domingo, 15 de outubro de 2017

Audiolivro: A Imitação de Cristo - Livro IV Do Sacramento do Altar


A Imitação de Cristo

Livro IV Do Sacramento do Altar

DEVOTA EXORTAÇÃO À SAGRADA COMUNHÃO

Voz de Cristo:
                 Vinde a mim todos que penais e estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei, diz o Senhor.  São Mateus, 11,78.
                 O pão que eu darei é a minha carne, pela vida do mundo.  São João, 6,52. 
                 Tomai e comei, este é o meu corpo, que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim.  São Lucas. 22,19.
                 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica em mim e eu nele.  São João, 6,57.
                 As palavras que eu vos disse são espírito e vida.  São João, 6,64.


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Capítulo, 1 Com quanta reverência cumpre receber a Cristo


Voz do discípulo:
                 São vossas essas palavras, ó Jesus, Verdade Eterna, ainda que não fossem proferidas todas ao mesmo tempo, nem escritas no mesmo lugar. Sendo vossas, pois, essas palavras e verdadeiras, devo recebê-las todas com gratidão e fé. São vossas, porque vós as dissestes; e são também minhas, porque as dissestes para minha salvação. Cheio de alegria as recebo de vossa boca, para que mais profundamente se me gravem no coração. Animam-me palavras de tanta ternura, atemorizam-me os meus pecados, e minha consciência impura me afasta da participação de tão altos mistérios. Atrai-me a doçura de vossas palavras, mas me oprime a multidão de meus pecados.

                 Mandais que me chegue a vós com grande confiança, se quero ter parte convosco; e que receba o manjar da imortalidade, se desejo alcançar a vida e a glória eterna. Vinde, dizeis vós, vinde a mim todos que penais e estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Ó palavra doce e amorosa aos ouvidos do pecador: vós, Senhor meu Deus, convidais o pobre e indigente à comunhão de vosso santíssimo corpo, mas quem sou eu, Senhor, para ousar aproximar-me de vós? Eis que os céus dos céus não vos pode abranger, e dizeis: Vinde a mim todos!

                 Que quer dizer essa condescendência tão meiga e esse tão amoroso convite? Como me atreverei a chegar-me a vós, quando não conheço em mim bem algum em que me possa confiar? Como posso acolher-vos em minha morada, eu, que tantas vezes ofendi a vossa benigníssima face? Tremem os anjos e os arcanjos, estremecem os santos e os justos, e vós dizeis: Vinde a mim todos! Se não fosse vossa essa palavra, quem a teria por verdadeira? Se vós o não ordenásseis, quem ousaria aproximar-se?

                 Noé, o varão justo, trabalhou cem anos na construção da arca para salvar-se com poucos: como me poderei eu preparar numa hora para receber com reverência o Criador do mundo? Moisés, vosso grande servo e particular amigo, fabricou a arca de madeira incorruptível, e revestiu-a de ouro puríssimo, para guardar nela as tábuas da lei; e eu, criatura vil, me atreverei a receber-vos com tanta facilidade, a vós, que sois o autor da lei e o dispensador da vida? Salomão, o mais sábio dos reis de Israel, levou sete anos a edificar o templo magnífico, em louvor de vosso nome, e celebrou por oito dias a festa de sua dedicação, ofereceu mil hóstias pacíficas, e ao som das trombetas e com muito júbilo colocou a arca da aliança no lugar que lhe havia sido preparado.

                 E eu, o mais miserável de todos os homens, como poderei receber-vos em minha casa, quando mal sei empregar meia hora com devoção? e oxalá que uma vez sequer a houvesse empregado dignamente!

                 Ó meu Deus, quanto se esforçaram esses vossos servos para agradar-vos! Ai, quão pouco é o que eu faço! Quão pouco o tempo que gasto em preparar-me para a Comunhão! Raras vezes estou de todo recolhido, raríssimo livre de toda distração. E, todavia, na presença salutar de vossa divindade não me devia ocorrer pensamento algum impróprio, nem eu me devia ocupar de criatura alguma, pois vou hospedar, não a um anjo, senão ao Senhor dos anjos.

                 Demais, há grandíssima diferença entre a arca da aliança com suas relíquias e vosso puríssimo corpo com suas inefáveis virtudes; entre aqueles sacrifícios da lei, que eram apenas figuras do futuro, e o sacrifício verdadeiro de vosso corpo, que é o cumprimento de todos os sacrifícios antigos.

                 Por que, pois, se me não acende melhor o meu coração na vossa adorável presença? Por que me não preparo com maior cuidado para receber vosso santo mistério, quando aqueles santos patriarcas e profetas, reis e príncipes, com todo o povo, mostraram tanta devoção e fervor no culto divino?

                 Com religioso transporte dançou o piedosíssimo Rei Davi diante da arca da aliança, em memória dos benefícios concedidos outrora a seus pais; mandou fabricar vários instrumentos musicais, compôs salmos e ordenou que se cantassem com alegria, e ele mesmo os cantava muitas vezes ao som da harpa; ensinou ao povo de Israel a louvar a Deus de todo o coração e engrandecê-lo e bendizê-lo todos os dias, a uma voz. Se tanta era, então, a devoção e o fervor divino diante da arca do testamento, quanta reverência e devoção devo eu ter agora, e todo o povo cristão, na presença do Sacramento e na recepção do preciosíssimo corpo de Cristo!

                 Correm muitos a diversos lugares para visitar as relíquias dos santos, e se admiram ouvindo narrar os seus feitos; contemplam os vastos edifícios dos templos e beijam os sagrados ossos, guardados em seda e ouro. E eis que aqui estais presente diante de mim, no altar, vós, meu Deus, Santo dos santos, Criador dos homens e Senhor dos anjos. Em tais visitas, muitas vezes é a curiosidade e a novidade das coisas que movem os homens; e diminuto é o fruto de emenda que recolhem, principalmente quando fazem essas peregrinações com leviandade, sem verdadeira contrição. Aqui, porém, no Sacramento do Altar, vós estais todo presente, Deus e homem, Cristo Jesus; aqui o homem recebe copioso fruto de eterna salvação, todas as vezes que vos recebe digna e devotamente. Aí não nos leva nenhuma leviandade, nem curiosidade ou atrativo dos sentidos, mas sim a fé firme, a esperança devota e a caridade sincera.

                 Ó Deus invisível, Criador do mundo, quão maravilhosamente nos favoreceis, quão suave e ternamente tratais com vossos escolhidos, oferecendo-vos a vós mesmo como alimento, neste Sacramento! Isto transcende todo entendimento, isto atrai os corações dos devotos e acende o seu amor. Porque esses teus verdadeiros fiéis, que empregam toda a sua vida na própria emenda, recebem muitas vezes deste augusto Sacramento copiosa graça de devoção e amor à virtude.

                 Ó graça admirável e oculta deste Sacramento, que só dos fiéis de Cristo é conhecida, mas que os infiéis e escravos do pecado não podem experimentar!

                 Neste Sacramento se dá a graça espiritual, recupera a alma a força perdida, refloresce a formosura deturpada pelo pecado. Tamanha é, às vezes, esta graça, que, pela abundância da devoção recebida, não só a alma, mas ainda o corpo fraco sente-se munido de maiores forças.

                 É, porém, muito para chorar e lastimar a nossa tibieza e negligência, o pouco fervor em receber a Jesus Cristo, em quem reside toda a esperança e merecimento dos que se hão de salvar. Porque ele é a nossa santificação e redenção, ele o consolo dos peregrinos e o gozo eterno dos santos. E assim é muito para chorar o pouco caso que tantos fazem deste salutar mistério, sendo ele a alegria do céu e a conservação de todo o mundo. Ó cegueira e dureza do coração humano, que tão pouco estima esse dom inefável, antes, com o uso cotidiano que dele faz, chega a cair na indiferença!

                 Pois, se esse augusto Sacramento se celebrasse num só lugar e fosse consagrado por um só sacerdote no mundo, com quanto desejo imaginas que acudiriam os homens a visitar aquele lugar e aquele sacerdote a fim de assistir à celebração dos divinos mistérios? Agora, porém, há muitos sacerdotes, e em muitos lugares Cristo é oferecido, para que tanto mais se manifeste a graça e o amor de Deus para com os homens, quanto mais largamente é difundida pelo mundo a Sagrada Comunhão. Graças vos sejam dadas, Bom Jesus Pastor Eterno, que vos dignais sustentar-nos a nós, pobres e desterrados, com vosso precioso corpo e sangue, e até convidar-nos, com palavras de vossa própria boca, à participação desses mistérios, dizendo: Vinde a mim todos que penais e estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei.

Reflexões:
                 Quem recebe a Sagrada Comunhão, recebe Jesus Cristo vivo, porque seu corpo, sua alma e sua divindade estão neste divino sacramento. E como sua divindade é a mesma do Pai e do Espírito Santo que são um só Deus com ele, quem recebe a Sagrada Eucaristia, recebe o corpo do Filho de Deus, e, por conseguinte, seu sangue e sua alma, e portanto a Santíssima Trindade.

                 Mas, este divino sacramento foi instituído principalmente para que recebêssemos o corpo e o sangue de nosso Salvador com sua vida vivificante, como as vestes cobrem principalmente o corpo do ser humano; mas como a alma está unida ao corpo, as vestes cobrem consequentemente a alma, o entendimento, a memória e a vontade.

                 Procura manter-te simplesmente nesta crença, e saúda muitas vezes o coração desse divino Salvador, que, para testemunhar-nos seu amor, quis cobrir-se das aparências do pão, a fim de permanecer familiar e intimamente em nós e perto do nosso coração. Vejamos bem em espírito os santos anjos que rodeiam o Santíssimo Sacramento para adorá-lo e, nesta santa oitava, difundem mais abundantemente inspirações sagradas naqueles que, com humildade, reverência e amor, dele se aproximam.

Capítulo, 2 Como neste sacramento se mostra ao homem a grande bondade e caridade de Deus


A voz do discípulo:
                 Confiado, Senhor, na vossa bondade e grande misericórdia, a vós me chego, qual enfermo ao médico, faminto e sequioso à fonte da vida, indigente ao Rei do céu, servo ao Senhor, criatura ao Criador, desconsolado ao meu piedoso Consolador. Mas donde me vem a graça de virdes a mim? Quem sou eu, para que vós mesmos vos ofereçais a mim? Como ousa o pecador aparecer diante de vós? E vós, como vos dignais vir ao pecador? Conheceis vosso servo e sabeis que nenhum bem há nele para que lhe presteis esse benefício. Confesso, pois, minha vileza, reconheço vossa bondade, louvo vossa misericórdia e dou-vos graças por vossa excessiva caridade. Por vós mesmos fazeis isso, não por meus merecimentos, mas para que vossa bondade me seja mais manifesta, maior caridade me seja infundida e a caridade me seja mais perfeitamente recomendada.

                 Pois que assim vos apraz e assim ordenastes, a mim também me agrada vossa condescendência, e oxalá não ponham estorvo meus pecados!

                 Ó dulcíssimo e benigníssimo Jesus! louvor vos devo pela participação do vosso sacratíssimo corpo, cuja existência ninguém pode explicar! Mas que hei de pensar nesta comunhão, chegando-me a meu Senhor, a quem não posso devidamente honrar, e todavia desejo receber com devoção? Que coisa melhor e mais salutar posso pensar, senão humilhar-me totalmente diante de vós e exaltar vossa infinita bondade para comigo? Eu vos louvo, Deus meu, e vos engrandeço para sempre. Desprezo-me e a vós me submeto no abismo de minha vileza.

                 Vós sois o Santo dos santos, e eu a escória dos pecadores. Vós baixais para mim, que não sou digno de levantar os olhos para vós. Vindes a mim, quereis estar comigo, convidais-me ao vosso banquete. Quereis dar-me o alimento espiritual e o pão dos anjos, que outro, na verdade, não é senão vós mesmo, pão vivo, que descestes do céu e dais a vida ao mundo.

                 Eis a fonte do amor donde resplandece a vossa misericórdia! Que ações de graças vos são devidas por este benefício! Oh! quão salutar e proveitoso foi o vosso desígnio em instituir este Sacramento! Quão suave e delicioso banquete, em que a vós mesmos vos destes em alimento! Quão admiráveis, Senhor, são vossas obras, quão inefável vossa verdade! Porque dissestes -- e tudo se fez, e fez-se aquilo que ordenastes.

                 Coisa maravilhosa e digna de fé e acima de toda compreensão humana é que vós, Senhor, meu Deus, verdadeiro Deus e homem, estejais todo inteiro debaixo das insignificantes espécies de pão e vinho, e, sem serdes consumido, alimentais aquele que vos recebe. Vós, Senhor do universo, que não precisais de coisa alguma, quisestes morar em nós por vosso Sacramento; conservai meu coração e meu corpo sem mancha, para que com alegre e pura consciência possa muitas vezes celebrar e receber vossos mistérios, para minha eterna salvação, visto que os instituístes e ordenastes principalmente para vossa honra e perpétua lembrança.

                 Regozija-te, minha alma, e agradece a Deus tão excelente dádiva e singular consolação, que ele te deixou neste vale de lágrimas. Porque todas as vezes que celebrares este mistério e receberes o corpo de Cristo, renovas a obra de tua redenção e te tornas participante de todos os merecimentos de Cristo. Pois a caridade de Cristo nunca se diminui, nem se esgota jamais a grandeza de sua propiciação. Por isso te deves preparar sempre para esse ato pela renovação do espírito, e considerar com atenção este grande mistério de salvação. Tão grande, novo e delicioso se te deve afigurar, quando celebras ou ouves missa, como se Cristo no mesmo dia descesse pela primeira vez ao seio da Virgem e se fizesse homem, ou como se, pendente da cruz, padecesse e morresse pela salvação dos homens.

Reflexões:
                 Nosso Senhor, diz o santo apóstolo, ofereceu-se a Deus seu Pai, por nós, como hóstia de odor e de suavidade.

                 Oh! Que divinos odores não espalhou ele diante de seu Pai Eterno, quando instituiu o Santíssimo Sacramento do altar, no qual nos testemunhou tão admiravelmente a grandeza incomparável de seu amor! Oh! Que perfume infinitamente suave foi então este ato de amor tão incompreensível de Nosso Senhor, dando-se a nós, que éramos seus inimigos, e que lhe causávamos a morte! Foi então verdadeiramente que ele nos deu o meio de chegar a este grau supremo de união que ele nos desejava, de fazer um com ele, assim como ele e seu Pai são um, como lhe havia pedido, no extremo de seu amor por nós, encontrando ao mesmo tempo um meio de poder fazer isto, instituindo o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, pela recepção do qual fazemos uma mesma coisa com ele: Nós formamos um só corpo, embora sejamos muitos, pois todos participamos do mesmo pão e do mesmo cálice.  1, Coríntios. 10,17.

