lhe seja dito, como
está escrito. “Amigo, a que vieste?”. Seja-lhe concedido, entretanto, colocar-se
depois do Abade, dar a bênção e celebrar Missa, mas se o Abade mandar. Em caso contrário,
não presuma fazer coisa alguma, sabendo que é súdito da disciplina regular; antes,
dê a todos exemplos de maior humildade.
E se, por
acaso, no mosteiro surgir questão de preenchimento de cargo ou outro qualquer assunto,
atente para o lugar da sua entrada no mosteiro e não para aquele que lhe foi concedido
em reverência para com o sacerdócio.
Se algum
da ordem dos clérigos, pelo mesmo desejo, quiser associar-se ao mosteiro, sejam
colocados em lugar mediano, mas desde que prometam, também eles, a observância da
Regra e a própria estabilidade.
CAPÍTULO 61 - Dos monges peregrinos como devem ser recebidos
Se chegar
algum monge peregrino de longínquas províncias e quiser habitar no mosteiro como
hóspede, e mostra-se contente com o costume que encontrou neste lugar, e, porventura,
não perturba o mosteiro com suas exigências supérfluas, mas simplesmente está contente
com o que encontra, seja recebido por quanto tempo quiser. Se repreende ou faz ver
alguma coisa razoavelmente e com a humildade da caridade, trate o Abade prudentemente
desse caso, pois talvez por causa disto Deus o tenha enviado.
Mas, se
depois quiser firmar a sua estabilidade, não se rejeite tal desejo, máxime porque
se pôde conhecer sua vida durante o tempo da hospedagem.
Mas, se
durante o tempo da hospedagem for julgado exigente em coisas supérfluas ou vicioso,
não somente não deve ser associado ao corpo do mosteiro, como também lhe seja dito
honestamente que se vá embora para que também outros não se viciem com sua miséria.
Mas, se não for tal que mereça ser expulso,
- não somente, se pedir para aderir à comunidade, seja ele recebido, mas
também seja persuadido a ficar, para que outros sejam instruídos pelo seu exemplo
e porque em todo lugar se serve a um só Senhor, milita-se sob um só Rei.
E se o Abade
julgar que o merece, seja-lhe lícito estabelecê-lo em lugar um pouco mais alto.
Não só para um monge, mas também para os já referidos ordenados sacerdote e clérigos,
pode o Abade estabelecer um lugar mais elevado que aquele em que ingressam, se achar
ser digna de tal a vida deles.
Cuide, porém,
o Abade que nunca receba, para ficar, monge de outro mosteiro conhecido, sem o consentimento
do respectivo Abade ou carta de recomendação, porque está escrito. “Aquilo que não
queres que te seja feito, não o farás a outrem”.
CAPÍTULO 62 - Dos sacerdotes do mosteiro
Se o Abade
quiser pedir que alguém seja ordenado presbítero ou diácono para si, escolha dentre
os seus, quem seja digno de desempenhar o sacerdócio. Acautele-se o que tiver sido
ordenado contra o orgulho ou soberba e não presuma fazer senão o que for mandado
pelo Abade, sabendo que deverá submeter-se muito mais à disciplina regular. E não
se esqueça, por causa do sacerdócio, da obediência e da disciplina da Regra, mas
progrida mais e mais para Deus.
Atente sempre
para o lugar em que entrou no mosteiro, exceto no ofício do altar, mesmo que, pelo
mérito de sua vida, o quiserem promover a escolha da comunidade e a vontade do Abade.
Saiba, no entanto, observar de sua parte a Regra constituída para os Decanos e Priores.
E se presumir proceder de outro modo, seja julgado não como sacerdote, mas como
rebelde; e se, admoestado muitas vezes, não se corrigir, chame-se também o bispo
em testemunho.
Se nem assim
se emendar, sendo claras as suas faltas, seja expulso do mosteiro, mas isso no caso
de ser tal a sua contumácia, que não queira submeter-se ou obedecer à Regra.
CAPÍTULO 63 - Da ordem na comunidade
Conservem
os monges no mosteiro a sua ordem, conforme o tempo que têm de vida monástica, o
merecimento da vida e conforme o Abade constituir. Que o Abade não perturbe o rebanho
que lhe foi confiado, nem usando como que de livre poder, disponha alguma coisa
injustamente: mas lembre-se sempre de que deverá prestar contas a Deus de todos
os seus juízos e obras. Portanto, segundo a ordem que ele tiver estabelecido ou
que tiverem os irmãos, apresentem-se estes para a Paz, para a comunhão, para entoar
os salmos, para estar no coro.
Em qualquer
lugar que seja, que a idade não distinga ou prejudique aquela ordem, porque Samuel
e Daniel, meninos, julgaram anciãos.