                 Ó bondade incomparável, como sois digna de ser amada! Até que ponto abaixou-se a grandeza de Deus por cada um de nós, e até onde quer ele elevar-nos, unir-nos tão perfeitamente a si, que nos torna uma mesma coisa com ele! Nosso Senhor quis fazer isto para ensinar-nos como somos todos amados com um mesmo amor pelo qual ele se une a nós neste Santíssimo Sacramento; assim quer ele que nos amemos todos com este mesmo amor que tende à união, mas a uma união maior e mais perfeita do que se pode dizer.


Oração:
                 Ó doce Jesus, meu Salvador e meu Deus, como vos sou devedora pelo amor que me testemunhastes neste divino sacramento de amor, onde vos tornais mais meu do que eu sou vossa, e que sou minha a mim mesma! Ah! quem me dera a graça de poder, de uma vez para sempre, apertar-vos e colar no meu peito, e não fazer mais do que uma mesma coisa convosco! Oh! que Jesus esteja para sempre em meu coração, que ele viva e reine nele eternamente; que para sempre seu santo nome seja bendito, e o nome de sua santa mãe que nos deu um tal Filho!.

Capítulo, 3 Da utilidade da comunhão frequente


Voz do discípulo:
                 Eis que venho a vós, Senhor, para aproveitar-me de vossa munificência, e deliciar-me neste sagrado banquete, que vós, Deus meu, preparastes, na vossa ternura, para o pobre. Em vós se acha tudo o que posso e devo desejar; vós sois minha esperança, fortaleza, honra e glória. Alegrai, pois, hoje, a alma de vosso servo, porque a vós, Senhor Jesus, levantei a minha alma. Desejo receber-vos agora com devoção e reverência; desejo hospedar-vos em minha casa, para que, com Zaqueu, mereça ser abençoado e contado entre os filhos de Abraão. Minha alma suspira por vosso corpo; meu coração deseja ser convosco unido.

                 Dai-vos a mim e estou satisfeito; porque sem vós nada me pode consolar.

                 Sem vós não posso estar, e sem vossa visita não posso viver. Por isso muitas vezes devo achegar-me a vós e receber-vos para remédio de minha salvação, a fim de não desfalecer no caminho quando estiver privado deste alimento celestial. Assim vós mesmo o dissestes uma vez, misericordiosíssimo Jesus, quando pregáveis e curáveis diversas enfermidades: "Não os quero despedir em jejum, para que não desfaleçam no caminho".  São Mateus, 15,32.  Fazei também do mesmo modo comigo, pois ficastes neste Sacramento para consolação dos fiéis.

                 Vós sois a suave refeição da alma, e quem dignamente vos receber se tornará participante e herdeiro da glória eterna. A mim, que tantas vezes caio e peco, tão depressa afrouxo e desfaleço, mui necessário me é que, com a oração, confissão e comunhão frequentes, me renove, purifique e afervore, para não abandonar meus santos propósitos, abstendo-me da comunhão por mais tempo.

                 Pois "os sentidos do homem estão inclinados para o mal desde a sua adolescência",  Gênesis, 8,21. e se não o socorre o remédio celestial, logo cai o homem de mal em pior. Porque, se agora, comungando ou celebrando, sou tão negligente e tíbio, que seria se não tomasse este remédio e não buscasse tão poderoso conforto? E ainda que não esteja, todos os dias, preparado, nem bem disposto para celebrar, contudo me quero esforçar para, nos tempos convenientes, receber os sagrados mistérios e tornar-me participante de tanta graça. Porque, enquanto a alma fiel, longe de vós, peregrina neste corpo mortal, a única e principal consolação para ela é que muitas vezes se lembre do seu Deus e receba devotamente o seu Amado.

                 Ó maravilhosa condescendência de vossa bondade para convosco, que vós, Senhor Deus, Criador e vivificador de todos os espíritos, vos dignais de vir à minha pobre alma e saciar-lhe a fome com toda a vossa divindade e humanidade! Ó ditoso coração, ó alma bem-aventurada, que merece receber-vos com devoção a vós, seu Deus e Senhor, e nesta união encher-se de gozo espiritual! Oh! Que grande Senhor recebe, que amável hóspede agasalha, que agradável companheiro acolhe, que fiel amigo aceita, que formoso e nobre esposo abraça, mais digno de ser amado que tudo o que se ama e deseja!

                 Dulcíssimo amado meu, emudeçam diante de vós o céu e a terra com todos os seus ornatos; porque tudo o que têm de brilho e beleza é dom de vossa liberalidade e não chega a igualar a glória de vosso nome, "cuja sabedoria não tem medida".  Salmo, 146,5.


Reflexões:
                 Se os mundanos te perguntam por que comungas tão frequentemente, dize-lhes que é para aprender a amar a Deus, para purificar-te de tuas imperfeições, para livrar-te de tuas misérias, para consolar-te em tuas aflições e para apoiar-te em tuas fraquezas. Dize-lhes que dois tipos de pessoas devem comungar frequentemente: os perfeitos, porque, estando bem dispostos, não teriam razão para não aproximar-se da fonte da perfeição; e os imperfeitos, a fim de poder justamente pretender à perfeição; os fortes, para que não se tornem fracos, e os fracos para que se tornem fortes; os doentes, para serem curados, e os sãos, a fim de que não fiquem doentes; e que, tu, como imperfeita, fraca e doente, tens necessidade de comunicar-te muitas vezes com tua perfeição, tua força e teu médico.

                 Dize-lhes que aqueles que não têm muitos afazeres mundanos devem comungar muitas vezes, porque têm a comodidade de fazê-lo, e aqueles que têm muitas obrigações mundanas, porque têm necessidade de comungar; e que aquele que trabalha muito e que está carregado de penas também deve comer alimentos fortes e muitas vezes. Dize-lhes que recebes o Santo Sacramento para aprender a recebê-lo bem, porque não se faz bem uma ação que não se exerce frequentemente.

Oração:
                 Ó Salvador de nosso coração, uma vez que estamos todos os dias à vossa mesa para comer, não somente vosso pão, mas vós mesmo que sois nosso pão vivo, e super essencial, fazei que todos os dias façamos uma boa e perfeita digestão deste alimento tão perfeito e que vivamos perpetuamente de vossa sagrada doçura, bondade e amor.

Capítulo, 4 Dos admiráveis frutos colhidos pelos que comungam devotamente


Voz do discípulo:
                 Senhor, meu Deus! preveni vosso servo com as bênçãos de vossa doçura, para que mereça digna e devotamente chegar-me a vosso augusto Sacramento.

                 Despertai meu coração para vós e tirai-me deste profundo entorpecimento.

                 "Visitai-me com vossa graça salutar",  Salmo, 105,4. para que goze em espírito vossa doçura, que com abundância está oculta neste Sacramento, como em sua fonte. Iluminai também meus olhos para contemplar tão alto mistério, e fortalecei-me para crer nele com fé inabalável. Porque é obra vossa e não de poder humano, sagrada instituição vossa, não invenção dos homens. Ninguém, com efeito, de si mesmo é capaz de conceber e compreender este mistério, que transcende à própria inteligência dos anjos. Que, pois, poderei eu, pecador indigno, pó e cinza, investigar e compreender de tão alto e sagrado mistério?

                 Senhor, na simplicidade do meu coração, com firme e sincera fé, e obedecendo a vosso mandado, me aproximo de vós com esperança e reverência e creio verdadeiramente que estais presente aqui no Sacramento, Deus e homem. Pois quereis que vos receba e me una convosco em caridade. Por isso imploro vossa clemência e vos suplico a graça particular de que todo me desfaleça em vós e me consuma em amor, sem mais cuidar de nenhuma outra consolação. Porque este altíssimo e diviníssimo Sacramento é a saúde da alma e do corpo, remédio de toda enfermidade espiritual; cura os vícios, reprime as paixões, vence ou enfraquece as tentações, comunica maior graça, corrobora a virtude nascente, confirma a fé, fortalece a esperança, inflama e dilata a caridade.

                 Muitos bens concedestes e concedeis ainda a miúdo aos vossos amigos, neste Sacramento, quando devotamente comungam, ó Deus meu, amparo da minha alma, reparador da humana fraqueza e dispensador de toda consolação interior. Porque lhes infundis abundantes consolações contra várias tribulações e os levantais do abismo do próprio abatimento à esperança da vossa proteção e os recreais e iluminais interiormente com a nova graça, de sorte que os mesmos que antes da comunhão se sentiam inquietos e sem afeto, depois de recreados com o manjar e a bebida celestiais se sentem melhorados e fervorosos. Tudo isso prodigalizais aos vossos escolhidos, para que verdadeiramente conheçam e evidentemente experimentem quanta fraqueza têm em si mesmos e quanta bondade e graça alcançam de vós. Pois de si mesmos são frios, tíbios e insensíveis; por vós, porém, tornam-se fervorosos, alegres e devotos.

                 Quem, porventura, se chegará humilde à fonte da suavidade, que não receba dela alguma doçura? Ou quem, junto de um grande fogo, deixará de sentir algum calor? E vós sois a fonte sempre cheia e abundante; o fogo que sempre arde sem jamais se apagar.

                 Por isso, se me não é dado haurir da plenitude desta fonte, nem beber até me saciar, chegarei, todavia, meus lábios ao orifício do canal celeste, a fim de que receba daí ao menos uma gota, para refrigerar minha sede e não morrer de secura. E se não posso ainda ser todo celestial, nem tão abrasado como os querubins e serafins, contudo me empenharei por permanecer na devoção e dispor meu coração, para que pela recepção humilde deste vivificante Sacramento receba ao menos uma tênue faísca do divino incêndio. O que me falta, porém, ó bom Jesus, Salvador santíssimo, supri-o pela vossa bondade e graça, pois vos dignastes chamar-nos todos a vós, dizendo: Vinde a mim todos que penais e estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei.




                 Na verdade, eu trabalho com o suor do meu rosto, sou atormentado com angústias do coração, estou carregado de pecados, molestado de tentações, embaraçado e oprimido com muitas paixões e não há ninguém que me ajude, livre ou salve, senão vós, Senhor Deus, Salvador meu, a quem me entrego, com tudo o que me pertence, para que me guardeis e leveis à vida eterna. Recebei-me para honra e glória de vosso nome, pois me preparastes para a comida e bebida o vosso corpo e sangue. Concedei-me, Senhor Deus, Salvador meu, que com a frequência de vosso mistério se me aumente o fervor da devoção.

Reflexões:
 Os mais excelentes frutos da Santa Comunhão:
                 1º. Ela une a alma com Nosso Senhor Jesus Cristo e a incorpora nele. Por isso ele mesmo disse: Quem come minha carne e bebe meu sangue, permanece em mim e eu nele.  São João, 6,57.
                 2º. Ela aumenta e conserva a graça na alma, dá abundância de virtudes, força contra as tentações, vitória contra os inimigos visíveis e invisíveis, e até mesmo bem-estar corporal e perfeição de vida àquele que comunga com frequência e dignamente.
                 3º. Ela restaura e esclarece o entendimento, recria e deleita o coração, e expulsa dele as trevas.
                 4º. Ela torna a alma humilde, piedosa, devota, paciente, e inflama a vontade do amor divino.
                 5º. Ela aumenta os hábitos virtuosos, enfraquece os aguilhões da carne e apazigua os ardores da concupiscência.
                 6º. Ela reanima a esperança pela certeza da fé, e aumenta a devoção.
                 7º. Ela perdoa e apaga os pecados veniais, preserva dos pecados mortais e faz perseverar em santos desejos, bons propósitos e resoluções, e superar generosamente todas as dificuldades.
                 8º. Ela nos torna participantes de todos os méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e nos dá o penhor seguro da glória do paraíso.
                 9º. Ela nos torna prontos para fazer o bem, misericordiosos e liberais para com os indigentes, e espantalhos para os demônios infernais. Ela diminui sempre a pena devida aos nossos pecados.

Capítulo, 5 Da dignidade do Sacramento e do estado sacerdotal


Voz do Amado:
                 Ainda que tiveras a pureza dos anjos e a santidade de São João Batista, não serias digno de receber ou administrar este Sacramento. Porque não é devido a merecimento algum humano que o homem pode consagrar e administrar o Sacramento de Cristo e comer o pão dos anjos. Sublime mistério e grande dignidade dos sacerdotes, aos quais é dado o que aos anjos não foi concedido! Porque só os sacerdotes legitimamente ordenados na Igreja têm o poder de celebrar a missa e consagrar o corpo de Cristo, porquanto é tão somente o ministro de Deus que usa das palavras de Deus, por ordem e instituição de Deus; Deus, porém, é o autor principal e invisível agente, a cujo aceno tudo obedece.

                 Neste augustíssimo sacramento deves, pois, mais crer em Deus onipotente que em teus próprios sentidos ou em qualquer sinal visível. Por isso deves aproximar-te deste mistério com temor e reverência. Olha para ti e considera que ministério te foi confiado pela imposição das mãos do bispo. Foste ordenado sacerdote e consagrado para o serviço do altar; cuida agora em oferecer a Deus o sacrifício em tempo oportuno, com fé e devoção, e de levar uma vida irrepreensível. Não se te diminui o encargo, ao contrário, estás agora mais apertadamente ligado aos vínculos de disciplina e obrigado a maior perfeição e santidade. O sacerdote deve ser ornado de todas as virtudes de dar aos outros o exemplo de vida santa. Ele não deve trilhar os caminhos vulgares e comuns dos homens, mas a sua convivência seja com os anjos do céu ou com os varões perfeitos na terra.

                 O sacerdote, revestido das vestes sagradas, faz as vezes de Cristo, para rogar devota e humildemente a Deus por si e por todo o povo. Traz o sinal da cruz do Senhor no peito e nas costas, para que continuamente se recorde da paixão de Cristo. Diante de si, na casula, traz a cruz, para que considere, com cuidado, os passos de Cristo, e se empenhe de os seguir com fervor. Nas costas também está assinalado com a cruz, para que tolere com paciência, por amor de Deus, qualquer injúria que outros lhe fizeram. Diante de si traz a cruz para chorar os próprios pecados; atrás de si, para deplorar também os alheios, por compaixão, e para que saiba que é constituído medianeiro entre Deus e o pecador. Também não cesse de orar e oferecer o santo sacrifício, até que mereça alcançar graça e misericórdia. Quando o sacerdote celebra a Santa Missa, honra a Deus, alegra os anjos, edifica a Igreja, ajuda os vivos, proporciona descanso aos defuntos e faz-se participante de todos os bens.

Reflexões:
                 Sem dúvida, não se pode imaginar algo de mais ousado, de mais espantoso, do que ter nas próprias mãos e criar pela palavra, segundo a expressão de São Jerônimo, aquele que os anjos não poderiam compreender pelo pensamento nem louvar dignamente, essas santas inteligências que nós mesmos não podemos conceber nem louvar dignamente.

                 Francisco de Sales, elevado ao sacerdócio, não ousou subir ao altar no dia seguinte ao de sua ordenação, pois achou que devia preparar-se por um retiro de três dias. Nesses dias ele tomou três resoluções dignas da sublime ideia que ele fazia do sacerdócio: a primeira, de ter em todas as suas ações o mesmo espírito de religião que ele tem no altar, e de fazer de todos os momentos do dia uma preparação contínua para o sacrifício do dia seguinte, de maneira que pudesse responder sinceramente, se alguém lhe perguntasse qual era a razão de sua conduta: "Eu me preparo para celebrar a missa"; a segunda, de nunca mostrar no altar senão as mesmas disposições que ele gostaria de ter para morrer e comparecer diante de Deus; a terceira, de unir-se em tudo a Jesus Cristo, sumo sacerdote, pelo recolhimento do amor e pela imitação de seus exemplos.

Oração:
                 Meu Senhor, eu ofereço este meu sacrifício, e com ele me ofereço inteiramente à vossa honra e glória eterna, em união com este ardente amor e puríssima intenção com que vos destes como alimento na última ceia e vos oferecestes a vós mesmo em sacrifício no madeiro da santa cruz. E no lugar da pouca reparação que tenho feito e de minha fraca devoção, ofereço-vos aquela profunda humildade, pureza e caridade com a qual vossa santíssima mãe e vossos servos se aproximaram deste divino sacramento, e aquela com a qual ofereceram este sacrifício vossos apóstolos e todos os santos padres, desde o começo até o presente, e com a qual vo-lo oferece ainda toda a santa Igreja Católica.

Capítulo, 6 Pergunta concernente ao exercício antes da comunhão


Voz do discípulo:
                 Senhor, quando considero vossa dignidade e minha baixeza, tremo de medo e me envergonho diante de mim mesmo. Porque, se me não chego a vós, fujo da vida, e se me apresento indignamente, incorro em vossa indignação. Que farei, pois, Deus meu, meu auxílio e conselheiro em meus apuros?

                 Ensinai-me vós o caminho direto, mostrai-me algum breve exercício.

                 Porque me é útil saber de que modo devo, com devoção e respeito, preparar o meu coração para receber com fruto vosso Sacramento ou celebrar tão grande e divino sacrifício.

Reflexões:
                 Assim como o sacrifício da missa foi instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, em memória de sua santíssima vida, paixão e morte, o padre deve, antes e depois da celebração do sacrifício da missa, fazer comemoração particular de alguns mistérios da vida de Jesus Cristo...

                 Primeiramente, oferecerás esses mistérios ao Pai Eterno para a remissão de teus pecados e dos pecados de todo o mundo.

                 Em segundo lugar, agradecerás e bendirás sua bondade infinita por tais mistérios.

                 Em terceiro lugar, pedirás algumas graças particulares...; mas devo advertir-te, antes de ir adiante, que deves deter-te por um certo tempo para considerar algumas das circunstâncias ou pontos nos quais sentes uma maior devoção.

Oração:
                 Meu Senhor Jesus Cristo, que quisestes morrer, ser embalsamado, envolvido num lençol e sepultado por José de Arimateia e Nicodemos, dai-me a graça de receber dignamente vosso santo corpo no Sacramento do altar, e na minha alma embalsamada com os preciosos unguentos de vossas virtudes. Amém.

Capítulo, 7 Do exame da própria consciência e propósito de emenda


Voz do Amado:
                 Antes de tudo cumpre ao sacerdote de Deus, para celebrar, administrar e receber este Sacramento, que se aproxime com grandíssima humildade de coração e profundo respeito, com viva fé e piedosa intenção de honrar a Deus.

                 Examina diligentemente a tua consciência, procura limpá-la e purificá-la, quanto puderes, com sincera contrição e humilde confissão, de sorte que nada tenhas ou saibas que te pese na consciência, que te cause remorsos e te estorve o livre acesso. Detesta todos os teus pecados em geral, e lamenta mais em particular as faltas cotidianas. E, se o tempo o permite, confessa a Deus, no recôndito de teu coração, toda a miséria de tuas paixões.

                 Aflige-te e geme por seres ainda tão carnal e mundano, tão pouco mortificado nas paixões, tão cheio de movimentos de concupiscência, tão pouco recatado nos sentidos exteriores, tão emaranhado em muitas vãs ilusões, tão inclinado às coisas exteriores, tão descurado das interiores; tão dado ao riso e à dissipação, tão duro para as lágrimas e a compunção; tão pronto para os regalos e cômodos da carne; tão indolente para as austeridades e o fervor; tão curioso por ouvir novidades e ver coisas bonitas; tão remisso em abraçar as humildes e desprezadas; tão cobiçoso de possuir muito; tão parco em dar; tão tenaz em guardar; tão indiscreto no falar; tão insofrido no calar; tão desregrado nos costumes; tão precipitado nas orações; tão sôfrego no comer; tão surdo à palavra de Deus; tão ligeiro para o descanso; tão vagaroso para o trabalho; tão atento para conversas fúteis; tão sonolento para as sagradas vigílias; tão pressuroso por chegar ao fim; tão vago na atenção; tão negligente na recitação do ofício divino; tão tíbio na celebração da missa; tão seco na comunhão; tão depressa distraído; tão raramente bem recolhido; tão precipitado à ira; tão fácil de melindrar os outros; tão propenso a julgar; tão rigoroso em repreender; tão alegre nas prosperidades, tão abatido nas adversidades; tão fecundo em boas resoluções, tão preguiçoso em executá-las.

                 Confessados e chorados estes e outros defeitos, com pesar e vivo sentimento de tua própria fraqueza, toma o firme propósito de emendar tua vida e melhorá-la continuamente. Depois, com plena resignação e inteira vontade, oferece-te a ti mesmo como perpétuo holocausto em honra do meu nome, sobre o altar do teu coração, entregando-me confiadamente teu corpo e tua alma, para que assim mereças oferecer dignamente a Deus o sacrifício e receber com fruto o Sacramento do meu corpo.

                 Pois não há oblação mais digna, nem maior satisfação para expiar os pecados, que oferecer-se a si mesmo a Deus, pura e inteiramente, unido à oblação do corpo de Cristo, na missa e na comunhão. Se o homem fizer o que está em seu poder, e se arrepender verdadeiramente de seus pecados, quantas vezes a mim vier pedir graça e perdão, sempre dirá o Senhor: Por minha vida juro, não quero a morte do pecador, mas que se converta e viva; não mais me lembrarei dos seus pecados, mas todos lhe serão perdoados.  Ezequiel, 18,22; 33,11.

Reflexões:
                 A razão pela qual não recebemos a graça da santificação  uma vez que uma única comunhão bem feita é capaz e suficiente para tornar-nos santos e perfeitos não provém senão do fato de não deixarmos Nosso Senhor reinar em nós como sua bondade o deseja. Ele vem a nós, este Bem-amado de nossas almas, e encontra nossos corações cheios de afeições, vontades e desejos mesquinhos. Mas não é isto que ele busca, porque quer encontrá-los vazios para tornar-se o senhor e regente deles. E para mostrar como deseja isto, ele diz à sua amante sagrada que ela o coloque como um selo sobre seu coração,  Cântico dos Cânticos, 8,6. a fim de que nada possa entrar nele a não ser com sua permissão e de acordo com seu bel-prazer. Ora, sei muito bem que o meio de nossos corações está vazio;  de outra forma seria uma infidelidade muito grande quero dizer que nós não só rejeitamos e detestamos o pecado mortal, mas todo tipo de afeição má.

                 Mas, infelizmente, todos os cantos e recantos de nossos corações estão repletos de mil coisas indignas de aparecer na presença deste Rei soberano, as quais  como parece lhe atam as mãos para impedi-lo de dispensar-nos os bens e as graças que sua bondade desejava conceder-nos, se nos tivesse encontrado preparados. Façamos, portanto, de nossa parte, o que podemos para preparar-nos para receber este pão supersubstancial, abandonando-nos totalmente à divina Providência, não somente no que diz respeito aos bens temporais, mas principalmente aos bens espirituais, manifestando na presença da divina bondade todas as nossas afeições, desejos e inclinações, para lhe sermos inteiramente submissos, e podemos estar certos de que Nosso Senhor, de sua parte, cumprirá a promessa que nos fez de transformar-nos nele, elevando nossa baixeza até ser unida com sua grandeza.

Oração:
                 Porque sois infinitamente bom, Senhor, sábio, poderoso, justo e misericordioso, eu me arrependo de todo o meu coração e estou contrito sobretudo por causa de todos os pecados mortais e veniais que cometi, por pensamentos, palavras, obras e omissões, desde o instante que cheguei ao uso da razão, até a hora presente. E, no lugar de minha dor imperfeita, ofereço-vos a amarga contrição que tiveram de seus pecados o santo Profeta Davi, São Pedro e Santa Maria Madalena, junto com a contrição que tiveram todos os outros verdadeiros penitentes, desde o começo do mundo até o presente, decidido que estou, mediante vossa ajuda, na qual eu confio, de jamais vos ofender.

Capítulo, 8 Da oblação de Cristo na cruz e da própria resignação


Voz do Amado:
                 Assim como eu a mim mesmo ofereci espontaneamente ao Pai Eterno, com os braços estendidos e o corpo nu, de modo que nada restasse em mim que não fosse oferecido em sacrifício de reconciliação divina: assim também deves tu de coração oferecer-te voluntariamente a mim todos os dias na Santa Missa, em oblação pura e santa, com todas as tuas potências e afetos. Que outra coisa exijo de ti senão que te entregues inteiramente a mim? De tudo que me deres fora de ti, não faço caso; porque não busco teus dons, mas a ti mesmo.

                 Assim como não te bastariam todas as coisas sem mim, assim me não pode agradar o que sem ti me ofereces. Oferece-te a mim, dá-te todo a Deus, e será aceita a tua oblação. Olha como me ofereci todo ao Pai por ti, e dei-te todo o meu corpo e sangue em alimento, para ser todo teu e para que tu te tornasses meu. Se, porém, te apegares a ti mesmo, e não te ofereceres espontaneamente à minha vontade, não será completa tua oblação, nem perfeita a união entre nós. Portanto, a todas as tuas obras deve preceder o voluntário oferecimento de ti mesmo nas mãos de Deus, se desejas alcançar a liberdade e a graça. O motivo de haver tão poucos interiormente esclarecidos e livres é que muitos não sabem abnegar-se de todo a si mesmos. É imutável minha sentença: Quem não renunciar a tudo não poderá ser meu discípulo.  São Lucas. 14,33.  Se desejas, pois, ser meu discípulo oferece-te a mim com todos os teus afetos.

Reflexões:
                 Oh! Senhor Jesus, quando será que, tendo sacrificado a vós tudo o que temos, imolaremos tudo o que somos a vós? Quando vamos oferecer-vos em holocausto nosso livre-arbítrio, decorrente do nosso espírito? Quando será que nós o ataremos e estenderemos sobre o altar de vossa cruz, de vossos espinhos, de vossa lança, a fim de que, como uma ovelhinha, seja vítima agradável à vossa vontade, para morrer e queimar no fogo e no gládio do vosso santo amor? Ó livre-arbítrio do meu coração, como será bom para ti estar atado e estendido sobre a cruz do divino Salvador! Como será desejável para ti morrer para ti mesmo para arder para sempre em holocausto ao Senhor!.

Oração:
                 Ó meu Senhor, de todo o meu coração, de todo o meu espírito, de toda a minha alma e com todas as minhas forças, eu vos amo e quero amar-vos sempre sobre todas as coisas. E, se fosse possível, eu gostaria de amar-vos com aquele amor perfeitíssimo com que vos amais a vós mesmo. Com aquele amor com que vossa santíssima humanidade, a santíssima e bem-aventurada Virgem, junto com toda a corte celeste e a santa Igreja Católica vos amam.

Capítulo, 9 Que devemos com tudo quanto é nosso oferecer-nos a Deus, e orar por todos


Voz do discípulo:
                 Senhor, vosso é tudo quanto existe no céu e na terra. Desejo oferecer-me a vós em oblação voluntária e ser vosso para sempre. Senhor, na simplicidade do meu coração me ofereço hoje a vós por servo perpétuo em obséquio e eterno sacrifício de louvor. Recebei-me com este santo sacrifício de vosso precioso corpo, que vos ofereço hoje na presença dos anjos, que a ele invisivelmente assistem, a fim de que sirva para minha salvação e de todo o povo.

                 Senhor, ofereço-vos sobre vosso altar de propiciação todos os meus pecados e delitos que tenho cometido em vossa presença e de vossos santos anjos, desde o dia em que pela primeira vez pequei até à hora presente, para que os consumais e queimeis no fogo de vossa caridade, também apagueis todas as manchas de meus pecados e purifiqueis minha consciência de toda a culpa e me restituais a vossa graça, que perdi pelo pecado, perdoando-me tudo plenamente e admitindo-me na vossa misericórdia ao ósculo da paz.

                 Que posso eu fazer em expiação dos meus pecados, senão confessá-los humildemente e chorá-los, implorando incessantemente vossa misericórdia?

                 Rogo-vos, meu Deus, ouvi-me propício, aqui onde estou em vossa presença!

                 Detesto sumamente todos os meus pecados, e proponho nunca mais cometê-los; arrependo-me deles e me hei de arrepender enquanto viver; pronto estou a fazer penitência e satisfazer conforme as minhas forças. Perdoai-me, meu Deus, perdoai-me os meus pecados pelo vosso santo nome; salvai minha alma que remistes com vosso precioso sangue. Eis que me abandono à vossa misericórdia, e me entrego em vossas mãos. Tratai-me segundo a vossa bondade, não segundo a minha iniquidade e malícia.

                 Ofereço-vos todas as minhas boas obras, por poucas e imperfeitas que sejam, para que vós as emendeis e santifiqueis, e as façais agradáveis a vós e as aperfeiçoeis cada vez mais, e para que me leveis a mim, servo indolente e inútil, a um fim glorioso e bem-aventurado.

                 Ofereço-vos também todos os santos desejos das almas devotas, as necessidades de meus pais, amigos, irmãos, parentes e de todos os que me são caros, ou me fizeram bem a mim e a outros, por vosso amor; também daqueles que me encomendaram e pediram orações e missas por si e para todos os seus, sejam vivos ou defuntos, para que todos sintam o auxílio da vossa graça, o socorro da vossa consolação, a proteção nos perigos, o alívio das penas e que, livres de todos os males, vos rendam, jubilosos, muitas graças.

                 Ofereço-vos, finalmente, todas as orações e a hóstia de propiciação particularmente por aqueles que de qualquer modo me ofenderam, contristaram, censuraram, prejudicaram ou molestaram. Enfim, por todos a quem eu tenha afligido, perturbado, contrariado ou escandalizado, com palavras ou obras, por ignorância ou com advertência, a fim de que a todos nos perdoeis os nossos pecados e mútuas ofensas. Apartai, Senhor, dos nossos corações toda suspeita, indignação, ira e contenda e tudo que possa ofender a caridade e diminuir o amor fraternal. Compadecei-vos, Senhor, compadecei-vos de todos os que imploram vossa misericórdia; dai graças aos que dela necessitam, e fazei-nos tais, que sejamos dignos de gozar a vossa graça e alcançar a vida eterna. Amém.