Portanto,
exceto aqueles, que, como dissemos, com superior conselho, o Abade tiver posto à
frente ou postergado por determinados motivos, todos os demais estejam segundo a
ordem de ingresso, de modo que, por exemplo, aquele que chegar ao mosteiro na segunda
hora do dia, se reconhecerá mais moço do que o que chegar na primeira hora do dia,
seja qual for a idade ou dignidade; quanto aos meninos, seja a disciplina em tudo
conservada por todos.
Por isso,
honrem os mais moços aos mais velhos que eles e os mais velhos amem aos irmãos mais
moços: No próprio modo de chamar pelo nome, a ninguém seja permitido chamar o outro
pelo simples nome, mas os mais velhos chamem aos mais moços pelo nome de irmãos
e os mais moços chamem aos mais velhos de “nonos”, o que significa reverência paterna.
O Abade, que se crê fazer as vezes do Cristo, seja chamado Senhor e Abade, não em
virtude de sua própria atribuição, mas em honra e por amor a Cristo.
Que ele
pense nisso e se mostre de tal forma que seja digno de tal honra. Em qualquer lugar
em que se encontrem os irmãos, peça o mais moço a bênção ao mais velho. Passando
um mais velho, levante-se o mais moço e ceda-lhe o lugar, e não presuma o mais moço
se assentar junto, a não ser que o convide o seu irmão mais velho, a fim de que
se faça o que está escrito. “Antecipando-se mutuamente em honra”.
Os meninos
pequenos e adolescentes conservem com disciplina sua ordem no oratório e na mesa.
Fora ou em qualquer lugar, sejam guardados e tenham disciplina até que atinjam a
idade da compreensão.
CAPÍTULO 64 - Da ordenação do Abade
Na ordenação
do Abade considere-se sempre a seguinte norma: seja constituído aquele que tiver
sido eleito por toda a comunidade concorde no temor de Deus, ou, então, por uma
parte, de conselho mais são, ainda que pequena. Aquele que deve ser ordenado seja
eleito pelo mérito da vida e pela doutrina da sabedoria, ainda que seja o último
na ordem da comunidade.
E se toda
a comunidade eleger, em conselho comum, o que não aconteça, uma pessoa conivente
com seus vícios e estes vícios chegarem de algum modo ao conhecimento do bispo da
diocese a que pertence o lugar, ou se tornarem evidentes para os Abades ou cristãos
vizinhos, não permitam que prevaleça o consenso dos maus, mas constituam para a
casa de Deus um dispensador digno, sabendo que por isso receberão a boa recompensa,
se o fizerem castamente e com zelo divino; mas se, pelo contrário negligenciam,
cometerão pecado.
Pense sempre
o Abade ordenado no ônus que recebeu e a quem deverá prestar contas da sua administração,
e saiba convir-lhe mais servir que presidir. Deve ser, pois, douto na lei divina
para que saiba e tenha de onde tirar as coisas novas e antigas; deve ser casto,
sóbrio, misericordioso e faça prevalecer sempre a misericórdia sobre o julgamento,
para que obtenha o mesmo para si. Odeie os vícios, ame os irmãos.
Na própria
correção proceda prudentemente e não com demasia, para que, enquanto quer raspar
demais a ferrugem, não se quebre o vaso; e suspeite sempre da própria fragilidade,
e lembre-se que não deve esmagar o caniço já rachado. Com isso não dizemos que permita
que os vícios sejam nutridos, mas que os ampute prudentemente e com caridade, conforme
vê que convém a cada um, como já dissemos; e se esforce por ser mais amado que temido.
Não seja
turbulento nem inquieto, não seja excessivo nem obstinado, nem ciumento, nem muito
desconfiado, pois, nunca terá descanso; seja prudente e refletido nas suas ordens,
e quer seja de Deus, quer do século o trabalho que ordenar, faça-o com discernimento
e equilíbrio, lembrando-se da discrição do santo Jacó, quando diz: “Se fizer meus
rebanhos trabalhar andando demais, morrerão todos num só dia”.
Assumindo
esse e outros testemunhos da discrição, mãe das virtudes, equilibre tudo de tal
modo, que haja o que os fortes desejam e que os fracos não fujam; precipuamente,
conserve em tudo a presente Regra para que, depois de ter bem administrado, ouça
do Senhor o que disse ao bom servo que distribuiu o trigo a seus conservos no devido
tempo: “Na verdade vos digo - diz - estabelece-o sobre todos os seus bens”.
CAPÍTULO 65 - Do Prior do mosteiro
Muitas vezes
acontece que, pela ordenação do Prior, se originam graves escândalos nos mosteiros;
quando existem alguns que, inchados por um maligno espírito de soberba e julgando-se
segundos Abades, atribuindo a si mesmos um poder tirânico, nutrem escândalos e fazem
dissenções nas comunidades principalmente naqueles lugares em que, pelo mesmo sacerdote
ou pelos mesmos Abades que ordenam o Abade, é também ordenado o Prior.