Reflexões:
                 Em todas as orações e súplicas que fazes a Deus, é preciso não fazê-las somente para ti, mas deves dizer sempre nós, como Nosso Senhor nos ensinou na oração dominical, onde não existe eu, nem me, nem meu: isto quer dizer que tens a intenção de pedir a Deus que ele dê a virtude ou a graça que lhe pedes para ti, também para todos aqueles que têm a mesma necessidade, e que seja sempre para unir-te mais a ele; porque, de outro modo, não devemos pedir nem desejar outra coisa, nem para nós, nem para o próximo, pois este é o fim pelo qual foram instituídos os sacramentos...

                 A oração que fizemos por eles aumenta nosso mérito, tanto para a recompensa da graça nesta vida como da glória na outra.

Capítulo, 10 Que não se deve deixar por leve motivo a Sagrada Comunhão


Voz do Amado:
                 A miúdo deves recorrer à fonte da graça e divina misericórdia, à fonte de bondade e de toda pureza, para que possas ser curado de tuas paixões e vícios, e merecer ficar mais forte e vigilante contra todas as tentações e enganos do demônio. Sabendo o inimigo qual é o fruto e o eficacíssimo remédio que se encerra na santa comunhão, procura por todos os modos e em qualquer ocasião impedir e afastar dela, quanto pode, as almas fiéis e piedosas.

                 Pois a muitos sucede que, quando tratam de preparar-se para a santa comunhão, sofrem as piores sugestões de satanás. Esse espírito maligno  como está escrito no livro de Jó 1,6. mete-se entre os filhos de Deus, para, com sua costumada malícia, perturbá-los ou torná-los demasiadamente tímidos e escrupulosos, a fim de lhes diminuir a devoção ou com suas investidas arrancar-lhes a fé, para que deixem de todo a comunhão ou só se lhe aproximem com tibieza. Mas não se há de fazer caso algum das suas manhas e sugestões, por mais torpes e horríveis que sejam; ao contrário, todas essas fantasias se hão de rechaçar sobre a sua cabeça. Desprezo e irrisão merece esse malvado, e por causa de suas investidas ou inquietações não se há de deixar a comunhão.

                 Muitas vezes também causa embaraço a demasiada preocupação a respeito da devoção ou certo receio da necessária confissão. Procede nisto conforme o conselho dos entendidos, e deixa a ânsia e escrúpulos, porque estorvam a graça de Deus e impedem a devoção da alma. Não deixes a Sagrada Comunhão por qualquer pequena tribulação ou contrariedade, mas vai logo confessar-te e perdoa generosamente aos outros todas as ofensas. Se tu, porém, ofendeste a alguém, pede humildemente perdão, e Deus te perdoará de boa vontade.

                 Que aproveita demorar por muito tempo a confissão ou adiar a Sagrada Comunhão? Purifica-te quanto antes, expele já o veneno, apressa-te em tomar o remédio e achar-te-ás melhor que se por muito tempo o diferes. Se deixas hoje a comunhão, por este ou aquele motivo, talvez que amanhã te sobrevenha outro maior, e assim te podias afastar por muito tempo da comunhão e tornar-te cada vez menos apto. O mais cedo que possas, sacode de ti essa inércia e tibieza, porque nada te aproveita viver muito tempo nessa ânsia e perturbação e privar-te dos divinos mistérios por cotidianos embaraços. Antes prejudica por muito adiar a comunhão por largo tempo; porque isto costuma produzir grave frouxidão. Infelizmente, alguns tíbios e relaxados folgam com os pretextos de adiar a confissão e desejam a demora da comunhão, para não serem obrigados a maior vigilância sobre si mesmos.

                 Ai! Que pouco amor e fraca devoção têm aqueles que tão facilmente deixam a Sagrada Comunhão! Quão feliz, porém, e quão agradável a Deus é quem vive tão santamente e guarda a sua consciência em tal pureza, que todos os dias estaria preparado e disposto a comungar, se lhe fosse permitido e o pudesse fazer sem causar reparo! Quando alguém, por humildade ou algum legítimo impedimento, se abstém de comungar uma vez ou outra, merece louvor por tanta reverência. Insinuando-se lhe, porém, a tibieza, deve reanimar-se a si mesmo e fazer o que puder, e Deus auxiliará o seu desejo, atendendo à boa vontade, que especialmente aprecia.

                 Quando for, porém, legitimamente impedido, conserve ao menos a boa vontade e piedosa intenção de comungar, e deste modo não ficará privado do fruto do Sacramento. Porque todo cristão piedoso pode cada dia e a cada hora, sem embaraço e com proveito, comungar espiritualmente. Contudo, em certos dias e tempo determinado, deve receber com afetuosa reverência o corpo de seu Redentor no Sacramento, e nisto ter em vista mais a honra e glória de Deus, que sua própria consolação. Porque espiritualmente comunga e invisivelmente é recreado, todas as vezes que medita devotamente no mistério da encarnação de Cristo e da sua paixão, e se acende em seu amor.

                 Quem se prepara somente quando uma festa se aproxima ou o costume o obriga, muitas vezes se achará mal preparado. Bem-aventurado aquele que se oferece a Deus em holocausto todas as vezes que celebra a Santa Missa ou comunga! Não sejas, ao celebrar, nem demasiadamente demorado, nem apressado, mas guarda o uso comum e regular daqueles com quem vives. Não deves causar incômodo ou enfado aos demais; mas seguir o caminho traçado pela instituição dos maiores e atender antes ao proveito alheio que à tua própria devoção e afeto.

Reflexões:
                 Não deves surpreender-te com tuas distrações, frieza e secura, porque tudo isto acontece em ti do lado dos sentidos, e na parte de teu coração que não está inteiramente à tua disposição; mas, pelo que vejo, tua coragem está imóvel e invariável em decisões inspiradas por Deus a ti. Na verdade... não se deve deixar a santa comunhão por causa deste tipo de mal; porque nada poderá levantar melhor teu espírito do que seu rei, nada o inflamará tanto como seu sol, nada o abrandará tão suavemente como seu bálsamo.

                 Mesmo que a tentação não cessar, não deixes de comungar, porque, se o fizeres, darás ganho de batalha ao teu adversário. Vai pois adiante, vigorosamente, e, sem levar em conta as tentações, recebe o pão da vida; fazendo isto, permanecerás vitoriosa de teu inimigo. Quem a abandona, a perde.

Oração:
                 Pai Eterno, ofereço à vossa honra e glória e para a minha salvação e de todo o mundo a instituição do Santíssimo Sacramento do altar, que nosso Salvador realizou com tanto amor na última ceia; o fim tão excelso que ele se propôs nesta ação; este ato de humildade tão singular que ele praticou quando lavou os pés de seus discípulos e até do traidor Judas, e o tormento que ele sentiu em seu coração por causa do pecado e da perdição deste discípulo. Eu vos agradeço por tudo isto, vos amo e bendigo infinitamente, e vos peço, pelos méritos deste mistério, perdão pelo pouco de preparação, devoção e reverência com que me apresentei a este Divino Sacramento e o ofereci no altar de vossa Majestade; suplicando-vos que me concedais a graça de ser no futuro devoto e faminto deste alimento celeste, e de me nutrir dele para a salvação e o proveito de minha alma.

Capítulo, 11 Que o Corpo de Cristo e a Sagrada Escritura são sumamente necessários à alma fiel


Voz do discípulo:
                 Ó dulcíssimo Senhor Jesus, quão grande é a doçura de uma alma devota que toma parte no vosso banquete, no qual outro manjar não há que se lhe ofereça, senão vós mesmo, seu único amado, suprema aspiração de todos os desejos de seu coração! Também a mim seria doce derramar em vossa presença lágrimas do mais terno amor e com a piedosa Madalena banhar os vossos pés com meu pranto; mas onde está essa devoção, onde essa copiosa efusão de santas lágrimas? Por certo, na vossa presença e na dos santos anjos, meu coração devia inteiramente ficar abrasado e chorar de alegria, pois vos tenho verdadeiramente presente no Sacramento, embora oculto sob estranhas espécies.

                 Contemplar-vos na vossa própria e divina claridade -- não poderiam suportar meus olhos; nem o mundo todo poderia subsistir perante o fulgor de vossa majestade. Por isso viestes em socorro à minha fraqueza, em vos ocultando debaixo do Sacramento. Possuo realmente e adoro aquele a quem os anjos do céu adoram; mas eu, por enquanto, só pela fé, eles, porém, com clara visão e sem véu. Eu me devo contentar com a luz da verdadeira fé e nela caminhar, até que amanheça o dia da claridade eterna e desapareçam as sombras das figuras. "Mas, quando vier o que é perfeito",  1, Coríntios. 13,10. cessará o uso dos sacramentos; porque os bem-aventurados na glória celeste não necessitam do remédio sacramental. Gozam sem fim da presença de Deus, contemplando a sua glória face a face, e, transformados de claridade em claridade no abismo da divindade, fruem a visão do Verbo de Deus encarnado, como foi no princípio e permanecerá para sempre.

                 Ao lembrar-se dessas maravilhas, qualquer consolação me causa tédio; porque, enquanto não vejo claramente o meu Senhor em sua glória, em nada estimo tudo o que neste mundo vejo e ouço. Vós, meu Deus, me sois testemunha de que nenhuma coisa me pode consolar, nem criatura alguma sossegar-me, senão vós, meu Deus, a quem desejo contemplar eternamente. Mas isso não é possível enquanto vivo nesta vida mortal. Por isso me convém ter grande paciência e submeter-me a vós em todos os meus desejos. Porque também os vossos santos, Senhor, que exultam agora convosco no Reino dos Céus, esperavam durante a sua vida terrestre, com muita fé e paciência, a vinda da vossa glória. O que eles creram, eu o creio também; o que eles esperaram, eu o espero; aonde eles chegaram, espero que hei de chegar também, pela vossa graça. Até então, caminharei na fé, confortado com os exemplos dos santos.

                 Terei ainda os livros santos para consolo e espelho de minha vida e sobretudo terei vosso corpo sagrado como singular remédio e excelente refúgio.

                 Reconheço que neste mundo duas coisas me são sobretudo necessárias, sem as quais me seria insuportável esta miserável vida. Confesso que, enquanto estou detido no cárcere deste corpo, necessito de duas coisas: alimento e luz.

                 Por isso me destes, Senhor, a mim, fraco, o vosso sagrado corpo para sustento da alma e do corpo, e "pusestes a vossa palavra qual cadeia diante de meus pés".  Salmo, 118,105.  Sem estas duas coisas não poderia bem viver; porque a Palavra de Deus é a luz da minha alma e vosso Sacramento o pão de vida. Podem ser chamadas duas mesas, colocadas de um e outro lado do tesouro da Santa Igreja.

                 Uma é a mesa do santo altar, onde está o pão sagrado, isto é, o corpo de Cristo.

                 A outra é a mesa da lei divina, que contém a doutrina santa, nos ensina a verdadeira fé e nos conduz com segurança atrás do véu do santuário, onde está o Santo dos santos. Graças vos dou, Senhor Jesus, luz da luz eterna, pela mesa da sagrada doutrina que nos ministrastes por vossos servos, os profetas, apóstolos e outros santos doutores.

                 Graças vos dou, Criador e Redentor dos homens, que, para dar a todo o mundo uma prova do vosso amor, preparastes uma grande ceia, onde oferecestes em comida, não já o cordeiro figurativo, senão vosso santíssimo corpo e sangue, enchendo de alegria todos os fiéis com este sagrado banquete, e inebriando-os com o cálice da salvação, onde se encerram todas as delícias do paraíso e juntamente convosco se banqueteiam os santos e anjos, mas com mais suaves delícias.

                 Oh! Quão grande e venerável é o ministério dos sacerdotes, aos quais é dado consagrar com palavras santas o Senhor de majestade, bendizê-lo com os lábios, tocá-lo com as mãos, recebê-lo em suas bocas e distribuí-lo aos outros!

                 Oh! Como lhes devem ser limpas as mãos, pura a boca, santo o corpo, imaculado o coração, em que tantas vezes entra o Autor da pureza! Da boca do sacerdote, que tantas vezes recebe o Sacramento de Cristo, palavra não deve sair que não seja santa, honesta e útil.

                 Seus olhos, que costumam contemplar o corpo de Cristo, devem ser modestos e castos. Puras e erguidas aos céus sejam também suas mãos, que tantas vezes tocam o Criador do céu e da terra. Especialmente aos sacerdotes se diz, na lei: Sede santos, que também eu, o Senhor vosso Deus, sou santo.  Levítico, 19,2; 1, Pedro. 1,16.

                 Assista-nos vossa graça, ó Deus onipotente, para que nós, que assumimos o ministério sacerdotal, possamos digna e devotamente servir-vos, com toda pureza e boa consciência. E, se não podemos viver com tanta inocência, como devemos, concedei-nos ao menos a graça de chorar devidamente os pecados cometidos e doravante vos servir com mais fervor, no espírito de humildade, com firme propósito e boa vontade.

Reflexões:
                 Deixa, eu te suplico, os outros filosofar sobre o motivo que tens de comungar: porque basta tua consciência, pois tu e eu sabemos que esta diligência de rever e de reparar muitas vezes tua alma é extremamente útil para conservá-la; e se queres prestar contas a alguém sobre isto, poderás muito bem dizer que tens necessidade de comer tão frequentemente esse divino alimento, porque estás muito fraca, e que sem este reforço teu espírito se dissiparia facilmente. Mas, continua... a apertar bem este querido Salvador no teu peito. Que ele seja o belo e suave buquê sobre o teu coração, de sorte que qualquer pessoa que se aproxime de ti sinta que estás perfumada, e perceba que teu odor é o odor da mirra.


                 Constantino o Grande escreveu honrosamente a Santo Antão, o que fez os religiosos que o cercavam ficar muito admirados. E ele lhes disse: "Como vos admirais que um rei escreva a um homem? Admirai-vos antes que o Deus Eterno tenha escrito sua lei nos mortais, e até lhes tenha falado boca a boca na pessoa de seu Filho".

                 Aqueles que querem ver a estima que os católicos têm sempre pela Sagrada Escritura e o respeito que têm por ela, que admirem o grande e santo Cardeal Borro meu, que jamais abria ou estudava este livro sagrado sem pôr-se de joelhos, pois parecia-lhe ouvir Deus visivelmente falar, e que tal reverência era devida a uma tão divina audiência.