Facilmente
se verifica o quanto isto é absurdo porque, desde o início da ordenação se lhe dá
matéria para se orgulhar, enquanto os seus pensamentos lhe sugerem que está livre
do poder de seu Abade: “porque és ordenado, também tu, pelos mesmos que o Abade”.
Daí são
suscitadas invejas, brigas, detrações, rivalidades, dissenções, desordens, pois,
enquanto o Abade e o Prior sentem de maneira diferente, necessariamente, sob esta
dissensão, perigam suas almas; os que lhes estão subordinados, enquanto adulam as
partes, caminham para a perdição. O mal deste perigo recai, em primeiro lugar, sobre
aqueles que se fizeram autores de tal desordem.
Por isso
achamos conveniente, para a defesa da paz e da caridade, que dependa do arbítrio
do Abade a organização do seu mosteiro. E, se for possível, seja organizado por
meio dos Decanos, como estabelecemos acima, todo o serviço do mosteiro, conforme
dispuser o Abade; para que, sendo confiado a muitos um só não se ensoberbeça. E
se o lugar o exige ou a comunidade pedir razoavelmente e com humildade, e o Abade
julgar conveniente, ordene ele próprio, para si, o Prior, na pessoa de quem quer
que, com o conselho dos irmãos tementes a Deus, tiver escolhido.
Execute,
pois, o Prior, com reverência, aquilo de que for encarregado pelo Abade, nada fazendo
contra a vontade ou disposição do Abade; porque quanto mais elevado está acima dos
outros, tanto mais solicitamente lhe cumpre observar os preceitos da Regra.
Se este
Prior for achado com vícios ou se ensoberbecer, enganado pelo orgulho, ou se se
tornar desprezador comprovado da Santa Regra, seja admoestado por palavras até a
quarta vez; se não se emendar, aplique-se-lhe a correção da disciplina regular.
E se nem assim se corrigir, seja então expulso da ordem de Prior e coloque-se, em
seu lugar, outro que seja digno. Se depois não permanecer quieto e obediente na
comunidade, seja também expulso do mosteiro.
Pense, no
entanto, o Abade que deve dar contas a Deus de todos os seus juízos, para que não
aconteça que a chama da inveja e do ciúme queime a sua alma.
CAPÍTULO 66 - Dos porteiros do mosteiro
Coloque-se
à porta do mosteiro um ancião sábio que saiba receber e transmitir um recado e cuja
maturidade não lhe permita vaguear. O porteiro deverá ter a cela junto à porta para
que os que chegam o encontrem sempre presente e dele recebam resposta. Logo que
alguém bater ou um pobre chamar, responda “Deo gratias” ou “Benedic” e, com toda
a mansidão do temor de Deus, responda com presteza e com o fervor da caridade. Se
o porteiro precisa de auxiliar, receba um irmão mais moço.
Seja, porém,
o mosteiro, se possível, construído de tal modo que todas as coisas necessárias,
isto é, água, moinho, horta e os diversos ofícios, se exerçam dentro do mosteiro,
para que não haja necessidade de os monges vaguearem fora, porque, de nenhum modo
convém às suas almas. Queremos que esta Regra seja freqüentemente lida na comunidade
para que nenhum irmão se escuse por ignorância.
CAPÍTULO 67 - Dos irmãos mandados em viagem
Os irmãos
que vão partir em viagem recomendem-se às orações de todos os irmãos e do Abade;
e sempre, na última oração do Ofício Divino, faça-se a comemoração de todos os ausentes.
Os irmãos que voltam de viagem, no mesmo dia em que chegam, em todas as Horas canônicas,
quando termina o Ofício Divino, prostrados no chão do oratório, peçam a todos a
sua oração por causa dos excessos que, porventura, durante a viagem, se tenham nele
insinuado, vendo ou ouvindo coisas más ou em conversas ociosas.
E ninguém
presuma relatar a outrem qualquer das coisas que tiver visto ou ouvido fora do mosteiro,
pois é grande a destruição. E se alguém presumir fazê-lo, seja submetido ao castigo
regular, da mesma forma quem presumir sair dos claustros do mosteiro ou ir a qualquer
lugar, ou fazer qualquer coisa, por menor que seja, sem ordem do Abade.
CAPÍTULO 68 - Se são ordenadas a um irmão coisas impossíveis
Se a algum
irmão são acaso ordenadas coisas pesadas ou impossíveis, que receba a ordem de quem
manda com toda a mansidão e obediência. Se vê que o peso do ônus excede absolutamente
a medida de suas forças, sugira paciente e oportunamente ao seu superior as causas
de sua impossibilidade, não se enchendo de soberba, nem resistindo ou contradizendo.