Capítulo, 12 Que a alma se deve preparar com grande diligência para a Sagrada Comunhão


 Voz do Amado:
                 Sou amigo da pureza e dispensador de toda santidade. Busco um coração puro, e este é o lugar do meu repouso. Prepara-me um cenáculo grande e bem ornado, e nele celebrarei a Páscoa com meus discípulos.  São Lucas. 22,12; São Mateus, 26,18.  Se queres que eu venha a ti e fique contigo, lança fora o velho fermento e limpa a morada do teu coração. Desterra dele o mundo todo e o tumulto dos vícios; assenta-te, qual passarinho solitário, no telhado, e relembra teus pecados na amargura de tua alma.  Salmo, 101,8.  Porque todo amante prepara para o seu amado o melhor e mais belo aposento, porque nisto se conhece o amor de quem acolhe o amado.

                 Sabe, porém, que não podes chegar a uma digna preparação com aquilo que fazes, ainda que empregasses nela um ano inteiro, sem cuidar em mais nada. Mas só por minha bondade e graça te é permitido chegar à minha mesa, como se um mendigo fora convidado à mesa de um rico e não tivera outra coisa com que pagar os benefícios recebidos, senão humilde agradecimento. Faze o que podes, e faze-o com diligência; não por costume ou por necessidade, mas por temor, respeito e amor, recebe o corpo do teu amado Senhor e Deus, que se digna de te visitar. Sou eu quem te chamou e mandou que assim se fizesse; eu suprirei o que te falta; vem receber-me.

                 Quando te concedo a graça da devoção, dá graças a teu Deus, não que sejas digno, mas porque tive pena de ti. Se não tens devoção, mas te sentes muito seco, persevera na oração, suspira, bate à porta e não cesses até que mereças receber uma migalha ou uma gota de minha graça salutar. Tu necessitas de mim, e não eu de ti. Não vens tu me santificar a mim, mas sou eu que te venho santificar e fazer melhor. Tu vens para que, santificado por mim e a mim unido, recebas nova graça e de novo te afervores para a emenda. "Não desprezes esta graça";  1, Timóteo, 4,14. mas dispõe com toda diligência teu coração e recebe nele o teu Amado.

                 Importa, porém, que não só te prepares para a devoção antes da comunhão, mas também que a conserves cuidadosamente depois da recepção do Sacramento. Não é menor a vigilância que se exige depois da comunhão, do que a fervorosa preparação antes de recebê-la. Pois essa boa vigilância posterior é novamente a melhor preparação para alcançar maior graça; ao contrário, muito indisposto se torna quem logo depois se dissipa com recreações exteriores. Guarda-te de falar muito, retira-te na solidão e goza do teu Deus; pois possuis aquele que o mundo todo te não pode roubar. A mim te deves entregar inteiramente, de sorte que já não vivas em ti, mas em mim, sem mais cuidado algum.

Reflexões:
                 Quanto à vontade, é preciso purgá-la de uma coisa e adorná-la com outra: purgá-la dos afetos e paixões desregrados e desordenados, mesmo por coisas boas. Por isso aqueles que comiam o cordeiro pascal deviam ter os pés calçados de sapatos, a fim de que não tocassem a terra com os pés: porque os pés da alma são suas afeições que a levam para toda parte onde ela vai,  diz Santo Agostinho e suas afeições não devem tocar a terra, nem estar em estado de abandono, mas devem ser cobertas e impedidas de expandir-se, comendo o verdadeiro Cordeiro pascal que está no Santíssimo Sacramento. Assim, Nosso Senhor lava os pés de seus apóstolos antes de instituir este sacramento, para mostrar que as afeições dos que comungam devem estar muito puras; e o maná devia ser colhido no fresco do dia, antes do nascer do sol, porque os calores naturais dos amores e afetos exagerados impedem que se possa colher este celeste alimento.

                 É preciso vir com uma alma santa e uma vontade viçosa, não inflamada, nem afeiçoada a nenhuma outra coisa senão à colheita deste maná.

                 O tempo mais precioso e que deve ser mais bem aproveitado é o tempo após a comunhão. É então que se deve despertar e reiterar os atos de uma fé viva, de uma profunda adoração e respeito na presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo em nós. É para este momento que devemos excitar e convidar todas as potências de nossa alma para vir prestar-lhe homenagem e por mil santos afetos testemunhar-lhe nosso reconhecimento e amor, ora pelo temor de contristá-lo e afastá-lo de nós, ora pelos testemunhos de confiança, de alegria e de júbilo interior de amor, pela suavidade e pelos sentimentos interiores de sua divina presença, de ações de graças, de resoluções de servi-lo e protestos de uma inviolável fidelidade.

Oração:
                 Ó divino maná que resumis as delícias do corpo e do sangue de meu Salvador Jesus Cristo, é só a vós que desejo e anseio ardentemente receber hoje. Tornai-me amargas todas as delícias dos sentidos e os outros prazeres da vida. Fazei que os desejos de meu coração e os afetos de minha vontade sejam sempre exclusivamente para vós e que jamais eu deguste outras delícias senão as delícias de vosso divino amor. Mostrai-vos a mim, ó soberano Bem-amado de minha alma, e que qualquer outro bem se torne para sempre fastidioso para mim.

Capítulo, 13 Que a alma devota deve aspirar, de todo o coração, à união com Cristo no Sacramento


Voz do discípulo:
                 Quem me dera, Senhor, achar-me só convosco, para vos abrir todo o meu coração e vos gozar como deseja a minha alma a ponto que já ninguém em mim reparasse, nem criatura alguma se preocupasse comigo ou olhasse para mim, mas que só vós me falásseis e eu a vós, como costuma falar o amante com seu amado, e conversar o amigo com seu amigo! Isto peço, isto desejo: ser unido todo a vós e desprender o meu coração de todas as coisas criadas, e pela Sagrada Comunhão e frequente celebração da Santa Missa achar cada vez mais gosto nas coisas celestiais e eternas. Ah! Senhor meu Deus, quando estarei todo unido a vós, absorto em vós, e completamente esquecido de mim? Vós em mim e eu em vós; concedei que fiquemos assim unidos!

                 Vós sois na verdade "meu amado, escolhido entre milhares",  Cântico dos Cânticos, 5,10. no qual deseja a minha alma morar todos os dias de sua vida. Vós sois verdadeiramente meu rei pacífico; em vós está a suma paz e o verdadeiro descanso, e fora de vós só há trabalho, dor e infinita miséria. "Vós sois verdadeiramente um Deus escondido",  Isaías. 45,15. e vosso conselho não é com os ímpios, mas com os humildes, e simples é vossa conversação. "Quão suave, Senhor, é vosso espírito". Para mostrardes a vossa doçura aos vossos filhos, vos dignais saciá-los com o pão suavíssimo que desceu do céu. "Na verdade, não há outra nação tão grande que tenha seus deuses tão perto de si, como vós, nosso Deus, estais perto de todos os fiéis",  Deuteronômio, 4,7. aos quais vos dais em alimento delicioso, para consolá-los diariamente e erguer seus corações ao céu.

                 Que nação há tão ilustre como o povo cristão, ou que criatura debaixo do céu recebe tanto amor como a alma devota a quem Deus se une para nutri-la com a sua gloriosa carne? Ó graça inefável, ó admirável condescendência, ó amor imenso, prodigalizado singularmente ao homem. Mas que darei ao Senhor por esta graça e tão exímia caridade? Oferta mais agradável não posso fazer a meu Deus, que lhe entregar meu coração todo inteiro, para que o una intimamente consigo. Então exultarão de alegria todas as minhas entranhas, quando minha alma estiver perfeitamente unida com Deus. Então me dirá ele:

                 Se tu queres estar comigo, eu também quero estar contigo. E eu lhe responderei: Dignai-vos, Senhor, ficar comigo, pois eu de bom grado quero estar convosco. Este é meu desejo supremo, que meu coração esteja unido convosco.

Reflexões:
                 O santo amor do Salvador nos constrange. Ó Deus! que exemplo de união excelente! Ele se uniu à nossa natureza humana pela graça, como uma vinha ao seu ulmeiro, para torná-la de alguma maneira participante de seu fruto: mas vendo que sua união se desfez pelo pecado de Adão, ele fez uma união mais forte e imperativa na Encarnação, pela qual a natureza humana permanece para sempre unida em unidade de pessoa à Divindade; e, a fim de que não somente a natureza humana, mas todos os seres humanos possam unir-se intimamente à sua bondade, ele instituiu o sacramento da Santíssima Eucaristia, no qual cada um pode participar, para unir seu Salvador a si mesmo, realmente, e por via de alimento.

Dize-lhe que ela comungue resolutamente, em paz, com toda humildade, para corresponder a este Esposo que, para unir-se a nós, aniquilou-se e, suavemente, abaixou-se até tornar-se nosso alimento e pasto, de nós que somos o pasto e o alimento dos vermes... Quem comunga segundo o espírito do Esposo, aniquila-se a si mesmo e diz a Nosso Senhor: Mastigai-me, digeri-me, aniquilai-me e convertei-me em vós.

Capítulo, 14 Do ardente desejo que têm alguns devotos de receber o Corpo de Cristo


Voz do discípulo:
                 Oh! Como é grande, Senhor, a abundância da vossa doçura, que reservastes para os que vos temem!.  Salmo, 30,20.  Quando me lembro, Senhor, de alguns devotos que se aproximam do vosso Sacramento com o maior fervor e afeto, fico muitas vezes confuso e envergonhado de mim mesmo, por chegar tão tíbio e frio ao vosso altar e à mesa da Sagrada Comunhão; por ficar tão seco e sem fervor de coração; por não estar de todo abrasado diante de vós, meu Deus, nem tão veementemente atraído e comovido, como estavam muitos devotos, que, pelo grande desejo de Sagrada Comunhão e amor sensível do seu coração, não podiam reprimir as lágrimas, mas com a boca da alma e do corpo ao mesmo tempo suspiravam ardentemente por vós, a fonte viva, não podendo mitigar nem saciar essa fome doutro modo, senão recebendo vosso corpo com toda alegria e ânsia espiritual.

                 Oh! Esta fé verdadeira e ardente é prova manifesta de vossa sagrada presença! Estes verdadeiramente reconhecem seu Senhor ao partir do pão, porque seu coração está em companhia deles. Longe está de mim tal devoção e ternura, tão vivo amor e fervor. Sede-me propício, ó bom, ó doce, ó benigno Jesus, e concedei a este vosso pobre mendigo que sinta ao menos alguma vez na Sagrada Comunhão um pouco do afeto cordial do vosso amor, para que se fortaleça minha fé, cresça minha esperança em vossa bondade, a minha caridade, uma vez bem acesa e acostumada ao celestial maná, jamais desfaleça.

                 Vossa misericórdia é bastante poderosa para me dar a graça desejada, e visitar-me em vossa clemência, no dia que vos aprouver, com o espírito de fervor. Pois ainda que não esteja acendido de tão ardentes desejos, como vossos privilegiados devotos, sinto, todavia, com a vossa graça, o desejo de seus abrasados desejos, e peço e rogo o favor de participar do fervor de todos esses vossos amigos e ser agregado à sua santa companhia.

Reflexões:
                 Quanto a Nossa Senhora, podemos imaginar qual foi seu ardor interior, sua devoção, sua humildade, sua confiança e sua coragem, quando o anjo lhe disse:

                 O Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra, e por isso aquele que de ti nascer será chamado Filho de Deus... porque para Deus nada é impossível.  São Lucas. 1,35-37.  Não se deve absolutamente duvidar que seu abençoado coração se abrisse inteiramente aos raios dessas palavras, que se aprofundasse sob tantas bênçãos e que, à medida que ela ouvia que Deus lhe dava seu próprio coração, que é seu Filho, ela o desse reciprocamente a Deus, e que então esta super santa Virgem, fundida em caridade, podia dizer: Minha alma desfalecia quando meu Bem-amado falava.  Cântico dos Cânticos, 5,6.

Capítulo, 15 Que a graça da devoção se alcança pela humildade e abnegação de si mesmo


Voz do Amado:
                 Com perseverança deves buscar a graça da devoção, pedi-la com instância, esperá-la com paciência e confiança, recebê-la com agradecimento, guardá-la com humildade, com diligência aproveitá-la, cometendo a Deus o tempo e o modo da celestial visita, até que se digne visitar-te. Deves principalmente humilhar-te quando pouca ou nenhuma devoção sentes em teu interior, sem, todavia, ficar abatido ou entristecer-te demasiadamente. Muitas vezes dá Deus num momento o que negou por largo tempo, e às vezes concede no fim da oração o que no princípio diferiu.

                 Se a graça fora sempre prontamente outorgada e oferecida à vontade, tanto não podia suportar o homem fraco. Por isso a deves esperar com firme confiança e humilde paciência. Mas atribui a culpa a ti e aos teus pecados, quando te for negada ou ocultamente retirada. Às vezes é bem pouco o que impede ou oculta a graça, se é que se pode chamar pouco e não muito, o que priva de tão grande bem. E se removeres este pequeno ou grande impedimento, e se te venceres perfeitamente, terás o que pediste.

                 Porque logo que de todo o teu coração te entregares a Deus e não buscares coisa alguma a teu gosto e desejo, mas inteiramente te puseres em suas mãos, achar-te-ás unido a ele e sossegado, e nada te será tão delicioso e agradável como o beneplácito da divina vontade. Todo aquele, pois, que com coração singelo dirige a sua intenção a Deus e se desprende de todo amor ou aversão desordenada a qualquer coisa criada, está bem disposto para receber a graça e digno de alcançar a devoção, porque o Senhor dá a sua bênção onde encontra o coração vazio. E quanto mais perfeitamente alguém renuncia às coisas terrenas e morre a si pelo desprezo de si mesmo, tanto mais depressa lhe advém a graça, mais copiosamente se lhe infunde e mais alto lhe ergue o coração livre.

                 Então verá, terá alegria abundante e estará maravilhoso; o coração se lhe dilatará, porque a mão do Senhor está com ele,  Isaías. 60,5. e em suas mãos ele inteiramente se entregou para sempre. Eis como será abençoado o homem que busca a Deus de todo o seu coração, e não deixa sua alma se apegar às vaidades.  Salmo, 23,5.  Esse é que na recepção da Sagrada Eucaristia merece a graça inefável da união com Deus, porque não olha para a sua devoção e consolação, mas sobretudo busca a honra e glória de Deus.

Reflexões:

                 Quando me sentir seco e árido na santa comunhão, vou seguir o exemplo dos pobres, quando sentem frio; porque, como não têm com que fazer fogo, eles caminham e fazem exercício para aquecer-se. Assim também vou redobrar minhas orações e a leitura de algum tratado do Santíssimo Sacramento, que, com toda humildade e uma fé firme, eu adoro.

                 O grande segredo para manter uma boa devoção é ter muita humildade. Sê humilde, e Deus será por ti e apoiará tua boa vontade. Entrega-te a ele sem fingimento e sem reserva, dizendo-lhe do fundo do teu coração que, se até o presente não o serviste bem, que ele tenha a bondade de perdoar-te e fortalecer-te na resolução que tomaste de desapegar-te de todas as afeições do mundo, e de não apegar-te a nada, a não ser ao amor de Deus, e de servi-lo fielmente de todo o teu coração.

Oração:

                 Quem sou eu e quem sois vós, ó meu Deus, que vindes a mim? E donde me vem esta felicidade de que não recusais habitar na minha alma pecadora? Vinde, pois, nesse bom momento, ó divino Esposo de minha alma! Beijai-me, se quiserdes, com o sagrado beijo de vossa boca, e supri, com o excesso de vossa bondade, todas as minhas indignidades e misérias. Que seja este o sagrado penhor da íntima união e da ligação indissolúvel que quereis fazer com minha alma.

Capítulo, 16 Como devemos descobrir nossas necessidades a Cristo e pedir sua graça


Voz do discípulo:

                 Ó dulcíssimo e amabilíssimo Senhor, a quem desejo agora devotamente receber, vós conheceis minha fraqueza e a necessidade que sofro; sabeis em quantos males e vícios estou emaranhado, quantas vezes estou oprimido, tentado, perturbado e manchado! A vós peço consolação e alívio. Convosco falo, meu Deus, que sabeis todas as coisas e a quem são manifestos todos os segredos do meu coração; vós sois o único que me pode perfeitamente consolar e socorrer. Sabeis os bens de que mais necessito e quão pobre sou em virtudes.

                 Eis-me aqui, diante de vós, pobre e nu, a pedir graça e implorar misericórdia. Fartai este vosso pobre mendigo, aquecei minha frieza com o fogo de vosso amor, iluminai minha cegueira com a claridade de vossa presença.

                 Fazei que me seja amargo tudo o que é terreno, que leve com paciência as penas e contrariedades, e que despreze e esqueça todas as coisas caducas e criadas. Levantai o meu coração a vós no céu, não me deixeis vaguear na terra.

                 Só vós, desde hoje para sempre, me sereis doce e agradável, porque só vós sois minha comida e bebida, meu amor e minha alegria, delícia minha e meu único bem.

                 Oh! Se me inflamásseis todo com a vossa presença e me abrasásseis e transformásseis em vós, a ponto de tornar-me um só espírito convosco pela graça da união interior e a força do ardente amor! Não me deixeis sair de vossa presença seco e faminto, mas usai para comigo de vossa misericórdia, como tantas vezes admiravelmente fizestes com vossos santos. E que maravilha fora se todo me abrasasse em vós e me consumisse, sendo vós o fogo que sempre arde e nunca se apaga, o amor que purifica os corações e ilumina o entendimento?

Reflexões:

                 Santa Clara, estando um dia em sua cidade de Assis... sitiada, ela se fez levar aos muros, pediu que fosse trazido o Santíssimo Sacramento e fez esta oração a Deus: "Senhor, não entregueis às feras as almas daquelas que vos servem, e guardai vossas servas que resgatastes com vosso sangue precioso". Os sarracenos fugiram e aqueles que escalavam os muros perderam a visão. Ah! Como a frequentação deste sacramento expulsa os inimigos externos e internos! É uma vergonha ver como se faz pouco caso disto; parece-me que a Igreja diz as palavras de Jó: Quem me dera ser como fui nos tempos passados dos meus primeiros anos, e como fui no começo e nos dias de minha adolescência, quando Deus velava por mim...; como era nos dias de minha prosperidade, quando ele habitava secretamente comigo na minha tenda!.  Jó 29,2-4.

                 É preciso que vos diga que com o santo sereis santos.  Salmo, 18,26.  Ah! Aquele que se alimenta muitas vezes deste pão celeste pode muito bem dizer: O Senhor é minha luz, a quem temerei? O Senhor é o protetor de minha vida, de quem terei medo?  Salmo, 27,1. porque, ainda que eu ande no meio de espessas trevas, meu coração não temerá mal algum.  Salmo, 23,4.

Capítulo, 17 Do ardente amor e veemente desejo de receber a Cristo


Voz do discípulo:

                 Com suma devoção e abrasado amor, com todo o afeto e fervor do coração, desejo receber-vos, Senhor, como muitos santos e pessoas devotas o desejaram, os quais vos agradaram principalmente pela santidade de sua vida e pela ardentíssima devoção que os animava. Ó Deus meu, amor eterno, meu único bem, bem-aventurança interminável! Desejo receber-vos com o mais ardente afeto e a mais digna reverência que jamais sentiu ou pôde sentir santo algum!

                 E ainda que seja indigno de todos esses sentimentos de devoção, ofereço-vos, todavia, o afeto do meu coração, como se eu só tivera todos aqueles gratíssimos e inflamados desejos. Mas tudo quanto pode conceber e desejar um coração piedoso, eu vo-lo dou e ofereço com profunda reverência e íntimo fervor. Nada quero reservar para mim, mas a mim, e tudo que é meu quero sacrificar-vos espontaneamente, de boa vontade, Senhor, Deus meu, Criador e Redentor meu! Desejo receber-vos hoje com tal afeto e reverência, com tal louvor e honra, com tal agradecimento, dignidade e pureza, com tal fé, esperança e amor, como vos desejou e recebeu vossa Mãe Santíssima, a gloriosa Virgem Maria, quando, ao anjo que lhe anunciou o mistério da encarnação, humilde e devotamente respondeu: Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra!.  São Lucas. 1,38.

                 E como vosso bem-aventurado precursor João Batista, o mais excelente dos santos, quando ainda estava nas entranhas maternas, exultou de alegria na vossa presença por impulso do Espírito Santo, e vendo-vos, meu Jesus, depois andar entre os homens com profunda humildade e devoto afeto, dizia: O amigo do Esposo que está perto dele e o ouve regozija-se ouvindo a voz do Esposo;  São João, 3,29. assim também eu quisera ser inflamado de veementes e santos desejos e entregar-me a vós de todo o meu coração. Por isso vos ofereço o júbilo de todas as almas devotas, seus abrasados afetos de amor, os êxtases de seu espírito, suas iluminações sobrenaturais e visões celestiais, e vo-las apresento com todas as virtudes e louvores que vos tributaram ou hão de tributar todas as criaturas do céu e da terra, por mim e por todos os que se recomendaram às minhas orações, para que sejais por todos dignamente louvado e para sempre glorificado.

                 Aceitai, Senhor, Deus meu, os votos e desejos de infinitos louvores e imensas ações de graças, que vos são justamente devidas, segundo a vossa inefável grandeza. Isso vos ofereço, e desejo oferecer cada dia e a cada momento, e convido com minhas súplicas e rogos todos os espíritos celestes e todos os vossos fiéis a vos agradecerem comigo e louvarem.

                 Louvem-vos todos os povos, tribos e línguas; com suma alegria e ardente devoção glorifiquem o vosso santo e dulcíssimo nome. E todos aqueles que com devoção e reverência consagram vosso augusto Sacramento e com viva fé o recebem, mereçam achar graça e misericórdia diante de vós e peçam a Deus humildemente por mim, pecador. E quando tiverem conseguido a desejada devoção e o gozo da união convosco e voltarem da mesa sagrada, consolados e maravilhosamente recreados, dignem-se lembrar-se também deste pobre.

Reflexões:

                 É preciso adornar a vontade com uma afeição e desejo extremo deste alimento celeste, deste maná secreto, porque foi ordenado aos que comiam o Cordeiro Pascal que o comessem avidamente e com pressa, e aos que colhiam o maná que se lavassem bem cedo. E Nosso Senhor mesmo, antes de instituir este santo sacramento, o havia desejado veementemente: Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco...  São Lucas. 22,15.

                 Podes servir-te de alguns arroubos de orações vocais, que repetirás muitas vezes, sobretudo depois das vésperas, como seria o de São Francisco: "Quem sou eu, Senhor, e quem sois vós?", ou o de Santa Isabel: "Donde me vem essa felicidade de receber o meu Senhor?"  São Lucas. 2,43. ou o de São João-Batista: "E tu vens a mim, Senhor?",  São Mateus, 3,14. ou o da Esposa sagrada: "Que meu esposo me beije com um beijo de sua boca".  Cântico dos Cânticos, 1,1.

Capítulo, 18 Que o homem não seja curioso escrutador do Sacramento, mas humilde imitador de Cristo, sujeitando sua razão à santa fé


Voz do Amado:
                 Foge do desejo curioso e inútil de investigar este profundíssimo mistério, se não te queres afogar num abismo de dúvidas. Quem quer perscrutar a majestade será oprimido por sua glória.  Provérbios, 25,27.  Mais pode Deus fazer, que o homem compreender. Contudo é permitida uma piedosa e humilde investigação da verdade, que sempre está inclinada a ser instruída e segue a sã doutrina dos Santos Padres:

                 Bem-aventurada a simplicidade, que deixa os caminhos dificultosos das discussões, para andar no caminho plano e firme dos mandamentos de Deus! Muitos perderam a devoção, porque quiseram investigar coisas muito altas. O que se exige de ti é fé e inocência, não sublime inteligência, nem profundo conhecimento dos mistérios de Deus. Se não entendes, nem compreendes as coisas que estão abaixo de ti, como alcançarás as que estão acima? Sujeita-te a Deus e submete teu juízo à fé, e se te dará a luz da ciência, conforme te for útil e necessário.

                 Alguns são gravemente tentados acerca da fé, nesse Sacramento; mas isso não se deve imputar a eles, senão ao inimigo. Não te importes, nem disputes com teus próprios pensamentos, nem respondas às dúvidas que o demônio te sugere, mas crê nas palavras de Deus, crê nos seus santos e profetas, e fugirá de ti o malvado inimigo. Muitas vezes é de grande proveito ao servo de Deus passar por tais provações, porque o demônio não tenta aos infiéis e pecadores, que já tem seguros: aos fiéis devotos, porém, ele tenta e molesta de vários modos.

                 Persevera, pois, na fé, firme e simples, e chega-te ao Sacramento com profunda reverência. E quanto ao que não podes compreender, encomenda-o tranquilamente a Deus onipotente. Deus não te engana; mas se engana quem demasiadamente confia em si mesmo. Deus anda com os simples, revela-se aos humildes, dá inteligência aos pequenos, abre o sentido às almas puras e esconde sua graça aos curiosos e soberbos. A razão humana é fraca e pode enganar-se, mas a fé verdadeira não se pode enganar.

                 Toda razão e pesquisa natural deve seguir a fé, não precedê-la, nem enfraquecê-la, porque a fé e o amor aqui dominam e operam ocultamente nesse santíssimo e diviníssimo Sacramento. "Deus eterno, imenso e infinitamente poderoso faz coisas grandes e incompreensíveis no céu e na terra",  Jó 5,9. e ninguém pode penetrar as maravilhas de suas obras. Se fossem tais as obras de Deus, que facilmente as compreendesse a razão humana, não deveriam ser chamadas maravilhosas, nem inefáveis.

Reflexões:
                 Oh! Profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Quão insondáveis são as suas decisões e impenetráveis os seus caminhos! Pois quem pode compreender o pensamento do Senhor? Quem jamais foi seu conselheiro?.  Romanos, 11,33-34.  Teótimo, as razões da vontade divina não podem ser penetradas por nosso espírito, até que vejamos a face daquele que se estende com vigor de um extremo a outro e tudo governa com suavidade,  Sabedoria, 8,1. dispondo tudo com número, peso e medida,  Sabedoria, 11,21. e ao qual o salmista diz: Senhor, tudo fizestes com sabedoria.  Salmo, 104,24.

                 Pois quê! Mosquitinho que te nutres de minha carne, queres queimar tuas asas neste imenso fogo do poder divino que consumiria e devoraria os serafins, se eles se atrevessem a tal curiosidade? Não, borboletinha, cabe-te apenas adorar e abismar-te e não sondar a profundidade deste mistério. Para trás, satanás! Lembra-te, desgraçado, que tua presunção de querer voar alto demais te precipitou no inferno. Eu não ousaria dar este salto, por meio da graça de meu Deus. Tu enganaste assim a pobre Eva, querendo ensinar-lhe a saber tanto quanto Deus, mas não me enganarás, porque eu quero crer e não saber nada.

Oração:
                 Ó sagrado Pão da vida, como venho a vós na simplicidade de minha fé, para nutrir-me e sustentar-me de vosso precioso corpo, dai-vos também a mim na doçura e plenitude de vosso amor. Que todo outro conhecimento das coisas criadas pereça em meu espírito, à vista e à luz de vossas verdades! Que toda a minha ciência e meu conhecimento sejam destinados a conhecer-vos, ó Jesus crucificado por meu amor, que me deixastes um perfeito memorial deste amor neste sacramento!.

Orações durante a Santa Missa

No começo da missa
                 Ó meu Deus, dai-me a graça de entrar nas disposições em que devo estar, para oferecer-vos dignamente, pelas mãos do sacerdote, o admirável sacrifício a que vou assistir. Eu vo-lo ofereço, unindo-me às intenções de Jesus Cristo e de sua Igreja, para render à vossa divina majestade a homenagem soberana que lhe é devida, e agradecer-vos por vossos benefícios; para pedir-vos, com o coração contrito, a remissão dos meus pecados e todas as graças que me são necessárias para a salvação da alma e a vida do corpo. Espero, ó meu Deus, obter essas graças pelos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho que quis ser Ele mesmo a vítima e o sacerdote deste sacrifício adorável.

Ao confiteor
                 Ó meu Deus, vós não precisais de minha confissão para conhecer meus pecados, pois podeis ler no meu coração todas as minhas iniquidades; mas eu vo-las confesso diante do céu e da terra; confesso que vos ofendi mil vezes por meus pensamentos, minhas palavras e minhas ações. Meus pecados são grandes, mas vossa misericórdia é infinita. Tende piedade de mim, ó meu Deus! Lembrai-vos que sou vosso filho, a obra de vossas mãos e o preço do vosso sangue.

                 Virgem santa, anjos do céu, santos e santas do paraíso, orai por nós, e, enquanto gememos neste vale de lágrimas, pedi graça para nós, e obtende-nos o perdão de nossos pecados.

Ao introito
                 Senhor, que inspiraste aos patriarcas e aos profetas desejos tão ardentes de ver vosso filho único descer à terra, dai-me um pouco deste santo ardor, e fazei que, apesar dos obstáculos desta vida mortal, eu sinta em mim uma santa pressa de unir-me a vós.

Ao Kyrie Eleison
                 Eu vos peço, ó meu Deus, através de gemidos e suspiros reiterados, que tenhais misericórdia de mim, e mesmo que eu vos dissesse em todos os momentos de minha vida: Senhor, tende piedade de mim, isto ainda não seria bastante para o número e enormidade de meus pecados.

Ao Gloria in excelsis
                 É só no céu, ó meu Deus, que se pode render-vos a glória que mereceis. Meu coração faz todavia o que pode na terra, no meio de seu exílio: ele vos louva, vos bendiz, vos adora, vos glorifica, vos dá graças e vos reconhece como o Santo dos Santos, o único Senhor soberano do céu e da terra, Deus em três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Às orações
                 Recebei, Senhor, as orações que vos são dirigidas por nós; concedei-nos as graças e as virtudes que a Igreja, vossa esposa, vos pede pela boca do sacerdote.