Se, depois de sua sugestão, a ordem do superior permanecer em sua determinação,
saiba o súdito ser-lhe isso conveniente e, confiando pela caridade, no auxílio de
Deus, obedeça.
CAPÍTULO 69 - No mosteiro não presuma um defender o outro
Deve-se
tomar precaução para que no mosteiro não presuma um monge defender outro, seja por
que motivo for, ou como que protegê-lo, mesmo se ligados por qualquer laço de consangüinidade.
De modo algum seja isso presumido pelos monges, pois por este meio pode originar-se
gravíssima ocasião de escândalos. Se alguém tiver transgredido isso, seja mais severamente
punido.
CAPÍTULO 70 - Não presuma alguém bater em outrem a próprio
arbítrio
Seja vedada
no mosteiro toda ocasião de presunção, e determinamos que a ninguém seja lícito
excomungar ou bater em qualquer dos seus irmãos, a não ser aquele a quem foi dado
o poder pelo Abade. Que os transgressores sejam repreendidos diante de todos para
que os demais tenham medo. A diligência da disciplina e guarda das crianças até
quinze anos de idade caiba a todos, mas, também isso, com toda medida e inteligência.
Quem de
qualquer modo o presume, sem ordem do Abade, contra os que já são mais velhos, ou
bater sem discrição mesmo nas crianças, seja submetido à disciplina regular, porque
está escrito. “Não faças a outrem o que não queres que te façam”.
CAPÍTULO 71 - Que sejam obedientes uns aos outros
Não só ao
Abade deve ser tributado por todos o bem da obediência, mas, da mesma forma, obedeçam
também os irmãos uns aos outros, sabendo que por este caminho da obediência irão
a Deus. Colocado, pois, antes de tudo o poder do Abade e dos superiores por ele
constituídos, ao qual não permitimos que seja antepostos poderes particulares - quanto ao mais, que todos os mais moços obedeçam
aos respectivos irmãos mais velhos, com toda a caridade e solicitude. Se se encontrar
algum com espírito de contenção, que seja castigado.
Se algum
irmão, por qualquer motivo, ainda que mínimo, for repreendido, de qualquer modo
pelo Abade ou por qualquer superior seu, ou se levemente sentir o ânimo de qualquer
superior seu irado ou alterado contra si, ainda que pouco, logo, sem demora, permaneça
prostrado em terra, a seus pés, fazendo satisfação, até que pela bênção esteja sanada
aquela comoção.
Se alguém
não o quiser fazer, ou seja submetido a castigo corporal ou, se for contumaz, seja
expulso do mosteiro.
CAPÍTULO 72 - Do bom zelo que os monges devem ter
Assim como
há um zelo mau, de amargura, que separa de Deus e conduz ao inferno, assim também
há o zelo bom, que separa dos vícios e conduz a Deus e à vida eterna. Exerçam, portanto,
os monges este zelo com amor ferventíssimo isto é, antecipem-se uns aos outros em
honra.
Tolerem
pacientissimamente suas fraquezas, quer do corpo quer do caráter; rivalizem em prestar
mútua obediência; ninguém procure aquilo que julga útil para si, mas, principalmente,
o que o é para o outro; ponham em ação castamente a caridade fraterna; temam a Deus
com amor; amem ao seu Abade com sincera e humilde caridade; nada absolutamente anteponham
a Cristo - que nos conduza juntos para a
vida eterna.
CAPÍTULO 73 - De que nem toda a observância da justiça se
acha estabelecida nesta Regra
Escrevemos
esta Regra para demonstrar que os que a observamos nos mosteiros, temos alguma honestidade
de costumes ou algum início de vida monástica. Além disso, para aquele que se apressa
para a perfeição da vida monástica, há as doutrinas dos Santos Padres, cuja observância
conduz o homem ao cume da perfeição.
Que página,
com efeito, ou que palavra de autoridade divina no Antigo e no Novo Testamento não
é uma norma retíssima da vida humana? Ou que livros dos Santos Padres Católicos
ressoam outra coisa senão o que nos faça chegar, por caminho direto, ao nosso Criador?
E também as Colações dos Padres, as Instituições e suas Vidas, e também a Regra
de nosso santo Pai Basílio, que outra coisa são senão instrumentos das virtudes
dos monges que vivem bem e são obedientes? Mas para nós, relaxados, que vivemos
mal e somos negligentes, são o rubor da confusão.
Tu, pois,
quem quer que sejas, que te apressas para a pátria celeste, realiza com o auxílio
de Cristo esta mínima Regra de iniciação aqui escrita e, então, por fim, chegarás,
com a proteção de Deus, aos maiores cumes da doutrina e das virtudes de que falamos
acima. Amém.
( Termina a Regra
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