                 É verdade que não merecemos ser atendidos, mas considerai que vos pedimos essas graças por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que vive e reina convosco pelos séculos dos séculos. Amém.

Durante a epístola
                 Eu vejo esta epístola, ó meu Deus, como uma carta que me vem do céu para me fazer conhecer vossa vontade adorável. Concedei-me, se for do vosso agrado, a força de que preciso para cumprir o que me ordenais. Fostes vós, Senhor, que inspirastes aos profetas e aos apóstolos o que eles nos deixaram em seus escritos. Fazei-me participar de suas luzes e acendei em meu coração o fogo sagrado que os abrasou, a fim de que, como eles, eu vos ame e vos sirva na terra, todos os dias de minha vida.

Ao Evangelho
                 Eu me levanto, ó soberano Legislador, para mostrar-vos que estou pronto para defender, às custas de todos os meus interesses e de minha própria vida, as grandes verdades que estão contidas no santo Evangelho. Dai-me, Senhor, tanta força para cumprir vossa divina palavra quanta firmeza me inspirais para crer nela.

Durante o Credo
                 Sim, meu Deus, eu creio em todas as verdades que revelastes à vossa santa Igreja. Não há uma só pela qual não estou pronto a dar o meu sangue, e é nesta total submissão que, unindo-me à profissão de fé que o sacerdote vos faz, digo de coração, como ele diz de viva voz, que creio firmemente em vós e em tudo o que crê vossa Santa Igreja. Protesto diante de vossos altares que quero viver e morrer nos sentimentos desta fé pura, e no seio da Igreja Católica, Apostólica e Romana.

Ao Ofertório
                 Não sou mais do que uma criatura mortal e pecadora, mas permiti que eu vos ofereça, pelas mãos do sacerdote, ó verdadeiro Deus vivo e eterno, este pão e este vinho que devem ser transformados no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo vosso Filho. Recebei, Senhor, este sacrifício inefável em odor de suavidade, e permiti que eu reúna a esta oblação santa o sacrifício que vos faço do meu corpo, da minha alma e de tudo o que me pertence. Transformai-me, ó meu Deus, numa nova criatura, como transformareis, por vosso poder, este pão e este vinho.

Ao lavabo
                 Lavai-me, Senhor, no sangue do Cordeiro que vai ser imolado e purificai até as mínimas manchas de minha alma, a fim de que, aproximando-me do vosso santo altar, eu possa, como me ordenais, elevar para vós mãos puras e inocentes.

Durante a secreta
                 Recebei, ó meu Deus, o sacrifício que vos é oferecido para a honra e a glória de vosso santo nome, para o nosso próprio bem e o bem de vossa santa Igreja. É para entrar em suas intenções que peço todas as graças que ela vos pede agora, pelo ministério do sacerdote, ao qual me uno para obtê-las de vossa divina bondade. Por Jesus Cristo nosso Senhor.

Ao prefácio
                 Desapegai-nos, Senhor, de todas as coisas daqui de baixo, elevai nossos corações para o céu e apegai-os somente a vós. Permiti que, rendendo-vos os louvores e as ações de graças que vos são devidos, possamos unir nossas fracas vozes ao concerto dos espíritos bem-aventurados, e que possamos dizer no lugar do nosso exílio o que eles cantam na glória do céu: Santo, santo, santo é o Senhor Deus dos exércitos! Que ele seja glorificado no mais alto dos céus!

Depois do Sanctus
                 Pai Eterno, que sois o soberano Pastor dos pastores, conservai e governai vossa Igreja, santificai-a e espalhai-a por toda a terra, uni num mesmo espírito e num mesmo coração todos aqueles que fazem parte dela. Abençoai nosso santo Padre o Papa, nosso prelado, nosso rei, nosso pastor e todos aqueles que estão na fé de vossa Igreja.

Ao primeiro memento
                 Lembrai-vos, ó meu Deus, eu vos suplico, de meus parentes, meus amigos e meus benfeitores espirituais e temporais. Também vos recomendo de todo o meu coração as pessoas da parte das quais eu possa ter recebido alguma injúria.

                 Esquecei seus pecados e os meus, fazei-as participar nos méritos deste divino sacrifício, e cumulai-as de vossas bênçãos neste mundo e no outro.

À elevação da Santa Hóstia
                 Ó Jesus, meu Salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, eu creio firmemente que estais realmente presente na santa Hóstia. Eu vos adoro nela de todo o meu coração, como meu Senhor e meu Deus. Dai-me, assim como a todos que estão aqui presentes, os sentimentos de fé e de amor que devemos ter por vós neste mistério adorável.

À elevação do cálice
                 Adoro neste cálice, ó meu divino Jesus, o preço de minha redenção e da redenção de todos os seres humanos. Deixai correr, Senhor, uma gota deste Sangue adorável sobre minha alma, a fim de purificá-la de todos os seus pecados e de abrasá-la no fogo sagrado do vosso amor.

Após a elevação
                 Já não é mais o pão nem o vinho, é o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, vosso Filho, que nós vos oferecemos, ó meu Deus, em memória de sua Paixão, de sua Ressurreição e de sua Ascensão. Recebei-os em vossas mãos, Senhor, e enchei-nos de vossas graças.

Ao segundo memento
                 Lembrai-vos também, Senhor, das almas que estão no purgatório; elas têm a honra de vos pertencer e de ser vossas esposas. Eu vos recomendo particularmente as almas de meus parentes e amigos, de meus benfeitores espirituais e temporais, e aquelas que têm mais necessidade de orações.

Ao Pater
                 Não sou mais do que uma miserável criatura, ó Deus Todo-poderoso, mas ouso chamar-vos meu Pai, visto que o quereis. Concedei-me a graça de nunca degenerar da qualidade de vosso filho, e de jamais fazer alguma coisa que seja indigna dela. Que vosso santo nome seja santificado por todo o universo. Reinai desde o presente em meu coração, a fim de que eu possa reinar eternamente convosco na glória, e fazer vossa vontade na terra como os santos a fazem no céu. Vós sois meu Pai, dai-me, pois, se for do vosso agrado, este pão com o qual nutris vossos filhos. Perdoai-me como eu perdoo de boa vontade, por amor de vós, a todos aqueles que me teriam ofendido. Não permitais que eu jamais sucumba à tentação, mas fazei que, pelo auxílio de vossa graça, eu triunfe de todos os inimigos de minha salvação.

Ao Agnus Dei
                 Cordeiro de Deus que quisestes carregar os pecados do mundo, tende piedade de nós. Nossos pecados são inúmeros, mas vossa misericórdia é infinita; apagai, pois, os nossos pecados e dai-nos a paz conosco mesmos e com o nosso próximo, inspirando-nos uma profunda humildade, e extinguindo em nós todo desejo de vingança.

Ao Domine non sum dignus
                 Infelizmente, Senhor, a verdade é que não mereço receber-vos; eu me tornei completamente indigno por causa de meus pecados; eu os detesto de todo o meu coração, porque eles vos desagradam e me afastam de vós. Uma só de vossas palavras pode curar minha alma; não me abandoneis, ó meu Deus, nem permitais jamais que ela se separe de vós.

À Comunhão do sacerdote
                 Se não tenho hoje a felicidade de ser nutrido de vossa carne adorável, ó meu amável Jesus, permiti ao menos que eu vos receba em espírito, e que fique unido a vós por uma fé viva, uma firme esperança e uma ardente caridade. Creio em vós, ó meu Deus, espero em vós e vos amo de todo o meu coração.

Quando o sacerdote junta as partículas da Santa Hóstia
                 A mínima parte de vossas graças é infinitamente preciosa, ó meu Deus! Como eu já disse, não mereço estar sentado à vossa mesa como vosso filho; mas permiti-me ao menos recolher as migalhas que caem da mesa, como desejava a cananeia; fazei que eu não negligencie nenhuma de vossas inspirações, pois esta negligência poderia privar-me totalmente delas.

Durante as últimas orações
                 Vós quereis, Senhor, que vos dirijamos sem cessar nossas preces, porque sempre temos necessidade de vossas graças. Difundi-as sobre nós e dai-nos este espírito de oração, de humildade, de confiança e de amor; isto vos suplicamos por Jesus Cristo, vosso Filho, que reina convosco na glória.

Antes da bênção
                 Santíssima e adorabilíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, único e verdadeiro Deus em três pessoas: é por vós que começamos este Sacrifício e é por vós que o terminamos. Aceitai-o como agradável e não nos deixeis partir sem ter-nos dado vossa santa bênção.

Durante o último Evangelho
                 Verbo Eterno, por quem todas as coisas foram feitas, e que tendo-se feito homem por nós, instituístes este augusto sacrifício, nós vos agradecemos humildemente por ter-nos dado a graça de assisti-lo hoje. Que todos os anjos e todos os santos vos louvem para sempre no céu por tão grande dádiva. Perdoai-me, ó meu Deus, a distração do meu espírito, e a frieza do meu coração, num tempo em que ele devia estar todo ocupado convosco e todo abrasado de vosso amor. Esquecei, Senhor, meus pecados pelos quais Jesus Cristo, vosso Filho acaba de ser imolado sobre este altar; não permitais que eu tenha a infelicidade de vos ofender novamente, mas fazei que, caminhando nas vias da justiça, eu fixe meus olhos sem cessar em vós como a regra e o fim dos meus pensamentos, das minhas palavras e das minhas obras.

Orações para a Confissão

Antes do exame
                 Deus santo, que estais sempre favoravelmente disposto a receber o pecador e a perdoar-lhe, lançai os olhos sobre uma alma que quer retornar a vós e purificar-se de suas faltas nas águas salutares da penitência. Dai-me a graça, ó meu Deus, de aproximar-me da penitência com as disposições necessárias.

                 Esclarecei meu espírito, a fim de que eu conheça meus pecados; tocai meu coração a fim de que, detestando-os com todas as minhas forças, possa obter-lhes o perdão.

                 Espírito Santo, fonte de luzes, dignai-vos dissipar as trevas que me cegam.

                 Fazei-me conhecer meus pecados tão distintamente como os verei no dia em que deverei aparecer diante de vós para ser julgado. Mostrai-me não somente o mal que cometi, mas também o bem que omiti; fazei cair o véu que o meu amor-próprio coloca diante dos meus olhos, a fim de que eu possa conhecer a mim mesmo e dar-me a conhecer àquele que está no vosso lugar.

                 Examina exatamente todos os pecados que cometeste por pensamentos, por atos ou por omissões. Examina-te sobre os mandamentos de Deus e da Igreja, assim como sobre os deveres de teu estado.

Após o exame
                 Que motivo de confusão para mim, ó meu Deus, cair sempre nas mesmas faltas, depois de ter prometido tantas vezes não mais cometê-las. Como pude pecar na vossa presença, sabendo que o pecado vos desagrada, e abusando até de vossos benefícios para vos ofender?

                 Meu Deus, pequei contra o céu e contra vós! Já não sou digno de ser chamado vosso filho. Mas dignai-vos lançar sobre mim um olhar de misericórdia. Deixai-vos tocar pelos remorsos de um coração sinceramente aflito por ter-vos ofendido, vós que sois tão bom e tão digno de ser amado.

                 Aconteça o que acontecer, ó meu Deus, quero morrer para mim mesmo e amar-vos acima de tudo. Custe o que custar, quero viver segundo a vossa vontade e não segundo a minha. Seja qual for a violência que devo fazer, quero ser justo, sincero, caridoso, reconhecido, casto, sóbrio e renunciar às minhas inclinações viciosas, fugir das más companhias e evitar as ocasiões de recaídas.

                 Ordenai, Senhor, ordenai tudo que quereis à vossa frágil criatura que tudo vos deve; mas dai-lhe o dom de amar e de fazer tudo que lhe ordenais. Não permitais que ela vos seja novamente infiel e que abuse de vossas graças.

                 Aproxima-te do tribunal da penitência com os mesmos sentimentos que terias se Jesus Cristo em pessoa ocupasse o lugar do padre.

                 Começa tua confissão pelo Confiteor até o meã culpa. Depois de ter declarado todos os teus pecados, termina assim a tua confissão: Eu me acuso de todos esses pecados e dos que não me lembro agora, como também de todos os pecados de minha vida passada, e em particular de tais ou tais. Peço humildemente perdão a Deus, e a vós, padre, penitência e absolvição. Meã culpa, etc.

Após a Confissão
                 Ó minha alma, agradece ao Senhor teu Deus e reconhece os prodígios de sua misericórdia infinita. Pelos terríveis suplícios que mereciam teus pecados, este Deus de bondade quer contentar-se com uma satisfação leve, perdoar tudo e esquecer tudo. O mínimo que posso fazer para agradecer tanta bondade, ó divino Redentor, é exaltar e bendizer para sempre vossa infinita misericórdia.

                 Meu Deus, o que acabais de fazer em meu favor inspira-me uma aversão totalmente nova ao pecado e me faz tomar a resolução de não mais cometê-lo.

                 Mas é em vão que me lisonjearia de evitar as artimanhas sem número que me cercam, se não fosse assistido por vossa graça. Não me recuseis, ó meu Deus, a vossa graça, e fazei que em mim se confirme esta palavra de vosso Apóstolo São Paulo: A graça é abundante onde superabundou a iniquidade.

Orações para a Comunhão
Atos antes da Santa Comunhão

Ato de fé
                 Deus do céu e da terra, Salvador dos seres humanos, vós vindes a mim e terei a felicidade de receber-vos! Quem poderia acreditar num prodígio como este, se vós mesmo não o tivésseis dito? Sim, Senhor, creio que é a vós que vou receber neste Sacramento; vós que, nascido num estábulo, quisestes morrer por mim numa cruz e que, mesmo glorioso no céu, não deixais de estar oculto sob as espécies adoráveis.

Ato de contrição
                 Meu Senhor todo misericordioso, prostrado aos pés de vossa divina majestade, com o mais profundo sentimento de arrependimento e de dor que se possa conceber, eu vos peço humildemente perdão de todos os pecados que cometi, e especialmente dos que cometi depois de minha última confissão; eu detesto todos em geral e cada um em particular, porque eles ofendem vossa bondade e porque vos pregaram na cruz.

Ato de humildade
                 Senhor, não mereço receber vosso Corpo sagrado, e temo que, aproximando-me de vossa mesa sagrada, não esteja vestido com a veste nupcial da inocência e da caridade que tantas vezes já perdi pelo pecado, e sem ter certeza de já tê-la recobrado pela penitência. Que sentimentos de confusão devo pois experimentar ao aproximar-me de vós? Mesmo que eu tivesse toda a santidade dos anjos e dos humanos, o que seria isto comparado com a vossa grandeza e vossa pureza infinitas? Não só não tenho esta santidade, mas, ao contrário, estou cheio de tantas imperfeições e de tantas misérias que todas as potências de minha alma gritam num aniquilamento profundo: Senhor, retirai-vos de mim, porque sou um pecador.

Ato de desejo
                 Ó Deus de bondade, será que é possível que venhais a mim e que venhais com um desejo infinito de unir-me a vós? Oh! Vinde, bem-amado do meu coração! Vinde, Cordeiro de Deus, carne adorável, sangue precioso de meu Salvador, vinde servir de alimento à minha alma!

                 Que eu vos veja, ó Deus do meu coração, minha alegria, minhas delícias, meu amor, meu Deus, meu tudo!

                 Vinde, pois, amável Jesus, e por mais indigno que eu seja de receber-vos, dizei somente uma palavra e serei purificado. Meu coração está pronto e, se não estivesse, com um só olhar podeis prepará-lo, enternecê-lo e inflamá-lo.

                 Aproxima-te da santa mesa com uma atitude modesta e recolhida; depois volta a teu lugar e emprega pelo menos um quarto de hora em ação de graças.

Atos para depois da Santa Comunhão

Ato de adoração
                 Adorável majestade de meu Deus, diante de quem tudo o que há de maior no céu e na terra se reconhece indigno de aparecer, o que posso fazer eu aqui na vossa presença, senão calar-me e honrar-vos no mais profundo aniquilamento de minha alma?

                 Só a vós, grande Deus, Rei dos séculos, Deus imortal, só a vós pertence toda honra e toda glória. Glória, honra, salvação e bênção àquele que vem do Senhor! Bendito seja o Filho eterno do Altíssimo, que se digna unir-se hoje tão intimamente a mim e tomar posse do meu coração.

Ato de amor
                 Tenho enfim a felicidade de possuir-vos, ó Deus de amor! Que bondade! Quão incapaz sou de responder-vos! Porque não sou todo coração para amar-vos tanto quanto sois amável e para não amar senão a vós! Abrasai-me, meu Deus; queimai, consumi meu coração com o vosso amor. Meu bem-amado é meu; Jesus, o amável Jesus, se dá a mim... Anjos do céu, mãe de meu Deus, santos do céu e da terra, emprestai-me vossos corações, dai-me vosso amor para amar meu amável Jesus.

Ato de agradecimento
                 Que ações de graças, ó meu Deus, poderão igualar o benefício que hoje me concedestes? Não contente de ter-me amado até morrer por mim, Deus de bondade, vos dignastes ainda vir em pessoa honrar-me com a vossa visita e dar-vos a mim! Ó minha alma, glorifica o Senhor teu Deus; reconhece sua bondade, exalta sua magnificência, publica eternamente sua misericórdia. É com um coração enternecido e cheio de misericórdia, ó meu doce Salvador, que vos agradeço pela graça imensa que vos dignais conceder-me. Tenho sido um infiel, um frouxo, um prevaricador: mas não quero ser um ingrato. Quero lembrar-me eternamente que hoje vós vos destes a mim e fixar para todo o resto de minha vida as enormes obrigações que tenho para convosco, ó meu Deus, dando-me inteiramente a vós.

Ato de súplica
                 Vós estais em mim, fonte inesgotável de todos os bens! Estais aí, cheio de ternura por mim, com as mãos cheias de graças, e pronto a derramá-las no meu coração. Deus bom, liberal e magnífico, derramai-as com profusão; vede minhas necessidades, vede vosso poder. Fazei em mim aquilo que viestes fazer; eliminai o que vos desagrada no meu coração e colocai no lugar o que pode tornar-me agradável aos vossos olhos. Purificai meu corpo, santificai minha alma, aplicai-me os méritos de vossa vida e de vossa morte: uni-vos a mim, casto esposo das almas, uni-me a vós; vivei em mim, a fim de que eu viva em vós, que eu viva de vós e para sempre para vós.

Ato de oferecimento
                 Vós me cumulais de vossos dons, Deus de misericórdia, e, ao dar-vos a mim, quereis que eu não viva mais senão para vós. Este é também, ó meu Deus, o maior de todos os meus desejos: ser inteiramente vosso. Sim, quero que tudo que terei doravante de pensamentos, tudo que formarei ou executarei de desígnios, seja da ordem da perfeita submissão que vos devo. Quero que tudo que depende de mim, saúde, força, espírito, talento, crédito, bens e reputação, só seja empregado para os interesses de vossa glória.


Ato de bom propósito
                 Ó mais paciente e mais generoso de todos os amigos, o que poderia doravante separar-me de vós? Renuncio de todo o meu coração a tudo que até agora me afastou de vós e me proponho, com o auxílio de vossa graça, não mais recair nas minhas faltas passadas. Portanto, ó meu Deus, nem pensamentos, desejos, palavras ou ações que sejam o mínimo possível contrários aos vossos mandamentos. Vós estais no centro do meu coração, divino Jesus; é na vossa presença que tomo essas resoluções, a fim de que vós as confirmeis; que vosso inefável Sacramento, que acabo de receber, seja como o selo para garanti-las, e que jamais me seja permitido violá-las. Confirmai, pois, ó Deus de bondade, o desejo que tenho de pertencer unicamente a vós e de não viver mais senão para a vossa glória. Amém.

Vésperas do Domingo
Um, Pai-nosso. E Uma Ave-Maria.
Ó Deus, vinde em meu auxílio.
Senhor, apressai-vos em me socorrer.
Glória ao Pai, ao Filho, e ao Espírito Santo.
Assim como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos, amém. Aleluia, ou Louvor a vós, Senhor, Rei da eterna glória segundo o tempo.
Disse o Senhor a meu Senhor: Senta-te à minha direita.
Salmo 110

Disse o Senhor a meu senhor: Senta-te à minha direita, até que ponha teus inimigos como escabelo de teus pés.
O Senhor estenderá de Sião o poder do teu cetro: dominas no meio dos teus inimigos.
Tu és príncipe desde o dia em que nasceste; na glória e esplendor da santidade, como o orvalho, antes da aurora, eu te gerei!
Jurou o Senhor e manterá sua palavra:
tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedec.
O Senhor está à tua direita, ele esmaga os reis no dia de sua ira.
Julga as nações, amontoa cadáveres, esmaga cabeças pela imensidão da terra.
A caminho ele bebe da torrente, e por isso levanta a cabeça.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, Assim como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.
Disse o Senhor a meu Senhor: Senta-te à minha direita.
Seus preceitos merecem confiança, são estáveis para todo o sempre.
Salmo 111

Eu vos louvarei, Senhor, de todo o coração, no conselho dos justos e na assembleia.
Grandes são as obras do Senhor, dignas de estudo para quem as aprecia.
Sua obra é esplendor e majestade, e sua justiça permanece para sempre.
Fez memoráveis suas maravilhas, o Senhor misericordioso e clemente.
Deu alimento aos que o temem, sempre lembrado de sua aliança.
Mostrou a seu povo o poder de suas obras, dando-lhes a herança das nações.
As obras de suas mãos são verdadeiras e justas, e todos os seus preceitos merecem confiança; são estáveis para todo o sempre para serem cumpridos fiel e retamente.
Ele enviou a seu povo a redenção, promulgou para sempre sua aliança.
Seu nome é santo e temível.
O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, terão bom êxito todos os que o praticam.
Seu louvor permanece para sempre.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, Assim como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.

Seus preceitos merecem confiança, são estáveis para todo o sempre.
Ele se compraz em seus mandamentos.
Salmo 112

Feliz é quem teme o Senhor e se compraz em seus mandamentos.
Sua posteridade será poderosa na terra, a geração dos retos será abençoada.
Em sua casa haverá bens e riqueza, sua justiça permanece para sempre.
Ele brilha na treva como luz para os retos, é benigno, misericordioso e justo.
Feliz é quem se compadece e empresta, e conduz seus negócios dentro da lei.
Pois jamais há de vacilar; o justo será lembrado para sempre.
Não temerá as más notícias: confiado no Senhor, seu coração está firme.
Seu coração está seguro, nada temerá; até mesmo seus adversários ele olhará com desafio.
Ele reparte generosamente com os pobres; sua justiça permanece para sempre; sua fronte se levanta com altivez.
Ao vê-lo, irrita-se o ímpio, range os dentes e se consome.
A ambição dos ímpios será malsucedida.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, Assim como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.
Ele se compraz em seus mandamentos.
Que o nome do Senhor seja bendito!
Salmo 113

Louvai, servos do Senhor, louvai o nome do Senhor!
Que o nome do Senhor seja bendito, desde agora e para sempre!
Desde o nascer do sol até o ocaso, seja louvado o nome do Senhor!
Excelso é o Senhor acima de todas as nações, sua glória está acima dos céus.
Quem é como o Senhor nosso Deus que tem seu trono nas alturas e se abaixa para olhar pelo céu e pela terra?
Ele levanta do pó o desvalido, tira do lixo o pobre para fazê-lo sentar-se entre os grandes, entre os grandes de seu povo.
Faz a mulher estéril habitar em sua casa, como mãe feliz de filhos.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, Assim como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.
Que o nome do Senhor seja bendito!
Nós que vivemos, bendizemos o Senhor.
Salmo 114

Quando Israel saiu do Egito, e a casa de Jacó de um povo bárbaro: Judá se tornou seu santuário e Israel o seu domínio.
O mar viu e fugiu; o Jordão voltou para trás.
Os montes saltaram como carneiros e as colinas como cordeiros.
Que tens, ó mar, para fugir assim? E tu, Jordão, para que voltes para trás?
Montes, por que saltais como carneiros? E vós, colinas, como cordeiros?
Treme, ó terra, diante da face do Senhor, diante da face do Deus de Jacó, que transforma a rocha em lago e a pedra em fontes de água.
Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por teu amor e tua verdade!
Por que diriam as nações: "Onde está o Deus deles"?
O nosso Deus está nos céus e faz tudo o que deseja.
Os ídolos deles são prata e ouro, obra de mãos humanas: têm boca e não falam; têm olhos e não veem; têm ouvidos e não ouvem; têm nariz mas não sentem o cheiro.
Têm mãos mas não apalpam, têm pés mas não andam; não emitem sons em sua garganta.
Os que os fazem ficam como eles, todos aqueles que neles confiam.
A casa de Israel confia no Senhor, ele é seu apoio e seu protetor.
A casa de Aarão confia no Senhor: ele é seu apoio e seu protetor.
Vós que temeis o Senhor, confiai no Senhor: ele é vosso apoio e protetor.
O Senhor se lembrou de nós e abençoou-nos.
Abençoou a casa de Israel, abençoou a casa de Aarão.
Ele abençoou todos os que temem o Senhor, grandes e pequenos.
Que o Senhor vos multiplique, a vós e a vossos filhos.
Sede abençoados do Senhor, que fez o céu e a terra.
O céu é o céu do Senhor, mas a terra ela a deu aos seres humanos.
Não são os mortos que louvam o Senhor, nem os que descem ao sepulcro.
Mas nós que vivemos, bendizemos o Senhor, desde agora e para sempre.
Glória ao Pai, ao Filho, e ao Espírito Santo, Assim como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.

Nós que vivemos, bendizemos o Senhor.

Capítulo
Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações.

                 Demos graças a Deus.

Hino
Criador generoso da luz, que criastes a luz para o dia, com os primeiros raios da luz sua origem o mundo inicia.
Vós chamastes de "dia" o decurso da manhã luminosa ao poente.
Eis que as trevas já descem à terra: escutai nossa prece, clemente.
Para que sob o peso dos crimes nossa mente não fique oprimida, E, esquecendo as coisas eternas, não se exclua do prêmio da vida.
Sempre à porta celeste batendo, alcancemos o prêmio da vida, evitemos do mal o contágio e curemos da culpa a ferida.
Escutai-nos, ó Pai piedoso, com o único Filho também, que reinais com o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.
Suba até vós, Senhor, a minha oração! Como o incenso à vossa presença.
Cântico da Santa Virgem
São Lucas. 1,46-56

Minha alma engrandece o Senhor, e rejubila meu espírito em Deus, meu Salvador.
Porque ele olhou para a humildade de sua serva, eis que doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada.
Pois o Todo-poderoso fez em mim grandes coisas e santo é o seu nome.
Sua misericórdia se estende de geração a geração, sobre aqueles que o temem.
Mostrou o poder de seu braço e dispersou os orgulhosos de coração.
Depôs do trono os poderosos e exaltou os humildes.
Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias.
Acolheu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia.
Conforme prometera aos nossos pais, a Abraão e à sua posteridade, para sempre.      Glória ao Pai, ao Filho, e ao Espírito Santo, Assim como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.

Contracapa
                 "Quem me segue não anda nas trevas, diz o Senhor.  São João, 8,12.  São estas as palavras de Cristo pelas quais somos advertidos que imitemos sua vida e seus costumes, se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda cegueira de coração. Seja, pois, o nosso principal empenho meditar sobre a vida de Jesus Cristo.

 sobre a Imitação de Cristo
                 Esta edição do livro Imitação de Cristo foi feita especialmente para a Coleção Clássicos da Espiritualidade. Ao final de cada capítulo você encontra reflexões e orações de São Francisco de Sales. O livro contém ainda salmos e orações devocionais que tornam este clássico ainda mais rico.

Orelhas
                 A Imitação de Cristo é uma das obras mais difundidas da espiritualidade cristã, e sua popularidade é impressionante, só sendo ultrapassada pela Bíblia. É o livro que vem alimentando o mundo cristão há muitos séculos, enquanto expressão da devoção moderna.

                 A Imitação de Cristo expressa uma resposta a muitos traumas e desafios que povoaram os povos medievais a partir da busca da interioridade.

                 Tomás de Kempis era um dos autores decisivos dessa nova espiritualidade, apontando com sua reflexão o caminho da interioridade. É por meio da Imitação de Cristo que a espiritualidade moderna ganha seu florescimento, com decisivos traços psicológicos, preocupada sobretudo em discernir os movimentos da alma que busca seguir a Jesus Cristo.

                 A obra traduz uma específica pedagogia religiosa, sinalizada pelo caminho da vida interior. Está dividida em quatro livros. Nos primeiros três livros aborda-se o projeto espiritual da conformação da alma a Jesus Cristo. No Livro 1º acentua-se a centralidade da "imitação de Cristo" e a exemplaridade da vida virtuosa. Destaca-se, em particular, os valores da humildade, da paciência, do recolhimento em si mesmo e da vida de oração. No Livro 2º vem reforçada a piedade cristocêntrica, com os desdobramentos de suas virtudes essenciais, como a simplicidade, a pureza e a retidão do coração. O Livro 3º, desenvolvido em forma de colóquio íntimo da alma com Deus, trata especificamente dos temas relacionados à via unitiva. O Livro 4º trata da devoção à Eucaristia e da dignidade do estado sacerdotal.  da Apresentação de Faustino Teixeira.

O autor

                 Tomás de Kempis nasceu em 1379 ou 1380 na Renânia, na cidade de Kempen, perto de Colônia.  atual Alemanha.  Foi monge agostiniano e sacerdote, vivendo no Mosteiro de Saint Agnetenberg, perto de Zwolle, até o fim de sua vida, com a idade de 91 anos, em 1471.

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